O cabeça de cartaz

Diz Koalabomb:

Geralmente
quando uma mudança politica radical em qualquer país acontece precisa
do apoio do povo, mas acima de tudo uma cabeça de cartaz, alguém com
carisma que una a nação, achas que o povo português (e as outras nações
europeias) precisam dessa personalidade que consiga realmente unir um
povo e liderar? (claro que para o bem ou para o mal como a história nos
ensina)

Obrigado Koalabomb, o único nickname que consegue juntar a delicadeza dum koala com a brutalidade duma bomba.
De facto, este é o maior risco: ficar refém duma situação na qual o(s) povo(s), em pleno desespero, aceitam a liderança dum indivíduo com carisma. Não é apenas um risco português, é boa parte do mundo ocidental que partilha essa mesma condição.

Aliás, um dos problemas de quem acredita na Nova Ordem Mundial é mesmo o facto dos Illuminati quererem desfrutar este estado de espírito para propor um próprio “cabeça de cartaz”.
Porque mesmo agora? Porque se vamos observar a História (sim senhor, sempre ela) podemos constatar que é neste tipo de situações que surgem “salvadores do povo” (com aspas, claro).

Napoleão era um fruto da Revolução Francesa.
Hitler começou a parábola ascendente durante a República de Weimar, uma altura de profunda crise da Alemanha.
Mussolini também desfrutou a instabilidade italiana do primeiro pós-guerra para fundar o Fascismo.
Salazar chegou ao poder enquanto a crise apertava Portugal.

Isso só para fazer alguns exemplos.

Então, um “cabeça de cartaz” é sempre negativo? Aparentemente sim, mas é preciso observar as coisas com uma certa racionalidade. Do ponto de vista económico, Hitler, Mussolini e Salazar (não cito Franco porque conheço mesmo pouco dele) fizeram autênticas obras-primas. Eu sei, nesta altura os Leitores de Esquerda estarão com os cabelos em pé. Mas meus amigos, é preciso ver as coisas com objectividade, sem esquecer que aqui não se fala de ideologia mas de economia.

Da política económica de Hitler já falámos (Hitler e a crise).
Para ficar em Portugal, Salazar pegou num País falido, sem um tostão, e em poucos anos conseguiu restabelecer as finanças nacionais. E quem afirmar o contrário, simplesmente ignora os factos.

Outro ponto importante é que estas figuras, na maior parte dos casos, conseguem gerar uma vaga de nacionalismo que, apesar da doutrina globalista imperante, tem os próprios lados positivos. O povo sente-se (ou é feito sentir, pontos de vista) mais unido, é recuperada uma forte identidade nacional, são postos objectivos claros e há um esforço geral para que estes sejam conseguidos. É feita uma aposta em determinados valores, que são reforçados e mantidos com um certo cuidado.

Mas tudo isso tem um preço.

Para conseguir estes resultados, o cidadão tem que abdicar de outras coisas: liberdade individual, liberdade de expressão, uma Justiça acima do poder político. A participação activa na vida política do País é fortemente condicionada: na prática, há apenas um partido. Meios de comunicação como a imprensa, a televisão ou a rádio são submetidos a um feroz controle.

Neste sentido, o exemplo actual mais impressionante é aquele da China: quem navega em internet não tem acesso às mesmas notícias que podem ser encontradas no resto do mundo, pois o regime opera como um filtro.
Num outro paraíso comunista, Cuba, os telemóveis são disponíveis só há poucas semanas e pintar a fachada do próprio prédio é proibido (pois uma casa em boas condições é sinónimo de riqueza…no comment).

A propósito: não sei se repararam, mas os efeitos das ditaduras são os mesmos dos regimes comunistas. Quem quer entender que entenda.

Por isso: vamos eleger um “guia supremo” em Portugal e, mais no geral, no mundo ocidental? A minha resposta é “Sim” desde que o guia possa ser eu. Caso contrário a minha resposta é “Não”.

Porque se por acaso o próximo “guia supremo” não gostar de Informação Incorrecta, serei obrigado a fechar. Acham bem? Este é o risco com os “cabeças de cartaz”. Estas figuras conseguem um poder que não é o mesmo dos restantes cidadãos.

Objecção: mas já há uma elite que goza de poder e privilégios que são negados ao resto do País.

O que é verdade. No entanto, o Leitor pode ligar-se a internet e ler este blog (por enquanto…): não é uma diferença pequena. Mesmo num regime corrupto e injusto como o nosso, há um grau de liberdade que não é possível encontrar numa ditadura qualquer (porque é disto que estamos a falar afinal, dum individuo que exerce uma ditadura).

Segunda objecção: Hitler, Mussolini, Franco são exemplos negativos, não seria possível encontrar um “cabeça de cartaz” justo e imparcial, que desfrute o poder só em prol dos cidadãos?

Teoricamente sim, é possível. Mas como encontra-lo? Com um anúncio no jornal?
E mesmo uma vez encontrado (o que já por si seria uma empresa: como definir uma pessoa “justa”, por exemplo?), como podemos ter a certeza que será fiel aos princípios dele? As pessoas mudam, o que é normal. Mussolini, por exemplo, nasceu como figura política de Esquerda e chegou a dirigir o maior diário socialista italiano.

