O Grande Livro das Respostas

Na Bélgica as bombas explodem e provocam mortos. Mas as notícias são poucas e confusas.
Fala-se de quatro, cinco, talvez seis mortos e uma centena de feridos.
Reza o diário Público:

As autoridades já fizeram saber que não se tratou de um atentado terrorista mas antes da obra de um único indivíduo.

E desde quando para ser terrorista é preciso estar em grupo?
A hipótese é “suicídio”. Maneira esquisita de morrer, com bombas e kalashnikov.
Não foi o primeiro caso (Noruega), não será o último num continente que arrisca pegar fogo.

Vamos em frente.
Há por aí uma sensação, a sensação de que algo está a mudar. Algo de invisível e de profundo, que muda sem dar nas vistas.

É como se alguém tivesse roubado o Grande Livro das Respostas ou estivesse a arrancar as páginas, até reduzir todo num pequeno e inútil panfleto.


O Grande Livro das Respostas está escondido em cada um de nós. É aquela coisa que serve para entender o que pode ser feito e o que não pode, o que é bom e o que é mal. Não sempre fazemos as coisas justas, mas pelo menos saber reconhecer um erro é importante. E o Grande Livro está aí mesmo para isso. Cada um tem a própria cópia e mesmo assim cada um pode lê-lo de forma diferente, à sua maneira. Algumas páginas parecem ser iguais para muitas pessoas, outras nem por isso. Mas, apesar das diferenças grandes ou pequenas, não deixa de ser um livro extremamente útil.

Mas nos últimos tempos, como dito, o Grande Livro está a perder a integridade. É como se uma força misteriosa tivesse conseguido alcançar este lugar tão intimo. Claro, podemos sempre consulta-lo, como de costume, mas às vezes acontece não encontrar a resposta, às vezes há confusão entre as várias páginas, às vezes o que está escrito nem parece tão claro como uma vez.

Às vezes temos a dúvida: o Bem é de verdade bem? E o Mal, é mesmo mal?
E perguntamos: será que não percebi nada do mundo? Será que tudo é o contrário daquilo em que sempre acreditei?

O Grande Livros das Respostas agora não explica mas é fonte de novas dúvidas.

Porquê isso acontece?

Acontece porque o nosso mundo mudou e a mentira tornou-se regra. A verdade, simples, crua e directa, deixou de existir.
Alguém pode afirmar que nunca existiu. O que não é verdade.

Até alguns tempos atrás o mundo era um lugar com uma boa variedade: havia manchas pretas e manchas claras, havia verdades e mentiras, era possível distinguir as várias versões. Hoje as manchas das mentiras
ganharam espaço, até chegam a sobrepor-se, e nós já não conseguimos distinguir. Quando estamos convencidos de ter descoberto uma mentira, levantamos o véu e debaixo podemos encontrar uma verdade ou nova mentira, não sabemos.

Tudo parece mentira e verdade ao mesmo tempo.

É por isso que no Grande Livro das Respostas não encontramos o que procuramos. Não é que as respostas não estejam aí, é que nós temos dificuldades em procurar.

Uma vez era possível dizer: “Aquele senhor roubou”. E no Grande Livro das Respostas estava escrito: Roubar é mau.

Hoje podemos dizer “Aquele senhor roubou”, depois o juiz condena o homem com pena suspensa, de forma que após 5 minutos já está na rua para roubar outra vez. Então tu que não roubaste estás livre como aquele que roubou, mesmo condenado. Sempre que o indivíduo seja condenado. Porque há pessoas que dizem que não, não de roubo se tratou e as vítimas mentem. Isso enquanto outras insistem que não foi roubo mas legitima defesa, uma forma de poupança, ou mais ainda.

Eu, empresário, abro uma filial num outro País para evadir os impostos? Não é roubo, é offshore. E quem faz offshore? Todas as maiores empresas do mundo. Evadem o fisco, há um processo? Não, é offshore. No máximo pode haver alguém a dizer que “não fica muito bem ” e que “algo deveria ser feito”.

É que com as mentiras sobrepostas é muito difícil entender.

Uma vez havia rastos químicos no céu, as chemtrails. Era possível dizer “Esta coisa não é boa” e controlar no Grande Livro que dizia “Os rastos químicos não são bons”.
Hoje dizes “Os rastos químicos não são bons” e logo alguém responde “São, é preciso para controlar o aquecimento global”.
Então abrimos o Grande Livro que diz “Rastos químicos = Mau. Aquecimento global = Mau”.
E começa a confusão.

Surge a dúvida: mas será que o aquecimento global é uma verdade?
Abres internet e começas a procura: há mil cientistas que juram que sim, o aquecimento existe e põe em perigo a humanidade toda; entretanto outros mil dizem o contrário. E os dois grupos apresentam provas incontestáveis e decisivas.

Abres o Grande Livro da Verdade e que fazes? Nada, pois nem sabes o que perguntar.

