Origens: o Homem – Parte I

Então: chegaram os Mamíferos e os Primatas. Paciência.
E depois?

Depois apareceu o Homem. Logo? Não, não logo.
A Teoria da Evolução explica que os Mamíferos multiplicaram-se e, entre as várias famílias (o termo correcto seria Ordens), uma em particular começou a distinguir-se, os Primatas, e que a seguir apareceram várias espécies de Primatas, cada vez mais evoluídos até chegar ao Homem. Simples, não é?

Evolucioquê?

Não, não é. Há restos de macacos mais evoluídos, e não poucos; é possível observar um percurso que cada vez aproxima estes seres ao homem moderno. Mas pessoalmente tenho uma grande objecção, já manifestada num anterior artigo: onde estão os elos?


Porque entre o Homo habilis (2,4 milhões e 1,5 milhões de anos atrás) e o Homo ergaster (2-1 milhões de anos) deve ter existido uma espécie intermédia: mas não há restos dela. E o mesmo raciocínio pode ser aplicado a todas as outras espécie da cadeia evolutiva, que é a seguinte (“ma” significa milhões de anos):

  • Homo rudolfensis (2.7 – 1 ma)
  • Homo habilis (entre 2.5 e 1 ma)
  • Homo ergaster (2 ma)
  • Homo erectus (2 ma)
  • Homo antecessor (0.8 ma)
  • Homo heidelbergensis (0.60- 0.20 ma)
  • Homo neanderthalensis (0.25 – 0.03 ma)
  • Homo sapiens (0.2 ma – hoje)



Pegamos no caso do Homo sapiens: segundo as últimas pesquisas, o H. Neanderthalensis não seria um nosso antepassado mas uma outra espécie que compartilhou o planeta com a nossa espécie ao longo dalguns milhares de anos. Ambos, sapiens e neanderthalensis, derivariam assim do Homo heidelbergensis. Mas isso significa que deveriam ser encontrados indivíduos com traços típicos dum um e do outro, podemos dizer uma “mistura” de heidelbergensis e de sapiens (e neanderthalensis também).

E estes indivíduos “misturados” não poderiam ser poucos: afinal as diferenças entre uma espécie e outra não são tão insignificante que permitam o surgimento duma nova espécie dum dia para outro (a não ser que aceitemos a ideia de “milagre”), por isso falamos de milhares de anos de evolução.

E, tal como dito, o mesmo raciocínio tem de ser aplicado a todas as outras transições entre espécies: afinal encontrar tais “elos” deveria ser bastante simples.

Caso contrário, temos de admitir um cenário no qual um dia nasce, no interior duma espécie, um ser mais alto, com o cérebro maior, o nariz mais comprido, menos pelos…assim, por “acaso”. Mas não é desta forma que funciona o evolucionismo. Pelo contrário: o evolucionismo é constituído por adaptações progressivas ao ambiente, não nasce “de repente” uma nova espécie tão diferente, são precisas numerosas passagens..

Mas não há. Abrimos a mítica Wikipedia e a cronologia está assim feita: antes uma espécie, a seguir outra, depois outra ainda…de forma aparentemente “mágica”, é só uma questão de tempo para que uma nova espécie surja de repente.

Evolucionismo!

Agora o outro lado da questão: apesar da falta de “elos”, é verdade que é possível observar uma lógica evolutiva. Não é possível negar uma evidencia: houve um percurso desde os primeiros Primatas até o homem moderno. As várias espécies foram cada vez mais parecidas com o resultado final, e isso acontece não apenas com a espécie humana.

É difícil justificar este percurso de afinação sem reconhecer a existência dum processo de evolução.

Outro resultado que não pode ser ignorado: o homem moderno está hoje perfeitamente adaptado ao seu próprio ambiente. E a melhor prova disso é a difusão da espécie, presente em todos os continentes (até na Antárctica, embora com alguns “truques” tecnológicos: mas estes “truques” são também o fruto das capacidades melhoradas pela evolução).

Em comparação com o outra espécie, o Homem de Neanderthal, caracterizado por uma adaptação aos climas mais rígidos, o passo em frente é notável.

E a falta de elos? Este problema permanece.
Podemos admitir a dificuldade em encontrar achados com milhões ou dezenas de milhões de anos. Uma dificuldade real, que explica em parte as falhas. “Em parte”, não de forma conclusiva.

Para acabar, não podemos esquecer um pormenor: a paleoantropologia e o Evolucionismo são ciências relativamente jovens. O Evolucionismo, por exemplo, nasceu na metade do 1800, enquanto até então a única explicação acerca das origens do homem eram fornecidas pela visão religiosa. E mesmo assim, a aceitação da nova teoria foi bastante escassa.

É suficiente comparar a paleoantropologia com outras disciplinas cientificas, como a física ou a astronomia, para entender as diferenças em termos temporais. Ver o Evolucionismo (parte da paeloantropologia) como uma ciência já acabada nos moldes da perfeição seria um erro: há ainda um longo caminho.

