Thrive e o mágico donut

Atingido por uma ataque de masoquismo, decido sentar e subministrar-me a dose diária de sofrimento com a visão do filme Thrive, lançado há um ano (dia 11 de Novembro de 2011: 11.11.11, wow!).

Thrive não é apenas um filme mas um verdadeiro movimento activista que pretende mudar o mundo e no cujo centro encontramos Foster Gamble.

Gamble, Gamble…este nome diz alguma coisa, tipo Procter & Gamble. Será ele? É ele!

Então é assim: a empresa que produz o detergente Ariel, as torradeiras Braun, as pilhas Duracell, as lâminas Gilette, o shampoo Head & Shoulder, o fio dental Oral-B, as loções Pantene, as fraldas Pampers, o spray da Wella e os perfumes da Dolce e Gabbana quer revolucionar o mundo, torna-lo melhor. E eu sinto-me logo mais tranquilo, é claro que estamos em boas mãos.

Antes de mais uma visita ao site do movimento: fundo azul, à esquerda uma pirâmide Maya com a fatídica data Dezembro de 2012 (o Grande Evento, pessoal, não esqueçam!), espaço para doações (25 Dólares? Nada mal) e várias páginas, entre as quais não podem faltar aquelas dedicadas à intervenção em campanhas de alta sensibilidade.

E aqui é precisa muita atenção. Se o movimento Thrive apostasse em eméritos disparates, seria simples não levá-lo à serio e rotula-lo como uma nova acção de marketing, cujo fim é o controlo smassas e do descontentamento delas. Mas na Procter & Gamble não são uma cambada de idiotas e conhecem bem a lição, por isso na lista das acções importantes do movimento encontramos iniciativas perfeitamente lógicas e desejáveis, como por exemplo:

  • criação duma zona de cultivo livre de produtos geneticamente modificados
  • protestos e boicote contra a Monsanto
  • defesa da liberdade de internet
  • denúncia do fenómeno chemtrails.

Fica portanto óbvio qual o objectivo da nova iniciativa: a infiltração no seio dos movimentos de protesto, reunir e direccionar o descontentamento das pessoas. Pegamos, por exemplo, na top ten da coisas para fazer:

  1. Manter-se informado, falar e relacionar-se com outras pessoas.
  2. Utilizar bancos locais.
  3. Comprar com responsabilidade
  4. Juntar-se ao moimento de para a auditoria e o fim da Federal Reserve
  5. Manter internet aberta e livre
  6. Apoiar os media independentes
  7. Apoiar a agricultura orgânica e não-GMO
  8. Exigir reforma do sistema de financiamento das campanhas eleitorais
  9. Defender a energia renovável e livre
  10. Participar em acções de Massa Crítica (as acções do movimento).

Como podemos ver, o conjunto faz sentido, na maior parte dos casos são as mesmas reivindicações de análogos movimentos surgidos espontaneamente um pouco por todo o planeta. Aqui reside a força de iniciativas como Thrive: não é um “muro contra muro”, pelo contrário, é um pôr-se ao lado destes movimentos de protestos para depois poder condicionar os futuros desenvolvimentos.

Thrive não é o primeira tentativa (veja-se Soros e Occupy Wall Street) e, infelizmente, não será a última: o que deve assustar não são os exércitos, recursos extremos, mas a desinformação rastejante que não falta no mundo da informação alternativa.

E o filme? Ah, pois, o filme. Vamos ver o que diz a Procter & Gamble afinal.
O resumo é o seguinte: o simpático Foster descobriu o donut (isso é, a forma geométrica conhecida como toróide, forma “perfeita” e auto-suficiente segundo Gamble) e percebeu que este é o secreto do universo.

Serei honesto: quando ao minuto 12 aparece Nassim Haramein (segundo o qual já morremos todos após o impacto com o cometa Elenin), a vontade de desligar é grande. Mas heroicamente resisto e continuo: afinal é o dia da auto-flagelação.

A seguir aparecem UFO, Crop Cicles, Tesla, empresas farmacêuticas, bancos, sistema financeiro, anti-semitismo, misticismo, New Age, NWO, David Icke…não falta nada, tudo reunido com o único fim: glorificar o donut ao longo de mais de duas horas e tentar angariar adeptos para o movimento. Ao qual não faltam apoios e capacidade de auto-promoção, dado o apelido do fundador.

Em conclusão, se o Leitor cometeu graves pecados e deseja redimir-se, não hesite: aceda já ao site de Thrive e assista ao filme todo. Qualquer culpa é apagada, Thrive é um bilhete de ida em primeira classe para o Paraíso (sempre que seja possível resistir até o fim, o que é improvável).

E se as culpas forem mesmo grandes (tipo genocídio) não esqueçam que está disponível o DVD com 50 minutos de material extra.

Os outros: abdiquem, a passagem por este planeta é já bastante curta, porque deitar no lixo duas horas da vossa preciosa vida?   

Ipse dixit.

Fonte: Thrive

4 Replies to “Thrive e o mágico donut”

  1. Aqui no Brasil temos "libertários" que lutam por unhas e dentes a favor do livre mercado, temos pessoas ligadas aos antigos serviços de inteligência dizendo-se Anonymous, temos os seguidores da extrema direita brasileira que se dizem (mesmo depois de quase cinqüenta anos decorridos) revolucionários e por aí afora.
    Nada de novo nesse front intelectual…

  2. Arre!
    Caro Max
    Esse olho de Órus não é mole não. A CIA não dorme em serviço.

    "E aqui é precisa muita atenção. Se o movimento Thrive apostasse em eméritos disparates, seria simples não levá-lo à serio e rotula-lo como uma nova acção de marketing, cujo fim é o controlo smassas e do descontentamento delas. Mas na Procter & Gamble não são uma cambada de idiotas e conhecem bem a lição, por isso na lista das acções importantes do movimento encontramos iniciativas perfeitamente lógicas e desejáveis,(…)

    Pois é, tem otário e canalha para tudo.
    Mundo cão esse; né não? Sinto muito, sou grato. Dá uma olhada nisto http://infinitoaldoluiz.blogspot.com.br/2012/07/thrive-facebook-cia-e-escravidao.html

    Um grande abraço.

  3. Parabens, Max. Voce eh muito corajoso!!!

    Eu jah assisti 5 minutos desse filme… nao da para ser levado a serio… eu sou da area tecnologica… o donut eh demais! 🙂

Obrigado por participar na discussão!

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