As estranhas ideias de Noam Chomsky

Noam Chomsky é um nome bem conhecido no mundo da informação alternativa.

Linguista, filósofo, cientista, crítico e activista, dele assim fala Wikipedia:

Além da sua investigação e ensino no âmbito da linguística, Chomsky é também conhecido pelas suas posições políticas de esquerda e pela sua crítica da política externa dos Estados Unidos. Chomsky descreve-se como um socialista libertário, […]

Chomsky é uma das personalidades mais conhecidas da política de esquerda americana. Ele se define politicamente na tradição do anarquismo, uma filosofia política que desafia todas as formas de hierarquia. Ele se identifica especialmente com a corrente do Anarcossindicalismo, orientada para a defesa do trabalhador.

Muito bem, parece pessoa séria. Não por acaso, é Chomsky é um ícone.

Mas agora atenção focada na recente entrevista (11 de Julho) concedida por Chomsky ao crítico Mohammad Al Attar e publicada nas páginas online de Heinrich Boll Stiftung.
Apenas alguns excertos.

Israel não fez nada que indique que está a tentar derrubar o regime de Assad. Há crescentes alegações de que o Ocidente pretende fornecer armas à oposição. Eu acho isso muito enganador. O facto é que se os Estados Unidos e Israel estivessem interessados em derrubar o regime sírio, há todo um pacote de medidas que poderiam ser tomadas antes da opção de fornecimento de armas. Todas essas outras opções continuam disponíveis, incluindo, por exemplo, a América encorajar Israel a mobilizar as suas forças ao longo da fronteira norte, um movimento que não produziria qualquer objecção por parte da comunidade internacional e que obrigaria o regime a posicionar as forças na linha de frente e aliviar a pressão sobre a oposição. Mas isso não aconteceu, nem vai acontecer, pois Estados Unidos e Israel permanecem sem a intenção de derrubar regime Assad. Eles podem não gostar do regime, mas não deixa de ser um regime responde aos pedidos deles e qualquer alternativa desconhecida poderia revelar-se pior neste aspecto.

Portanto, segundo Chomsky, não há nenhuma intervenção ocidental na Síria. Os “rebeldes” são sírios fartos do regime. Regime que até é bem visto em Washingotn e Tel Avive, pois não perturba. Isso significa também que o anunciado fornecimento de armas por parte de alguns Países ocidentais, como os Estados Unidos, é falso. Barack Obama mentiu?
Notável.

Durante muito tempo, o mundo árabe e outros lugares foram palcos de histórias e ilusões sobre o poder sobrenatural dos Estados Unidos, que controla tudo através de conspirações e tramas complexas. Nesta visão de mundo, tudo o que acontece pode ser explicado em termos de conspirações imperialistas. Este é um erro. Sem dúvida, os EUA ainda são um grande poder, capaz de influenciar os eventos, mas nem sempre são capazes de manipulá-los por meio de conspirações complexas: isto fica realmente além das suas capacidades. É claro que os americanos às vezes tentam fazer isso, mas não conseguem. O que aconteceu na Síria não é fora da nossa compreensão: começou como um movimento de protesto popular e democrático exigindo reformas democráticas, mas em vez de responder de uma maneira positiva e construtiva, Assad reagiu com a violenta repressão. O resultado habitual deste tipo de acção ou é um sucesso no esmagar os protestos ou, de outra forma, vê-los evoluir e militarizar-se, e isso é o que aconteceu na Síria. Quando um movimento de protesto entra nesta fase, vemos novas dinâmicas em jogo: em geral, a ascensão dos mais extremistas e dos elementos brutais para as fileiras da frente.

Estados Unidos a super-potência global? Nem por isso. Bem queriam eles, mas não conseguem mesmo. O que se passa é que existe uma certa paranóia, no mundo árabe mas também em outros lugares (Antartica?).
E Assad? É mau, não há muito para dizer. Os protestos não passam de cidadãos democráticos que compram gás sarin na Arábia Saudita para despeja-lo nos bairros da capital.

