Três pontos da Rússia

Primeiro ponto.

No dia  8 de Novembro era inaugurado o North Stream, o gasoduto que transporta o gás russo directamente no coração da Europa para aquecer as frias casa da Alemanha.

O North Stream é um projecto importante porque foi planeado de forma  a evitar os Países da Europa Oriental: parte da Rússia, entra no Mar Báltico, chega na Europa Ocidental.

Desta forma, a Rússia não depende dos eventuais mudanças de regime nos Países do ex-bloco soviético, alvo de cada vez mais suspeitas revoluções coloridas, e segura o mercado mais rico.


Segundo ponto.

Dois dias atrás, o Czar Vladimir Putin foi assobiado por milhares de pessoas, perante as câmaras.
Esta não é coisa que aconteça de frequente, em particular com um homem tão cuidadoso com a própria imagem.

Sinal que há descontentamento na Rússia. E se calhar não pouco.

Terceiro ponto.

Dmitrij Medvedev, Presidente da Rússia, na substância, disse que o próprio País está farta das ameaça dos mísseis da Nato, e que vai reagir.
O assunto é aquele das baterias de mísseis que Washingon quer implementar nos Países da ex-União Soviética: Polónia, Roménia, Bulgária e outros.

Oficialmente o objectivo é proteger a Europa contra a ameaça dos mísseis iranianos. Na verdade o projecto é muito mais antigo, filho da época neo-conservadora de Bush e do inoxidável Zbigniew Vrzenzinski: medo do inimigo no primeiro caso, plano para cercar a Rússia no segundo, com a ideia de tornar Moscovo capital duma potência regional e nada mais. Porque quem controlar a Rússia controla a Eurasia, e quem controlar a Eurasia controla a maior “ilha” (Europa+Ásia) do mundo.

Agora, Moscovo vê nestas baterias uma ameaça. O que não é tão esquisito. Se o vosso vizinho posicionar um bazooka no jardim, um pouco de preocupação se calhar nasce, mesmo que o vizinho explique que é uma forma de defesa.

É verdade que estas baterias seriam mísseis anti-mísseis, mas é também verdade que reduzem a capacidade de resposta nuclear estratégica da Rússia no caso dum ataque da Nato (quem sabe, há sempre espaço para uma nova missão humanitária, sobretudo quando houver um Prémio Nobel da Paz como Presidente…).

Isso quebra o equilíbrio geo-estratégico não apenas da região.

Iskander

Os mísseis nucleares estratégicos são na prática invulneráveis. A ideia que possam ser atingidos enquanto precipitarem no objectivo é apenas isso: uma ideia, que não tem possibilidades reais, sendo o míssil demasiado rápido para ser interceptado.

A única possibilidade é atingir o míssil pouco depois do lançamento, enquanto ainda se encontra na fase da subida e aceleração: um intervalo de tempo bastante curto. Por esta razão é necessário ter baterias anti-mísseis posicionadas quanto mais perto da área de lançamento: maior a proximidade, maior a possibilidade de interceptação.

Vantagem: capacidade de interceptar o míssil estratégico na única altura em que é vulnerável e, como bónus, míssil estratégico que cai no território de quem efectuou o lançamento. Com boa paz de quem até então tinha vivido pacificamente na zona.

Assim Medvedev, farto das promessas falhadas de Obama que tinha declarado a vontade de abdicar do projecto, declara agora a intenção de posicionar os temíveis mísseis Iskander mesmo à porta da Europa, numa zona sob controle russo entre Polónia e Lituânia.

O 9K720Iskander é um míssil simpático. Muito mais moderno do velho Scud, esvoaça a 5.000 km/h, transporta quase 500 kg. de carga explosiva, é muito preciso e antes de atingir o alvo efectua violentas e rápidas manobras para neutralizar eventuais contra-ataques. Além isso, é quase imune perante perturbações do sinal GPS, radar e mísseis anti-mísseis.

Os Iskanders foram já utilizados no conflito da Geórgia, mesmo para atingir instalações da Nato utilizadas por Tbilisi, com grande satisfação. Dos Russos, não da Nato. Os Iskander seriam ideais para neutralizar as baterias anti-mísseis de Obama.

Misseis para atingir mísseis anti-mísseis.
Agora só podemos ficar à espera dum próximo um míssil que neutralize os mísseis que atacam os mísseis anti-mísseis.

