Da Italia, Do Euro, Da Esquerda, De Ricardo…

É Sábado e vamos com isso quebrar a tradição iniciada em 1355 por São Bonaventura  que prevê a não publicação de post neste dia dedicado ao Senhor dos Anéis.

A causa é Maria, sempre ela: volta Maria e voltam as perguntas complicadas :)))
Nomeadamente esta:

gostaria de saber qual a percepção que os italianos comuns têm
da sua própria situação, porque em geral é difícil compreender o que
está muito perto de nós. Uma amiga recém chegada da Itália, mesmo
fazendo turismo convencional, relata-me queixas sendo ouvidas em hotéis,
restaurantes e na rua. Eu estranho porque sei que uma coisa que é certa
que ninguém vê, nesses roteiros padronizados, é a realidade local. O
nosso comentarista Ricardo, recém mudado para o Piemonte, declara-se em
idílio com o novo lar, mas não comenta sobre manifestações de apreço ou
rejeição a cerca da situação econômico social local. A grande imprensa,
TVs etc, já se sabe que reporta a naturalização de todos acontecimentos,
por absurdos que sejam.Os alternativos já se sabe que atingem os pré
dispostos a serem atingidos…Mas, em Itália parece que há movimentos
importantes como 5 Estrelas, uma literatura “dissidente” expressiva e
buscada pela população…Como isso se reflete na opinião pública? Há
diferença significativa frente ao comportamento apático dos portugueses,
por exemplo? Uma alteração significativa de comportamento social seria
suficiente para alterar alguma coisa, no desenrolar dos acontecimentos
que se anunciam? Em alguns locais apenas? Há sinais disso? Quais?

Cara Maria, este comentário daria para escrever 5 ou 6 post…ou se calhar até mais. Tentamos resumir para falar de Italia, sim, mas também de Portugal, do Brasil…

A percepção

Em primeiro lugar: os italianos comuns têm a percepção da sua própria situação?
Como é óbvio mantenho contactos com familiares, parentes e amigos que ficaram em Italia e a resposta, sem sombra de dúvida, é: sim, os italianos têm plena consciência daquilo que se passa.  Isso é: sabem que o País está em crise, tal como os Portugueses sabem que Portugal está falido, por exemplo.

Até seria complicado não ter esta percepção: em Italia há mais de uma dezena de televisões nacionais em sinal livre e mais de 600 locais (um fenómeno praticamente desconhecido em Portugal), todas a repetir que o País está em crise. Eu mesmo costumo ver televisões italianas via internet (e leio jornais também), por isso sei que a informação nesse sentido não falta.

Acho que nenhuma pessoa no Velho Continente ignora a situação da Zona NEuro. Não ignora nem pode ignorar: é preciso que o cidadão tenha pleno conhecimento da “desesperada” situação para melhor compreender a razão dos (inúteis) sacrifícios, do desmantelamento do estado social e da privatização do património estatal. Esta, afinal, é a chave para entender a presente crise. Cortar ordenados, reformas ou serviços seria complicado sem fornecer uma explicação, por quanto falsa esta possa ser.

Observar o que se passa na Zona NEuro do ponto de vista do cidadão ajuda a perceber a complexidade e, ao mesmo tempo, a simplicidade do trabalho em curso.

Geneticamente, a Esquerda é “contra”. Contra quê?  Contra tudo (a Esquerda é sempre contra).
Mas neste período acontece algo esquisito: a Esquerda italiana (o PD, Partito Democrático) não é contra, é a favor. A favor da Zona NEuro, a favor da austeridade, a favor do FMI, a favor do Banco Central Europeu.

O mesmo se passa em Portugal com a principal força da oposição, o Partido Socialista (que até assinou a venda do País com o Partido Social Democrata e o CDS, ambos de Direita), oficialmente um partido de Esquerda (só oficialmente…).

O mesmo se passa em Espanha ou na Grécia com os Socialistas. E em França temos o primeiro ministro Hollande, também Socialista, que talvez represente o “melhor” dos dois mundos: pró-Europa e pró-povo ao mesmo tempo. Um “milagre”. Mas este é outro discurso.

