Os Bancos do Inferno

A crise? Está a chegar, mas fiquem descansados: está tudo controlado.

Muitas nuvens no céu, diz Christine

Christine Lagarde

Aliás, não é preciso preocupar-se porque os planos; vão em frente como da manual.

O Mundo entrou numa nova fase perigosa da crise. Nos céus da economia muitas nuvens, aumentaram os riscos.

Música e letras de Chistine Lagarde, Presidente do Fundo Monetário Internacional. Que conclui com as boas intenções:

As economias avançadas precisam e planos credíveis para reduzir a dívida pública sem esquecer que consolidações demasiados rápidas podem prejudicar a retoma económica.

Chistine, por favor! Qual redução da dívida, qual retoma.
Sabes muito bem o que se passa: foi-te explicado ainda antes de pôr em prática a armadilha para o tarado sexual, o teu predecessor Strauss-Khan. Não há nenhum “fase perigosa”, simplesmente há uma crise que agora irá piorar; e não haverá nenhuma retoma por enquanto.


Porquê? Porque assim tem que ser, como afirmado, tudo vai segundo os planos. E os planos querem que a crise piore. A única coisa “perigosa” aqui é que alguém acorde e comece a fazer perguntas, e se calhar a enervar-se. Aí sim, aí haveria incidentes nas ruas, revoltas…mas é um perigo mais teórico do que real: o Valium funciona e os bancos podem continuar no papel deles.

Pois, os bancos, os bancos do Inferno.
Trabalharam bem, o que não é uma novidade.

Das ruínas, o Sol do futuro

Os Países da Europa não são “resgatados” mas “presos”. As “ajudas” não servem para pôr em marcha as economias, mas para pagar os velhos empréstimos.
Com novos empréstimos, claro.

E desta vez são empréstimos de 15 ou 30 anos, no caso da Grécia fala-se de 50 anos. Presos por a classe dos grandes bancos internacionais: Fundo Monetário Internacional, BCE, Federal Reserve, Banco Mundial.
Todos públicos mas privados.

E todos com um único fim: mais autoridade. Do caos emergirá uma solução, apresentada com a panaceia. Será desta o governo mundial? Talvez não, talvez a política será ainda aquela dos pequenos passos. Um dos quais poderia ser a introdução duma moeda única mundial. Talvez se comece com dois continentes, América do Norte e Europa, por exemplo. Os outros chegarão, é questão de tempo.

Seria um erro pensar neste como num plano para obter mais recursos, como o petróleo ou o gás: este é um plano político. O Estado Nação é o alvo desta fase: deve ser destruído, é este o maior inimigo da globalização.

E quem pensar o contrário? Como o Irão, por exemplo?
Também aqui: questão de tempo. Por enquanto, é acusado de ser um regime de estilo nazista, que está a preparar (e talvez já detenha) armas de destruição maciça (a bomba atómica). Depois será altura para algo mais.

E também a Alemanha de hoje é rotulada: é inimiga da União Europeia, apesar da Merkel os Alemães não entendem. Nada para fazer, os genes são aqueles, os do Terceiro Reich. Já estão ao trabalho os media: a Alemanha é “antipática” e “egoísta”.

Porquê?
Porque os Alemães estão fartos de emprestar dinheiro, o dinheiro deles, à União Europeia ou aos bancos corruptos. Porque um Alemão tem de trabalhar até os 65 anos para manter um Grego que entra na reforma aos 50.

Antes tinha sido a Finlândia, que não queria viabilizar o empréstimo para Portugal. Mas por qual carga de água os Finlandeses deveriam ter emprestado o dinheiro, o dinheiro deles? Onde ficou o dinheiro que Portugal tinha recebido ao longo das décadas da Comunidade Europeia antes e da União depois?

Mas é neve de Primavera, dura pouco. A Finlândia cedeu e a Alemanha cederá, porque os planos não podem ser discutidos.