Não esqueçamos de que o regime pode estar a utilizar armas químicas. Há ainda muita incerteza sobre isso agora, mas é uma possibilidade que, inevitavelmente, se tornará realidade no futuro.

Correcção: não são os “rebeldes” que utilizam armas químicas, é o exercito de Assad.
Peço desculpa pelo erro.

Eu não acho que os Sírios fizeram uma escolha. Foi o que aconteceu na estreia da resposta repressiva do regime Assad. Os Sírios poderiam ou render-se ou pegaram as armas. Culpá-los é o mesmo que dizer que os vietnamitas cometeram um erro respondendo pela força quando o governo apoiado pelos EUA começou a cometer massacres. Claro, os vietnamitas fizeram uma escolha ao armar-se, mas a alternativa era aceitar ainda mais massacres. Não é uma crítica séria.

Não pode haver dúvida: o regime de Assad era tão mau que os Sírios não tiveram outra escolha a não ser rebelar-se. Criticar não faz sentido, a guerra civil na Síria é justa. Fica bem inserir uma alusão aos vietnamitas, sabe a autocrítica, cria empatia. Bravo Chomsky.

Mas volto a dizer que acredito que a Síria tem recebido a solidariedade, assim como a Tunísia e o Egipto antes dela.

Claro. Toda a Primavera árabe foi uma mera coincidência. Ver nisso a mão dos Estados Unidos ou, ainda pior, de israel seria apenas paranóia.
Justo.

Pergunta: Há um ponto surpreendente relacionado a revolução Síria. Indivíduos e grupos pertencentes à extrema esquerda na Europa, no mundo árabe e em outras regiões do globo, têm evidenciado hostilidade à revolução, alegando que ele é parte de um complô americano e imperialista. Hostilidade também vem da extrema direita, que o considera como uma ameaça extremista para a existência de comunidades minoritárias e os cristãos em particular. Temos ouvido declarações semelhantes do francês extrema-direita e de Nick Griffin, líder do extremista Partido Nacional Britânico, que visitou Damasco, defendendo Bashar Al Assad. Como você interpreta esse fenómeno?

Apenas ignoro-o. Eles são insignificantes. Representam grupos que não podem ser alcançados ou comunicados. Não há necessidade de se preocupar muito com a nossa incapacidade de convencer os grupos marginais, é difícil estar sempre no primeiro lugar. Há grupos muito mais importantes, activos e influentes sobre o processo de decisão, que devem ser alcançados primeiros.

Na dúvida, melhor repetir: quem pensa numa manobra ocidental ou israelita não passa dum pobre paranóico. Tudo o que se passa na Síria é autêntico, sem interferências estrangeiras. Nem sei porque estamos a falar disso.

Só como curiosidade: qual será o fim de Assad?

O seu destino será a cair de uma forma ou de outra.

Obrigado Senhor Chomsky.
Chomsky…apelido curioso para um americano: não será por acaso filho dum casal israelita emigrado para os Estados Unidos em 1913?
Uma interpretação benévola
Mas vamos ao que interessa: como interpretar as ideias do simpático Chomsky? É complicado, sem dúvida. A impressão que o icone tenha ficado preso à visão geopolícita de de anos atrás.
Será a idade, será outra coisa, mas Chomsky vive ainda num mundo no qual a política estrangeira de Washington é feita de forma regular, inequívoca. Não consegue entender que as intervenções veêem a utilização de novos recursos. Ou melhor: antigos mas aperfeiçoados.
Seja por questões financeiras, eleitorais ou de oportunismo, os EUA são cada vez menos propensos a uma intervenção directa no terreno, preferindo algo mais soft. É o caso da Líbia ou das revoluções coloradas nos Países da África do Norte ou nas repúblicas ex-soviéticas.
Existem muitas e notáveis publicações acerca do assunto: o facto esquisito é que Chomsky parece ignora-las. Assim como parece ignorar a máquina da propaganda ocidental que ao longo destes últimos anos tomou sem reticências o lado dos rebeldes, apresentando até vídeos manipulados ou forjados para demonstrar a “bondade” dos “rebeldes”.
Quantos diários ocidentais relataram a descoberta dos laboratórios onde os “rebeldes” preparam foguetes com gás sarin da Arábia? Como explicar esta tomada de posição por parte de media que sabemos responder a precisos grupos de poder?
Nesta entrevista espantosa, Chomsky parece ignorar tudo isso.
E esta é apenas uma interpretação benévola. 