Claro, estas forças de “oposição” de vez em quando levantam a voz, dizem “protesto” ou “isso não passará”: têm que fazer isso, só assim podem controlar o descontentamento das pessoas que não apoiam os governos; mas na altura certa não fazem faltar o apoio ao movimento pró-Europa.

Quantos Europeus têm este segundo nível de percepção, aquele que permite observar como todos, afinal, fazem o mesmo jogo? Não poucos, acredita. Mas aqui surge um problema: mesmo que muitos, são sempre uma minoria que opera no mar do conformismo, da apatia e do desempenho total. Ou, pior ainda, de quem segue a situação com o suporte dos media oficias (e por isso nada percebe do que se passa).

A Esquerda ácida e as cinzas

Caso atípico: o Movimento 5 Stelle de Beppe Grillo, em Italia. E mesmo aqui podemos aprender alguma coisa.
Sabes quem é o pior inimigo do Movimento, a parte que lança os ataques mais ferozes, a que avança com as mais pérfidas insinuações? É a Esquerda (“oficialmente” Esquerda), o Partido Democrático.

Após uma altura inicial de grande surpresa (o Movimento alcançou um resultado eleitoral que bem poucos esperavam), a Esquerda percebeu que Grillo encarnava o que uma Esquerda séria deveria ser: era o movimento que fazia as perguntas que deviam ser feitas, que propunha as soluções mais lógicas e realmente democráticas.

Nesta altura a Esquerda poderia ter desfrutado a situação para ir na direcção que os eleitores evidentemente apoiavam, pelo menos poderia ter tentado uma aproximação em termos de conteúdos. Mas desta forma teria faltado o objectivo principal, a essência da sua existência que, como vimos, é o controle das massas dos descontentes de forma que estes não possam perturbar o trabalho europeísta (por assim dizer…) da maioria governamental.

Por isso foi a Esquerda que se tornou no maior inimigo de Grillo e não faltam ataques diários contra o movimento dele ou contra a mesma pessoa.

Interessante, neste sentido, a minha experiência enquanto frequentador da blogosfera italiana. É quase impossível hoje abrir um blog ou site de informação alternativa mainstream sem encontrar entre os artigos pelo menos um (escrito por um Esquerdista desconfiado) que põe em dúvida tudo do Movimento 5 Stelle e avança com pesadas insinuações (“O Movimento 5 Stelle não é democrático”, “Grillo é manipulador”, “Grillo é manipulado”, “Quem está atrás de Grillo?”). Tudo rigorosamente sem factos, sem provas, mas não é isso que interessa: o que conta é semear dúvidas, desacreditar, é o melhor da Esquerda ao serviço do Poder.

Em Portugal falta um movimento parecido: o Partido Comunista, dada a sua natureza, no máximo faz ternura com todos aqueles reformados que ainda choram a morte de Estaline, enquanto o Bloco de Esquerda poderia mas…mas não sei. Há tempos deixei o meu mail para ser contactado, a intenção era mesmo discutir com alguém do Bloco acerca destes assuntos e ainda espero que alguém me escreva.

Voltemos para Italia, onde a situação é a seguinte: uma oposição de regime que, com a ajuda dos media de regime, difunde uma percepção da crise (e das soluções) com sentido único.

Neste aspecto, o resultado é muito parecido com o que se passa em Portugal: aqui o Primeiro Ministro pode ir na televisão e declarar que “esta é a única estrada” sem que ninguém tenha a coragem de dizer “Ó estúpido, mas que raio estás a dizer?”. Não faltam bons economistas neste País, mas ficam todos caladinhos nas tocas deles: os poucos que se atrevem a dizer alguma coisa (e são poucos mesmo) são vistos como alucinados.
Tenho a impressão que na vizinha Espanha ou na mais afastada Grécia as coisas não estejam tão diferentes.

Possibilidades de mudança? Depende.

Em Portugal não, sem dúvida. Não há a força, não há a vontade, não há…não há, ponto final.
Em Espanha ou Italia a situação é um pouco diferente. Falando apenas da Italia, este é um País com algumas tradições “revolucionárias”, mais inteiramente enterradas.

