Alimentação: o plástico, o peixe, os nobres…

E continuemos com a tradição iniciada no blog no longínquo 1947: no Domingo fala-se de alimentação.
Em primeiro lugar Coca Cola. Tem que ser.

Vida e obra duma lata de Coca Cola

O que acontece após ter engolido uma lata mágicorefrigerante?
Eis a sequência:

  • 30 segundos: o arroto

Normal, é o gás contido nos refrigerantes. Pode não ser muito educado (mas no Japão é visto domo um forma de cumprimentos ao chefe), mas pelo menos não tem contra-indicações.   

  • 10 minutos: os açucares

10 colheres pequenas de açúcar atingem o organismo: são 100% da dose diária recomendada. Em condições normais isso poderia causar náusea, mas o ácido fosfórico diminui o sabor adoçado e permite que a bebida fique no estômago.

  • 20 minutos: a glicemía dispara

A glicemía levanta o voo, provocando uma maciça produção de insulina por parte do pâncreas. Esta transforma tudo o açucar que conseguir “capturar” em glicogeno (açucares de reserva) e gordura.

  • 40 minutos: a cafeína
A cafeína é absorvida completamente. As pupilas dilatam-se, a pressão do sangue aumenta e o fígado injecta outro açúcar no sistema circulatório. Os receptores cerebrais (adenosina) bloqueiam-se para prevenir o sono.
  • 45 minutos: os efeitos da cocaína

O corpo aumenta a produção de dopamina que estimula o centro do prazer no cérebro. É o mesmo mecanismo de acção da cocaína.

  • 60 minutos: a perdas dos minerais

O ácifdo fosforico liga Cálcio, Magnésio e Zinco no intestino, aumentado o metabolismo. As elevadas doses de açucares aumentam a expulsão e Cálcio na urina. Ao memso tempo, entram em acção as propriedades diureticas do cafeina: com a urina são assim eliminados novamente Cálcio, depois Magnésio, Zinco (que eram destinados aos ossos e aos dentes para reforça-los) e sódio.

  • 60 minutos: a ressaca

Na mesma altura a glicemía entra em queda e também os efeitos da cafeína começam a diminuir.
Os efeitos “eufóricos” desaparecem.
Solução: beber outra lata de Coca Cola.

Interessante realçar que estes são os efeitos provocados pela Coca Cola, mas que o verdadeiro inimigo não é a bebida em si mas a combinação de açucares, cafeína e ácido fosfórico. E esta é uma combinação que é possível encontrar em muitos outros refrigerantes.

Os Ómegas 3 que fazem mal

Leite com Ómega 3

Todos concordam: os ómegas 3 fazem bem. É toda saúde.

Os ómegas 3 são ácidos gordos essências, indispensáveis para um correcto funcionamento do nosso organismo. E a fonte primária de tais ácidos são o peixe, os crustáceos, as nozes.

Mas fazem bem? Depende. A água faz muito bem, mas experimentem beber 5 litros de água duma só vez. A mesma coisa acontece com os ómegas 3.

Ray Peat, biólogo especializado em fisiologia da Universidade do Oregon, conduziu um estudo acerca dos efeitos adversos destes ácidos. E estes confirmam os resultados já evidenciados por pesquisas anteriores. Por exemplo: os ómegas 3 apresentam efeitos anti-tiroidais, imunodepressivos, foto-sensibilizadores, anti-mitocondriais, que deprimem a oxidação do glucose, contribuem para o carcinoma metastático do cólon e provocam danos ao fígado.

São as mesmas advertências que apresentava a Food and Drug Administration (FDA) até poucos anos atrás: a ingestão excessiva de ómegas 3 não é “toda saúde”. O limite deveria ser de 3 gramas ao dia por pessoa.

Como em todas as coisas, é preciso ter um certo equilíbrio.
Se for verdade que os ómegas 3 têm muitos efeitos positivos, é também verdade que o excesso aumenta a mortalidade por causa do cancro e destrói rapidamente a vitamina E no corpo.

A pesquisa de Peat é bastante pormenorizada e convincente: pode ser encontrada neste link (em língua original). A moral não poderia ser diferente da seguinte: sigam uma alimentação equilibrada, consumem peixe em quantidade normal, evitando os produtos enriquecidos (como o leite com ómega 3).

Sobra uma pergunta: porque a FDA mudou de opinião e agora “empurra” o consumo dos ómegas 3?
A resposta é complicada, mas uma boa ideia pode ser encontrada num artigo do Houston Business Journal:

A empresa de capital aberto, que produz um ácido grasso ômega-3 chamado OmegaPure, assinou um acordo para fornecer o seu óleo de peixe nas cantinas de 38 distritos escolares no sul do Texas no início deste mês. 

