Puzzle

Este blog não costuma fazer previsões catastróficas, tipo cometas que chocam com a Terra ou invasões alienígenas no decorrer das Olimpíadas.

Todavia há alguns sinais que merecem ser considerados. Podem ser preâmbulo do próximo Grande Colapso, podem ser apenas sintomas duma sociedade esquizofrénica. Seja como for, vale a pena falar do assunto. 

Os Leitores aficionados lembram das demissões em bloco no sector bancário e financeiro ao longo dos últimos meses. O que podem significar? Mistério. Infelizmente não temos acesso às conversas confidenciais que decorrem nas reuniões corporativas em lugares como Washington ou Londres, por isso tudo o que podemos fazer é observar e tentar interpretar.

Na semana passada, foi revelado que o governo dos EUA ao longo dos últimos dois anos, pediu secretamente que cinco dos maiores bancos dos País desenvolvessem planos para evitar um colapso. Esta é uma peça.
 
Já dissemos das demissões me massa, não dissemos? Então eis outra peça: enquanto uns demitiam-se, outros vendiam grandes quantidades de acções.

Continuemos: há relatos de que o governo dos EUA estocou alimentos e munições e sabemos que o simpático presidente-marioneta Barack Obama assinou uma série de ordens executivas que podem ser usados ​​em caso de graves problemas no interior (e não no exterior) da sociedade.

Repetimos: tudo isso pode não significar nada.
Mas sabemos que cedo ou tarde haverá o Grande Colapso. E acerca disso não é lícito ter dúvidas. Nos últimos 40 anos, o valor total de todas as dívidas dos Estados Unidos cresceu de 2 biliões para quase 55 triliões de Dólares. Chama-se bolha, a maior de todas (talvez). E as bolhas rebentam. Não é normal um Estado pedir aos bancos um plano para evitar o colapso.

Eis a peça em questão, da Agência Reuters:

Os legisladores americanos enviaram directivas a cinco dos maiores bancos do País, incluindo o Bank of America Corporation e Goldman Sachs Group, para desenvolver planos para evitar o colapso caso tivessem que enfrentar sérios problemas, realçando que os bancos não podem contar com a ajuda do governo.

O programa, que tem dois anos de idade e que tinha sido mantido segredo até agora, complementa os “testamentos” que os bancos têm que preparar para ajudar os reguladores a desmantelá-los, no caso tivessem mesmo que falir. Isso mostra que os reguladores estão a trabalhar para assegurar que os bancos tenham planos para os piores cenários e que possam agir com racionalidade em tempos de crise.

Esta notícia só por si não significa que haja um Grande Colapso no horizonte: significa que o governo está preocupado, tem consciência de que ajudar os bancos em dificuldades no futuro será tarefa impossível (não tem um tostão) e quer que sejam as mesmas instituições financeiras a adoptar medidas em vista de possíveis dificuldades.

Todavia é interessante notar como:

  1. a hipótese duma nova fase de dificuldade seja considerada como possível
  2. estas acções sejam mantidas secretas, enquanto o presidente aparece nos media para assegurar que o pior já passou e que a economia está no caminho certo.

Então vamos observar outra peça, num artigo de Money Morning:

Richard Duncan, ex-chefe do Banco Mundial e economista-chefe do Blackhorse Asset Mgmt., diz que a dívida federal dos Estados Unidos, de 16 triliões de Dólares, transformou-se numa “espiral da morte”, como disse a CNBC. E isso poderia levar a uma depressão tão grave que ele não pensa “que a nossa civilização possa sobreviver”.

Nada mais, nada menos. Um ex-chefe do Banco Mundial adverte que a nossa civilização não poderia sobreviver ao que está por vir? Talvez um bocado exagerado. Talvez.

Outras peças? Há.
Nouriel Roubini, por exemplo, achas que o futuro será bem mau:

Pior ainda, porque, como em 2008, teremos uma crise financeira e económica, mas, ao contrário de 2008, ficámos sem munições políticas Em 2008 era possível cortar as taxas, fazer QE1e QE2 [Quantitative Easing, ndt], provocar o estímulo fiscal, apoiar/garantir os bancos. Hoje os QE estão a tornar-se menos eficazes, porque os problemas são de solvência e não de liquidez. Os deficit orçamentais são muito grandes e não é possível salvar os bancos, porque 1) há oposição política neste sentido 2) os governos são quase insolvente, nem não podem salvar-se e muito menos salvar os bancos. O problema é que não temos mais coelhos para tirar da cartola política.