Houve os anárquicos (ainda presentes), houve o fenómeno do terrorismo (que eu rejeito mas que existiu), houve um movimento judicial-popular nos anos ’90 que culminou com a prisão de muitos políticos e a destruição duma inteira classe política, houve (e ainda há) um movimento federalista-separatista (que eu apoio).

Cada um destes assuntos mereceria um inteiro capítulo (e acho que alguma coisa vou escrever acerca de Mani Pulite, anos ’90, se isso interessar), mas o resumo é que debaixo da visão sorridente de pizza e tarantella sempre existiram cinzas ardentes que ninguém conseguiu apagar (“Governar os Italianos não é impossível, é inútil” dizia Mussolini).

O “caso” Ricardo

Lago Maggiore: bem perto donde mora Ricardo

Como se casa tudo isso com a descrição do “idilio” de Ricardo (que aproveito para cumprimentar)?
Em primeiro lugar: Ricardo foi viver numa localidade bonita de 2.000 almas, e é difícil ter manifestações oceânicas numa aldeia de 2.000 pessoas.

Segundo: Ricardo teve a inteligência de escolher não apenas uma localidade bonita mas também no Norte do País, uma zona com gente séria e trabalhadora, e uma zona que frequento desde a mais tenra idade (tenho parentes no raio de poucas dezenas de quilómetros, apesar de Ricardo morar longe de Genova): não a melhor zona italiana mas uma boa zona para viver em tranquilidade (nada de crime, relacionamentos humanos diferentes do que se passa nas cidades, nada de poluição, etc.).

Não me admira que esteja satisfeito e ficaria surpreendido se escrevesse coisas do tipo “barricadas no meio da rua”: o País está em crise, mas o nível de vida é aquele da terceira economia europeia, uma das primeiras 10 do mundo: inútil esperar pessoas mortas de fome nas esquinas, não são estes os Estados Unidos onde o cidadão paga até para entrar nas Urgências.

E inútil também esperar revoluções: como em qualquer bom País neolatino, os jogos ficam feitos antes das manifestações de rua (a última grande manifestação “revolucionária” neste sentido aconteceu em 1922, a Marcha sobre Roma e a tomada de posse do Fascismo: na verdade foi um acontecimento folclórico, tudo estava já decidido). Se algo terá que acontecer com os moldes da praça, então será algo improviso e fora de controle (e neste caso sim que exemplos não faltam).

“Há
diferença significativa frente ao comportamento apático dos portugueses,
por exemplo?”

Uma diferença significativa é já por si o nascimento e o sucesso do Movimento 5 Stelle de Grillo: em Portugal nada disso existe e se existisse não teria sucesso, pois os Portugueses não querem saber. Não é um acaso se o Movimento teve sucesso essencialmente no Norte do País, o Sul da Italia é muito mais parecido com Portugal. Mais: Portugal é mais pequeno, tem um quinto da população italiana e os media são menos e ainda mais uniformizados. Os Portugueses não apenas não querem saber mas mesmo que quisessem os canais disponíveis são poucos (e que poderiam fazer? Aceder a blogues alternativos que falam dos Annunaki?).

“Uma alteração significativa de comportamento social seria
suficiente para alterar alguma coisa, no desenrolar dos acontecimentos
que se anunciam? Em alguns locais apenas? Há sinais disso? Quais?”

Não tenho a certeza de ter percebido bem a pergunta.

Uma alteração no comportamento das pessoas? Não, não teria efeito, como não teria efeito em outros Países (veja-se as manifestações na Grécia ou na Espanha: a gente protesta, parte montra e o governo continua na boa).

Uma alteração do padrão de bem estar (um nivelamento para baixo)? Então vale o discurso feito antes: as cinzas ardentes. Há sinais, por enquanto apenas tais, de que algo pode estar em marcha. E não é uma boa coisa: da última vez que isso aconteceu tivemos 20 anos de terrorismo, fenómeno nascido como espontâneo (nas universidades e nas grandes empresas) e depois controlado e dirigido por forças exteriores (com boa paz dos Comunistas revolucionários que ainda não perceberam terem sido manipulados pela CIA).

