Previsões de guerra: o Irão


Fazer previsões é uma coisa muito difícil,
especialmente quando dizem respeito ao futuro
Niels Bohr

E pontuais eis que chegam as previsões funestas.
De quem? De quem não tem nada a perder, óbvio.

Falamos de guerra, dum conflito utilizado para resolver duma vez por todas a crise.

Não é a primeira vez que é agitado o fantasma da guerra por parte de quem gere os fios da economia global. E a razão é simples: a guerra é um excelente negócio.
Mesmo um País derrotado num grande conflito pode ressuscitar e tornar-se numa “locomotiva da Europa”.

Há também outras razões.
Medida após medida, é claro que a actual situação de crise é destinada a prolongar-se. Nos Estados Unidos a retoma é muito fraca, a Europa está em recessão, até os Brics não crescem como antes. A impressão é que não haja nada mais para recolher neste prato. Então eis a ideia: partimos a loiça e vamos mudar de prato.

Previsão ou pio desejo? Não sabemos. Mas é preocupante o facto destas pessoas serem as mesmas que vivem e operam próximas dos centros de poderes. Ou serem elas mesmas o poder.

Larry Edelson, economista normalmente hospede nas página de Bloomberg, Reuters, CNBC, The New York Times, New York Sun e Marketwatch, escreveu um e-mail aos seus assinantes, cujo título é ara assinantes intitulado “O que os Ciclos de Guerra dizem para 2013”:

Desde a década dos anos oitenta, estudei os chamados “ciclos de guerra “: os ritmos naturais que predispõem as sociedades para descer no caos, o ódio, numa guerra civil ou até internacional.

Certamente não sou a primeira pessoa a observar esses modelos tão únicos na história. Houve muitos antes de mim, em particular, Raymond Wheeler, que publicou a crono-história da guerra de maior autoridade de todos os tempos, documentada com dados ao longo dum período de 2.600 anos.

No entanto, há poucas pessoas que estão dispostas a discutir a questão neste momento. E com base no que vejo, as implicações podem ser absolutamente enorme em 2013.

Interessante a expressão “ritmos naturais”. Dito assim, parece que a guerra existe além da vontade humana, quase um componente óbvia da Natureza. Não há nada para fazer: cedo ou tarde deve haver uma guerra. Ámen.

Será então inevitável acabar a deterioração duma sociedade (e a nossa sociedade está abundantemente deteriorada) com um conflito, até de proporções “internacionais”? A História diz que não, não é assim.
Mas dizer isso não assusta ninguém.
Por isso: em frente.

O ex-analista do Goldman Sachs, Charles Nenner (que lançou alguns avisos muito precisos entre os seus clientes acerca de hedge funds e bancos) diz que haverá “um grande guerra que vai começar na passagem entre 2012 e 2013” e que irá levar Dow Jones para 5.000 pontos.

Horror e tragédia: o Dow Jones a 5.000 pontos? Mas é uma catástrofe! Ah, sim, depois haveria as bombas, a violência, os mortos, mas enfim, a Bolsa é a Bolsa. Em qualquer caso, cuidado com o 31 de Dezembro: não sempre os fogos de artifício são o que parecem.

Pergunta: porquê? Porque estes gurus estão a prever uma guerra? E nem pequena…

Em parte porque, como afirmado, muitas pessoas influentes estão convencidas de que a guerra é boa para a economia. O que não é verdade: é boa para alguns (poucos) durante o conflito, enquanto a sociedade pode ver o crescimento (que existe após um conflito e que não pode ser negado) só após sofrimentos e privações terríveis. O jogo vale a pena?

Jim Rogers (co-fundador do Quantum Fund com o simpático George Soros e apoiante de Ron Paul na corrida para as Presidenciais americanas) afirma:

A continuação dos resgates na Europa poderá vir a desencadear uma nova guerra mundial […] Adicionamos a dívida, a situação agrava-se e, eventualmente, entra simplesmente em colapso. Então, todos vão procurar os bodes expiatórios. Os políticos culpam os estrangeiros, e estamos numa guerra qualquer.

Depois temos a explicação de Marc Faber, o qual afirma que o governo dos EUA vai iniciar novas guerras em resposta à crise económica:

A próxima coisa que o governo vai fazer para distrair a atenção das pessoas em más condições económicas será começar uma guerra em algum lugar. […] Se a economia mundial não recuperar, normalmente as pessoas vão para a guerra.

