A crise faz bem. E a ministra chora.

Crise. Há crise, nada a dizer.
Não no Brasil, aí não há crise por enquanto.
Mas na Europa sim, é crise profunda.

Pegamos num País qualquer…Portugal, por exemplo: é crise, não há dúvida. É suficiente abrir a janela e que vemos? O Sol. Sim, mas um Sol em grave crise.

E em Italia? Há crise, também aí há crise. Como em Espanha. E Irlanda. E hoje as agências de rating avisam: cuidado com França e Alemanha, não se brinca. 50% de possibilidade que o rating de Paris e Berlim seja cortado.

E a Grécia? Não, a Grécia não, aliás, devem ter morrido todos porque desapareceram dos media, ninguém fala dos Gregos. Talvez tenham emigrado. Foram para Italia. É por isso que agora há crise em Italia e as senhoras choram, é culpa dos Gregos que trazem azar.


Porque em Italia, tal como em Portugal, foram cortados os ordenados, as reformas, os impostos subiram. Tá bom, é preciso fazer sacrifícios para sair desta situação. Mas qual situação?

Aqui não há economistas, não há técnicos, por isso não é simples perceber.
Eu não sou o presidente duma universidade, tal como o novo primeiro ministro italiano, por isso tenho problemas em perceber certas coisas.
Porque quando entro num supermercado, eu vejo as prateleiras cheias. Uma vez as crises significavam milhões de pessoas sem comida. Hoje há crise porque todos temos comida. Porque ainda há agricultores que devem destruir parte da colheita porque produzem demais.
Aqui.
Talvez em outras partes do mundo as pessoas morram de fome, mas aqui não, deitamos tudo para o lixo. Mas isso agora não interessa, e depois devem ser parentes dos Gregos.

Não, não, não: não é esta a nossa crise. Aqui a crise é: falta o dinheiro.
Então, para sair da crise, os nossos governos pensaram, justamente, de retirar outro dinheiro dos nossos bolsos.
É como na medicina homeopática: falta-te oxigénio? Então pára de respirar, vamos ver quem é mais esperto, se tu ou o oxigénio. Fight fire with fire: os primeiros ministros ouvem os Metallica? Boa escolha, sobretudo os primeiros quatro álbuns.

Assim o dinheiro é retirado das nossas carteiras e acaba nas carteiras de outros. Coitados, nem consigo imaginar a crise na qual estão a precipitar estes “outros”, com aquele dinheiro todo, o nosso dinheiro.

Mas voltemos ao assunto.
Em Italia acaba de ser apresentada uma manobra de 20 biliões de Euros, uma manobra “espalmada” em três anos. Mas a dívida pública italiana é de 1.900 biliões de Euros. Então: quantas manobras servem para pagar a dívida?
Servem outras 100 manobras como a actual. Por isso, no razoável prazo de 300 anos, sempre que não haja inconvenientes, a dívida pública italiana será paga. E a crise resolvida, duma vez por todas.

300 anos? Demais? O problema é que com outras 100 manobras assim os Italianos morreriam muito antes de 300 anos. E não por causa da idade.

Ao mesmo tempo, a Italia comprou aviões de combate, total da despesa 16,5 biliões de Euros.

Por isso: dum lado é feita uma manobra contra a crise, com corte dos ordenados e reformas, de 20 biliões de Euros; doutro lado são gastos 16,5 biliões de Euros em aviões militares. Bom, mas estas são coisas que Mario Monti, o primeiro ministro, sabe e avaliou, eu não sou técnico por isso não entendo.

Afinal podem bem ser aviões de combate à crise.

Porque Mario Monti é técnico. Muito técnico.
É tão técnico que entre 22 e 25 de Abril de 1993, Monti participou numa reunião do Grupo Bilderberg, na Grécia, que tinha como tema em destaque a Italia.
Entre os participantes (mais duma centena) são presentes Carlo Azeglio Ciampi (ex Presidente da República, Primeiro Ministro e Governador do Banco Central Italiano), Lamberto Dini (ex-Primeiro Ministro e Director Geral do Banco Central Italiano), Tommaso Padoa Schioppa (FMI, Comissão Jaques Delors, Banco de Italia, Ministro da Economia) e ele, Mario Monti.