Há portanto o perigo duma futura vaga de terrorismo, e há também o perigo dum movimento secessionista: neste aspecto a política fez um “bom trabalho” destruindo a Lega Nord, o partido que queria a secessão da Italia do Norte; todavia não conseguiu eliminar o desejo, que fica. Aliás, entretanto apareceram movimentos secessionistas também no Sul…

Em ambos os casos não parecem perigos imediatos: são coisas que precisam de tempo, de organização e, como afirmado, os media não deixam os cidadãos relaxar e pensar em alternativas, há um autentico pensamento único, uma lavagem cerebral constante.

Mais: o País não está à beira da fome, as pessoas gozam dum bom padrão de vida (superior ao de Portugal: em Italia o ordenado mínimo é o dobro de Portugal, mas o custo da vida não é o dobro), ordenados e reformas ainda não foram mexidos. Há a percepção do perigo mas falta um sinal forte no quotidiano. Até lá as únicas tentativas de mudança ficarão no âmbito da Constituição. Ou seja: pouco ou nada poderá realmente mudar (Monti, o primeiro ministro, é homem da Goldman Sach: fosse da CIA eu seria mais possibilista…).

Super-conspiracionismo

E se a panela começasse a ferver?
A minha impressão é que a panela não ferverá apenas em Italia. O que os diários não explicam é que na Europa estamos num jogo bem perigoso: apesar das tranquilas declarações tranquilizadoras dos responsáveis europeus, estamos numa autêntica corda bamba. Uma rajada de vento e a mesa fica de pernas para o ar.

Demonstração: as Mentes Pensantes de Bruxelas passam os dias a inventar (literalmente) uma solução atrás da outra para acalmar os mercados. Cada semana uma nova medida. Faz lembrar um barco onde os marinheiros correm dum lado para outro na tentativa de tapar os buracos. Acho que os factos chegarão mais cedo de qualquer decisão final, seja em Italia, seja onde for. Excepção: a Grécia, que está condenada a sair do Euro. Condenada ou abençoada, pontos de vista….

Dúvida: mas será que as medidas das Mentes Pensantes vão todas numa única direcção e por isso não são o mero fruto de contingências? Há um desenho por trás? Dito em outras palavras: os marinheiros tapam os buracos segundo um esquema pré-estabelecido, e a água também parece entrar no barco não segundo o princípio da casualidade?

Aqui as coisas complicam-se ainda mais: temos que admitir (eventualmente) a existência dum terceiro nível, uma outra “percepção”, algo que podemos resumir num plano de nível mundial para transformar não apenas o Velho Continente mas outras realidades também. Então não podemos ignorar assuntos quais a Maçonaria, os Illuminati, os Rothschild… Nesta altura, falar de Italia, Portugal ou Brasil pouco importa: seria este um desenho bem maior.

Mas aqui entramos no âmbito do “super-conspiracionismo” e acho que nem vale a pena continuar. O que digo é que está no interesse da contraparte aparecer ainda mais poderosa. E que sobrestimar as capacidades das Mentes Pensantes (europeias ou americanas, tanto faz) pode gerar fantasmas até mais perigosos do que a realidade.

Ipse dixit.

11 Replies to “Da Italia, Do Euro, Da Esquerda, De Ricardo…”

  1. Definitivamente muito bom ver a Maria de volta 🙂

    Pergunto-me se em alguns casos a imagem não será mais de submarinos a meter água, afinal estando falidos, a imagem fica mais abaixo do nível de água 😉

    "Em Portugal não, sem dúvida. Não há a força, não há a vontade, não há…não há, ponto final."

    Mesmo… ainda não percebi se é decorrente da imagem que passam que tudo se vai resolver e vale a pena fazer os "sacrifícios", e as pessoas acreditam, se simplesmente já desistiram de tudo numa de determinismo absoluto vocacionado para o sofrimento… ou se uma mistura das duas.

    Abraço
    Rita M.