Terceira objecção: mas se os povos conseguem os objectivos apenas quando é presente uma liderança forte, não será que esta é a condição ideal duma Nação?

Vamos esquecer as ideologias, pois este é um problema sério, que não pode ser ignorado.
A verdade é que os povos precisam de exemplos, algo que possa ser indicado como um modelo. Além das figuras ditatoriais acima mencionadas, temos também outras pessoas que conseguiram resultados assinaláveis enquanto “cabeça de cartaz” e sem por isso ser tiranos.

Júlio César, por exemplo, antes de entrar na política era venerado pelas próprias legiões. Porquê? Porque dava o exemplo: partilhava a comida dos soldados, enfrentava com eles o frio e o gelo, preocupava-se com as condições das tropas, era presente no campo de batalha. Era não apenas um general com óptimas ideias, era também a aplicação prática destas ideias. As legiões não apenas sabiam isso, mas viam e viviam isso.

Discurso muito parecido com Napoleão que, enquanto general, sempre era presente ao lado dos soldados (não acaso, Júlio César era o modelo de Napoleão).

Isso é normal. Todos trabalhamos melhor quando há um espírito de equipa, e a existência ou menos deste espírito muitas vezes (não sempre) depende da atitude das chefias. Com os cidadãos é o mesmo: uma elite afastada da realidade, que goza de privilégios exclusivos, que define leis em prol não da comunidade mas apenas duma parte dela, qual “espírito de equipa” poderá criar?

Este era um ponto forte de figuras como Hitler, Mussolini, Salazar: verdade ou propaganda, a imagem deles transmitia sempre a sensação dum esforço comum, do qual eles eram parte também.

Então, voltamos a responder: um cabeça de cartaz? Para mim, mais uma vez: Não.
A actual situação pode ser má (e é má), os partidos podem ser corruptos (e são corruptos), os políticos podem ser uma vergonha (e são uma vergonha): mas não vou pôr a minha vida na mão duma pessoa que, se assim desejar, pode acabar com a minha vida só “porque sim”, só com um gesto.

Temos que crescer, não podemos ficar escondidos atrás dum álibi. E um “cabeça de cartaz” seria um álibi.
As coisas correm bem? É porque fomos espertos, escolhemos um bom leader.
As coisas correm mal? Azar, o leader é que é mau, o povo não tem culpa.

Crescer significa uma coisa simples: reconhecer que a situação é má porque nós, todos nós, trabalhámos para que fosse má. E continua a ser má porque nós, todos nós, não temos a coragem suficiente para mudar.

Pode doer, mas sem encarar a realidade não vamos para lado nenhum.

Ipse dixit.

7 Replies to “O cabeça de cartaz”

  1. Caro Informação Incorrecta

    Nem mais !!!!!!!!!!!!!
    Nós Portugueses somos como os avestruzes, adoramos enfiar a cabeça na areia, e nada ver.
    Somos os culpados por esta situação econômica, nem mais !!!!
    Quando começamos a estourar dinheiro com a construção de:

    -CENTRO CULTURAL DE BELEM … 100 MILHÕES DE EUROS
    – EXPO 98
    – PORTO 2001
    – CASA DA MÚSICA … 100 MILHÕES DE EUROS
    – EURO 2004 ( DEZ ESTÁDIOS DE FUTEBOL )
    – AUTO ESTRADAS / SCUT´s
    – PPP
    – REGABOFE DA MADEIRA
    – REGABOFE NOS AÇORES
    – PERDÃO DAS DÍVIDAS EXTERNAS DE CABO VERDE / MOÇAMBIQUE / TIMOR / SÃO TOME E PRINCEPE / ANGOLA
    – ENVIO ANUAL DE 500 MILHÕES DE EUROS Á PAÍSES CORRUPTOS AFRICANOS E TIMOR POR PORTUGAL
    – ETC / ETC / ETC ………..

    O que nós portugueses esperávamos ?????
    Somos os culpados pelos politicos portugueses corruptos, ponto final, agora aguentemos pois vai doer e muito.
    Eu vou para o Brasil trabalhar na construção civil, por ser engenheiro, aqui em Portugal não há nada de nada.

    Quero ver a malta, ir a Fátima a pedir um milagre, mas não vão deixar de ir a porcaria do FUTEBOL.

    Amanhem-se compatriotas Portugueses, pois eu vou me embora, e pagar impostos em outro país corrupto que é o Brasil, mas pelo menos lá vou ter trabalho bem pago !!!!!

    Um abraço e continue sua linha editorial, pois pelo menos é um farol nesta negritude em que estamos mergulhados aqui em Portugal.

