A dança esquecida dos Búlgaros

Os Brasileiros acham ter o exclusivo das manifestações nas ruas?
Nada disso. Na Bulgária, por exemplo, acontece o mesmo.
Única diferença: ninguém fala disso.

E não são algumas dezenas de búlgaros: são milhares de pessoas que ocuparam as ruas durante uma semana. Mas, com raras excepções, os media internacionais optaram por não falar sobre isso.
Olhem só.

Tentamos entender o que se passa? E tentamos.

As pessoas em Sofia, a capital do País, saíram para as ruas uma semana depois de Delyan Peevski ter sido nomeado chefe da Agência de Estado para a Segurança Nacional. Peevski é um simpático oligarca, magnata dono de media e político: a sua nomeação foi extremamente rápida e antes de ser tornada pública, Peevski já estava a dar entrevistas para explicar qual a sua missão. Pormenor: os búlgaros detestam Peevski e com as redes sociais (Facebook e Twitter) organizaram os protestos.

O resultado é que passadas vinte e quatro horas, o primeiro-ministro Oresharski retirou a nomeação.

Mas porque não falar dum protesto que parece dirigido apenas contra uma pessoa específica, nomeada para uma função muito específica e, acima de tudo, após da nomeação ter sido retirada?
O facto é que Peevski foi só a ponta do icebergue.

Graças às suas ligações bem documentadas com empresários criminosos e com a elite política, a fácil ascensão ao poder de Peevski bem representa um sistema de governo em que os interesses políticos, económicos e criminais desenvolveram uma relação simbiótica, de modo que ninguém pode dizer onde termina o lucro de alguém e onde começam os ganhos de outro.

A corrupção não é a única peculiaridade da Bulgária, mas o que espanta os cidadãos é a maneira com a qual a classe política tornou-se o produto da mesma corrupção: interesses políticos e criminosos estão interligados e as pessoas chamadas a gerir o País não têm uma séria noção sobre o que significa governar.

O que a nomeação de Peevski representa tão perfeitamente é que os governantes já não são capazes de discernir quando as suas actividades violam a lei: tornaram-se intocável, uma verdadeira casta.cosas.

As pessoas foram para as ruas não pelo facto dum criminoso ter sido demasiado ambicioso, mas porque o País está a ser saqueado.

As primeiras manifestações começaram no final do Maio passado, mas foi só depois do 14 de Junho, com a nomeação de Peevski, que as cosias assumiram uma dimensão bem maior: centros dos protestos são a capital, Sofia, depois Plovdiv, Burgas, Varna, num total de 18 cidades.

Na passada Segunda-feira, o primeiro-ministro socialista Plamen Oresharski (no cargo há apenas três semanas) pediu desculpas por ter nomeado o magnata sem debate parlamentar. Mas afastou as próprias demissões, tal como pedido pelos manifestantes.

Não houve incidentes de repressão por parte das forças do governo, também porque a polícia deixou claro estar do lado dos manifestantes. O Presidente da República, Rosen Plevneliev, cujo papel é apenas representativo mas cuja voz é muito sentida no País, fornece palavras de solidariedade e apoio aos jovens que animam os protestos:

Vou manter consultas com todos os partidos. Espero que todos assumam as suas responsabilidades.

Dance With Me

O movimento de protesto é chamado de “Dance with me” (DWM), porque ДАНС em búlgaro é o
acrónimo do Departamento de Segurança Interna.

E os protestos abrangem toda a realidade do País: a Bulgária é o País com a menor renda per capita da Comunidade Europeia (em média, 400 € por mês), nos últimos tempos o custo de energia eléctrica dobrou, boa parte do salário desaparece para pagar a electricidade e aquecimento (está frio na Bulgária!).

A miséria da grande maioria da população é mal reflectida na opulência dos poucos oligarcas ou chefes da máfia, que, em vários casos, têm ligações com os serviços do Estado, a polícia ou a intelligence.

E esta é a razão, não a única, que tornou a nomeação de Peevski numa onda de raiva que ainda engole as ruas de Sofia.

Obviamente, na Bulgária a politica seguida é aquela das privatizações, redução da dívida, controlo orçamental, reformas estruturais…

Ipse dixit.

