Síria: os medias e os especialistas

Já percebemos o que se passa na Síria.
Percebemos porque é um filme já visto: na Líbia, por exemplo. Mesmos actores, mesmas técnicas.
E o papel dos media, servos não pagos.

Voa o espectro da guerra civil, tal como já aconteceu no Egipto. Manifestantes que lançam ataques contra os homens fardados, sejam eles soldados ou polícias.

Um jornalista digno deste nome perguntaria: mas onde é que os manifestantes encontraram as armas? Os jornalistas de hoje não perguntam, escrevem o que o dono quer que seja escrito e isso chega. As perguntas incomodam e podem ser bem perigosas.

O jornalista (este sim digno do nome) Webster Tarpley, após ter visitado a Líbia foi para a Síria e encontrou a mesma situação:

Na Síria trabalham esquadrões da morte, feitos de líbios, iraquianos, afegãos, pessoas que semeiam o terror.

Atrás deles Países que desejam a desestabilização de Damasco: Arábia Saudita, Emirados, Qatar, a nova Líbia. Tudo já visto.


O assim chamado Exercito Livre da Síria, com sede na Turquia, pede o apoio militar do Ocidente, uma no-fly zone (outra vez?) e acções bem “miradas” em áreas sensíveis. Desde Maio, tropas dos Estados Unidos e da Nato treinam milicianos da oposição na cidade de Hakkari, no Sul da Turquia.

E os mortos? Quantos mortos até agora nesta desestabilização?
A Comissária da Onu para os direitos humanos, Navi Pillay, estima 4.000 mortos desde o começo dos protestos. Não é claro se apenas militares ou se civis também.

A fonte da Onu

Mas qual a fonte da Onu?

Fonte quase única dos media ocidentais é o Syrian Observatory for Human Rights (SOHR), com sede em Londres. O presidente, Rami Abdel Ramane, tem bons relacionamentos com a Irmandade Muçulmana da Síria. Que, obviamente, são a oposição.
A cada dia o SOHR publica o número dos mortos, sem indicar se civis ou militares. Tal como a Onu.

No relatório da Comissária Pillay do passado dia 15 de Setembro (United Nations, Report of the United Nations High Commissioner for Human Rights on the situation of human rights in the Syrian Arab Republic – A/HRC/18/53), parece evidente que também as Nações Unidas utilizam as mesmas fontes dos jornalistas, entre as quais podemos contar também os Comitees de Coordenação Local (LCC):

Nesta altura a missão recebeu 1.900 nomes e pormenores de pessoas mortas na Síria desde os meados de Março.(…) Esta informação foi fornecida pelos Comitees de coordenação locais activos na Síria.

Dito de outra forma: a Onu não é capaz de verificar de forma independente esta informação.

Mas quem são afinal estes LCC? Segundo o Christian Science Monitor, são parte do auto-nomeado Syrian National Council, já reconhecido como “legítimo representante do povo sírio” pelo homólogos do National Transitional Council da Líbia, o mesmo no poder desde a guerra da Nato.
Isso já explica muito.

Os especialistas

No dia 2 de Dezembro, o Conselho dos Direitos Humanos, da Onu, foi convocado de urgência e com 37 “sim”, 6 abstenções e os 4 “não” de Cuba, Equador, China e Rússia condenou as “violações extensas, sistemáticas e flagrantes dos direitos humanos na Síria”.

A decisão é o fruto do relatório de três “especialistas independentes” (Report of the Independent International Commission of Inquiry on Syria), os quais concluíram que as forças armadas e as forças de segurança da Síria estão envolvidas em vários crimes contra a humanidade na repressão duma população em grande parte civil no contexto de protestos pacíficos. Detenções arbitrárias, torturas, morte de menores e outro ainda.

Palavra de especialista. E se for um especialista, como duvidar?

Pegamos na especialista Karen Koning AbuZayd, por exemplo, uma dos três.

Faz parte do Middle East Polici Council, um think tank americano bem financiado pela Arábia Saudita.
E é membro da irmandade Kappa Alpha Theta, a mesma na qual militam Barbara Pierce Bush (filha do antigo presidente George W. Bush), Jenna Bush (filha do mesmo), Laura Bush (esposa do mesmo), Lynne Cheney (esposa do antigo vice-presidente Dick Cheney), Melinda Gates (esposa de Bill Gates), Cindy Hensley McCain (esposa do candidato presidencial John McCain).

Uma especialista bem independente, disso não pode haver dúvida.

Interessante também a técnica utilizada na investigação.
Os três especialistas entrevistaram em Genebra 223 pessoas “vítimas ou testemunhas” da repressão. Quem foram os entrevistados? Mistério, os três especialistas não forneceram pormenores acerca deste ponto. Só sabemos terem sido 223. Em Genebra. E isso é tudo.

E as provas? O método utilizado é a “suspeita razoável”. Um standard não aceite nos tribunais civis, pois demasiado fraco, sendo baseado na suspeita e não nas provas.

Mas estes afinal são apenas pormenores que não merecem a atenção dos media ocidentais.

Ipse dixit.

Fontes: WikipediaADN Kronos, Middle East Policy Council, UN Press Conference, InfoSyrie

2 Replies to “Síria: os medias e os especialistas”

  1. Olá anônimo, este aí de cima: sugestão para ti…anônimo que "temos de fazer alguma coisa". Está em andamento pelo Brasil algumas manifestações de rua tipo: lavar a calçada da Globo para "limpar a sujeira", desfilar pacificamente pelas ruas com cartazes informativos sobre as falcatruas da mídia majoritária fdp. Te engaja na iniciativa de repudio mais próxima da tua casa!

Obrigado por participar na discussão!

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