Xinjiang: a entrada de Al-Qaeda na China

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Tinha que ser.
No passado dia 28 de Outubro, na Praça Tiananmen (Pequim), um jipe ​​foi lançado em velocidade contra os transeuntes que se encontravam na frente da entrada principal da Cidade Proibida. Imediatamente após o impacto o carro pegou fogo. No total 5 mortos e 38 feridos.

Nas horas seguintes, as autoridades não forneceram quaisquer detalhes sobre o incidente. Enquanto isso, imagens postadas no Weibo, o Twitter chinês, foram prontamente censurada e o carro tapado com plástico verde.

A 3 dias de distância, a polícia de Pequim parece não ter nenhuma dúvida de que foi um ataque suicida. Dentro do carro havia Usmen Hasan, e mãe Kuwanhan Reyim e esposa dele Gulkiz Gini. De acordo com a agência de notícias Xinhua, eram 3 chineses de etnia uigur. No carro foram encontradas facas, “dispositivos cheios de gasolina” e um bandeira jihadista. A seguir, a polícia prendeu cinco suspeitos originários da mesma região, pessoas que teriam participado no ataque.

O suposto ataque terrorista voltou a atrair a atenção da opinião pública mundial sobre a região autónoma do Xinjiang, lar da minoria étnica uigur. A “Nova Fronteira (isso significa o nome) é um centro de forte instabilidade geopolítica e, ao mesmo tempo, centro vital das rotas energéticas para Oeste.
Pequim deve assegurar a estabilidade da região.

O Xinjiang

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O Xinjiang, ou Turquestão Oriental, é a região mais ocidental da China. É uma área em grande parte desértica e representa 17 % do território chinês, mas apenas 2% dos seus habitantes. Faz fronteiras com Rússia, Mongólia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Afeganistão, Paquistão e Índia.

Os uigures, que compõem 46 % da população do Xinjiang, são muçulmanos de língua turca, com os hábitos e as características físicas muito diferentes das dos chineses Han. Estes representam 90% da população da China e concentrar-se na costa leste. Desde a primeira metade de 1900, os uigures lutam pela independência da região.

A distribuição étnica na região é bastante clara. Os uigures estão concentrados na Bacia de Tarim, que inclui a cidade de Kashgar (com 3,9 milhões de habitantes) e Hotan. Outra importante cidade, Urumqi, no norte, é povoada principalmente por chineses Han.

Estes últimos mudaram-se para a região na década dos Noventa do século passado, quando Pequim começou a campanha Go West (“Vai para Oeste”): um conjunto de projetos para facilitar o desenvolvimento industrial e urbano na região de Xinjiang. Impulsionados por enormes incentivos económicos do governo, os Han (agora 40% dos habitantes da região) têm “colonizado” o Norte, onde foram descobertos campos de petróleo também. Os Han foram os únicos a beneficiar das campanhas para a industrialização do Xinjiang.

Image Hosted by ImageShack.usA “chinesização” da região provocou a formação de movimentos separatistas uigures, o mais conhecido dos quais é o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, e levou a inúmeros confrontos entre os dois grupos étnicos. O incidente mais grave ocorreu em 5 de Julho de 2009 em Urumqi, onde 200 pessoas morreram.

Todos os anos, nos dias antes do trágico aniversário, Pequim eleva os limites de segurança na região e censura palavras sensíveis na Internet.

O governo chinês sabe que o ressentimento dos uigures e a proximidade geográfica com o Afeganistão e o Paquistão tornam o Xinjiang um terreno fértil para o terrorismo islâmico. Entre 26 de Junho e 31 de Agosto, as forças policiais locais prenderam 110 uigures, considerado culpado de ter promovido a jihad. Também em Julho, alguns membros da minoria étnica juntaram-se aos rebeldes da Síria para lutar contra o exército de Assad.

As rotas de energia

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A procura chinesa por petróleo tem crescido dramaticamente nos últimos anos. A falta de petróleo e gás levou Pequim a diversificar as fontes de abastecimento.

A Ásia Central, rica em jazidas de gás e perto geograficamente, foi definida pela Assembleia Geral do Exército Popular de Libertação Li Yazhou como “a mais fina fatia de bolo dado do céu à China moderna”.

