A minhoca mental

Mas sabiam os Leitores que hoje é festa em Portugal?
Dia 5 de Outubro, Dia da Implantação da República.

Nada mais, nada menos.

Por isso, último post de hoje, acho, não sei bem, depende do tempo.
Que por enquanto está quente e ensolarado.

Entre os muitos comentários, há alguns que se destacam. Pertencem a pessoas particulares, para as quais uma óptima definição é aquela de “minhoca mental”. “Minhoca ” no bom sentido, claro.

“Minhoca mental” não é uma definição minha, é dum jornalista italiano, Massimo Mazzucco, e gosto dela.

A minhoca mental é uma pessoa que se alimenta de pensamentos de outros.

Não com maldade. Simplesmente, não tendo pensamentos próprios, precisa de esperar que seja outro a falar antes de poder activar os próprios mecanismos de elaboração mental.

Se ninguém falar, a minhoca mental fica aí, imóvel e relaxada, gozando dos raios do Sol.
Pode ficar assim um dia inteiro, sempre que nas redondezas não haja uma série de palavras.
Se, pelo contrário, tu dizes “acho que convencer João de estar errado é como convencer Hitler que era doido”, a minhoca ouve, lentamente sai do torpor e entra em acção.

Avança devagarinho, endireita as antenas, cheira uma após outra todas as palavras pronunciadas. Retira as antenas, elabora ao longo de alguns minutos, depois sentencia:
“Comparaste João a Hitler. Isso não é correcto”.

Tu começas a sorrir porque achas que a minhoca não entendeu bem, por isso explicas: “Não, eu não fiz esta comparação. Eu disse que João tem com o próprio erro o mesmo relacionamento que Hitler tinha com a própria doença. É uma analogia, não uma comparação”.

A minhoca ouve, elabora um pouco.
Depois volta à carga: “Porque em primeiro lugar seria preciso ver se Hitler estava verdadeiramente doido ou se esta doidice foi inventada por outros, porque isso era bom para todos afinal”.

Não, a minhoca não ficou inteligente de repente, aquela é uma frase que já ouviu num outro lugar e que agora insere no discurso porque acha que “fica bem”. O cérebro da minhoca funciona como um domino: se a última peça acabar com um 4, ele junta uma peça que começa por 4. A minhoca mental vê apenas o último toque, não está interessada pelo jogo no seu complexo.

“Desculpa, mas que tem a ver isso?” respondes tu. “Como todos acham que Hitler fosse doido, utilizei o exemplo, nada mais. No sentido que se uma pessoa for doida não consegue ver o que todos os outros vêem, isso é, que ele é doido”.

“Desta forma”, responde a minhoca, “poderia ser possível afirmar que, sendo tu inteligente, deverias perceber isso sozinho”.
Porque segundo a minhoca o plano inclinado funciona no sentido da subida também.

“Bah, não, não é bem a mesma coisa”, respondes tu. “Se queres fazer uma analogia mais correcta, melhor dizer : como eu sou inteligente, não tenho problemas em entender quando os outros realçarem isso”.

“Mas os outros não gastam tempo para explicar a uma pessoa que é inteligente, a pessoa inteligente já sabe disso. És tu que erras, a analogia não funciona”.

Nesta altura percebes que na tua frente está uma pessoa presuntuosa e deficiente. Mas como és bom, decides ignorar a crítica porque no final o que interessa é explicar a questão de João.
“Olha, vamos pôr de lado as analogias, voltamos ao João. Estava a dizer que é impossível explicar-lhe que erra, pois parte do pressuposto errado e não consegue reparar nisso”.

A minhoca fica ausente ao longo de muito tempo, como se estivesse a elaborar algo de muito complexo. A espera é tão prolongada que numa determinada altura achas que a minhoca morreu. Mas não, podes ainda ver as antenas que se mexem. Está viva, só que está a pensar.

Lentamente volta em si e com a vozinha de costume diz: “Vejo que contornaste a minha objeção. Se não és capaz de argumentar não vale a pena esconder-se ao mudar de assunto”.

“Olha que, na verdade, o discurso inicial era mesmo aquele! Não estávamos a falar de João?”
“Para mim o discurso acerca de João já está concluído. Tu insistes que ele erra, para mim não é assim”
“Ok, então se for concluído não vale a pena gastar tempo nisso, não é?”.
“De facto, tu quiseste convencer-me de que ele estava a errar. Agora, para boa sorte, entendeste e dás-me razão”.
“Mas filho dum…” e paras. Porque não vale a pena. Mudas de tom, ficas mais calmo, continuas. “Ouve bem, eu nunca disse que tu tens razão, só disse que tu estás convencido de que ele não erra, é inútil gastar tempo para falar disso. Não é a mesma coisa, não te parece?”.

