Nós somos a Europa

Crianças desnutridas? Onde? Aqui, na Europa?
Por favor, não brinquemos com estas coisas: esta é a Europa, a culta Europa, a elegante Europa, a rica Europa.

Falta de medicamentos? Só se for em qualquer País da África, aqui não de certeza.
Pois nós somos a Europa.

Então não liguem. Mesmo que as notícias sejam de fontes oficiais, não liguem. Façam a fila no vosso hipermercado favorecido, comprem uma boa aposta de bacalhau e não esqueçam as batatas fritas, que ficam bem.


E ignorem o resto, sério, não vale a pena.
Nem leiam o que vem a seguir, que fala da Grécia.

Ansa, agência de noticias oficial italiana:

Ao falar com o sitio online Newsit.gr, a mulher disse que nas últimas semanas “houve cerca de 200 casos de crianças desnutridas porque os pais não são capazes de alimentá-las adequadamente”, enquanto os professores do instituto que ela dirige fazem a fila para buscar um prato de comida para os seus estudantes que não têm nada para comer. O Ministério da Educação, que no início tinha definido a queixa como “propaganda”, tem “sido forçado a reconhecer a gravidade” do problema.

Como alguns professores disseram ao jornal To Vima, o problema da desnutrição existe e é mais evidente nas escolas a tempo inteiro: “Muitos alunos vêm para as aulas sem almoço e dizem tê-lo esquecido em casa, porque têm vergonha de dizer a verdade”. “E há mesmo casos de internados que, após tratados, não querem sair do hospital porque não têm para onde ir dormir.

Diário L’Unitá:

As admissões nos hospitais privados caíram 30% entre 2009 e 2010, enquanto as dos hospitais públicos aumentaram 24%. Ao mesmo tempo, os hospitais públicos viram os orçamentos reduzidos em 40%, muitos trabalhadores foram demitidos e há falta de pessoal. As filas para uma visita médica ou uma internação tornaram-se muito compridas, uma forma de desencorajar os pacientes […].

Além disso, alguns medicamentos estão a tornar-se escassos. Muitas empresas farmacêuticas decidiram suspender o fornecimento de medicamentos para os hospitais gregos, porque as contas não eram pagas há anos. Um membro da Roche disse ao Wall Street Journal que o grupo suíço parou o fornecimento de certas drogas anti-câncer, Novo Nordisk parou de enviar insulina e Leo Pharma não envia anticoagulantes.

É propaganda, não há dúvida, pois na Europa estas coisas não acontecem. Depois seria um absurdo: a Grécia agora é gerida pelo Fundo Monetário Internacional, eles estão aí mesmo para ajudar os Gregos, para reduzir a dívida deles. É para o bem deles.

Como em Portugal. Como na Irlanda.
Como na Italia, onde o novo Primeiro Ministro é da Goldman Sachs.
Como na Espanha, onde o novo Ministro da Economia é homem da Lehman Brothers.
Sério, não faz sentido.

Em em caso de dúvidas leiam o último Geab, o número 60, que pode ser encontrado na internet: o Euro é sólido, o Euro é forte, o futuro é do Euro.

E não esqueçam as batas fritas.

Ipse dixit.

Fontes: Crisis, Ansa, L’Unitá

12 Replies to “Nós somos a Europa”

  1. A Grécia esta cerca de 2 anos á nossa frente na descida para o fundo do poço, a conjuntura que molda o nosso futuro ira atingir resultados muito idênticos, portanto essa descrição pode ser a de Portugal em 2013 (se não antes) Mas que fazer? Como lutar? Não falo de violência nem terrorismo falo de opções estratégias capazes de serem postas em marcha pelos cidadãos que no conjunto causem danos ao inimigo ao ponto de o fazer pelo menos adiar o assalto á Europa.
    Não me parece suficiente apenas sensibilizar os cidadãos é necessário apresentar ao mesmo tempo uma opção de escolhas, uma opção de vida que seja credível.
    Mas em primeiro lugar onde se escondem os observadores avançados do FMI ? Em multinacionais? E como fazer baixar os seus lucros e arrasar perante a opinião pública a imagem dos seus produtos? E quem é a concorrência que seja fiável como alternativa, falo de Bancos de gasolineiras, empresas de fast-food, seguradoras, etc, a mudança de hábitos no montante de poucos euros por cidadão e por ano multiplicados por vários milhões ainda pode ser uma estratégia viável?
    Que outras opções existem? Existe alguém ou algum blog a tratar desta estratégia?
    Lamento tantos pontos de interrogação mas não os consigo evitar, perante estas descrições sinto-me como um animal cego a caminhar num corredor estreito em direcção ao matadouro… apenas consigo ouvir os gritos dos que vão á minha frente.