Em Setembro, o presidente chinês Xi Jinping fez uma visita de 10 dias na região, assinando vários acordos comerciais. Xi visitou o Turcomenistão, o Cazaquistão, o Uzbequistão e o Quirguistão e participou no G-20 de São Petersburgo, na Rússia, e no encontro da Shanghai Cooperation Organization (Organização de Cooperação de Xangai, SCO) em Bishek, no Quirguistão.

Pequim tem ideias claras sobre o que fazer: boas relações diplomáticas, oferecer-se para ajudar na construção de estradas, portos, linhas férreas, e em troca receber gás e petróleo a um bom preço. A estratégia até agora foi eficaz .

A China, de facto, importa do Cazaquistão cerca de 235 mil barris de petróleo por dia. Se Astana em 2014 irá completar o projeto do novo campo petrolífero de Kashagan, Pequim planeia aumentar as importações até 1,5 milhões. No Cazaquistão, a China National Petroleum Corporation administra com a KazTransOil 4 oleodutos, incluindo o oleoduto de petróleo bruto China-Cazaquistão e o gasoduto Cazaquistão-China. No Uzbequistão, Pequim comprou cerca de 10 biliões de metros cúbicos de gás natural. O Turcomenistão, no entanto, é o segundo maior fornecedor de gás de Pequim.

Durante a viagem, Xi e o seu colega Gurbanguly Berdimuhamedov abriram oficialmente as actividades produtivas no campo de gás de Galkynysh, o segundo maior do mundo.
Além disso, os dois líderes assinaram um acordo para a venda de 25 biliões de metros cúbicos de gás em favor da China National Petroleum Corporation (CNPC ).

Al-Qaeda na China 

Image Hosted by ImageShack.usResumindo: todas as infra-estruturas que permitem o transporte dos preciosos hidrocarbonetos da Ásia Central para a costa chinesa (o coração político e económico do País) passam pelo frágil Xinjiang. Este é o problema de Pequim. Mais: comunidades de uigures vivem nos Países que fazem fronteira com o Xinjiang .

Estes fatores obrigam a China e os seus parceiros regionais a lutar contra o terrorismo. Neste contexto, a SCO (que está empenhada na luta contra os “três males”: terrorismo, extremismo e separatismo) desempenha um papel fundamental. Não surpreendentemente, durante a última reunião da Organização, os Estados membros (China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tadjiquistão e Uzbequistão) assinaram uma declaração conjunta para melhorar os fundamentos jurídicos da cooperação internacional no domínio da segurança.

O ataque de Tiananmen não lança o governo chinês em pânico. Na verdade, é uma oportunidade maravilhosa para endurecer ainda mais o controle e a censura no Xinjiang.
Entretanto, existem dois riscos.

O primeiro é gerar um novo agravamento das relações com a minoria étnica. Enquanto Pequim não encontrar a chave para um dialogo pacifico com os uigures, o Xinjiang dificilmente pode ser considerado um hub de energia confiável.

O segundo é que o Xinjiang possa tornar-se na porta de entrada dum fenómeno chamado Al-Qaeda. Na verdade, Al-Qaeda já fez o seu ingresso na China, mas até agora Pequim tem lidado com sucesso com o terrorismo dos islamistas radicais. Todavia Al-Qaeda pode contar com importantes recursos: como já afirmado, membros da etnia uigur lutam na Síria ao lado dos “rebeldes”, os mesmos que recebem as armas do Estados Unidos.

Atingir as rotas de abastecimento energético da China significa empenhar Pequim numa luta que pode tornar-se extenuante: a máquina chinesa precisa desesperadamente de energia e boa parte dos seus esforços internacionais têm tido como objectivo fazer frente aos escassos recursos internos neste sentido. A insatisfação dos populares pode representar a chave para uma cada vez maior penetração terrorista em algumas regiões chinesas: uma oportunidade não indiferente do ponto de vista de Washington.

E é a primeira vez que a organização terrorista lança um ataque tão “multimedial”.

Ipse dixit.

Fontes: Limes, Al-Qaeda and the Rise of China: Jihadi Geopolitics in a Post-Hegemonic World (ficheiro Pdf, inglês), Wikipedia (versão inglesa)

Mapas originais: Stratfor

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