Ipse dixit.

Fonte: Heinrich Boll Stiftung (versão Pdf em inglês aqui), Wikipedia 

10 Replies to “As estranhas ideias de Noam Chomsky”

  1. Quem conhece sua obra tem dificuldade de acreditar nessa entrevista! Fico me perguntando, quem não será cooptado pelo poder sionista? Afora isso, penso que não há mesmo interesse sionista em derrubar o regime nesse momento, e sim em enfraquecê-lo a ponto de facilitar uma ação futura. A mesma estratégia usada na segunda guerra mundial. Fragilize primeiro seu alvo através de terceiros e posteriormente ataque a ambos.

  2. Seguindo a linha do militantismo de esquerda norte-americano, fico com a opção do DIY. Prefiro ver as coisas por mim mesmo a acreditar nas palavras de supostos ícones do "iluminismo contemporâneo"…

  3. Queria acrescentar uma observação: não sou um Chomsky-especialista, mas conheço alguns das suas ideias e o blog já publicou escritos e entrevistas dele.

    Por isso fiquei muito surpreendido ao ler a entrevista cujos excertos publiquei hoje.

    A única explicação que encontro é que Chomsky esteja desactualizado em relação as mais recentes estratégias de Washington. É esquisito, entendo isso: mas as alternativas são ou um ataque de demência senil ou um pulo para o outro lado da barricada.

    Prefiro o esquecimento…

    Abraço!

  4. Olá Max: há algo profundamente errado! Se estivesse senil, a equipe e os familiares já o teriam desviado das declarações públicas. Mudar de lado, a esta altura da vida? Nasceu filho de israelitas, não se tornou agora, há décadas tem sido uma voz libertária consequente. Prefiro considerar que algo muito forte o obrigou a esta infeliz entrevista, ou nem terá sido uma entrevista dele.Os próximos movimentos indicarão pistas. Abraços

  5. Chomsky sempre foi um impostor.

    As políticas dele apenas se limitaram a dar apoio aos blocos comunismo/capitalismo, para que o povo israelita tirasse proveito dos confrontos políticos desta dualidade. A "filosofia" chomskyana só engana aqueles que querem ser enganados. Disfarçado de "umanista" tem trabalhado para o governo global como ninguém. É preciso saber o quão ladinos são, os tais de "povo eleito".

    Cumps

  6. Judeus são uma percentagem mínima de população mundial e uma coisa é certa: não dão almoços grátis!!!

    Um povo que vive da usura para com os gentios e entre eles, nem pensar, acham que quando actuam não têm um fim em vista a longo prazo? Ou será que acham que estão em lugares cimeiros pela sua bondade?!

  7. Pelo pouco que conheço do Chomsky prefiro não opinar sobre esta entrevista.

    No entanto, o post não deixa de ser muito interessante.

    Krowler

  8. A Esquerda reacionÁria e petulante não aceita nenhuma opinião que possa contraria-la. Assim não se conformam com nenhuma verdade que se oponha aos seus tentáculos racistas e anti-semitas. (Ver Ucrânia e outros povos que Stalin massacrou ).

  9. O sistema, habilmente, se utiliza de agentes voltados a todos os níveis cognitivos, a fim de difundir sua realidade manipulada. O equívoco está em pensar que dirigidos são apenas os simplórios de mente, como se não fosse possível manter sob o jugo, os "eruditos". O que nos causa mais prejuízo são estes últimos, que apenas se auto proclamam com os "tais", mas que se mantem na condição mais vergonhosa de auto-engano. Com isso, ainda falo apenas de ignorância, dos que se deixam enganar; nem falo de iniquidade, desses públicos, que deliberadamente, tem o propósito de confundir.

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