  2. Olá Bruno: acho que tuas indagações são extremamente pertinentes.
    Como baixar os lucros das corporações? Penso que retirar o dinheiro que houver em banco, cancelar cartões de crédito, enquanto tenta-se organizar entre vizinhos, associações de bairro, escolas etc uma cooperativa de crédito-depósitos é pensável (e não venham me dizer que o banco é mais seguro que um acordo público entre iguais)
    Penso que instalar farmácia popular com medicamentos reunidos de quem os tenha, e tentar acordo com enfermeiro/médico/nutricionista/veterinário/fitoterapeuta, acumputurista/massagista/fisioterapeuta/farmacêutico/psicólogo morador do bairro para se revezarem em atendimentos, usando seus próprios instrumentos básicos de coleta e análise não é impossível, e seria boicotar as estúpidas especializações e a compra de produtos de indústrias farmacêuticas. (qualquer farmacêutico sabe manipular produtos chave de medicamentos importantes e qualquer fitoterapeuta pode em uma semana organizar uma "biblioteca" de garrafas de infusões a base de ervas)
    Penso que o uso de produtos caseiros na alimentação, a compra diretamente do produtor em quintas e o plantio de hortaliças em pátios e terrenos baldios, as pequenas criações de aves em galinheiros domésticos e a organização de cisternas coletivas para a coleta de água pode diminuir gastos e as compras em "magasines" de comida.
    Penso que um carro pode conduzir mais de uma família e dividir gastos.Penso que ainda existe portuguesas que sabem costurar e bordar muito bem, além de fazer doces caseiros e comidas maravilhosas. E se não souberem fazer refrigerantes caseiros podem me perguntar, que eu envio a receita com prazer!
    Talvez todos os frequentadores do "botequim do Max", e ele mesmo, estejam a altura dando gargalhadas e pensando:os portugueses, gregos e italianos nunca farão isso!!!É estúpido,vamos mergulhar na pré história?!! Mas, eu te digo Bruno que pré histórico é não saber se organizar diante dos imprevistos, e ser incapaz de espírito coletivo de boicote, sabotagem e resistência.Mas aqui existe um ditado que diz: quando a água bate no pescoço, qualquer um aprende a nadar! Eu confio que os portugueses saberão nadar. Finalmente sugiro que aqui mesmo neste blog se ponha a DISCUTIR ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA para ampliar e aprimorar alternativas viáveis e pô-las a funcionar, tal como já está fazendo o Saraiva com a organização de assembleias públicas. Abraços

  3. "…os portugueses, gregos e italianos nunca farão isso!!!É estúpido,vamos mergulhar na pré história?!!"

    maria… nem sei que te escreva!

    Para a MANADA de Portugas só TRÊS COISAS IMPORTAM: futebol, fátima, fado!

    dependendo da região a ordem das "coisas" altera… mas apenas a ordem!

    Felizmente está a chegar o TEMPO em que a MANADA vai bater com os dentes nos calhaus pois a erva acabou, e aí se calhar "as 3 coisas" então, se calhar e com sorte, deixam de ser as mais importantes… para já, apenas nos resta observar a movimentação da MANADA… pois infelizmente a MANADA a que eu pertenço ainda não tem elementos suficientes para ir contra ela e fazê-la mudar de rumo!!!