  2. Olá Max: obrigada pela resposta detalhada, mesmo condensada num só post. Muito esclarecedora!
    1."Sabes quem é o pior inimigo do Movimento?", perguntaste.
    Não sabia, mas podia imaginar… Porque, incrivelmente, a história se repete do mesmo jeito, em tempos, lugares e abrangências diferentes:os "esquerdismos"e os "esquerdistas" atrapalham tanto quanto os "direitismos" e os "de direita" os melhores movimentos de emancipação humana que pessoas e grupos põem em marcha, infelizmente. E pior,os esquerdistas fundamentalistas, embora me custe jogar pessoas em categorias fechadas assim (mas que las hai…las hai!)mantém, historicamente,o mau hábito de fragmentar e dissolver o que de melhor uma, que eu chamaria, visão utópica concreta, (por desconhecer uma expressão melhor), já produziu e continua fomentando aqui ou ali, seja no plano político, social, econômico,moral, ou que seja. Um verdadeiro flagelo do pensamento-ação cotidianos…que fazer!?Desculpem-me o desabafo…
    2.Claro que compreendo o "idílio" do Ricardo!! Eu mesma estou cá tratando com muito carinho de coisa um pouco parecida. E, contando com "certo" apoio, que de certo terei, darei meus passinhos rumo a um novo ciclo de vida…
    3.Perguntava precisamente sobre a influência do 5Estrelas na população italiana, de um modo geral, e considero-me respondida, sim.
    4.Quanto a outras influências "dissidentes", como uma que falas no post, sempre gostaria de ouvir falar por ti. Sempre soube que a Itália é "um ninho" delas, daí minha curiosidade, interesse, e para que não dizer, uma certa atração. Abraços

  3. Nossa que chick… agora sou mundialmente famoso! 🙂

    Hehehehe…

    Enfim… Maria e Max… estou há pouco tempo na Itália… a região deste belo lago é um paraíso quase suíça, onde existem diversas casas e mansões, somente povoadas no verão (para as praias de água doce) ou no inverno (para as estações de ski)… diversos suiços, alemães, franceses… e até italianos… a grande maioria é gente com muuuuuito dinheiro…

    Então por eu não ser dessa categoria, fico entre o lago e a Biella, ali sim região de gente séria e trabalhadora… casas e mansões também existem… mas a grande maioria italiano… todos trabalhadores…

    Enfim, de meu convívio em Milão (depois do lago) e na própria Biella… há gente que desistiu… perdeu emprego… foi embora… há brasileiros voltando para o Brasil me achando louco de vir criar raizes aqui…

    Mas absolutamente NINGUÉM que eu tenha conversado, tem a percepção dos problemas… eu falar em tirar o país do euro faz as pessoas ficarem espantadas… pedir voto de prisão para Mario Monti e Dragai, juntamente com CEOs de Intensa San Paolo, Banco Populare, Banco di Siena, UBI, é algo impensável! Mas conquistei a confiança de alguns pois até já vieram me pedir conselho sobre uma singela poupança de 50 mil euros no Intensa San Paolo… 🙂

    Enfim… é muito bla bla bla de crise… ó tristeza… ó azar… muito lamento e nada concreto ou prático… nem Milão, nem Biela, nem no lago (claro)!

    Acho que Paolo Barnard e Beppe Grillo precisam de mais dinheiro investido em marketing para que suas prosas atinjam um número maior de pessoas! 🙂

    Mas vindo de São Paulo, putz… a crise do Piemonte é invejável!!!

  4. Achei curioso a referência por parte do Max a 3 niveis de percepção da realidade, mesmo sendo a realidade uma só. Eu mesmo tambem costumo utilizar esta lógica, para caracterizar o nivel de conhecimento e interesse das pessoas.

    É verdade que todos já têm consciência que a europa está em crise, mas daqui para a frente as coisas não são assim tão simples.

    Crise é caraterizada por: Agravamento com caracter temporário.

    Será isto o que se está a passar ou é outra coisa diferente? Esta situação tem caracter temporário, ou estamos a caminhar para um modelo diferente do actual?

    Em minha opinião, e planos conspiracionistas à parte, não vejo nas medidas que as tais 'mentes pensantes' têm tomado, nenhum carácter temporário.
    Veja-se o recem criado MEE e as alterações orgânicas entretanto introduzidas.
    Mas vejo os politicos a falar na televisão e consequentemente as pessoas nas ruas, sempre com a ideia de que dentro de um ano ou dois o famigerado crescimento voltará às primeiras paginas dos jornais.

    Chegados a este ponto colocamos de novo a questão: Terão as pessoas percepção da situação em que se encontram?