Fontes: Medium 1, 2, Capital, Corriere della Sera, The Economist
Imagens: Reuters

5 Replies to “A dança esquecida dos Búlgaros”

  1. Que horror morar num pais, tipo Bulgária, em que governo e mafias oligarcas de lavagem de dinheiro são como carne e unha! E o povo gastando o orçamento em aquecimento doméstico! Porisso, apesar do Ministério Público de nosso país ser sucateado, sem as mínimas condições de investigar crimes,continua sendo um simbolo de autoridade ainda confiável para o povo e em contato DIRETO com o povo nas suas audiências semanais. Depois da derrota da PEC-37 que vi não poucas cabeças do PT lamentando…, resta ampliar os instrumentos de investigação e o número de promotores de justiça por habitante, desafogando-os da tarefa hercúlea em que estão envolvidos. Quando a polícia for confiável e não paire dúvidas sobre sobre sua lisura em ligações ilícitas com setores do crime, vão certamente ganhar igual confiança que os promotores detém junto a população.

  2. URGENTE!

    Coronel do Exército afirma que o Brasil está a três passos da guerra civil:

    http://blitzdigital.com.br/index.php/menunot-policia/381-coronel-do-exercito-afirma-que-o-brasil-esta-a-tres-passos-da-guerra-civil

    "O MST se desloca como um exército de ocupação. As invasões do MST são toleradas, e a lei não aplicada. Os produtores rurais, desesperançados de obter justiça, terminarão por reagir. Talvez seja isto que o MST deseja: a convulsão social. Este conflito parece inevitável.
    O ambientalismo, o indianismo, o movimento quilombola, o MST, o MAB e outros similares criaram tal antagonismo com a sociedade nacional, que será preciso muita habilidade e firmeza para evitar que degenere em conflitos sangrentos."

    A crise econômica e a escassez de recursos naturais poderão conduzir as grandes potências a tomá-los a manu militari, mas ainda mais provável e até mais perigosa pode ser a ameaça de convulsão interna provocada por três componentes básicos:

    — a divisão do povo brasileiro em etnias hostis;
    — os conflitos potenciais entre produtores agrícolas e os movimentos dito sociais;
    — e as irreconciliáveis divergências entre ambientalistas e desenvolvimentistas.

    Em certos momentos chega a ser evidente a demolição das estruturas políticas, sociais, psicológicas e religiosas, da nossa Pátria, construídas ao largo de cinco séculos de civilização cristã. Depois, sem tanto alvoroço, prossegue uma fase de consolidação antes de nova investida.

    Isto ainda pode mudar, mas infelizmente os rumos que seguimos apontam para a probabilidade de guerra intestina. Em havendo, nossa desunião nos prostrará inermes, sem forças para nos opormos eficazmente às pretensões estrangeiras.
    O problema é mais profundo do que parece; não é apenas a ambição estrangeira. Está também em curso um projeto de porte continental sonhado pela utopia neomissionária tribalista. O trabalho de demolição dos atuais Estado-nações visa a construção, em seu lugar, da Nuestra América, ou Abya Yala, idealizado provavelmente pelos grandes grupos financistas com sede em Londres, que não se acanha de utilizar quer os sentimentos religiosos quer a sede de justiça social das massas para conservar e ampliar seus domínios.

    O ambientalismo distorcido, principal pretexto para uma futura intervenção estrangeira

    Já é consenso que o ambientalismo está sendo usado para impedir o progresso, mesmo matando os empregos Caso se imponham os esquemas delirantes dos ambientalistas dentro do governo, com as restrições de uso da terra para produção de alimentos, um terço do território do País ficará interditado a atividades econômicas modernas.

    Há reações, dos ruralistas no interior do País, nas elites produtivas e até mesmo em setores do governo, mas as pressões estrangeiras tendem a se intensificar. Se bem que raramente o meio ambiente serviu de motivo para guerra, hoje claramente está sendo pretexto para futuras intervenções, naturalmente encobrindo o verdadeiro motivo, a disputa pelos escassos recursos naturais.