O Evolucionismo pode não ser perfeito (e não é, definitivamente), mas é a única teoria que consegue apresentar uma sequência que, apesar de não homogénea, tem uma certa lógica. Depois, claro, podemos ver tudo isso como experiências dos Annunaki, mas se a intenção for entrar num discurso mais sério, então temos que ver quais os dados a disposição.

E há os dos fósseis, que não podem ser ignorados.
Sem admitir uma teoria evolutiva, os restos fósseis deixam de ter sentido, tornam-se montes de ossos sem história. Podemos gostar ou não, mas actualmente o Evolucionismo fornece a única chave de leitura possível. Não é pouco.

Faltam os “elos”, faltam as provas definitivas? Porque, as teorias alternativas (Criação, intervenção extraterrestre) quais provas apresentam?

Dito isso, vamos à procura das nossas origens.

Ratos, coelhos, homens…

O homem pertence à família dos Primatas, cuja definição correcta é Ordem.
Vamos ver qual a classificação científica completa:

Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Subreino: Eumetazoa
Ramo: Bilateria
Superfilo: Deuterostomia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Infrafilo: Gnathostomata
Supeclasse: Tetrapoda
Classe: Mammalia
Subclasse: Theria
Infraclasse: Eutheria
Superordem: Euarchonta
Ordem: Primatas

Ok, ok, parece complicado, mas tem um sentido: vamos ver qual.

  • Eukaryota indica a presença dum núcleo contido numa membrana nuclear, no interior das células.
  • Animalia indica o Reino: o Homem, de facto, não é um vegetal nem um mineral, é um animal.
  • O subreino Eumetazoa indica o facto dos seres estarem caracterizados pela presença de tecidos, como o tecido cutâneo (a pele), e órgãos bem delineados.
  • Bilateria indica a simetria dos corpos, como acontece nos seres humanos, onde o lado direito é igual ao lado esquerdo.
  • A Deutrostomia indica um outro conjunto de caracteristicas, como a existência dum coração em posição mais ou menos central, a presença duma boca dum lado e dum ano no outro.
  • O filo Chordata indica a presença duma estrutura interna de apoio, no caso do homem o esqueleto.
  • Quando tal estrutura é formada por ossos e cartilagem então fala-se do subfilo Vertebrata.
  • Gnathostomata é outro traço distintivo: nos seres deste intrafilo há um maxilar.
  • Outra subdivisão: Tetrapoda, os vertebrados com quatro membros para deslocar-se no ambiente sub-aéreo, isso é, na terra, não no ar ou na água.
  • A seguir temos a classe dos Mammalia, isso é, dos mamíferos. E não há muito para explicar neste caso, o Homem é um mamífero.
  • A subclasse Theria indica a presença duma placenta em fase de gestação.
  • A infraclasse Eutheria assinala os mamíferos dotados duma placenta mais eficiente, como no caso do Homem, pois no caso do kangoroo, por exemplo, tão eficiente não é.
  • Euarchonta é um termo interessante pois indica uma super-ordem (isso é, um conjunto de ordens) que têm relacionamentos bastante próximo uma das outras do ponto de vista genético: homem, ratos, esquilos, coelhos, lebres, lémures, tupaias.
  • No final encontramos a nossa ordem: os Primatas, basicamente macacos e homens.

Uma vez estabelecidos os moldes nos quais a vida apareceu (artigos anteriores, ver “Relacionados”), temos que ver quando começou a formar-se a nossa ordem, a dos Primatas. Não que a coisa seja simples, mas vale a pena tentar.

No próximo episódio, claro.

Ipse dixit.

Relacionados:
De Deus e dos Homos 
Origens – Parte I
Origens – Parte II
Origens – Parte III
Origens – Parte IV

6 Replies to “Origens: o Homem – Parte I”

  1. Olá pessoal,
    vale a pena ver este debate, com argumentações muito bem colocadas sobre a evolução e criacionismo:

    Vejam todas as outras partes depois.

  2. Hey Max,

    concordo com o Gilson Sampaio: do que me lembro das aulas de biologia, tetrapoda está relacionado com o facto de ter 4 membros (literalmente 4 pés).

    Abraço,

    R. Saraiva

  3. Gilson e Saraiva, tenho muita pena de vocês e da vossa ignorância abismal.

    Tetrapoda é a classe dos vertebrados que vivem num ambiente de três dimensões, do grego "tetra" = três e "poda" = dimensão; os vertebrados quadrapoda, pelo contrário, vivem no ambiente aquático, os quintrapoda no ar, enquanto os sextrapoda são os extraterrestres.

    Não estão convencidos? Ok, vou emendar. De facto acho ter esquecido uma parte da descrição, pois tetrapoda significa com 4 membros…… 🙁

    Obrigado!!!

Obrigado por participar na discussão!

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