O novo super-herói

Quem irá ganhar as próximas eleições nos Estados Unidos?
Quem será o novo Rei do Mundo?

Eu acho que a resposta será: Obama. O simpático Obama, mais uma vez.
Afinal uma previsão simples: os Republicanos esforçaram-se ao máximo para apresentar os candidatos mais improváveis e o único “decente” (neste caso, aquele que disse até hoje o menor número de bestialidades) não parece ter condições para ser o próximo Rei.

Mesmo assim pode não ser suficiente, então eis que a Administração decidiu ir além e organizar uma campanha eleitoral em digna de Hollywood.

Na verdade são sempre “dignas de Hollywood”, mas neste caso vai além, porque um empurrão chegará mesmo da capital do cinema.

A receita é simples: pega-se numa realizadora que tem no recente passado uma película vencedora do Prémio Oscar , neste caso Kathryn Bigelow com o seu (lindíssimo, opinião pessoal) The Hurt Locker: junta-se um recente episódio de fantasy mediático como a morte do já morto Bin Laden e disponibilizam-se instrumentos como o suporte directo da mesma Administração. O resultado será um filme que glorificará as decisões, a audácia, a coragem, a astucia e até o cão Bo do actual Rei Obama.

90 minutos de campanha eleitoral disfarçados de filme. E procurar informações acerca o projecto não foi nada fácil. Judicial Watch teve que lutar nove meses nos tribunais antes de obter os documentos do Pentágono  da CIA que demonstram como a realizadora Bigelow e o roteirista Mark Boal são já os favoritos da Administração, dos militares e da intelligence.

O duo trabalha agora ao lado do Team Six, a equipa especial de fuzileiros encarregada das operações especiais, a mesma que abateu o já morto Bin Laden (bem, não os mesmos fuzileiros, pois estes morreram um mês após ter derrotado o Mal…); e tem também acesso ao vault, o bunker da CIA que é um pouco como o “cérebro” deste tipo de operações.

Uma coisa a Bigelow e Boal não poderão visionar: as fotografias e os vídeos originais da operação na vivenda do simpático Bin Laden. Segundo a Administração, esta é uma questão de “segurança nacional”.

Acredito que seja.

Mas que importa? No dia 12 de Outubro, em todos os ecrã dos Estados Unidos, será possível observar o heróico e simpático Obama enquanto derrota o arqui-inimigo Senhor do Mal e recolhe votos, na primeira super-produção Hollywood-CIA-Pentágono-Casa Branca. Tem que ser.

Falta apenas o título.
“O Regresso do Ghostbuster” não seria mal.

Ipse dixit.

Fonte: Asia Times

10 Replies to “O novo super-herói”

  1. O Pior de tudo é que no Brasil a maioria das pessoas ainda tem uma imagem boa do Obama. A mídia adora e idolatra ele. A manada segue atrás.

    É difícil de acreditar, que um presidente que até hoje não comprovou seus documentos de certidão, alistamento e outras coisas, possa se reeleger.

  2. Duas notas:
    A nível de candidato houve (há?? ainda não é certo que não concorra…) que se não me enche as medidas, certamente não me lembro de nenhum outro político que andasse lá tão perto.. RON PAUL!!! Gostava muito de ouvir a tua oponião sobre ele 🙂

    Quanto ao The Hurt Locker, embora o filme não tenha nada de mal à primeira vista, não consegui perceber todo o barulho à volta dele a não ser pelo facto de ser já por si propagandista que chegue com toda aquela glorificação do soldado americano que sinceramente a mim me enoja… mas como esse há inúmeros exemplos infelizmente.

  3. Bom post Max, o Obama conseguiu recolher quase todo o apoio dos meios de comunicação sociais e aquelas alas mais popularistas pela sua imagem e discurso, agora que está a ver as coisas ficarem cinzentas e quer ganhar votos custe o que custar por e simplesmente ataca forte na campanha e recorre a tudo o que tem (neste caso, muito pouco, só mesmo a "morte" do Bin Laden e a "retirada" do Iraque)

    Pessoalmente para mim é indiferente se ganha o Obama ou o Romney, ambos com ligeiras diferenças querem a mesma coisa e vão fazer o que os banqueiros quiserem. Se ganhar o Romney, em caso de guerra vão matar terroristas e apanhar bombas atómicas, se for o Obama vão libertar um povo do mau ditador.

    De todos os candidatos que vi surgirem e desaparecem apesar de gostarem ou não o Ron Paul pelo menos era consistente e não parecia vender os seus ideais por meia duzia de patacos

    Abraços e continua o bom trabalho

  4. Baralho viciadáço, desde sempre. Vence sempre o mais hollywoodiano escalado…. Como é que essas fichas não caem Max?
    Isso me fez lembrar da faxineira impressionada quando ouviu dizer que o Bush e o Obama são uns canalhas: "Pensei que fosse boas pessoa, todo mundo fala tanto deles o tempo todo…"

    Sinto muito, sou grato.

