Indignados

Então, que se passou em Alfragide?
Ok, ok, os Leitores que não vivem perto de Lisboa estarão a perguntar: mas que é esta Alfragide?

Acho muito interessante seguir este tema e vou explicar a razão: mesmo que o Leitor não seja Português, não deixa de ser uma iniciativa de tipo “novo” (aspas obrigatórias), na qual um grupo de pessoas decide reunir-se para tentar debater dos muitos problemas que afligem a nossa sociedade e , se possível, encontrar soluções.

Entre os participantes havia o Nobre Saraiva que teve a cortesia de enviar-me o relatório final da reunião. Mas antes disso um brevíssimo resumo.

Como pode ser lido na página do blog Sociedade Alienada, na tarde do passado dia 28 de Dezembro decorreu em Alfragide (perto de Lisboa) a Primeira Assembleia Popular, organizada pelos Indignados de Lisboa e aberta a todos.

O que aconteceu?
Como afirmado, eis relatório (obrigado Saraiva!) que, se bem percebi, não é a versão “oficial” mas simplesmente um resumo. Que depois é o que interessa.

Na primeira reunião da Assembleia Popular de Alfragide, 28 de Dezembro de 2011, com 6 elementos presentes [!!!, ndt], debateram-se os problemas locais, tal como se sugeriram ideias para actividades.
Segue aqui a lista do que eu recolhi […]:
Problemas:
  1. Atualização do Recenseamento – por forma a saber quantas pessoas tem efetivamente Alfragide;
  2. Centro de Saúde – Quais os projetos que existem na Junta/Câmara para o CS de Alfragide? Continuam viáveis? Não estará a sua viabilização  relacionada com o ponto 1?
  3. Estacionamento – Existem zonas onde se torna impossível transitar sobre os passeios;
  4. Recolha do Lixo
    1. …em horário de ponta – deverá ser feito em altura que não perturbe a circulação normal dos cidadãos no seu percurso casa-trabalho-casa;
    2. Poucos Ecopontos… – o rácio ecoponto/”ilhas de recolha de lixo” é baixo. Havendo zonas onde os moloks nunca ficam cheios, podendo alguns destes ser convertidos ecopontos;
    3. …e pouca recolha – O período de tempo entre cada recolha, torna os ecopontos inutilizáveis a partir de um certo ponto, pois encontram-se cheios;
  5. Autocarros – o estado português, com a imposição das medidas de austeridade, levou a que empresas como a Carris reformulassem os trajetos de algumas carreiras, estando previsto mesmo o término de algumas das que servem Alfragide Norte e que faziam ponte entre a zona e as estações de metro;
  6. Requalificação das infraestruturas públicas da Alameda dos Moinhos – campos de futebol, ténis, parque infantil, etc.
  7. Requalificação do Centro Comercial – saber que projetos existem/existiram para o mesmo e o que os inviabiliza ou atrasa a sua execução;
Actividades:
  1. Car-Pooling – partilha de lugares no automóvel por forma a tentar ocupar o máximo de lugares possíveis evitando que pessoas que se deslocam para o mesmo local, levem veículo individual;
  2. Object-Pooling – partilha de objectos;
  3. Hortas Comunitárias – Conheces quais o projetos da Câmara Municipal/Junta nesta questão;
  4. Feira de Trocas – realização de uma feira de troca de objetos onde quem sabe, poderemos trocar algo que não precisamos por aquilo que nos faz mesmo falta;
  5. Partilha de Conhecimentos – realização de workshops, amostras, formações em diversas áreas de conhecimento;
Ficou estabelecido, que devemos prioritizar o contacto com a AMAN (Associação de Moradores de Alfragide Norte), por forma a sabermos que trabalhos executam, que dados têm e que experiência nos podem facultar, para tentarmos encontrar sinergias e evitar redundâncias no trabalho;
Falou-se ainda na possibilidade de abordar a Junta de Freguesia por forma a requisitarmos o auditório da Junta de Freguesia para realização Assembleias Populares futuras, ou dinamização de atividades.
A próxima Assembleia ficou com data marcada para dia 11 de Janeiro às 20h30, à partida, no mesmo local – ficará assim marcado até encontrarmos um local mais abrigado.
Se estiver disponível, o e-mail a ser criado para se entrar em contacto com a Assembleia Popular de Alfragide, será:

Ok, vamos ver.
Seis participantes não é muito (aliás, é uma miséria: poderiam ter feito car-polling para ir à Assembleia) o que é mau sinal. Doutro lado vivemos numa sociedade em coma tecno-farmacológico, pelo que não é fácil nesta altura obter mais.

Quanto aos pontos apresentados, não vou discutir isso. Porque não há nada para dizer: acho ser esta a forma de agir.
Inútil esperar manifestações oceânicas: não haverá.
Inútil confiar numa mega-manifestação organizada pelo sindicatos: estes têm outros objectivos na agenda. Inútil esperar a próxima greve geral: ficará sem efeitos, tal como todas aquelas passadas.
Inútil esperar também uma revolução: os tempos mudaram e alguma vez viram doentes em coma nas ruas?

Mais ainda: inútil esperar o surgimento dum partido que, de repente, seja realmente ao lado dos cidadãos. Não há nem haverá pois a estrutura mediática e político-partidária não permitirá que isso aconteça.