Mas ao acabar reparas num erro grave: acabaste de proferir uma frase demasiado complicada, que até mistura dois conceitos diferentes. A minhoca, de facto, examina um grupo de palavras, depois o segundo grupo, volta ao anterior, depois vai ler a pergunta final. É claro que o sistema dela está a trabalhar no limite das capacidades.

Por fim, chega a resposta: “A mim parece que estás só a gastar tempo enquanto não consegues argumentar algo. Mas fica descansado, não quero ter razão a qualquer custo e agora é tarde. Até à próxima”.

Já não tens forças. “Não, não vale a pena retomar o discurso, nem era importante…”

“Como queres. Ciao!”
“Ciao João”.

Como dito, a minhoca não é má. O que faz raiva é que a minhoca quer ser assim. Porque tem capacidades, as mesmas de todos os outros. Só que escolheu a estrada mais cómoda: deixar que sejam os outros a pensar, enquanto o cérebro dela entra em atrofia.

Uma pena.

Eu acho que seja nosso dever usar sempre o nosso cérebro, com os nossos pensamentos. Mesmo que estejam errados, mesmo que isso signifique parecer um adorador do próprio ego, não importa, pois ao pensar algo de errado teremos sempre tempo para emendá-lo.

Sem pensamentos, pelo contrário, dependeremos sempre dos outros, até pelas emendas.

Bom feriado!

Ipse dixit.

6 Replies to “A minhoca mental”

  1. Ok… vou brincar… mas pelos vistos a malta não gosta muito de brincar… temos de dar ares de adultos, e adultos não brincam… pouco importa vou brincar mesmo assim…

    Essa minhoca é uma nova espécie saída de Chernobil? Nunca tinha visto uma com antenas… ok fim da brincadeira…

    Posto isto, teste da minhoca com antenas:

    O Hitler era um Genocida*.
    Os Banqueiros são uns…

    *Esta palavra não consta do dicionário de português!!!

  2. É Max, essa de minhoca com antena, tu viajou aí, hehehehe, mas vai ver que essas minhocas vieram de Nibiru.
    Mas falando sério, creio que o "ser humano" ainda não está preparado, pois passam o tempo todo se preocupando em ser competitívo, é uma competição constante, entram aqui no seu blog e colocam comentários claros de disputa. Nem ao menos existe nessas certas pessoas o questionamento, em meu blog sempre costumo colocar post que levem as pessoas a se questionarem sobre o que realmente está acontecendo, mostrando não que tenho razão, mas que questiono porque se não tenho respostas concretas sobre minhas dúvidas não posso simplesmente acreditar em uma "verdade" só porque outro me diz que assim é.

    Sempre leio aqui tu questionando essa economia mundial podre que é, questionando também os ditos "profetas" que atualmente estão por aí, o fato de questionarmos significa que queremos explicações claras a respeito dos assuntos, mas sempre o que vemos aqui e em outros blogs são pessoas que trazem comentários onde não contribuem com nada, só simplesmente críticas ao post e nenhum argumento que pudesse explicar as razões de suas crenças, nós seres humanos fomos condicionados a competirmos entre nós, isso é o mal da humanidade, se alguém dá o contra, pronto, lá vem outro pra disputar. Eles não entendem que aqui nesse blog não estamos a disputar quem é o dono da "verdade" e sim questionar essa "verdade" que nos é imposta todo dia.
    E eles gostando ou não, continue questionando, pois um dia talvez alguém resolva entrar e argumentar como uma pessoa civilizada e que respeita as opiniões alheias, e finalmente poderemos trocar idéias que contribuam para o nosso crescoimento.

    Abraços

  3. É o caso dos leitores do blog que "não têm pensamentos próprios e se alimetam dos pensamentos dos outros". Cara, vc é muito ofensivo e pavio curto. O do outro blog (o Libert…)é muito mais gentil. São pessoas como nós que dão aos blogs muitas visitas e alguma importância.

  4. Gosto de ler o que o Max escreve pois nem sempre ele está certo e ele mesmo admite isso, e também por que é uma visão europeia da coisa que ajuda a dar vistas e comparar com o que se passa em meu próprio país, e também por que ele é bom em juntar informações, e é lógico que nem todo mundo pensa sozinho, nem mesmo você Max, suas observações partem de alguma ideia já pré-definida desde sua tenra infância, mas pelo menos reconheço que você luta bem contra essa imposição psicológica 😀
    E por ultimo e mais importante, por que você parece ser uma boa pessoa e se importar.

  5. Pedro não registrado, você é um idiota.
    Ninguém tem de agradar ninguém pois ninguém é obrigado a compartilhar sua realidade com ninguém, logo quem aceita compartilha de certas crenças, quem faz coisas para agradar não passa de um simples idiota, somos o que somos se não gostam de nos não gostam, se gostam que bom.
    Mesmo que esse blog só tivesse visita do próprio dono seria muito importante, e dai se ele é pavio curto? que se foda, não gostou para de ler.

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