    No momento em que a fome ronda o mundo, o movimento ambientalista, a serviço do estrangeiro, mas com respaldo do governo e com apoio de uma massa urbana iludida, chama de "terra devastada" àqueles quadrados verdejantes de área cultivada, que apreciamos ver na Europa e nos Estados Unidos, e impede a construção de hidrelétricas para salvar os bagres. Com a entrada da Marina Silva na disputa eleitoral, nota-se, lamentavelmente, que todos os candidatos passarão a defender o ambientalismo, sem pensar se é útil para o País.

    A três passos da guerra civil

    O ambientalismo, o indianismo, o movimento quilombola, o MST, o MAB e outros similares criaram tal antagonismo com a sociedade nacional, que será preciso muita habilidade e firmeza para evitar que degenere em conflitos sangrentos.

  3. Y tem um grupo no MS (estado Do Mato Grosso do Sul) planeando golpe… perdi o link, infelizmente.

  4. Dinarte… li seu comentário tentando conhecer teu país… e que surpresa!, és brasileiro!
    Mas deves morar algures longe dele, pois não estás atualizado com o mensalão, privataria tucana, Cachoeira e sua encantadora mulher, Renan, Maluf (este é um mestre em corrupção e diplomado em diversos países que o acolherão na cadeia se lá aparecer…).
    E temos a Fifa mandando nas leis do nosso país, querendo proibir vendas de marreteiros em torno dos estádios, que estão nos custando bilhões, para eles venderem cerveja a R$18,00 a quem comprar dentro do estádio… sendo que promulgamos uma lei de proibição de bebida DENTRO DOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL.
    Dinarte, volte ao Brasil para o reconhecer e perceber a realidade dele!

  5. Acho interessante demais saber o pensamento das forças armadas a respeito da questão ambiental e da ambição internacional sobre nosso continental e multiétnico pais. Analisem o texto do militar,me parece que tem acertos e contradições, preocupações genuínas e ideológicas, e se antes era a obsessão comunista até certo ponto justificada, mas manipulada pela retórica da violência e do controle pelo ferro, tal era também atrás cortina que desabou, agora está se formando um 'consenso' sobre o ambientalismo com se fosse uma mera 'utopia neomissionária tribalista', e os movimentos culturais indianista de raiz e de afrodescendentes fossem um estorvo ao desenvolvimento do pais. Não vou nem me referir ao MST que já tem suas militancias defensoras. Só sei que em areas protegidas ambientais estão sendo extrativistamente e auto-sustentavelmente administradas por segmentos do MST, e se muitos deles são agentes de desordem e ambição tal como na sociedade civil urbana, muitos deles defendem a terra, protegida ambientalmente, das cercas e dos búfalos dos verdadeiros invasores grilheiros latifundiários. Por que o texto omitiu a invasão das multinacionais como a MONSANTO, aquela que segundo consta foi agraciada pelo acordo da Nova Ordem chamado CODEX ALIMENTARIUM de 1994? Que tipo de produção agrícola se esconde atrás desta ordem produtiva e desenvolvimentista? Assim como a medicina se viu coaptada por multinacionais farmacêuticas, relevando a medicina de raiz profilático-curativa por uma medicina invasiva e química ao gosto das Bayers,estamos assistindo a o avanço de uma mentalidade de usura implacável. Mas ainda ha grandes resistências pacíficas e genuínas aos pobres e deserdados, e me animo mesmo que utopicamente,como referiu o apressado amigo acima, quando soube que o Ministério Público finalmente enxergou o descalabro das etnias Caigangues dormindo ao relento e em bancos de rodoviárias, providenciando enfim espaços e casas de passagem, Justiça ao nativos de um pais que ainda conserva o Verde em sua bandeira, não vai fazer nenhuma colisão civil, e que no lugar daquela frase positivista e arbitrária, Ordem e Progresso, possa-se sonhar Democracia e Participação, verdadeiro germe da Paz, do Direito e da Justiça. Lembremo-nos que SOMOS UM e o futuro depende de cada ato integrado que compartilhamos aqui e agora. Lembremo-nos do que Cristo afirmou ao excluídos: Avante, os humildes e pacificadores, eles herdarão a terra.Avante, os que buscam a justiça e o direito, eles serão o sal da terra. Bem, lembremo-nos que Jesus clamava aos excluídos sob o jugo do Império Romano, da elite da nobreza e religiosa de seu próprio povo.

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