  5. Olá Max: pois é nessas horas que as pessoas deviam se dar conta que a democracia representativa, e especialmente financiada pela iniciativa privada, não tem a menor chance de representar os interesses dos eleitores, mas apenas os dos financiadores das campanhas. No Brasil, há uma proposta de fazer as campanhas não terem financiamento privado, que eu não sei se vai vingar. Nos EUA, mesmo que uma proposta assim aparecesse, e vingasse, não adiantaria, porque até o Estado já foi privatizado.Votar ou não votar, é uma questão de convicção político filosófica. No caso dos EUA, qual o percentual de votos que resultaria a anulação das eleições? Não sei. Mas se existe um percentual claramente definido em lei, seria um ato de consciente rejeição do sistema político, e dos políticos, tais quais eles se apresentam no momento. A abstenção tem aumentado no mundo "democrático", embora este seja um assunto que não se comenta, ou se alguém o faz, é para culpar o eleitor de desinteressado e apolítico. Não se discute a rejeição ao ato de votar como ato político conscientemente crítico, diante de certas circunstâncias viciadas e desvirtuadas da democracia, porque isso implicaria em discutir a falência do sistema político vigente, e seus porquês. Se o eleitor norte americano considera que deve votar, então só resta ser responsabilizado pelas atitudes, que pouco convencem, do atual presidente. Abraços

  6. Não concordo que seja a "primeira super-produção Hollywood-CIA-Pentágono-Casa Branca". Com a actual integração do complexo político-militar-industrial-bancário-mediático, tudo o que sai de Hollywood é propaganda, mais ou menos disfarçada. Esta Bigelow é apenas mais um dos "intelectuais" de serviço.
    Também não tenho tanta certeza que o Obama ganhe (pessoalmente, é-me igual), mesmo com a ajuda do duo cómico Ossama-Bigelow. Se a Federal Reserve tiver que ir socorrer de novo os especuladores antes do final do ano, como há quem preveja, o nobel da paz pode ver a eleição escapar-lhe das garras. Além disso, desta vez Obama já nao deve contar com os milhões de eleitores jovens/negros que conseguiu iludir da primeira vez. E convém recordar que o gajo só ganhou ao meco McCain por 53-47 ou coisa que o valha…
    JMS

  7. Maria,
    Absolutamente de acordo em que o tema do financiamento das campanhas é central nas democracias ditas representativas. Os "verdadeiros" eleitores dos políticos são os que lhes financiaram a eleição. O resto é rebanho: carne para canhão & mente para propaganda. Mas claro que não é só o financiamento que pode viciar a democracia. Acho que o controlo da informação é ainda mais decisivo nesse aspecto. Porque sem o controlo da informação e toda a máquina de propaganda, os políticos corriam o grave risco de os eleitores perceberem que estavam a ser enganado, começarem a perceber o funcionamento da coisa. Assim, controlados remotamente pela tv, os eleitores não percebem nada. Limitam-se a sentir: medo, frustração, ódio e outras emoções inúteis (pelo menos do ponto de vista revolucionário).

    Quanto à questão votar/abster-se, não acho que seja isso, necessariamente, o que retira "legitimidade" aos governos. Nos EUA eu compreendo perfeitamente a abstenção: se na prática só existe um partido (com duas alas), para quê votar? Em Portugal concorrem 10 ou 15 partidos às legislativas, com orientações políticas que vão desde a extrema-esquerda anticapitalista à extrema direita neo-liberal, passando por monárquicos e neo-fascistas. E como o canal público é obrigado a dar tempo de antena a todos os partidos (ao contrário do que acontece nos EUA), há pelo menos a possibilidade de ouvir as propostas de todos. E neste caso penso que a abstenção faz menos sentido. Mesmo sabendo que o jogo está viciado à partida, e mesmo que não tenhamos quaisquer resultados práticos (porque as massas só vão desistir do capitalismo quando a sociedade entrar em colapso: até lá, os partidos anticapitalistas continuarão a ter entre 1 e 10% dos votos) penso que é uma questão de princípio ir votar enquanto tivermos pelo menos um partido que não nos repugne. Eu só votei pela primeira vez aos 30 anos. Até aí mantive-me fiel às convicções anarquista de que a democracia representativa é essencialmente fraudulenta, servindo apenas para legitimar o poder e a exploração capitalista. Não deixa de ser verdade. Mas renunciar ao direito de dizer o que se pretende politicamente, quando isso é possível, não me parece boa ideia. Até porque a abstenção não incomoda nada os políticos (veja-se o que acontece nos eua). Pelo contrário, já que eles sabem que abstenção significa, regra geral, apatia, aprovação ou desistência. Logo, tudo bem.
    JMS

  8. Olá JMS: também me deparo com todas os conjecturas que fizestes, e acho que elas são pertinentes. Parece que do jeito que deixaram o mundo para a gente resolver (ihihih…), as opções rareiam, e não são fáceis de escolher. Abraços

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