    O meu entendimento é que não, definitivamente. Nem estão sequer perto de saber.

    Concluindo, vou aproveitar a frase que se encontra no topo deste blog: 'É bom que as pessoas não entendam o funcionamento do nosso sistema bancário monetário porque se acontecesse explodiria uma revolução antes de amanhã de manhã.'

    abraço
    krowler

  5. "O meu entendimento é que não, definitivamente. Nem estão sequer perto de saber."

    Pois, Krowler provavelmente… é o mais certo.

    Fiquei a pensar nas perguntas… Como dizes, as medidas são mais permanentes e do que propriamente temporárias.
    Novas estruturas surgem e para ficar.

    Acredito que estamos a caminhar para um novo modelo que não me parece que seja de forma alguma para melhor.

    Considero que o que eu não decido directamente e que outros decidem por mim não é garantidamente o melhor para mim e duvido que seja o melhor para a "democrática maioria dos cidadãos".

    Quando leio a frase que está no topo do blog lembro-me de outra.

    "Recessão é quando o vizinho perde o emprego, depressão é quando você perde o seu."
    Harry S Truman

    Acho que as pessoas continuam centradas nelas e na sua visão dos problemas… algumas já perceberam como tudo funciona, mas são uma minoria mesmo muito pequenina, a esmagadora maioria continua a aceitar a versão "circulante" e as medidas existentes ou apresentam medidas do "contra" que não reflectem conhecimento do que realmente se está a passar, ou muita falta de conhecimento sobre quem, mais directamente, decide o futuro delas.

    A grande maioria nem sabe como funciona a UE e ainda não percebeu que vota para um parlamento que não decide nada de realmente importante.

    Que o futuro delas depende de um monte de gente nomeada e cujo currículo será no mínimo "preocupante" pelos interesses que implica.
    Como se pessoa X ter pertencido ao GS ou ao FMI não fosse algo preocupante.

    Creio que era Watzlawick que dizia que temos diversas perspectivas da realidade que resultam da comunicação existente e que é percepcionada por cada um.

    Concordo, as pessoas não sabem e grosso modo estão apenas interessadas em voltar ao que estava… o tal "crescimento".

    Abraço
    Rita M.

  6. Olá Krowler e RitaM.:pois eis a percepção (nada alvissareira)dessa comentarista, resumindo um ponto de vista, do olhar de quem vive separada de vocês por um oceano.Na última década, a América latina apresentou uma espécie de "acidente de percurso" no rumo "natural" das coisas. Chegaram ao governo Lulas,Chavez,Morales,Correas e Mujicas, que vem tentando "torcer" a geopolítica, para firmar estados minimamente soberanos.Pode até parecer, mas a coisa acontece como representação apenas, e isso me parece muito ruim. A privatização do mundo é caso resolvido,e há décadas posto em marcha, e abocanhado todos os setores da vida pública. E, o empobrecimento das populações, como no caso da Europa, é apenas um corolário, digamos, sem a menor importância, que se dará a seu tempo.Esse não é um pensamento derrotista, de quem afirmasse não haver alternativa. Mas, toda iniciativa das diminutas minorias conscientes, bem intencionadas, lideranças ou não, e que se posicionam em desacordo com a situação mundial, deveria considerar a realidade, tal como ela se constituiu, penso eu, em qualquer lugar que fosse, e organizar-se a partir dela…Mas, se as pessoas insistem em viver mergulhadas numa ficção democrática que não existe, numa ideia de superação e progresso, que só existirá para minorias cada vez mais privilegiadas,que a privatização do mundo é reversível, usando as mesmas ferramentas que a construíram, e que "o povo unido não será vencido", então o sentido das iniciativas tendem a afundar no pântano do desconhecimento. Ficaria muito feliz se alguém me provasse por a+b que estou errada. Abraços

  7. Olá Maria 🙂

    Opinião muito pessoal: realismo não é derrotismo.

    Como em tudo na vida, para mudar é preciso querer.

    Sinceramente acho que as pessoas não querem mudar, seja por medo ou comodismo.