Entretanto podemos meditar acerca da seguinte curiosa afirmação de Wikipedia:

O cérebro humano é considerado o mais “inteligente” e capaz cérebro da natureza, superando o de qualquer outra espécie conhecida.

Ipse dixit.

Fontes: Informazione Scorretta, Wikipedia

5 Replies to “Três pontos da Rússia”

  1. Olá Burgos!

    Os tempos mudam e o colonialismo também. Além disso, os Chineses não são estúpidos.

    O mundo ocidental tem a sua própria maneira de explorar a África, bastante "rude" e até "espectacular", no sentido negativo, óbvio.

    Os Chineses têm outro estilo. Eles não ocupam militarmente uma região, não corrompem quantos mais funcionários públicos for possível (só o mínimo indispensável): compram terras e depois utilizam os nativos para o trabalho. Regularmente pagos e não explorados à maneira antiga.

    Pode ser definido colonialismo? Aparentemente não. Na realidade sim.

    Por duas razões:
    1. os frutos da terra não ficam nos Países de origem mas são transportados até a China. Não é uma exportação clássica, no sentido que o País africano não ganha nada com isso: tudo é gerido pelos Chineses.

    2. bem mais grave: as terras são compradas aos governos locais os quais, em constante falta de fundo, expropriam 8de graça) as terras para estas serem vendidas aos Chineses. Os nativos utilizados nas novas terras "chinesas" na verdade são os antigos agricultores locais. Os quais perdem a terra, enquanto o Estado deles perde boa parte da própria autonomia. Porque quando uma larga fatia do território for controlada por estrangeiros (todos do mesmo País), quando os mesmos estrangeiros são os únicos empregadores por milhares e milhares de trabalhadores locais, de facto o governo é fortemente condicionado nas próprias escolhas.

    Até aqui falámos apenas dos "frutos da terra" vistos mais como comida, mas depois haveria o discurso ligados aos minerais, aos combustíveis…

    É de facto uma nova forma de colonialismo, não diria "imperialismo".

    É mais subtil mas, paradoxalmente, mais eficaz, porque não obriga ao emprego de tropas, meios militares, propaganda mediática. Aliás, os media pouco ou nada sabem ou querem saber (não há mortos nem feridos, onde fica o divertimento?): tudo é feito nos moldes de operações comerciais, com regulares contractos, assinaturas, transferência bancárias.

    Está tudo "legal".
    Nada de invasões como os primitivos imperialistas anglo-saxónicos. Nisso a diferença é enorme, ao ponto que nós nem reparamos naquilo que se passa: quantas terras africanas já controlam os Chineses? Quem pode responder? Não é fácil.

    Agora, verdade que o autor é da Universidade de La Habana, Cuba: duvido que aí poderia continuar a trabalhar sem utilizar as palavras "Marx, imperialismo, colonialismo, proletariado, classe trabalhadora, liberdade, povo" pelo menos uma vez por dia. 🙂

    Grande abraço!!!

  2. Olha só, Max e demais,o "causo" de hoje aqui em casa:
    Uma maria de 5 anos daqui de T.Â.ganha um filme/vídeo(Meteoro, o título) no pré escolar, e vem assistir a uns poucos metros de euzinha, já atordoada porque tivera a malfadada ideia de seguir uma fonte tua, e dar de cara com umas pessoas que estou tentando entender a psiquê delas e nada me vem a mente.
    Bueno…a película deve ser catastrofista porque ouço aquela barulhada, trilha sonora sinistra… e "my god", OHHH!my god"… e a mariazinha a dar gargalhadas!!Como! Porque!?
    Não aguento, vou lá:
    -Que é isso guria? Ta rindo de que?
    -Olha lá, olha láaa. Tem pedrão do tamanho de uma montanha de um lado, tem míssil (esvoaçando, como dirias) do outro, e não acontece nada embaixo,pooode!? Eles tão gritando só de medo…mas tinha que cair pedra, não tinha!?
    A mariazinha ri, mas eu acho que tem gente que acredita, e até acha que assim fica tudo controlado, a paz perdura.
    Tradução de Meteoro, a quem interessar possa (a mariazinha ainda não lê, usando alfabeto):
    mísseis/anti mísseis americanos são necessários em todo rincão do mundo, para nos proteger (nos indefinido – a humanidade, com certeza), porque a gente nunca sabe de onde vem uma pedrada "anti democrática"
    Abraços para todos

Obrigado por participar na discussão!

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