A empresa em questão é a Omega Protein Inc., da família Bush.
O mercado do ómega 3 é um grande negócio.


A dieta dos nobres

Muito interessantes os resultados dum estudo que desvenda qual a dieta de duas mais poderosas famílias italianas do século XVI, os Médici e os Aragonesi.

Os pesquisadores das Universidades de Napoli, Pisa e do Minnesota analisaram os restos mortais de 45 pessoas, procurando os isótopos de carbono e nitrogénio também nos corpos do Rei de Napoli, Ferrante I di Aragone, do grão-duque Fernando I e da duquesa Eleonora di Toledo.

Resultados: muita carne, demasiada carne, ma também peixe, comido em quantidades moderadas, ovos e queijos. Quase nunca vegetais.

Consequência: as  doenças encontradas nos corpos analisados, que incluem câncer de cólon (pois: o cancro não é uma “doença nova”), arterioscléose e gota, três doenças directamente relacionadas com o excessivo consumo de carne vermelha e de gordura.

Plástico e comida

Plástico em contacto com comida: é perigoso?
A resposta mais óbvia poderia ser: sim, é perigoso. Mas a verdade é que todo no frigorífico temos comida em contentores de plástico ou derivados. Então a coisa melhor é observar o contentor, abaixo do qual deve estar presente um número. E depois ver a seguinte tabela:

Isso significa que uma garrafa em PET (o elemento nº 1) é segura?
Não. Significa que as leis permitem a utilização de PET com os alimentos, não significa que o PET seja indicado para esta função.

Em qualquer caso: sempre preferir o vidro para conservar os alimentos.

Há casos em que existem provas da perigosidade de determinados materiais plásticos: o material nº 3, por exemplo, o policloreto de vinila (PVC), é considerado idóneo para a conservação dos alimentos (é este o material muito utilizado para as embalagens dos iogurtes), mas o PVC contém DEHA (Diethylhydroxylamine), uma substância potencialmente tóxica. Isso apesar de ser permitido.

Mas dúvidas existem também nos casos dos materiais sinalizados com o SIM: simplesmente, faltam ainda provas científicas conclusivas que demonstrem a perigosidade além que qualquer razoável dúvida.

Dado que prevenir é melhor do que curar, e dado que cedo ou tarde surgirão as provas da perigosidade de todos os plásticos (ou da maioria deles) em contacto com os alimentos, a melhor coisa é seguir desde já as seguintes sugestões:

  • no forno microondas não utilizar contentores em plástico
  • não reutilizar garrafas de plásticos
  • contentores velhos com arranhões não devem ser utilizados para conservar alimentos.
  • substituir o material plástico com vidro (o melhor), pirex, aço, porcelana, cerâmica, terracota
  • fora da Europa (onde está proibido) evitar o BPA, o Bisfenol A, que provoca muitos distúrbios (perturba o funcionamento da tiróide,afecta o sistema neurológico, aumenta as possibilidades de cancro da mama, aumenta o volume da próstata, nas mulheres danifica o DNA).

E bom Domingo para todos.

Ipse dixit.

Fontes: Lo Sai, Ray Peat, Yourself, Il Fattaccio

4 Replies to “Alimentação: o plástico, o peixe, os nobres…”

  1. olá Max: insulina é segregada pelo pâncreas normalmente, e pode até se acumular no fígado. Também cogita-se a produção de insulina através de células tronco do fígado, mas esse não é o processo natural dos organismos superiores.Feita a correção, um adendo para os viciados em coca-cola (bem pior que ser viciado em tabaco,maconha ou coca sem impurezas), até porque este é um vício muito difícil de ser eliminado (sua supressão produz tremedeira, dormência,sensação de fome,náuseas,peso no estômago, tontura):procurem ingerir cápsulas contendo magnésio, zinco e vitamina E, para compensar as perdas.E, quanto aos obesos também viciados em refrigerantes, considerem que boa parte da aparência "balofa"(aumento de volume), provém do inchaço produzido no organismo pela ingestão sistemática destas drogas legais e chamadas de alimentos.Abraços

  2. continuação: sobre alimentar-se com cadáveres. Gostaria demais que a humanidade tivesse evoluído da caça ao consumo vegetariano, e não involuído da caça à produção industrial de comida a partir dos animais.Me incluo neste tipo de involução, já que pertenço a uma cultura (gaúcha)cuja base da alimentação é a carne vermelha. Pelo menos a tradição gauchesca tem respeito e compaixão pelas suas vítimas.Mas,é bom lembrar que a história de sucesso da humanidade no planeta está ligada à caça nômade e que foi nada menos que a agricultura e o advento das tradições sedentárias que iniciaram a trajetória humana com fins de acumulação, extermínio e desperdício. Abraços

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