Fracking e terremotos: os estudos

Existe uma relação directa entre as actividades de extracção de gás natural através do fracking (a
fracturação hidráulica) e alguns terremotos?

A questão tem produzido várias discussões nos últimos anos: o mundo científico parece orientado a aceitar as evidências neste sentido, apesar da resistência das empresas que exploram esta técnica.

Significativos três artigos publicados recentemente na conceituada revista Science (links no final do artigo).

O fracking parece ser responsável por tremores de terra de baixa intensidade, aqueles que não provocam danos a bens ou pessoas, e também pode produzir terremotos acima do 5º grau. Já para não falar do facto que as zonas alvos de fracking podem ficar mais sensíveis aos efeitos de terremotos violentos ocorridos em outras partes do mundo, cujas ondas sísmicas têm o potencial para produzir graves repercussões.

Em 6 de Novembro de 2011, um terremoto de 5,7 Richter atingiu o Oklahoma, danificando 14 edifícios prejudiciais e ferindo duas pessoas. De acordo com o estudo realizado por William Ellsworth, sismólogo do Serviço Geológico dos EUA, o terremoto foi causado por um sistema de injecção de água de alta pressão no subsolo, numa zona nos arredores.

O sismólogo afirma que os dados não deixam dúvida de que, em apenas dez anos, o número de terremotos superiores ao 3 º grau nas áreas central e leste dos Estados Unidos passaram de 21 no ano de 2000 para 188 em 2011. Um aumento que não pode ser explicado com base em causas naturais. E não é possível esquecer que nos últimos 15 anos foi iniciada nas áreas uma grande campanha de perfuração para a extracção de gás de xisto.

O gás de xisto, mais vulgarmente conhecido como gás natural, é abundante nos EUA mas é sabido que para extrai-lo é necessário bombear grandes quantidades de águas nas profundezas do terreno, água com uma elevada pressão que pode quebrar as camadas geológicas onde o gás é preso, de modo a permitir, em seguida, uma sua rápida subida até a superfície.

Além dos perigos de contaminação das reservas naturais de água subterrâneas, há as evidência da ligação entre fracking e terremotos: num outro dos citados três estudos publicados na revista Science, é revelado que pelo menos metade dos terremotos de intensidade igual ou superior a 4,5 graus ocorridos nos Estados Unidos na última década, têm afectado áreas na proximidade dos locais de injecção de água.

Um terceiro estudo, um trabalho de dois pesquisadores da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, levou em consideração a sismicidade produzida a partir da energia geotérmica. Analisando a área perto do campo geotermico de Salton Sea (uma central para a produção de energia usina de energia geotérmica no Lago Salton, Califórnia), os pesquisadores concluíram que a prática de injectar água nas profundezas para facilitar a extracção da energia geotérmica produz terremotos; e que o número e a intensidade destes é proporcional ao volume do fluido injectado ou extraído.

Afirma Emily Brodsky, autora dum dos estudos:

Precisamos investigar estes fenómenos para sermos capazes de informar os operadores sobre a quantidade de água que é possível injectar ou retirar de forma segura.

A preocupação está ligada ao que ainda não sabemos destes fenómenos.

O risco é que o enfraquecimento do subsolo e a pressão exercida sobre as falhas possam desencadear sismos de maior intensidade, associado grandes sismos ocorridos em outras partes do mundo.
Os tremores de terra no Chile, em 2010, no Japão, em 2011 e em Sumatra em 2012 tiveram um impacto nos Estados Unidos: as ondas sísmicas produzidas sacudiram com maior intensidade as áreas afectadas pelo fracking ou onde operam as centrais de energia geotérmica.
Nada impede que, no futuro, isso possa também desencadear terremotos maiores ou activar falhas actualmente inactivas.

Os riscos são grandes demais para não levá-los em conta. Nos Estados Unidos, a extracção de gás de xisto é uma componente económica particularmente importante, dado que Washington quer alcançar a independência energética me 2020 e por isso aumenta as plantas de extracção.

Embora, até agora, os terremotos produzidos não constituíram motivos de sérias preocupações, a insistência das técnicas de fracking e injecção de águas residuais na Califórnia e em outras partes do planeta deveria convencer os governos a tomar precauções, pelo menos até que a ciência não consiga avaliar com precisão a extensão do potencial perigo.

Ipse dixit.

Relacionados: 
Fracking 
Fracking: ao pormenor – Parte I 
Fracking: ao pormenor – Parte II 
A lata e o poço

Fontes:
Science: Anthropogenic Seismicity Rates and Operational Parameters at the Salton Sea Geothermal Field, Injection-Induced Earthquakes, Enhanced Remote Earthquake Triggering at Fluid-Injection Sites in the Midwestern United States
Nature: On fracking and seismic hazards: better data, more quakes, Fracking boom spurs environmental audit, Energy production causes big US earthquakes
The Guardian: Pumping water underground could trigger major earthquake, say scientists

2 Replies to “Fracking e terremotos: os estudos”

  1. Olá Max: só irresponsáveis, ambiciosos e incompetentes podem trabalhar esse tipo de perfuração, que exige quantidades absurdas de água, numa região como a Califórnia por dois motivos que me parecem óbvios:
    1. A Califórnia não tem água. Seu terreno está desertificado, e as populações de classe média e pobres se vem em apuros constantes em função da falta de água até para tomar um banho.
    2. A Califórnia é uma região geologicamente instável, propensa a terremotos e com propensão a "explodir" num vulcão de proporções gigantescas (falha de San Andrés), a partir dos gaisers do parque de Yelostone.
    Então, o que acontece? As corporações que se beneficiam com o projeto de "independência de combustíveis" nos EUA tão tão preocupadas com as consequências a nível nacional e até mundial como as pela exploração de energia nuclear no Japão, cujos resultados em deformações genéticas já estão "explodindo" ( e não divulgados) em mal formações nos recém nascidos, mutações em plantas e bichos. Abraços

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