Andamanenses

As Ilhas Andamane ficam no Golfo do Bengala, não longe das costas da Birmânia embora sejam parte integrante do território da Índia.

“Tá bom, mas que tenho eu a ver com isso?” pode perguntar o Leitor.
Nada, claro que nada, as Ilhas ficam longe e não temos relacionamento com elas ou com as pessoas que aí moram. Mas pode ser interessante observar uma comunidade que escolheu um rumo totalmente diferente do nosso.

De facto, as Ilhas estão dividias em duas partes: uma turística, “civilizada”, outra onde as indígenas nunca quiseram integrar-se no modelo ocidental. E fizeram isso de forma consciente.


Pertencem à categoria dos povos que definimos como “primitivos” e que os Alemães chamam de Naturvolker, Povos da Natureza. Este Andamanenses não são antipáticos, simplesmente não querem que alguém possa entrar na comunidade deles e alterar equilíbrios milenários. Os poucos que conseguiram aproximar-se deles dizem serem alegres, serenos, pacíficos e que gostam de brincar, sobretudo acerca do sexo.

Durante o tsunami de 2004 as Ilhas eram, juntamente com Sumatra, as mais próximas do epicentro do maremoto mas não houve nem mortos nem feridos. Quando um helicóptero do exército indiano sobrevoou as ilhas, observou as indígenas sentados na praia enquanto tocavam e cantavam. A seguir atiraram setas contra o helicóptero, porque nunca se sabe.

O facto é que os Andamanenses conhecem o mar, ainda conseguem olhar para ele com olhos humanos e não precisam de sofisticadas máquinas para entende-lo: conservaram aqueles instintos que nós, totalmente nas mãos da tecnologia, perdemos. Viram que as aves tinham parado de cantar e que os animais tinham começado a subir as colinas. Conseguiram ouvir o silêncio.

O mesmo silêncio que também tinha aparecido nas outras ilhas e linhas de costa; onde, todavia, tinha ficado abafado pelo ruído, o nosso ruído. Quando o mar começou a retirar-se, ninguém entre os turistas e nem até os habitantes locais, já estupidificados, percebeu que algo de terrível estava para acontecer. Ficaram aí, à espera da morte.

Outra característica dos Andamanenses é o facto de não ter um deus ou religião.
Antigamente tinham uma divindade, tal Peluga. Mas depois perceberam que Peluga fazia a vidinha dele e começaram a ignora-lo até ficar esquecido. Isso não impediu uma existência serena de milhares de anos e mesmo agora, enquanto o resto do mundo mergulha numa salada ansiolítica feita de spread e rating.

E quando o nosso mundo cairá, porque cairá e disso não podemos ter dúvida, provavelmente os Andamanenses serão entre os poucos que conseguirão sobreviver. Ficarão sentados na praia, a cantar, enquanto as nossas cidades serão reduzidas em cinzas.

Não é este um convite para abandonar tudo e retirar-se num longínqua ilha abandonada. Mas que seja razão para reflectir, isso é sem dúvida.

Ipse dixit.

Fontes: Massimo Fini, Wikipedia

12 Replies to “Andamanenses”

  1. Mas é exatamente o que estou buscando…. retirar-me numa longínqua ilha abandonada!!! 🙂

  2. Caro Max, como sempre um texto inteligente e bem elaborado mas que no fundo serve como oportunindade para expressar o seu ateísmo, o qual vc tem todo direito de demonstrar, porém te digo Max sem citações da Bíblia do qual com certeza vc tripudia, tudo isto já fora previsto pelo Único Deus Eterno.
    Que Ele o abençoe.

  3. Olá Ademilson!

    O meu ateísmo? Eu não sou ateu.
    E nem tripudio a Bíblia que, na minha óptica, deveria ser fonte de maior estudo.

    Quem tenta encontrar neste blog convites para o ateísmo (e não digo ser você o caso) está redondamente enganado. Pelo contrário: o Homem sempre teve a necessidade de acreditar, a religião, com a música e a arte, foi uma das primeiras manifestações que envolveram as comunidades pré-históricas.

    Reduzir tudo ao "opio dos povos", como Marx fez, significa ter uma visão míope e desligada da realidade.

    Grande abraço!

  4. Vivamos na dúvida…
    Sábios são aqueles que estão cheios de dúvidas e perguntas.

    Ignorantes são aqueles que possuem a certeza absoluta sobre as coisas.

    "Só sei que nada sei"

  5. Olá Max e todos: por falar em maneiras diferentes de ser e viver, ilhas de relativa auto regulação e auto sustentação, comunico que BURGOS e TIBIRIÇA cá estiveram hoje em Terra Âncora (devem ter percebido que ambos deixaram de postar nesses dias), após muito viajar nesse Brasil tão grande. Vieram conhecer de perto, trocar ideias e informações e selar um acordo de apoio mútuo ao vivo e a cores. A iniciativa foi de BURGOS, depois do convívio que tivemos no botequim do Max. Iniciativa que deixamos em aberto aos demais frequentadores do botequim brasileiros e portugueses e ao próprio Max e colaboradores Guida e Leonardo. Abraços

  6. Este texto é mais uma prova…. para um meter no meu saco!

    Como já ando há séculos a afirmar e escrever e volto aqui a deixar "O Sistema Monetário e as Religiões foram as duas piores invenções dos animais humanos" apenas confirma a afirmação, e está por demonstrar o oposto…

    Quanto às Religiões… meus caros religiosos deixem-se mas é de andar a cortar cabeças…

  7. A religião foi criada pelos homens sim.

    Porém, Deus ou a divinidade, não.
    A inteligência universal onipresente não pode ser criada. Ha de se admitir que o universo segue leis e códigos em sequências e padrões determinados.

    A única certeza que temos na vida é que vamos morrer algum dia.

  8. Sei que vai ser difícil para todos aqui assimilarem e captarem as informações, mas é importante e tenho esperança de que mais pessoas possam acordar e perceber onde realmente estamos metidos:

    Para melhor compreensão, sugiro olhar todas as partes e procurarem leituras sobre o assunto depois.

  9. Ih, ih, ih, Quaaaa, qua qua qua qua!!! (traduzindo…trata-se de uma risada de galpão) Calma, Voz, tranquilo, tranquilo, que dias piores virão. Grande abraço Voz!

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: