O frigorífico de Einstein

Image Hosted by ImageShack.usImagine o Leitor um frigorífico sem partes móveis, que trabalha com pressão constante e requer apenas uma fonte de calor para trabalhar, sem vibrações, sem motor, no silêncio absoluto.

Seria interessante, não é? Até temos um nome pronto: frigorífico de absorção.

Mas pronto desde quando? Desde 1926.
Foi naquele ano Albert Einstein e o seu ex-aluno Leo Szilard patentearam nos Estados Unidos o frigorífico de absorção, no dia 11 de Novembro de 1930 (Patente dos EUA 1.781.541 ).

O projecto do frigorífico de Einstein é muito interessantes, em particular agora que foram proibidos os gases devem ser reduzidas.
Duas das suas características fundamentais são a ausência absoluta de ruído e a duração, uma vez que neste dispositivos não há mecanismos de movimento que podem desgastar-se ao longo do tempo.

E este último foi sempre o defeito do frigorífico de absorção: não se estraga.  Quem iria construir algo que dura uma vida? Nada de peças sobressalentes, nada de envio de técnicos, nada de mono no lixo, nada de frigorífico novo…uma desgraça. Desgraça do ponto de vista dos produtores, não certo dos clientes.

Além disso, pode ser utilizado mesmo em condições particulares, por exemplo quando não há por perto uma rede eléctricas. Então como funciona?

O frigorífico de absorção é composto pelas seguintes partes:

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Esquema original (clicar para aumentar!)

Caldeira
Aqui inicia o ciclo inteiro, é na caldeira que a fonte de calor é instalada. Pode ser uma resistência eléctrica tradicional, mas também um queimador de biogás, de biocombustível, até um um painel solar. A fonte aquece uma solução de água e amoníaco, que começa a circular.

Condensador
Aqui tem lugar a separação da água da amoníaco, que flui para o evaporador.

Evaporador
É onde o amoníaco chega quase puro e encontra o gás butano e evapora, subtraindo o calor do ambiente, ou seja, do frigorífico, do freezer, do ar condicionado, etc.

Absorvedor
Aqui é a água utilizada para transportar o amoníaco que absorve o calor.

Reservatório
Onde o ciclo completa-se, com água e amoníaco misturam-se e entram novamente na caldeira.

Também a primeira invenção duma máquina de refrigeração, que teve lugar em 1851 e foi patenteada pelo norte-americano John Gorrie, era baseada no uso do amoníaco e tinha sido desenvolvida para fins comerciais em navios e comboios, para o transporte das mercadorias perecíveis.

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Um dos protótipos

De 1926 até 1933, Einstein e Szilard colaboraram para melhorar a tecnologia de refrigeração doméstica.

Os dois foram motivados pela leitura dos jornais da época, que relataram o caso duma família de Berlim, na Alemanha: uma junção do frigorífico partiu-se, libertando gases tóxicos na casa e provocando a morte dos presentes. Einstein e Szilard começaram a pensar num dispositivo sem partes móveis, o que teria eliminado o risco de quebra e desgaste.

Não obstante a apresentação de mais de 45 pedidos de patentes em seis Países diferentes, nenhum dos projectos de Einstein e Szilard para frigoríficos “alternativos” foi alguma traduzido num produto comercial, apesar dalguns protótipos terem sido aprovados.

A seguir, a Grande Depressão deu o golpe final, com uma procura reduzida e o fecho de muitos fabricantes: o projecto de Einstein e Szilard foi “esquecido”. Paradoxalmente, foi na mesma altura em que foi introduzido o freon, gás não-tóxico e barato, que funcionou até ser banido pelo Protocolo de Montreal, em 1990.

Hoje, o frigorífico de absorção tem tudo para voltar. Os sistemas de ar condicionado, por exemplo, gastam 1.000 biliões de quilowatt/hora em todo o planeta: poder substitui-lo com algo que utilize biogás ou até paneis solares representaria uma enorme poupança energética.

Alguém acredita que isso venha a acontecer?

Ipse dixit.

Fonte: Greenreport, Environment 360, The Guardian

7 Replies to “O frigorífico de Einstein”

  1. Eu não acredito, Max. Como não acredito que qualquer solução promovedora da auto suficiência vá ser incorporada às iniciativas do sistema lucrativo empresarial. Acredito, outrossim, que indivíduos e grupos dotados de lucidez sejam capazes de utilizar conquistas da inteligência humana para instituir ilhas de cooperação e simbiose. Abraços

  2. Boa Max… 🙂
    Para quem não sabe, essa prática tem um nome… É mais facil para que se perceba, que não pertence ao reino da "CONSPIRAÇÂO", é apenas uma mais que já foi confirmada e documentada… 🙂

    " Obsolescência programada é a decisão do produtor de propositadamente desenvolver, fabricar e distribuir um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não-funcional especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto.1

    A obsolescência programada faz parte de um fenômeno industrial e mercadológico surgido nos países capitalistas nas décadas de 1930 e 1940 conhecido como "descartalização". Faz parte de uma estratégia de mercado que visa garantir um consumo constante através da insatisfação, de forma que os produtos que satisfazem as necessidades daqueles que os compram parem de funcionar ou tornem-se obsoletos em um curto espaço de tempo, tendo que ser obrigatoriamente substituídos de tempos em tempos por mais modernos.

    A obsolescência programada foi criada, na década de 1920, pelo então presidente da General Motors Alfred Sloan. Ele procurou atrair os consumidores a trocar de carro frequentemente, tendo como apelo a mudança anual de modelos e acessórios. Bill Gates, fundador da Microsoft, também adotou esta estratégia de negócio nas atualizações do Windows.2

    Inspirado na Centennial Bulb,3 lâmpada que continua em funcionamento desde 1901, o espanhol Benito Muros, da SOP (Sem Obsolescência Programada)4 desenvolveu uma lâmpada de longa durabilidade e recebeu ameaças por conta desta invenção.5 "

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Obsolesc%C3%AAncia_programada

  3. Não conhecia este tipo de frigorífico, e que me deixou muito curioso com o assunto.

    Como é evidente, numa sociedade que assenta no consumo desenfreado, este é o tipo de produto, cuja morte é anunciada à nascença.

    Chegámos a um ponto em que os bens têm um período de vida de tão curto, que este modelo sócio/económico passou a ser do senso comum.

    As coisas têm que ser obsoletas a curto prazo, quer por design quer por durabilidade. O dinheiro tem de fluir a qualquer custo. Este é o ponto a que chegámos.
    É uma tristeza!

    abraço
    Krowler

  4. Nos anos 50 e 60, em Angola, em localidades sem rede electrica, utilizavam-se frigoríficos que funcionavam com petróleo iluminante vulgar.
    Nunca os vi em mais parte alguma.
    Provavelmente utilizavam a tecnologia descrita.
    Lembro-me que funcionavam na perfeição.

    1. Na casa dos meus país proximo de Lisboa em Portugal tivemos um assim. Aos dias de hoje com muita pena minha apenas chegou a porta.

    2. Em qualquer bom fornecedor de artigos de campismo e auto-caravanismo se pode adquirir um frigorífico desse tipo (agora geralmente funcionam a gás por ser mais limpo que os a petróleo iluminante doutros tempos)fora isso o principio de funcionamento é o mesmo, alguns são bi ou trivalentes isto é alem de combustível podem funcionar a electricidade auto e ligados à rede. Só não são tao vulgares em casa porque são mais perigosos (combustão e amoniaco), mais dispendiosos e menos cómodos (acartar com combustível). O mesmo se aplica a candeeiros e fogareiros a petróleo/gás face à iluminação eléctrica e aos modernos fogões. No domestico com a eficiente rede eléctrica que temos não é a melhor opção, se vão para o campo, ou para o mar, ou querem um recurso ou matar saudades encontram-nos à venda com facilidade, é só procurar um pouco.

      Ligar o sistema de refrigeração e ar condicionado aos painéis solares ainda não é vulgar no sector domestico mas pode ser feito e não é nada que seja de excluir no futuro, talvez primeiro para o A/C porque o frigorífico é mais complicado sempre que o queiram desviar para limpezas ou trocar de sitio…

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