2012: fim do mundo – Parte II

Mecanismo causa-efeito.
C existe porque antes existiu B, por sua vez fruto do acontecimento A.
A nossa visão.

É assim em todo o mundo? Não.
Escreve Jung na introdução da obra I-King:

A nossa ciência é baseada na casualidade, e esta é considerada uma verdade axiomática. Os Chineses, pelo contrário, parecem estar pouco interessados na explicação natural dos acontecimentos, pois estes têm de ser claramente separados entre eles antes de poder ser tratados de forma apropriada. Segundo os Chineses, o instante em observação parece mais a configuração que acontecimentos acidentais formam naquela altura. Enquanto a mentalidade ocidental cuidadosamente separa, pesa, escolhe, classifica, etc., a imagem chinesa do momento contem cada pormenor até o mais ínfimo detalhe, pois o instante observado é o total de todos os  ingredientes.


Sim, sim , tudo muito engraçado: mas que tem isso a ver com os Mayas?
Podemos entender isso com o conceito introduzido por Jung a seguir: sincronicidade.

Esta premissa implica um esquisito princípio que eu baptizei de sincronicidade, conceito que tem uma visão diametralmente oposta da casualidade. O ponto de vista casual conta a história precisa da existência de D, que teve origem em C, o qual tinha como pai B, que por sua vez era sucessor de A.
A visão sincronicista, pelo contrário, tenta produzir um quadro igualmente significativo da coincidência: como acontece que A, B, C e D aparecem todos na mesma altura e no mesmo lugar?  

E enquanto Jung escrevia isso, a ciência ocidental descobria os princípios da física quântica, que obrigava a observar a realidade duma forma parecida com a sincronicidade do pesquisador suíço.

Isso não significa que a cultura oriental recuse em absoluto o relacionamento causa-efeito. Até os Chineses percebem que engolir um quilo de arroz provoca uma indigestão, a primeira acção é a causa da segunda. Mas o mecanismo causa-efeito é limitado aos acontecimentos mais imediatos e mais específicos: na visão total da realidade, a variável da probabilidade ganha importância e o mecanismo causa-efeito deixa de ser tão relevante.

É assim óbvio que uma qualquer profecia (não apenas aquelas dos Mayas) tem um valor diferente quando considerada na óptica oriental dum tempo cíclico e não linear.

“Antes” e “Depois” não existem? Então a profecia não pode identificar um acontecimento que possa realizar-se apenas uma vez na linha temporal, mas se torna uma espécie de chave para reconhecer acontecimentos que se repetem de forma cíclica na história e ficam iguais na substância.

São os arquétipos (também definidos como “imagens primordiais”), os mecanismos universais como “A dificuldade”, “O regresso”, “A derrota”, que o I-King apresenta como chaves de leituras que devem ser aplicadas aos eventos materiais.

Entender um arquétipo não é difícil: em qualquer filme de aventura haverá sempre um herói (a identificação), um acontecimento que implica o desenvolvimento da acção (a partida), um inimigo (o confronto), uma batalha final (o prevalecer) que permite resolver o problema inicial (a pacificação). Identificação, partida, confronto, prevalecer e pacificação são os arquétipos da narração que já conhecemos mesmo antes de ver o filme, pois são partes do género de filme.

E que acontece se tentarmos aplicar estas conceitos às profecias dos Mayas?
Acontece que tudo faz sentido. Aliás, faz ainda mais sentido.

Nesta óptica, o Chilam-Balam não diz que haverá um terremoto de magnitude 8,5 no dia 4 de Dezembro às horas 17,30, mas apresenta uma dinâmica universal, na qual as forças atingiram uma grande potência e, tal como já aconteceu no passado, estão presentes as condições para o aparecimento dum novo ciclo.

Depois cada um de nós pode ler a profecia como mais lhe apetecer, pode identificar as forças, as modalidades, etc.
E na sincronicidade oriental, tal como na física quântica, o observador é um elemento de importância primária: o observados tem influência directa no resultado, pelo que não existem meros espectadores.

Na última página do Código de Dresda, mesmo em correspondência do fim do calendário, aparece a figura duma deusa que espalha enormes quantidades de água na terra, quase que a intenção fosse submergir todos os seres viventes na superfície.

E há também uma profecia Hopi que afirma:

Esta é uma altura maravilhosa. Há um rio que corre muito rápido. É tão rápido que muitos terão medo, tentarão alcançar a margem. Desta forma sofrerão enormemente. O rio tem o seu destino. Os velhos dizem para abandonar a margem e alcançar o centro do rio, com os olhos abertos e a testa fora da água. Agora olhem em volta, vejam que ficou convosco para celebrar.

Mais do que um rio de destruição, parecem águas de renovação. O sentido das profecias Maya pode estar tudo aqui: não será o fim do mundo, o mundo continuará muito além de 2012. Será uma altura de renovação.

E uma coisa parece clara: podemos não acreditar nas profecias, sejam elas Hopi ou Maya. Mas que a nossa sociedade esteja perto dos limites da sustentabilidade e que precise duma profunda mudança, isso é evidente.

Então não fiquem à espera de tsunamis, inundações ou outros cataclismos: não será verdadeira água a correr.

Ipse dixit.

Fonte: Luogo Comune

One Reply to “2012: fim do mundo – Parte II”

  1. Estamos perto da era de aquário.
    Estamos passando por mudanças, toda sujeira do passado até agora está vindo a tona, está sendo revelada e redescoberta. A sociedade está mudando seus pensamentos e encontrando as verdades. Mesmo que sejam verdades tristes, duras, pelo menos estão sendo reveladas agora, para que então, depois, venha a renovação.

    Não está pior agora, é o que parece, na verdade estamos com mais informações sendo compartilhadas e reveladas que antes eram ocultadas.

    O mundo está acordando.

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