  4. Mas Voz, pensa comigo: esses caras nunca passaram fome na vida, nunca tiveram atendimento hospitalar de décima categoria, nunca ficaram sem dinheiro para o transporte público! Quando isso acontecer, eles vão ter de reagir! Se eles reagirão forçando os seus políticos a estabelecer uma auditoria da suposta dívida, colocando todos os pontos nos is, ou se vão reagir se matando ou migrando em massa para países de língua portuguesa, ou se vão descobrir a vida comunitária eu não sei, mas que não vão saber morrer de fome ou de frio, lá isso eu tenho certeza que não vão. Abraços

  5. "…Voz, pensa…" o quéééé isso?

    Desde já descarto a hipótese "forçando os seus políticos a estabelecer uma auditoria da suposta dívida"

    e também "se vão descobrir a vida comunitária" se bem que nesta apenas pequenos grupos que já a praticam poderão eventualmente cativar um ou outro membro da MANADA que ande a correr nas extremidades da mesma…

    maria… já me está a doer a cabeça!

    Se olhares para os dados do último recenseamento (vê aqui) a população está velha e burra!
    Os novos vão-se por a milhas e os assim-assim ainda não decidiram!

    maria… por favor não me tortures… não me peças para PENSAR… bjs

  6. Tá certo Voz: sério mesmo, tu deves saber mais sobre como o pessoal está e vai reagir. Afinal, dobro-me a tua sabedoria, e não te pedirei para pensar porque se as coisas estão mesmo assim como descreves, no fim quem se mata é tu. E eu nem quero imaginar de chegar no botequim e não te encontrar. Grande abraço

  7. eheheh maria não de dobres que isso faz mal à coluna… além do mais sabedoria é coisa que não abunda neste cérebro… sou mero Observador! e quanto a suicidar-me… isso é coisa de LOUCO ihihih

  8. Olá amigos,

    eu concordo com a ideia de que 'quando os calos apertarem' toda a gente vai lutar pela sobrevivência, mas também compreendo o ponto de vista do voz – ou seja, enquanto houver comida lá em casa para o pessoal ter pelo menos 2 refeições por dia e a televisão der futebol, há pessoal que se está a cagar para o resto.

    @maria – as tuas ideias são fantásticas, e logo que possível, serão partilhadas na Assembleia Popular.

    É pena que as pessoas só reajam aos eventos e não tenham a capacidade pró-activa de antecipar e preparar-se para aquilo que a Grécia nos está a ensinar. Neste momento, somos uns priveligiados, pois temos a lição dada pela Grécia…a nossa margem de manobra é pouca, mas ainda assim há que fazer algo. Procurar a justiça, a fraternidade e a vida comunitária só é utópico na cabeça daqueles que têm a lavagem cerebral completa – Podem chamar-me sonhador, mas acredito que a solução está plenamente em nós, nas nossas consciências, na nossa capacidade de análise (que anda adormecida).

    Não há mais tempo a perder! É agora ou nunca.

    (A título informativo – ontem já foram espalhados uns pequenos cartazes A5 na vizinhança a promover a Assembleia. Veremos que afluência teremos.)

    Um grande abraço,

    R. Saraiva

  9. olá Saraiva: quanto a assembleia, suponho que poderás contar com dois amigos meus portugueses, moradores em Lisboa: um alto, de barba, grisalho, bonitão, extremamente culto e inteligente, audacioso e observador. O outro pequenino, meia idade, grande inteligência e enorme coração, eloquente e vivaz. Poderão, com certeza, te ajudar muito. Tomara que possam ir. Já nos comunicamos a respeito e já me responderam. Abraços

  10. Espero que sim maria,

    porque até poderemos ser poucos, mas que sejamos pessoas com consciência do que se passa e com vontade de fazer algo. Não sei se os reconhecerei, mas (caso apareçam) eles reconhecer-me-ão, pois, pelo menos nesta assembleia serei o moderador ou a pessoa que irá redigir a acta. E claro, chamo-me Saraiva. 🙂

    Grande abraço,

    R. Saraiva

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