    Se acredito que continuar a fazer as coisas sempre da mesma forma dá o mesmo resultado… acho que não serei eu a dizer-lhe que está errada 😉

    Agora como mudar… aí começa a verdadeira questão.

    Abraço
    Rita M.

  8. Continuando na senda da percepção, a mudança, qualquer que ela seja passará necessáriamente por uma alteração de conhecimento/entendimento da realidade por parte da maioria das pessoas. Não vejo outro caminho além do da informação.

    É um percurso penoso, pois entre informação e contra-informação é dificil para um leigo discurtinar onde está a razão.

    Com o desenrolar dos acontecimentos muita coisa poderá mudar neste sentido. Espero bem que assim seja.

    Krowler

  9. Sou totalmente contrário à religiões, e acho os mitos contados nos textos bíblicos uma ficção B… um romance barato…

    Mas tenhamos o conto de Moisés como exemplo… ele queria mudar a situação dos hebreus… ele podia optar por esse caminho longo e penoso de educar e informar os ignorantes… e com isso fazer com que eles juntos tivessem a força para mudar algo… ou ele poderia chegar, assustar, impor, e liderar o povo inteiro à seguí-lo, sem estes saberem exatamente o porquê…

    Infelizmente a sociedade em que vivemos, possui um nível intelectual comparável com os nandertais… sendo isso proposital ou não… é o fato…

    Não acho mais que o caminho é informar… é voltarmos à história da humanidade e ver como sempre toda mudança, positiva ou negativa, foi conseguida: através de uma elite intelectual!

    Uma frase antiga, acho que de Platão dizia que, se você não quiser se envolver com política, com certeza alguém muito mais burro e menos preparado do que você irá fazer. Algo assim… ele também dizia mais ou menos algo como… que se queremos alguma mudança, temos que fazer o que não queremos fazer…

    Enfim… adoro o II, gosto muito de me informar, de pesquisar… gostaria que PELO MENOS a sociedade não deteriorasse… mas acho que, o que todos nós temos feito é ENROLAR… estamos gastando nosso tempo nos informando, apenas para o prazer pessoal de aumentar o intelecto… não que isso seja algo negativo, porém, isso não está ajudando em NADA a mudança do sutatus quo… ou do pior que há por vir…

    Apontar os erros é fácil? Sim… com o conhecimento que todos já temos, várias soluções também são incrivelmente fáceis… mas não esperemos que alguém que não nós as concretizem…

    PS: tem cada comentário mirabolante nos outros posts… muita gente ainda esperando o fim do mundo visita o II! 🙂

    [ ]s

  10. Quem conhece a história bíblica vai entender a associação desta imagem, é como se estivessem expondo suas intenções descaradamente:

    http://lh6.ggpht.com/-KsQkpcW8T1w/T-fG23AbS0I/AAAAAAAABPY/c4dMWBq8zEQ/s1600-h/Poster%2520torre%2520de%2520babel%2520UE%255B3%255D.jpg

    A imagem é de um cartaz oficial que foi usado para promover o Parlamento da UE antes de ser retirado devido ao clamor público.

    É claramente retrata a UE como uma tentativa de reiniciar o trabalho que os construtores da Torre de Babel começaram.

    Então, quem originalmente construiu a Torre de Babel?

    Bem, segundo a tradição religiosa, era realmente um governante chamado Ninrode, que começou a construção da Torre de Babel. De sua base na Babilônia, ele tentou estabelecer o primeiro governo global.

    Ninrode era uma figura muito importante na história antiga. Muitas das práticas religiosas pagãs que se espalham por todo o mundo antigo se originaram com a religião da antiga Babilônia de Ninrode.

    Na verdade, muitas de nossas mais notáveis ​​sociedades secretas hoje traçam suas origens todo o caminho de volta para Nimrod.

    Assim, para a UE a propósito escolher a simbologia da Torre de Babel e Nimrod para representar a si mesma é realmente muito forte…

  11. Fabuloso post e comentários! Mas fica a pergunta. o que ir fazendo? Max como narrador exímio da realidade existente, leitores assíduos como eu que conseguem assim compreender o porquê das escalas de poder e outros turistas que trazem um colorido divertido ao blog não criamos qualquer obstáculo aos nossos adversários…

Obrigado por participar na discussão!

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