Ok, ok: Roubini não é pessoa que tenha como hábito espalhar optimismo, isso é um facto.
Então vamos procurar outra peça do possível puzzle.

Recentemente, uma equipe de cientistas, economistas, analistas e especialistas em geopolítica analisou o estado actual do sistema económico global e as conclusões a que chegaram são impressionante:

Um membro dessa equipe, Chris Martenson, patologista e ex-vice presidente de uma empresa Fortune 300, explica as suas conclusões:
“Encontrámos o mesmo padrão na nossa dívida, no mercado total de crédito e na oferta de dinheiro: um padrão que garante que vão falir. Esta tendência é quase a mesma em qualquer esquema piramidal, intensifica-se de exponencialmente rápida antes de ruir. E os governos de todo o mundo são os principais culpados.
E o que é realmente preocupante nestes resultados é que o padrão não se limita à nossa economia. Encontrámos a mesma tendência catastrófica na energia, nos alimentos, na água.”
De acordo com Martenson: “Esses sistemas poderia implodir tudo ao mesmo tempo, alimentos, água, energia e dinheiro Tudo…”.

Juntamos todas as peças e o resultado será um puzzle nada mal. É o caso para ficar preocupados?

Em alturas negativas como a nossa é normal o surgimento de vozes catastróficas; e as previsões negras são uma lógica consequência disso. É como se a Anima Mundi, a alma do mundo, se encontrasse presa num círculo de desespero que impede a visão de algo melhor. Cria-se portanto uma vaga negativa, na qual é fácil entrar e muito difícil sair.

Mas pode haver algo mais? Infelizmente há. Anima Mundi ou não, os dados são dados: a dívida pública dos Estados Unidos está fora de controle, os derivados constituem uma ameaça de dimensões globais que pode explodir em qualquer altura, boa parte das economias ocidentais encontram-se numa fase de depressão sem que seja possível vislumbrar uma luz no fundo do túnel, há também problemas que abrangem os assim chamados Brics.

Os dados dizem que apesar da crise de 2008 nada foi feito para melhorar o labiríntico mundo da finança.
Os dados dizem que os bancos têm medo (corte no crédito) porque sabem de dançar sobre uma subtil camada de gelo.
Os dados dizem que os políticos perderam não apenas a capacidade para intervir em caso de crise, tal como afirma Roubini, mas até a autonomia necessária para pensar e decidir em favor dos próprios cidadãos, sendo reduzidos ao papel de bonecos cujos fios são mexidos por outros.

São todos ingredientes que constituem uma única receita. O resultado será um prato que poderá não ser servido no imediato, mas já está a ser cozinhado e cedo ou tarde chegará à mesa. E alguém terá que pagar a conta.

Não é o caso de perder o sono por causa disso.
Mas é sempre bom saber o que por aí vem.

Ipse dixit.

Relacionados:
A Grande Fuga

A Grande Fuga continua

Fontes: Reuters, AmerikanKabubi, CNN Money, The Economic Collapse (1),(2)
The American Dream, Federal Reserve St. Louis, Money Morning, Bloomberg via ZeroHedge, MarketWatch,

12 Replies to “Puzzle”

  1. Boa síntese Max.
    Realmente isto não é se, é mesmo quando e com que dimensões.
    Abraço
    Rita M.

  2. Max,

    Não quero parecer ave agourenta, mas será que não dá para juntar nisso tudo as atitudes que o governo americano tem tomado contra as liberdades individuais, tais como, alguns afirmam, proibir até a captação da água da chuva e a possibilidade de arresto de qualquer bem do cidadão comum entre outras coisas? Não lhe parece que realmente não há mais como negar que uma bancarrota global está encaminhada? E o que isso significará para a raça humana? Tenho lido também sobre cada vez mais golpistas e governos concentrando recursos no ouro.

    Outra coisa muito preocupante: alguns blogues da terra de tio Sam andam pondo lenha na fogueira, contam uma estória de compra de 300.000 guilhotinas pelo Obama. Me parece que tem gente torcendo pela destruição mundial. Rapaz, será que andam jogando daqueles chás "espertos" que a rapaziada tomava na década de 1970 nos mananciais de água que abastecem nossas cidades?

    Abraço.