Problema: os Estados Unidos não têm dinheiro nesta altura, e as guerras custam. Muito. Foi isso que provavelmente salvou o Irão até agora (israel sonha um ataque de olhos abertos) e a situação entretanto não melhorou.
Iniciar um conflito agora significaria desviar muitos dos fundos federais que agora são indispensáveis até para o normal funcionamento dos Estados da União e que contribuem para a sobrevivência de milhões de desempregados. Para justificar uma tal medida seria preciso um acontecimento “forte”, mas de novos 9/11 por enquanto nem a sombra. Isso ou os jogos de poder duma potente lobby, pois afinal os sinais ou acontecem ou criam-se.

Faber acredita que os Estados Unidos, a China e a Rússia podem começar uma guerra por causa do petróleo do Médio Oriente. E o humilde blogueiro permite-se discordar. Não que não haverá no futuro uma guerra por causa do petróleo (e do gás, e mais à frente ainda pela água…), mas não agora, em particular no ano em que os Estados Unidos atingirão o pico de produção.

A Rússia tem petróleo e sobretudo gás em abundância. Fica descansada.
E a China? A China não tem petróleo e sofre por causa disso (falta de gasóleo em algumas províncias), é verdade. Mas a China já deu prova de saber resolver os seus problemas não com a guerra mas com outros meios. Quem desencadeou ou entrou em 10 conflitos (sem contar os acontecimentos menores) nos últimos 150 anos não foi Pequim.

Se guerra será, não será para satisfazer a procura imediata de petróleo, o custo não justificaria isso.
Será para tentar resolver uma situação económica aparentemente sem saída, para ocupar novos mercados potencias, para desenvolver o antigo projecto de domínio na Eurásia e para satisfazer a sede de vingança dum dos aliados de Washington.

Nem é preciso explicar qual deles, pois não?

Irão: embargo total

No silencio absoluto dos medias ocidentais, começou o embargo contra o Irão. Há 48 horas nada sai e nada entra legalmente do País do Médio Oriente, nem a comida.

As eleições americanas acabaram, o Prémio Nobel a Paz Obama ganhou, luz verde para a tentativa de estrangular um País com 75 milhões de habitantes. Os bancos franceses bloquearam todas as contas das empresas que mantêm relacionamentos de importação ou exportação com o Irão. Após seis anos de embargo, pela primeira vez todas as medidas possíveis são aplicadas.

Se Tel Avive quer sangue, Washington ladra e mostra os dentes.
E a guerra começou há 48 horas.

Pode demorar: os sinais da Segunda Guerra Mundial estavam claros muitos antes da invasão da Polónia, é preciso conceder o tempo para que as coisas amadureçam. Depois sim, na altura “certa” haverá a guerra espectacular, feita de bombas pseudo-inteligentes e enviados da CNN. Mas podem passar meses ou até anos.

Por enquanto criam-se as condições e afiam-se as armas: israel já testou a aviação na Somália e nestes dias experimenta o sistema anti-mísseis Iron Dome. Adquiriu também vários Boeing 707 para que possam ser convertidos em aviões de refornecimento.

A Nato fez um bom trabalho e israel agradece: a Líbia está de rastos, o Egipto é empenhado na travessia do deserto, a Síria em pedaços, o Iraque já não existe, o Líbano tinha sido arrumado há muito. As possíveis ameaças contra Jerusalém foram sistematicamente eliminadas com a Primavera Árabe. Sobra a Jordânia, demasiado pequena para levantar a voz, e o Irão, o alvo.

Mas não é simples: há Moscovo e Pequim atrás de Teheran.
Concentrar-se no Irão significaria deixar pouco protegida a frente do Oceano Pacífico, onde a China avança cada vez mais e onde Washington investiu muito nos últimos tempos (mais do que no Médio Oriente). Porque os Estados Unidos realmente têm problemas de dinheiro e, apesar das pressões israelitas, os cofres estão vazios.

Não seria a primeira vez que Washington entra num conflito estando à beira da bancarrota (foi assim na Segunda Guerra Mundial), e israel afinal pouco está interessada na situação interna dos Americanos. É, de facto, um jogo muito complicado.

Mas o sinal foi lançado, disso não há dúvida: o embargo total contra o Irão é um facto, não uma intenção. Agora é só esperar para as eleições de Janeiro em israel e observar as próximas jogadas.

Ipse dixit.

