A queda do Dólar

A produção industrial dos Estados Unidos aumentou em Novembro, como não acontecia há dois anos.

Paralelamente, a despesa dos cidadãos diminuiu após o Thanksgiving Day, pela primeira vez desde 2009: os consumidores lutam entre as dívidas.

Entretanto, o banco central da China anuncia que “acumular reservas em moeda estrangeira” já não é coisa que interesse. Notável. Porque Pequim tem 3.6 triliões de Dólares americanos e, após ter começado a comprar menos Títulos de Estado de Washington, agora afasta-se da moeda também.

Por qual razão a China comprou tantos Dólares?
Para manter baixo o valor da sua moeda, o Yuan.
Mais procura para Dólares significa mais valor de cada nota americana. E Dólar mais forte significa Yuan mais competitivo, o que favorece as exportações chinesas.

Mas agora a musica muda.
Após os Títulos de Estado, eis que Pequim abandona também a moeda de Washington. E, apesar de não ter sido suficientemente divulgada, esta é uma notícia de importância fundamental: significa que Pequim está farta de manter vivo um cadáver, significa que a estratégia chinesa muda radicalmente. Significa que o Yuan está pronto para invadir os mercados: lentamente, irá substituir as outras moedas nas trocas internacionais, e em primeiro lugar substituirá o Dólar. O Yuan começa a propor-se como nova moeda de referência global. 

Do ponto de vista dos EUA, a coisa é “enorme”. Para obter empréstimos, os EUA dependem muito de quem compra e mantém o valor dos seus Títulos. Mas se estes últimos não forem vendidos, ou forem vendidos com valores baixos, o problema é grande: porque os EUA têm uma Dívida Pública imensa, que não “cai” simplesmente porque Washington consegue vender cada vez novos Títulos de Estado e financiar-se.

Mas se os Títulos do governo EUA não forem vendidos? Se o Dólar começa a não valer nada?

Já agora, apesar de serem capazes de manter o valor do Dólar bastante estável (contra toda a lógica económica e até mesmo a simples aritmética), os EUA não conseguem enfrentar as contas internas: em meados do próximo Fevereiro iremos ouvir novamente de shutdown, falência, Fiscal Cliff. A crise será ultrapassada, tal como foi a última, mas na base há sempre a ideia de que o Dólar consiga manter o seu valor. Mas se o primeiro comprador mundial, o mais importante, começar a dizer “Não, obligado”?

Não é um problema apenas americano: o discurso envolve todas as economias ligadas de várias maneiras ao Dólar. Europa incluída, por exemplo.

Provavelmente, as taxas de juros oferecidas para a venda dos Títulos americanos irão crescer, de forma a
manter apetecível a compra. Mas esta manobra tem custos enormes, sobretudo num País que já enfrenta graves problemas económicos.

Na Bolsa de Xangai, de acordo com a Reuters, cedo os futures de petróleo bruto irão ser tratados em Yuan. O Dólar perde cada vez mais terreno, espelho duma realidade feita de derrotas internacionais (Iraque, Afeganistão, Síria, Irão), crise dos subprimes, defaults internos, agora Shangai. É o ruir do projecto neocon.

De forma muito clara, a China está prestes a tornar-se o ponto de referência para toda a Ásia, substituindo os EUA; e cedo poderá também substituir aquela parodia de moeda europeia, o Euro: no horizonte não há outra moeda que possa legitimamente aspirar a ser “a” moeda das trocas comerciais.

Os tempos? Não curtos, óbvio: estas coisas não mudam dum dia para outro. O regime do Dólar está em vigor há anos. Mas a demissão já começou e não desde hoje. A direcção é clara.

Consequências? Os bens adquiridos pelos norte-americanos, após a queda do Dólar, vão custar muito mais. E o padrão de vida, mantido artificialmente alto apesar da eclosão da última crise, deverá cair acentuadamente. A recente falsa prosperidade dos Estados Unidos parece chegar ao fim.

Mas a pergunta a fazer, a mais importante, é quando e como os americanos vão reagir a uma queda repentina do País, ao colapso das condições de vida e dos consumo. Estão longe os dias em que Bush afirmava que “o padrão de vida dos norte-americanos não pode ser questionado”.
Pode.

Uma coisa é certa: uma acção deste calibre por parte da China terá uma reacção dos EUA.
O nosso mundo está a mudar.
Devagarinho, mas nem tanto.

Ipse dixit.

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