Não acaso peguei no exemplo das chemtrails, pois não sei o que pensar acerca do assunto tanta é a confusão. Mas é só um exemplo, pois na realidade as dúvidas conseguem abraçar tudo ou quase. É quase impossível encontrar um ponto sólido que possa funcionar como base.

A reacção mais natural é deixar de perguntar e aceitar o que anda por aí.
É a morte do pensamento, do nosso pensamento.

Existe uma saída deste pesadelo?
Sim, existe.

A coisa melhor é pôr as mentiras uma contra a outra. Duas mentiras anulam-se reciprocamente, tal como em matemática “menos” vezes “menos” faz “mais”.

Pegamos na mentira segundo a qual as chemtrails não existem e vamos pô-la ao lado daquela que diz que as chemtrails são para o nosso bem contra o aquecimento global. E depois perguntamos: se as chemtrails existem para nós proteger, porque foram escondidas ao longo de trinta (e mais) anos?

Nesta altura é só pegar na pergunta e abrir o Grande Livro, que diz: Boh?
Isso porque o Livro ultimamente não foi actualizado, mas não faz mal, é só descarregar a actualização para saber que as chemtrails, se existirem, são más.

Ou podemos pegar na questão do 11 de Setembro, na mentira que diz que “no tal dia havia um grande número de exercitações que retardaram a resposta da defesa aérea” e  vamos pô-la ao lado da outra, que diz que “o caos na resposta da aviação foi provocado pela ausência de muitas pessoas importantes na cadeia dos comandos, substituídos por pessoas com escassa experiência” e depois perguntamos: se no dia 11 de Setembro havia todas aquelas exercitações, como é que muitas pessoas importantes na cadeia de comando escolheram estar ausentes mesmo naquele dia?”.

Nesta altura é só pegar na pergunta e abrir o Grande Livro, que diz: Boh?
Outra vez? Desculpem, mas que versão do Grande Livro usa o Leitor? Ok, não importa, façam todas as actualizações e vejam o que o Livro diz. E o Livro diz: “11 de Setembro = Mau”.

Porque o Grande Livro das Respostas ainda funciona. Só que agora é precisa mais informação para poder formular a pergunta correcta. E o mundo, consciente disso mas mergulhado num mar de mentiras, fornece uma overdose de informação, para confundir os nossos cerebrinhos, para provocar um corto-circuito.

É o conceito de Signal To Noise Ratio: um sinal (a verdade) é abafado pelo ruído (desinformação, mentiras) e torna-se cada vez menos compreensível.

Perante um tal sinal, cedo ou tarde desaparece a vontade de entender e desligamos a aparelhagem. Este é o objectivo: limar as arestas, tornar os homens algo de diferente, suprimir a natural curiosidade e formatar a sociedade para que esta tome uma forma standard e facilmente manipulável.

Resistir? É duvidar e perguntar.
Sempre.
 

Ipse dixit.

Fontes: Público, Luogo Comune

7 Replies to “O Grande Livro das Respostas”

  1. "11 de Setembro = Mau" depende da edição do Livro… a minha edição diz "11 de Setembro = Bom"… foi a data em que "casei"!!! e esta entrada "11 de Setembro" ficou truncada… não aceita mais "sim" ou "não"…

    De resto… cá em Portugal essa cena do Livro não é muito boa pois temos resmas de Analfabetos… não há versão ipad, para em vez de Ler, se Ouvir?

  2. mas até que…….

    olhei para o lado e até me assustei! BUUUU!

    Tenho que me conter… afinal de contas só escrevo baboseiras! Tenho que aliviar a carga e deixar os sãos escrever!

  3. Max meu amigo, excelente texto, exatamente isso, a verdade é mentira e a mentira virou verdade, tudo provavelmente planejado para enlouquecer as mentes.

    Estou em férias com meus donos, Terra Âncora é maravilhosa, todos lá me trataram como príncipe, hehehehe.
    Continuo a viagem, mas toda vez que posso estou aqui para ler teus posts que nos abre cada vez mais os olhos.

    Saudades de todos.

    Um grande abraço pra você, Guida e Léo

  4. VOZZZZZZZZ

    Continue a falar "baboseiras", pois são com suas "baboseiras" que vamos enxergando cada vez mais.

    Um abraço VOZ das consciências, hehehehe

  5. Olá Max: resistir é duvidar e perguntar, concordo. Mas se me permites, eu acrescentaria que resistir é também: ver com os próprios olhos, experimentar, e coisas pouco consideradas, mas que julgo valiosíssimas: perceber, sentir e intuir. É quando tu paras, pensas, ainda não consegues elaborar um raciocínio, mas algo não te cheira bem ( em gauches, a expressão apropriada seria: parece que pisastes em bosta ).
    Se ao menos as pessoas fizessem este movimento, mas a maioria se nega a pensar, não teima, desiste.
    Abraços

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