  3. Olá Max e todos: faz dois anos que leio ii. Isso me permitiu ficar sabendo um mínimo de economia para não passar vergonha numa conversa comum.Então permito-me dizer que todos nós já sabemos que a bolha dos derivados vai explodir. Quando? Suponho que não leva 5 anos (O erro de previsão não pode ser imputado ao Max, ele não disse isto!)Quem está dizendo isso sou eu, do alto dos meus insipientes conhecimentos de economia.
    Agora pensemos juntos:se a humanidade vem se tornando cada vez mais infantilizada, e vem mesmo, porque o empenho desmesurado com serviços de controle, segurança, policiamento, disponibilidade de encarceramento, e outras medidas da mesma ordem, especialmente nos países ditos de primeiro mundo? Essa militarização voltada para dentro, não é porque as massas estão se tornando conscientes, muito ao contrário, sabemos.Suponho ser a preparação que os poderosos providenciam para conter e/ou eliminar massas desordenadas de surpreendidos na sua idiotice, e desesperados. E, me parece que tem tudo para isto desencadear-se a partir dos states. Abraços

  4. Olá Walner:"E que isso significará para a raça humana?", tu perguntas.
    Olha, eu acho que isto significará coisas diferentes para grupos humanos diferentes, embora todos sejam afetados.Como que, organizando a catástrofe financeira, eu te diria que os EUA, como império, colapsa (o que não deixa de ser bom), como governo nacional se desintegra, e como sociedade se reorganiza como grupos de poder/vassalagem ainda mais brutais e mortíferos. O império atual dá lugar ao predomínio de novos impérios, chines, euroasiático, ou que seja. A velha Europa termina de se dividir em duas ou (se ainda restar um mínimo de inteligência, que as vezes surge, na luta pela sobrevivência) se integra noutras bases, digamos,solidárias.O Brasil vai perder seus milhões de dólares de divisas, e não será o único. Mas no final, será um alívio para a América latina e a África que vão ter patrões talvez não tão boçais. Já o Oriente Médio, não arrisco nada, mas lá no fundo acho que será melhor, no final, para eles também. Agora podes rir a vontade, que eu já termino, senão o comentário fica grande demais. Abraços

  5. Resposta cumulativa:

    Obrigado Dona Rita!

    Walner: a situação é aquela que tentei descrever. Resumindo: EUA com dívida fora de controle, Europa…epá, nem vale a pena falar, alguns Brics com dificuldades (Brasil agora, China com problemas mais sérios no futuro próximo).

    Agora, como repetido mil vezes, vivemos numa economia global, com os prós e os contras. Entre os contras: algo corre mal no Zimbabwe e na Bolsa de Londres é o pânico.

    Como este "algo" que corre mal não fica no Zimbabwe mas nas economias avançadas e naquelas em franca expansão, é óbvio que a situação é muito grave, apesar das declarações de fachada.

    Uma "bancarrota global"? O risco existe. Um exemplo: se a bolha dos derivados tivesse que rebentar, não sei quantos bancos teriam a possibilidade de salvar-se (não podemos esquecer que todos os bancos são na realidade interligados).

    Mas é provável que nem seja necessário esperar para explosão dos derivados: a impressão é que possa ser preciso menos do que isso para desencadear uma reacção em cadeia. Como afirma Roubini (gosto dele, mas é sempre tão negativo…), os governos nesta altura não seriam capazes de responder para tapar as falhas com o dinheiro dos contribuintes, tal como fizeram em 2008.

    Não que Maria esteja errada, nem por isso: de facto os derivados representam uma bolha de dimensões inimagináveis, e como todas as bolhas é destinada a rebentar.

    Apenas acho que a situação é ainda mais delicada e não sei se pode aguentar outros 5 anos.
    Lembramos que a actual crise começou há quatro: dito de outra forma, são já 4 anos que as economias se arrastam.
    Neste 4 anos tivemos intervenções estatais e os Brics que duma certa forma compensaram a queda dos mercados ocidentais.

    Mas agora que os Estados já não podem intervir (não têm dinheiro)?
    Agora que o Brasil parou de crescer?
    Agora que a China enfrenta enormes problemas de energia e a sua própria bolha imobiliária?
    Agora que a Zona NEuro está perto dum ponto de ruptura (Grécia obrigada a sair, Finlândia que quer sair, Alemanha que vai conhecer os primeiros problemas nos próximos meses, etc.)?
    Agora que os bancos têm medo e não concedem crédito?
    Agora que dezenas de milhões de desempregados foram obrigados a abandonar o papel de consumidores?

    Meus amigos, ou aqui chega alguém que extrai um coelho da cartola ou vamos enfrentar problemas sérios.

