F**k the EU

Nos passados dias, a imprensa ocidental sublinhou a expressão utilizada pela Assistente do Secretário
de Estado dos Estados Unidos, Victoria Nuland, em relação à União Europeia.

Esta expressão:

F**k the EU.

Que podemos traduzir desta forma:

Apesar do profundo respeito e admiração que sinto em relação às instituições sediadas em Bruxelas, acho que hoje a minha vida não vai ser condicionada unicamente pela presença da União Europeia.

Mais ou menos é isso.
O facto provocou uma onda de indignação porque, apesar de ser esta uma expressão que vários cidadãos da União Europeia utilizam diariamente (traduzida nos respectivos idiomas) e acerca da qual é quase natural concordar, no ambiente diplomático certas coisas pensam-se mas não se dizem.

Mais interessante do que isso, e não devidamente sublinhado, foi o contexto no qual a simpática e elegante Victoria utilizou a expressão.

F**k the EU era uma frase contida numa conversação telefónica entre a Assistente do Secretário de Estado e o Embaixador dos EUA em Kiev (Ucrânia), Geoffrey Pyatt.  

Durante a conversa, Victoria realça como ao líder da oposição ucraniana, Vitali Klitschko, não deve ser dado um papel no governo:

Victoria: Eu não acho que seja necessário, não acho ser uma boa ideia.
Pyatt: É… eu acho…acerca dele não ir para o governo, apenas deixá-lo ficar de fora, a fazer o dever de político e outras coisas.

Isso é: os dois estavam a planear o próximo executivo da Ucrânia.

E continua, a fina Victoria, falando dum encontro entre ela e alguns funcionários das Nações Unidas, os quais relataram a ideia de Ban Ki-moon, o sorridente secretário-geral da ONU, em enviar alguém para a Ucrânia para “ajudar a colar esta coisa e ter a cola da ONU nisso”.
Selo de aprovação final:

Victoria: E tu sabes, f**k the EU.

Que, como vimos, subentende o conceito de “Apesar do profundo respeito e admiração etc., etc.”.
Responde o Embaixador:

Pyatt: Exactamente, acho que temos que fazer alguma coisa para compacta-lo, porque podes ter a certeza de que se isso não começar a ganhar visibilidade, os russos vão trabalhar nos bastidores para abate-lo. Deixa-me trabalhar Klitschko, acho que deveríamos ter uma personalidade ocidental que chegue aqui.

As bolachas de Victoria

Esta comovente troca de impressões consegue pintar de forma particularmente eficaz o quadro do que realmente se passa em Kiev, onde a Revolução Laranja é revelada por aquilo que é (caso ainda existissem dúvidas): a nobre tentativa americana de atirar para o caos um País que já tem os seus bonitos problemas e que, eventualmente, precisaria de ajuda e não de Assistentes do Secretário de Estado dos EUA que distribuem bolachas entre os manifestantes (sic!).

Mas aqui vale a pena realçar a atitude dos media europeus: em vez que explicar aos Leitores os moldes da conversa, focalizaram a atenção na parte que afinal era a menos significativa.

Porque podemos permitir que os Estados Unidos organizem uma revolução num País europeu, decidam qual o próximo governo dele, nem se dignem de envolver a União Europeia no processo, trabalhem em conjunto com o fantoche da ONU para atropelar os direitos dos cidadãos: em tudo isso não há problema nenhum.

Agora, dizer-nos f**k? Ah, isso não…

Eis como Euronews apresenta a notícia:



“A sub-Secretária de Estado deslocou-se à Ucrânia na tentativa de encontrar uma saída para a crise politico-democrática que o País atravessa”.

Com certeza.

Para acabar, uma simples curiosidade.
Eis uma imagem da simpática Victoria enquanto fala na U.S. – Ukraine Foundation (“Fundação EUA – Ucrânia” em bom português) em Washington, no passado dia 13 de Dezembro.

Na fotografia há algo que captura a nossa atenção, um objecto que aí está mas que, aparentemente, nada tem a ver com a política, com os problemas do País europeu, com a profunda e antiga amizade que liga os dois povos. Qual objecto será este? (Nota: acrescentei uma pequena ajuda).

O Leitor adivinhou?

Ipse dixit.

Fontes: Ron Paul Institute, Kyiv Post, Canal Youtube Euronews

7 Replies to “F**k the EU”

  1. Olá Max:é tudo tão claro, é tudo tão dito, que de tão escancarado as pessoas preferem acreditar que os filmes e as séries televisivas, eles e elas sim, contam o que se passa.E a imprensa e a televisão traduzem e analisam os acontecimentos. Adoramos sonhar. Abraços

  2. Dentro do contexto Sul Americano, este tema faz-me lembrar esta frase, durante uma entrevista muito interessante de Julian assange a Rafael Correa(presidente do Equador)

    http://resistir.info/equador/assange_correa_22mai12.html

    "Evo Morales [presidente da Bolívia], os EUA são o único país que pode ter certeza de que lá jamais haverá golpes de Estado – porque não há embaixada dos EUA nos EUA. [Assange e equipe riem.]"

  3. Apesar do frio que se faz sentir na Ucrânia, esta é mais uma das eventuais primaveras patrocinadas.

    Recentemente passámos a ter dois lemas para os países 'menos' cooperantes.
    – Ou alinhas, ou levas com uma intervenção humanitária em cima.

    ou então:

    – Ou alinhas, ou levas com uma primavera em cima. Nem que seja inverno.

    Patrocinio: Chevron e C.ª lda.

    krowler

  4. o que me parece relevante éentender oque os FiveEyes entendem ser o resto do mundo0 uma escumalha queou faz o que eles entendem ser o bem ou são torpedeados. não vinha mal para a UE se um dos membros não fizesse parte do centro da UE. e como sabemos em politica não há hipocrisia, apenas oportunidades ; que no caso presente lhes deixamos estarem portas a dentro.

Obrigado por participar na discussão!

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