Hoje, os bancos…

Num café:
– Então adeus.
– Como assim?
– É que volto para o Brasil. Volto com meu marido, ele é pasteleiro, eu sirvo ao balcão, com um pouco de sorte é possível construir-se uma vida, agora há possibilidades, não como aqui. O único problema é a violência, da tranquilidade daqui vou sentir falta. Mas lá há mais possibilidades.

Normal. Ficar na Europa para quê? É como viver num cemitério: não há violência, os vizinhos não chateiam, mas é um pouco parado.

Os bancos sofrem

Diário Público:

Um total de 800 bancos tiveram hoje um empréstimo de 529,5 mil milhões de euros do Banco Central Europeu (BCE), na segunda oferta de empréstimos a três anos, acima das previsões

Justo. São os bancos que estão em sofrimento, não os cidadãos. Criar emprego? Nem pensar, os bancos sofrem. Existe até uma explicação:

O objectivo deste novo empréstimo é facilitar o fluxo de crédito para os negócios e para os governos europeus.

Porque é assim: se os bancos emprestarem dinheiro, as empresas começam a trabalhar e o desemprego desaparece. Depois alguém deveria explicar quem é suposto comprar; porque quando uma empresa produzir, alguém depois tem que comprar o produto. Pelo menos, assim era antigamente.
Mas isso é relativo, o que conta é o crescimento, o dogma absoluto. O crescimento e não o dinheiro nos bolsos dos cidadãos.

A teoria pela qual uma economia funciona quando houver procura já está ultrapassada: agora a economia é saudável quando houver oferta. Mesmo que ninguém tenha o dinheiro para comprar, o que conta é a oferta.
Por isso: cortes, austeridade. Menos serviços, impostos mais altos, gasolina cada vez mais cara, cortes nos ordenados e nos subsídios. Este não é o futuro: é o presente.

Que depois é uma treta, porque o problema nem é este: a verdade, da qual ninguém fala, é que os bancos ficam com o dinheiro mas não concedem o crédito. A propósito: não é dinheiro trazido pelo Pai Natal, é o dinheiro dos Europeus. Assim, só para não esquecer.

Os bancos estão preocupados

Mas porque os bancos não fazem crédito? Há duas respostas, não uma.
Da primeira já falámos: os bancos têm medo. Dos outros bancos e dos clientes também.
É um pouco como se a padaria recusasse vender o pão. “Nunca se sabe, o cliente pode fugir sem pagar”. Então fechas, não é? Que raio de padaria és?

Agora, dizer isso aos bancos fica mal. “Mas que raio de banco és se não fazes o teu trabalho?”. Porque o trabalho do banco é o mesmo do usurário, emprestar dinheiro com juros; e se recusa trabalhar, que banco é?
Mas o banco não fecha, porque “as condições do mercado obrigam a uma atenta avaliação das posições orçamentais que incluem a exposição perante terceiros”. Traduzido: têm medo.

A segunda razão tem a ver com os cofres dos bancos. Que estão cheios de lixo. Mas cheios mesmo. Por exemplo: a Grécia. Todos sabemos que a Grécia irá falir, como diz Vanessa, só não sabemos quando. E se a Grécia falir, os seus Títulos de Estado terão um valor que será possível quantificar só com o microscópio electrónico (e bastante potente). Mas quem detém a maioria dos Títulos gregos? O quê? Pai Natal? Outra vez? Não, meus senhores: mais uma vez são eles, os bancos.

Agora, quando a Grécia falir, haverá problemas. E este último termo é um pálido eufemismo. A verdade é que alguém terá de fechar. Quem? Pai Nat…ah, não: alguns bancos. Os bancos precisam de dinheiro, de muito dinheiro. Ainda mais de ouro. Mas este é outro discurso (pergunta: mas para onde vai todo o ouro que as inúmeras lojas das ruas compram dos cidadãos? Tente o Leitor fazer um esforço de imaginação…).

E, maravilha das maravilhas: não há só a Grécia. Portugal, por exemplo. E a Irlanda, que mesmo nestes dias tenciona rever o Tratado europeu. E isso sem falar dos Grandes Doentes: Espanha e Italia.

Os bancos são criminais, mas não são estúpidos: sabem que apesar das boas palavras das Mentes Pensantes o futuro da Europa arrisca ser curto. Muito curto. E isso significa um risco particularmente elevado.

Os bancos são incendiados

Entretanto, em Barcelona, pelo menos duas pessoas foram já detidas na sequência dos confrontos entre a polícia e os estudantes, junto à praça da universidade. Muitos alunos estão refugiados na reitoria da instituição.

A manifestação com partida e chegada à praça da universidade, e na qual também marcaram presença professores e funcionários, parou por completo o centro de Barcelona. A encabeçar o desfile, em que participaram 25 mi pessoas, segundo a polícia, e 70 mil, segundo o “El Mundo”, estava uma enorme faixa onde se podia ler: “Não pagaremos as vossas aldrabices – Salvemos a universidade pública”.

Foram incendiados alguns caixotes de lixo, atiradas pedras contra a polícia (culpada de ter feito um uso excessivo da força nos últimos dias, o que obrigou um dos ministros do executivo espanhol a pedir desculpa), foram atacadas algumas agência bancárias.

Alguém começa a ficar farto.

Ipse dixit.

Fontes: Público, Expresso,

5 Replies to “Hoje, os bancos…”

  1. Olá Max: eu me lembro que lá pelos idos de 70, eu tinha uns poucos colegas decentes nos centros científicos e tecnológicos da Universidade. E eles foram para o Chile e a Argentina ajudar outros gaúchos, estes últimos operários, a tomar as fábricas e fazê-las funcionar. Por aqui, estudantes universitários assaltavam bancos para fazer funcionar a resistência a ditadura. Será que essas coisas saíram de moda, e eu não me dei conta? Será que os/as portugueses/as decentes não se deram conta que estão em plena ditadura econômica? Pelo menos alguns! Será que eu envelheci mesmo, e perdi a noção das coisas? Abraços

  2. Proponho que se faça cá em "Portugas Land" o mesmo que em F.T.L.

    Que o ESTADO Devolva o EVENTUAL IRS em Cartão de Crédito… Com umas condições boas, tipo 5€ por levantamento, 25€ para encerrar a conta IRSCré, 15€ para cancelar cartão extraviado e 35€ para novo cartão… É só uma modesta sugestão que de certeza toda a MANADA irá aprovar… pois quem é que não gosta de cartões de crédito!

  3. Os pobres bancos receberam os empréstimos com juros de 1% aa.
    Como não são burros aplicarão no mercado financeiro brasileiro, recebendo dividendos de 5% aa.
    Portanto, prezado povo europeu, sentem-se para esperar, porque de pé cansarão à espera do crédito que não virá.

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