    E que pode significar isso para a raça humana? Nada. Será uma das tantas crises que a Humanidade enfrenta ao longo do seu atribulado percurso.

    Teremos que mudar parte dos nossos hábitos. Utilizar os recursos de forma mais cuidados.
    Pode ser que alguém surja com uma boa ideia nova. Pode haver uma ou mais revoluções. Novas políticas. E será possível finalmente, começar a encher as bolhas do futuro.

    Uma visão demasiado pessimista.
    Meus amigos, experimentem vocês escrever algo de alegre embutidos de analgésicos…malditos dentes…

    Abraço analgésico para todos!

    Nota: quando estiver melhor vou retomar o assunto, com uma visão um pouco mais optimistas se calhar 🙂

  6. Em primeiro lugar, quer dar-lhe os parabéns pelos seus textos, que me parecem sempre muito correctos e bem fundamentados. No entanto discordo da sua conclusão, pois um grande colapso económico mundial vai colapsar todo o sistema mundial de distribuição de alimentos, e tendo em conta que já pouco produzimos do que actualmente consumimos, com o colapso do Euro perderemos a nossa capacidade de comprar ao exterior, o que pode nos levar a uma situação difícil ou mesmo calamitosa ao nível da nossa sobrevivência alimentar. E isso, não nos devendo tirar o sono, deveria nos levar a tomar algumas medidas preventivas.

  7. Max,

    Sobre tua disposição de trazer-nos algum otimismo diante destes fatos: deve ser como fazer uma análise otimista sobre "O Corvo", os filmes do Roger Corman, as letras do Smash Pumpkins. Talvez tenha quem consiga, mas desconheço. No mais acompanho as apreensões do Antônio Silva quanto a produção dos alimentos. Já observamos a quebra de safra em alguns países devido a seca. Aqui deixa-se de plantar feijão e arroz, para plantar-se mais milho e soja. Regular o mercado americano e sua necessidade destes grãos para produção de biocombustível, é a visão mercadológica. Nosso governo nada faz. Deixa que o mercado se autoregule. Pode ser que morram algumas bocas e aí teremos um mercado autoregulado.

    Melhoras.

    Maria,

    Nada melhor para um calouro do que participar de um grupo de estudos com veteranos. Calouros e veteranos de ii.

    Beijos.

  8. Que ninguém se iluda quanto ao colapso dos sistema financeiro mundial: que vem aí, é mais do que certo, não se sabe é se o castelo de cartas se aguenta meses, ou mais alguns anos. A única forma de o evitar era crescendo economicamente; mas o crescimento económico é uma ideia morta. Chris Martenson foi um dos meu abre-olhos para os probelmas económicos, financeiros e energéticos, e recomendo vivamente o seu Curso do Crash.

    JMS

  9. Pegando no comentário do JMS, para quem ainda não viu o Crash Course, cujo link ele colocou, recomendo vivamente.
    A análise feita pelo Martenson é apresentada de forma muito clara.

    Nesta altura do campeonato parece-me que os coelhos brancos para tirar da cartola já acabaram. Daqui para a frente a sairem coelhos, serão com certeza pretos.

    Vivemos num tempo em que a confluência de factores como população, energia, economia, divida e finanças, são caracterizados pela função exponencial.
    A compreensão do comportamento da curva exponencial dá-nos boas pistas para podermos antever a evolução dos aspectos acima descritos.

    O professor Albert Bartlett, neste filme mostra, de forma aplicada, como funciona a função exponencial.
    É um filme com mais de 4.500.000 de visionamentos.
    Fica abaixo o link para quem ainda não o viu.

    Resta dizer, que uma curva exponencial do ponto de vista teórico, tende para infinito. Obviamente que num mundo finito tal não é possível. O incremento de valor em função do tempo, é cada vez maior, sendo período de duplicação desse valor cada vez mais curto e tendendo para zero. Se aplicarmos isto aos vários aspectos que cracaterizam a nossa sociedade estamos em vias de atingir um paradoxo.
    Só mesmo com um coelho muito preto é que as coisas poderão ser 'normalizadas'. Eles sabem isso e nós tambem.

    abraço
    Krowler

  10. eh eh eh…eu não tou nem ai oh Max…
    Eu devo dinheiro para caramba pro banco.
    Preocupado estava se eles o devessem para mim!!
    Ih ih ih
    Rebentem com esta merda de vez para separar-mos os ratos dos homens

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