Nada se sabe acerca do assunto. Justo, é uma reunião privada, ora essa, não vamos ouvir as conversas particulares das pessoas, é uma questão de privacy.
A única coisa conhecida é que foi instituído um “Conselho dos 12” e que logo a seguir a dívida pública italiana, que era prevalentemente interna (como no caso do Japão), é internacionalizada pelo governo Ciampi.

Um ano depois, no dia 1 de Junho de 1994, David Rockefeller fica feliz ao constatar os grandes progressos feitos por Roma com a questão da dívida: 5.000 biliões que os clientes da Chase Manhattan Bank investiram nas empresas privatizadas italianas.
E o vice presidente da Deutsche Bank, Ulrich Weiss, afirma que “É um passo em frente: para mudar é necessária a catarse”.

Justo. É com o sofrimento que podemos melhorar. Também Mario Monti concorda e afirma que “A Europa precisa de graves crises para dar passos em frente”.

Portanto temos que encarar estas crises com um sorriso nos lábios, porque são crises para o nosso bem.
E não importa se o vosso ordenado for cortado, se a gasolina ficar mais cara: é para o bem da Europa, o bem de todos.

Mario Monti faz também parte da Comissão Trilateral, a nunca suficientemente elogiada Comissão Trilateral, e é membro do Aspen Institute. Como Giorgio Napolitano, o Presidente da República que nomeou Monti senador e entregou-lhe o governo.

São todas pessoas convencidas de que sejam precisas graves crises para melhorar. E eu apoio esta ideia: afinal, não foi com o martírio que os Cristãos derrotaram os falsos deuses? A História ensina.

E depois temos Elsa Fornero, o ministro que chora
Coitadinha, ontem vi o vídeo e fiquei comovido, mesmo sem palavras. Aliás, na verdade tinha uma palavra mas para não ser ordinário não vou repeti-la. Elsa Fornero, consultora do Banco Mundial em Rússia, Macedónia, Letónia, Albânia e vice-presidente do Concelho de Vigilância dum dos maiores bancos europeus, esposa de outra pessoa que vive nos bancos.

Coitadinha, tenho muita pena, só posso imaginar o grande sofrimento da mulher.

É a crise, não há dúvida. Mas é uma crise que ajuda: como afirmado, é uma crise que permite crescer, permite um passo em frente. Mesmo à beira dum precipício, um passo em frente é sempre bom: pensem nos Mártires. E tentem ver isso numa óptica diferente: sofremos agora para poder estar mal também depois.

Algo de novo, até que enfim…

Ipse dixit.

6 Replies to “A crise faz bem. E a ministra chora.”

  1. Olá, Max!

    Duas observações:

    1) O Brasil deve estar em crise, só esqueceram de explicar ao povo. Consultei a taxa básica de juros básica do dia no Brasil e está em 10,90% (Índice SELIC – http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro_direto/indicadores.asp).
    Isto é crise em qualquer planeta!

    2) Também estou de acordo quanto aos quatro primeiros álbuns do Metallica. De fato, são os melhores. Pessoalmente prefiro Megadeth, que curiosamente possui dezenas de músicas a respeito da nova ordem mundial.

    Abraços.

  2. Não me canso de dizer que aprecio muito a sua escrita e clareza de pensamento. Abraço e continue, que tem em mim um leitor assíduo.

  3. PS: Eu, o Ricardo de sempre, não é o mesmo do de cima, ok? Apesar de eu concordar com este…

    É bom ler seus textos… ao mesmo tempo que triste…

    Não há nada que possa ser feito? É sentar e esperar?

    Ah sim, realmente Megadeth é melhor que Metallica.

    Ah sim, porém hoje em dia o Dave Mustaine é fã do Alex Jones! 🙂

    Ah sim… assisti Megadeth e Metallica juntos na Bulgária! Se abraçando e tocando literalmente juntos! 🙂

  4. Depois de ler o texto do Max o que se me ofereçe dizer é que, acho os Metallica um pouco brandos. Apostaria mais em Apocalypto.

Obrigado por participar na discussão!

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