    Ramiro Lopes Andrade

  2. Oi Max,
    Sobre os exemplos do post, nunca fui tão a fundo sobre o Benito ou sobre o António d'Oliveira, mas o Schickelgruber montou um estado aonde os maiores beneficiários da tal da tranqüilidade social foram sempre os empresários.
    Nada de novo. As migalhas governamentais (necessárias, a bem da verdade) aqui no Brasil elegeram todos os mandatos presidenciais pós-ditadura…

  3. Olá Max:"…o cidadão tem que abdicar de outras coisas: liberdade individual, liberdade de expressão, uma Justiça acima do poder político. A participação activa na vida política do País é fortemente condicionada: na prática, há apenas um partido. Meios de comunicação como a imprensa, a televisão ou a rádio são submetidos a um feroz controle" Penso que esta descrição coincide com o modos vivendi de quase todos os lugares, incidindo mais violentamente sobre os pobres, descartáveis e aqueles cuja revolta produz efeitos com visibilidade, não importa o nome que se esteja dando ao sistema político vigente, ou a "máscara" ideológica vestida pelas lideranças.
    Tenho uma percepção um pouco diversa do que possa ser "cabeça de cartaz": considero todo/a sujeito/a que exerça influência tamanha no seu entorno, ao ponto de alterar atitudes, comportamentos, ações e pensamentos de vários outros, pela lucidez, racionalidade, exemplo,argumentação objetiva, transparência, coragem, discernimento, empatia,senso de justiça, determinação e solidariedade. Desses/as um país precisa de muitos, diria que o ideal seria a proporção de 1 para 100. Considerando a população de Portugal, calcula quantos "cabeças de cartaz" precisas aí, que eu calculo quantos precisa aqui!O que é fundamental é que o "cabeça de cartaz" seja capaz de se-lo, sem deter o poder, ou seja, tornar-se autoridade, sem ser chefe, patrão, pai, presidente, ditador,padre, polícia, juiz, coronel ou deus. Um único que exerça o poder, de direita ou esquerda, decente ou cretino,pode mudar a economia,o grau de soberania do país,o nível de escolarização, a infraestrutura de um país (o que, se é bem feito, convém, seja fascista, nazista, comunista,"democratista",sindicalista, socialista, ou qualquer ista), mas não muda a consciência de uma nação, ou de uma coletividade, no sentido da construção emancipatória, ao contrário, a infantiliza. Abraços

  4. "Site de Referendos"
    -> Explicando melhor: todos os gastos (despesas públicas) do Estado que não sejam considerados de «Prioridade Absoluta» [nota: a definir…] devem estar disponíveis para ser vetados durante 72 horas pelos contribuintes [nota: através da internet no (que deverá ser criado) "Site de Referendos" -> aonde qualquer português com número de contribuinte, e maior de idade, poderá entrar e participar].
    Para vetar [ou reactivar] um gasto do Estado deverão ser necessários 100 mil votos [ou múltiplos: 200 mil, 300 mil, etc] de contribuintes.

    TOCA A ABRIR A PESTANA:
    – Mesmo não sendo a favor da Democracia Directa… todavia, no entanto, o cidadão não pode ficar à mercê das mafiosices dos 'Bilderbergos' e marionetas!!!
    – Democracia verdadeira, já! -> leia-se, DIREITO AO VETO de quem paga (vulgo contribuinte).
    [veja-se o blog fim-da-cidadania-infantil]
    {um ex: a nacionalização do negócio 'madoffiano' BPN nunca se realizaria: seria vetada pelo contribuinte!}

  5. Caro Max, nossa vida são nossas crenças determinando nossas escolhas… Continuo vendo "banqueiros" no topo da pirâmide administrando o "programa"da escassez planejada de tudo para o golpe (milenar) de sempre; cria-se o problema, espera-se a reação e apresenta-se a solução. Nada como uma boa guerra para garantir um bom faturamento. A massa infantilizada morde a isca do escravismo sem piscar os olhos aceitando mais um grilhão ou dois em nome da solução de um problema opressor criado astuciosamente por seus senhores… Por isso o Brasil continua sendo o eterno avestruz dos ovos de ouro, ainda que esta fórmula se aplique com sucesso em qualquer nação. (Quem sabe alguém me escuta?) Só me resta ficar peripateticamente repetindo que a verdadeira maravilhosa revolução é intrapessoal e intransferível. O SISTEMA É ESCRAVAGISTA, ALIENÍGENA , INUMANO E ANTROPOFÁGICO. Nunca desligue seu detector de mentiras. Ninguém virá nos salvar… Nada, religião alguma, lei alguma, substituirá a responsabilidade 100% dos julgamentos, escolhas e decisões de cada um de nós. Só podemos escolher entre o medo catabólico e a gratidão anabólica ao amor incondicional. E, mesmo assim sempre aparece alguém me perguntando se não ando esquecendo de tomar o gardenal… Julgamentos são um automatismo, um programa "auto run" de grande eficiência fratricida. Sinto muito, sou grato. Haja amor e perdão.

  6. "As coisas correm bem? É porque fomos espertos, escolhemos um bom leader.
    As coisas correm mal? Azar, o leader é que é mau, o povo não tem culpa."

    Então e quando o líder é mesmo uma desilusão?

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