Por estas razões, é aqui, no pequeno, que temos de trabalhar.
Difícil? Claro que sim.
Demorado? Claro que sim?
Mas qual a alternativa? Ficar à espera de quem? Dum messias? Alguém pode sugerir algo de diferente que tenha uma concreta possibilidade de resultar?

Podemos ver estas seis pessoas como sonhadores. Mas eu acho que sonhador é quem fica atrás dum ecrã sem mexer um dedo e espera que o mundo mude ao seu gosto. Estas seis pessoas não estão a sonhar, estão a mexer-se. Colhem a diferença?

Nota final (de Saraiva se não estou errado):

Reforço o seguinte: A Assembleia Popular de Alfragide, como estrutura orgânica, horizontal e não rígida, discutirá todos os assuntos que sejam do nosso interesse não só como habitantes desta freguesia, mas como cidadãos portugueses, sendo para isso que existe o conceito de Grupo de Trabalho. Desta forma, pretende-se evitar o conflito de ideais, permitindo que assuntos que sejam apenas do interesse de alguns elementos, sejam na mesma discutidos em círculos concêntricos.
Relembro também que uma Assembleia Popular é sinónimo de Democracia Participativa, onde todos serão ouvidos e onde a opinião de todos será tida em conta.
Dito isto, vamos ao ataque, começando com os pequenos passos glocalmente – agindo localmente para mudar a consciência global.

Visitei o site dos Indignados. Haverá outra reunião na próxima Segunda-feira, no Barreiro. Onde produzem uma excelente Bola de Manteiga. Se calhar vou dar uma voltinha, fica tão perto.

Ipse dixit. 

7 Replies to “Indignados”

  1. Mas que ma-ra-vi-lha!!! Enfim uma boa notícia de Portugal!! Já havia perguntado ao Saraiva dos resultados,mas ele com certeza teve outras coisas importantes a fazer, e não me respondeu, o que fez muito bem,até porque é só hoje, com a minha globolocal revolução prática encaminhada, que eu tenho tempo de sentar-me aqui, a revolucionar com o teclado. Cada revolução a seu tempo. Também pensei: será que ele está decepcionado com a meia dúzia de gatos pingados? Pensei melhor: não, é inteligente demais para isso.Saberá que reunir para protestar é um espetáculo, um show, faz parte do modus operandi da sociedade de representação. Reunir para pensar as coisas próximas e em comum, para transformar problemas familiares em soluções comunitárias, ou seja, fazer acontecer a vida coletiva com o instrumento da assembléia popular é outra coisa distinta. A memória destes eventos foi sistemática e convenientemente apagada ou substituída pelo show.
    Me entusiasmei com o encaminhamento: com a visão de grupo participativo, com as iniciativas concretas de incentivo a partilhas, com o necessário tom de satisfazer interesses e trazer vantagens, principalmente econômicas aos participantes. Este é o momento: o da escassez que se anuncia, porque predispõe a trocar o que sobra num ponto, pelo que falta em outro, com ganhos mútuos, predispõe a fiscalização da administração distrital mais próxima, predispõe a praticar uma contabilidade precisa das próprias necessidades e das públicas locais, e também a discutir com outros o que é necessário, indispensável (em geral desconsiderado ou confundido), o que é dispensável e porque, o que é supérfluo (e em geral impingido) Sucesso e abraços

  2. O melhor de tudo é que bastam apenas muitas pequenas 6 "pedras" para se começar a erguer algo de novo… e simultaneamente substituir a actual Obsoleta e Desumana Sociedade em que se Vive. Afinal de contas todas as grandes Obras começam com a colocação da "1ª Pedra"… Neste caso foi até melhor… haviam 6!

    E que continuem a espalhar a virose!

  3. Porque raio queremos, NÓS ESCRAVOS, que os outros ESCRAVOS trabalhem nas horas que não nos provoque incómodo?

    Ainda por cima, como somos AGARRADOS, também não queremos que esses ESCRAVOS recebam mais por trabalhar nessas horas, Não… isso não… pois tal implica um aumento do custo do serviço que nos é prestado… a afinal de contas não queremos pagar muito a um ESCRAVO que apenas tem que andar a movimentar sacos de um lado para o outro.

    Será que esses ESCRAVOS não merecem igualmente "trabalhar" durante o dia e descansar e estar com os seus à noite?

    Para mim sim…

  4. Não parem!!!
    Se a cada reunião, for pelo menos 1 pessoa a mais já vale! O importante é pelo menos, sempre manter uma meta, do tipo, + 1, +1, +1, +1, e assim vai crescendo aos poucos.

    abraços!!

    PS. Não entendi esse ultimo comentário do Voz. É loucura.

  5. 😉 Acho que a Voz se referia à recolha do lixo. "Recolha do Lixo …em horário de ponta – deverá ser feito em altura que não perturbe a circulação normal dos cidadãos no seu percurso casa-trabalho-casa".
    E neste ponto concordo. Por que raio é que quem recolhe o lixo tem de acordar quando os outros se estão a deitar, e ir cidade fora quer faça sol (ou lua) quer faça chuva quando devia estar a repor energias?
    Se os camiões do lixo andassem pelo meio da rua a horas normais e bem à vista de todos, espalhando livremente o seu aroma exótico, até podia ser que nos fartássemos de fazer tanto lixo.

Obrigado por participar na discussão!

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