Fonte: Washington’s Blog, Business Insider, Russian Today, Petrolítico

5 Replies to “Previsões de guerra: o Irão”

  1. Olá Max:
    Quando no final de uma afirmação como esta, de que em resposta às crises econômicas serão iniciadas novas guerras,seguida de um simples pontinho no fim da frase, estamos diante não só de uma constatação, mas da aceitação tácita de uma solução tomada como normal.
    Os analistas sequer põem um ponto de exclamação, ou de interrogação no final da frase,como a questionar-se ou surpreender-se, tentar especular outras possibilidades. É assim que, no mundo discursivo, o absurdo de uma situação como esta, de resolver os problemas econômicos que foram construídos pelos poderosos com guerras que continuarão beneficiando estes mesmos poderosos,e massacrando a maioria, vira afirmação tranquila, e o discurso midiático, técnico, dos analistas, e demais ditos conhecedores, contribui para impor os acontecimentos que se seguirão, do jeito como afirmado, com um simples ponto final.O mundo é um descalabro!E eu não gosto da maior parte das coisas que nele acontece…Abraços

  2. Maria!

    A máxima preocupação é o Dow Jones. Tudo o resto é secundário.

    Temos que pensar nisso porque este é o mundo que NÓS criamos. Ou que deixamos criar, tanto faz: a não-acção não pode ser invocada como desculpa.

    Ninguém pergunta, ninguém pede explicações. Seguimos o caminho traçado e nem sabemos quando foi traçado e com qual objectivo.

    Escrevo ao Presidente da República portuguesa um e-mail, educada e até sem erros: o gajo nem se digna de responder. É normal, podemos pensar, é uma figura importante. Mas não é normal: tinha feito perguntas lícitas, como cidadão dum outro Estado que paga as taxas aqui, simplesmente queria respostas. Mas não há.

    Falo com amigos. "Escreveste ao Presidente?". Incredulidade. Deus meus, o que eu fiz… fiz nada: escrevi uma carta para um homem, um fulano que diz representar este País, ponto final.

    Mas é mais forte do que nós: vemos "eles" como seres superiores e nós como inferiores, não dignos duma simples resposta. É a mesma atitude do escravo.

    Em relação ao mundo da economia e da finança, a atitude é a mesma. "Eles" e "nós".
    Errado, profundamente errado.
    Se houver uma diferença é que "eles" vivem bem, com muito dinheiro, mas ficam bem afastados da realidade (o Presidente é o mesmo que não consegue viver com apenas 10.000 Euros mensais, está tudo dito).

    É tempo de retomar o leme que não pode ficar nas mãos de quem não vive entre nós.
    Caso contrário, as nossas vidas perderão cada vez mais valor, já agora estando ultrapassadas pelo valor dum Dow Jones.

    Grande abraçoooo!

  3. Ótimo Max, mas infelizmente fomos treinados à sermos cuidados… e não cudar de nós mesmos…

    Jesus nos ama… Deus ajuda quem cedo madruga… tudo é uma mega-conspiração… nada está ao nosso alcance…

    Infelizmente quase que uma totalidade das pessoas de boa índole foi treinada para se sentir impotente… apenas as pessoas de má índole que são imponentes…

    Essa coisa de guerra não é bom… por mais mesquinho e hipócrita que seja: seria legal continuar como tem sido nas últimas décadas: guerra atrás de guerra, mas nenhuma em nossos quintais…

  4. Olá Ricardo e esposa do Ricardo: não creio na validade de alguém mudar o pensamento de outro alguém. O que se pode tentar é instrumentalizar, oferecer recursos, informações precisas, claras e acessíveis, para que os pré dispostos a perceber, efetivamente percebam.Este, me parece, o papel que o papelzinho desempenha…e bem, tal como os posts de ii. Foi mudando o pensamento dos outros que a maioria das "merdas" do mundo se constituíram,até chegarmos ao chamado pensamento "único". E não preciso te exemplificar historicamente. Ou o conhecimento se inventa não hierarquicamente,e como construção coletiva, ou temos mais um dogma para ser "ensinado". Felizmente, até agora não tive indícios que me levassem a pensar o Max como um bispo, mudando cabeças, e ii, sua igreja. Não frequento nenhuma igreja…nenhuma mesmo.Mas acredito que voces estejam de acordo comigo. Abraços

  5. Maria,

    Ok… não foi uma frase bem formulada… mas seria exatamente isso… "desmudar" os pensamentos… tirar as pessoas desse padrão… do status quo tão degenerativo… claro, com informação, e não sermão! Mas é essa a questão. Se a informação vai de encontro com o que a pessoa padrão acredita, ela se fecha completamente. O medo de mudança é impressionante… É complicado…

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: