Desemprego EUA: dados contraditórios

Na passada Sexta-feira saíram os dados ocupacionais dos Estados Unidos.
Festa grande. A taxa de desemprego caiu desde 8.5% para um bem mais simpático 8.3%, melhor de que as previsões.

E reparem no percurso:
Setembro 9.1%
Outubro 9.0%
Novembro 8.6%
Dezembro 8.5%.

Nada para fazer: a economia americana melhora com o passar dos meses. Crise? Já foi. Talvez. Ou talvez não. Porque logo a seguir explodiu a guerra dos números: os dados são falsos, não, são verdadeiros.

Nada melhor que observar bem de perto estes números.


Eis os dados apresentado por ZeroHedge:

Conseguem ver aquele “salto” à direita? Não, não é um erro: são estes os dados reais. E para perceber melhor, eis um outro gráfico:

Estamos perante a menor força-trabalho dos últimos 30 anos.
Para simplificar, podemos considerar a força-trabalho como o conjunto de pessoas que têm um emprego mais os desempregados que procurar um trabalho e que por isso recebem um subsídio. Fora da força-trabalho ficam as pessoas que abdicaram da procura, como por exemplo os desempregados de longa duração que já nem tentam encontrar uma ocupação.

O que os dados demonstram é que mais de um milhão de pessoas saiu da força-trabalho durante o último mês. Para ser mais preciso 1.117.000 indivíduos. Portanto, dado que a força-trabalho aumentou desde 153.9 para 154.4 milhões e que a população em idade activa atingiu os 242.3 milhões, isso significa que as pessoas sem trabalho passaram de 86.7 para 87.9 milhões.

E este cálculo não tem em conta a qualidade do trabalho (que piorou), discurso que mereceria bem outro espaço.

Tudo isso representa uma força-trabalho de 63.7%, o mínimo dos últimos trinta anos. Na verdade, não é possível ignorar a hemorragia das pessoas que cada mês literalmente “desaparecem” do mercado do trabalho, o que faz baixar consideravelmente a taxa de desemprego, pois não são consideradas na estatísticas do desemprego. Sem estes “desaparecidos”, a taxa de desemprego estaria na casa do 11%.

Todavia, se considerarmos:
– todas as pessoas que querem um trabalho mas abdicaram da procura;
– todas as pessoas com trabalho part-time e que procuram um tempo inteiro;
– todas as pessoas que abandonaram as listas do desemprego porque acabou o prazo dos subsídios
então o quadro fica bem pior.
Esta percentagem, que no relatório oficial aparece na secção U-6, ultrapassa 15.1%.

Resumindo: qual a verdade? O relatório oficial ou os dados de Zero Hedge (partilhados também pelo Washington Post e Global Economic Analysis)?

Responder não é simples, também porque a altura é complicada: de facto já começou a campanha eleitoral e a administração de Obama tem todo o interesse a apresentar dados positivos. Doutro lado há quem apoie a ideia de que o aumento da população interessa as pessoas com mais de 55 anos, grupo com níveis de participação no mercado do trabalho mais baixos. E mais de um milhão de pessoas que “desapareceram” da força-trabalho num só mês parece excessivo.

Neste caso o melhor é esperar e continuar a acumular dados. talvez a verdade esteja no meio, com uma taxa de desemprego que não mudou, pois a impressão é que os Estados Unidos ainda não encontraram a saída da crise.
E que o caminho seja ainda comprido.

Ipse dixit.

Fontes: Zero Hedge, Washington Blog, Mish, Voci dall’Estero

One Reply to “Desemprego EUA: dados contraditórios”

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