A próxima guerra de Benny

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Benjamin “Benny” Gantz

Os discursos dos generais são usualmente aborrecidos.
Normal, não são pagos para falar.

Todavia, pode haver excepções.
No passado dia 11 de Outubro de 2013, o Chefe do Estado Maior do IDF (as Forças Armadas israelitas), Benny Gantz, suscitou espanto com aquele que foi classificado como “o mais importante discurso público do seu mandato”.

O evento teve lugar no Centro de Estudos Estratégicos Begin-Sadat, na Universidade Bar Ilan, perto da capital Tel Aviv.
O que disse o general Gantz? Algumas coisas.

Gantz afirmou que as nações vizinhas estão a dividir-se em componentes secundários, como sub-estados, na posse de capacidades operacionais significativas:

Nestas condições, israel terá de julgar os seus vizinhos e os oponentes não através das declarações e das intenções deles, mas com base nas suas acções e nos consequentes resultados. Devem ser testadas as acções, não as belas abstracções.

Bom, até aqui nada de especial. É um golpe feio para a diplomacia, mas o simpático Gantz sempre militar é. Só que depois o general começou a falar da próxima guerra.

O alto atrito com o inimigo e a incerteza vão persistir, mas haverá uma mudança gradual nas formas de combate. O IDF vai enfrentar um inimigo com capacidades avançadas, descentralizadas e que opera secretamente no seio da população civil.

Deixem-me como será o primeiro dia de guerra que será enfrentado pelo futuro Chefe de Estado Maior. Hoje, ele pode ser um comandante de divisão. Em 10 anos, ou talvez em dois ou três anos, vai abrir os olhos às quatro da manhã, depois de não muitas horas dormidas, depois de receber um telefonema do seu superior.

O que poderá ouvir? A próxima campanha pode abrir-se com um míssil precisamente no coração da Kirya (o Ministério da Defesa e sede do IDF); com um ataque cibernético que irá paralisar os serviços de todos os dias, a partir dos semáforos até as transacções bancárias, com a detonação de uma bomba num jardim de infância através de um túnel subterrâneo cheio de armadilhas; ou com uma carga maciça de árabes numa localidade israelita perto da fronteira.

Sem dúvida um cenário aterrador. Sobretudo se condimentado com alguns pormenores. Como exemplo, Ganzt tomou as alturas do Golan, uma localidade em paz há quase 40 anos e agora uma fronteira violenta e instável.

No cenário apresentado pelo general, uma bomba é activada e um míssil anti-tanque é disparado contra uma patrulha israelita ao longo da fronteira. É uma espécie de deja-vu de quanto aconteceu em 2006, episódio que desencadeou a guerra os Hezbollah.

Três soldados serão capturados, dos quais um comandante de batalhão. Uma organização jihadista irá assumir a responsabilidade do evento. Tal como em 2006, um ataque num sector incendiará a maior parte das fronteiras com israel, numa campanha multilateral.

Por sua vez , o Hezbollah irá disparar foguetes contra a Galileia e organizações jihadistas continuarão a tentar penetrar no Golan. A precisão dos mísseis será significativamente melhorada e se o Hezbollah vai escolher atingir um alvo específico em quase todo israel, terá a capacidade para fazê-lo. Foguetes irão atingir Eilat. Centenas de activistas de Hamas tentarão destruir os postos de controle na fronteira com Gaza.

Com as batalhas das fronteiras, que também terão sérias implicações contra os civis israelitas, haverá uma grande guerra cibernética que não envolverá apenas os sistemas militares, mas também os civis. Será quase uma guerra transparente e, enquanto isso, os meios de comunicação de ambas as frentes reportarão intensamente os eventos em tempo real.

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Muitos pormenores. Talvez demasiados, considerado que esta era apenas uma hipótese.
A não ser que fosse algo mais. E é mesmo este o ponto: não era uma hipótese.

O discurso aqui relatado foi a versão censurada e desclassificada dum projecto para uma operação false flag, (um ataque de falsa bandeira), obra do mesmo Ganzt, contida no documento intitulado “O IDF em 2025”, feito circular entre os comandos do IDF.

Dado que como false flag não prestava (já um episódio parecido, como lembrado, tinha acontecido), o simpático Ganzt pode agora entreter o público com a sua criação. Mas há mais:

Em alguns casos, o poder de fogo que enfrentaremos não permitirá distinguir plenamente entre civis e terroristas, e esta confusão é expressa operacionalmente com resultados indesejáveis​​ que, infelizmente, são um elemento integrante da guerra.

Traduzindo: o IDF continuará a disparar contra civis desarmados. É “um elemento integrante da guerra”, diz ele; e se for integrante, não se pode evitar. Se tivesse sido um general sérvio a dizer isso, nesta altura já estaria a enfrentar um juiz na Corte Internacional de Justiça. Mas Ganzt pode ficar descansado: no caso dum militar israelita, ninguém apresenta a conta.

Há outro pormenor que deve ser realçado: o general ignorou por completo o papel do Irão.
Enquanto o mundo vê na guerra da Síria a ante-sala do choque entre Washington/Tel Avive e Teheran, Ganzt nem uma palavra gasta sobre o principal inimigo. Faz parte da secção ainda de “O IDF em 2025” ou há outra razão?

Ipse dixit.

Fontes: Haaretz, Besa, Rehmat’s World, IDF

One Reply to “A próxima guerra de Benny”

  1. Olá Max:vendo o mapa da ocupação israelense na Palestina, ao longo do tempo, até 2008, o discurso do general me soa uma piada. Mas funciona…e funciona porque não há quase nada que funcione tão bem como a disseminação do medo. Eu, vivida no Brasil em época de ditadura,uma guerra invisível, mas igualmente assustadora, sei bem o que é isso. O medo também provoca reações descomunais, surpreendentemente fortes nos acossados por ele, um trunfo militar para deixar a população israelense pronta para suicidar os palestinos. Abraços

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