Dizia o poeta…

Ezra Pound

O poeta americano Ezra Pound dividia os bancos em duas categorias: os bancos do Inferno que praticam a usura e criam pesadelos para os Estados, e os bancos do Paraíso que não praticam usura mas emprestam dinheiro para que as empresas possam funcionar e trabalhar.

Dizia Pound:

Existem dois tipos de bancos: o Monte dei Paschi di Siena e os demónios.
Os bancos construído para fazer a reconstrução e os bancos que exploram o povo.
(Ezra Pound: Selected Prose, pág. 176)

O Monte dei Paschi di Siena, o mais antigo banco do Mundo após o Banco de San Giorgio (Genova, Italia), foi criado em 1472 pelos Magistrados da República de Siena (Italia) e não admitia a usura. Pois é claro que a usura é uma taxa que atinge os povos, os governo e os negócios, taxas que fica nos bolsos dos bancos.
E é interessante o que dizia Pound acerca do monopólio do crédito:

Os vários monopólios, que culminarão no monopólio da mesma moeda, chave de todos os outros monopólios, foram e são monopólios de exploradores.

O que os banqueiros de Wall Street e da City de Londres procuram não é o dinheiro (já têm disso, em abundância), mas um predomínio político sobre a história e a humanidade. A paixão é o poder, a arma mais eficaz é a dívida.

Quando as bombas caírem nso céus das cidades, as pessoas podem vê-las e perceber que há uma guerra. Podem até pedir vingança.
Mas quando a guerra é feita com a dívida, os políticos corruptos não falam e tudo acontece de forma silenciosa, aparentemente indolor. Mas são preciso anos ou décadas antes que as pessoas consigam acordar e perceber.

J.W. Goethe

A América foi atacada com a arma silenciosa no longínquo 1913, com a criação da Federal Reserve.

Os banqueiros derrubaram o sistema bancário constitucional, criado pelos Pais Fundadores da Nação americana após a vitória contra os Ingleses, e delegaram o poder nas mãos dum dos bancos do Inferno.  

Também o alemão Goethe gostava pouco dos bancos:

Existem diferentes tipos de dinheiro: ouro, prata, moedas de cobre e notas de papel. As moedas são terrivelmente reais, o papel moeda é só convencional.  

Podemos encontrar eco desta visão na segunda parte do Faust, onde Mephistopheles convence o Imperador a introduzir o papel moeda baseado no valor dum tesouro ainda enterrado. Este plano será um fracasso e o Império terá consequências muito negativas.

Curioso:  na obra de Goethe, Mephistopheles é o vendedor de papel moeda.
“Curioso”? Nada disso: criar dinheiro a partir do nada é mau. Praticar a usura é mau também. Os bancos fazem ambas as coisas (e muito mais…).

Monotonia

Há alguns dias , o Leitor Pedro queixou-se do blog um pouco “monótono”. Foi uma desabafo, como explicou o mesmo Pedro, mas eu acho que o termo “monotono ” está correcto.

Respondeu Burgos que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. E Burgos tem razão também.  

Todos têm razão?
Paradoxalmente sim.

Este blog escolheu descrever a realidade: não todas, apenas uma parte dela. E mais do que “descrever” seria melhor de “tentar de descrever”. Mas vamos em frente.

Agora, como é a realidade?
Ligamos a televisão ou abrimos um jornal: que encontramos?
Uma cosia bastante repetitiva, chamada “realidade”.

Quantas vezes já ouvimos aquelas caras? Quantas vezes ouvimos os mesmos discursos, as mesmas promessas, até com as mesmas palavras?

A realidade oferece bem poucas novidades, até as desgraças acabam por ser parecidas.
Israel que faz a voz grossa e ameaça. Olha a novidade.
Os Estados Unidos que suportam israel. Olha outra novidade.
A crise económica do mundo ocidental. Deixou de ser novidade.
E depois os terroristas árabes, os Chineses que invadem os mercados, os mortos no México…

A realidade é aborrecida porque assim tem de ser. O plano pede que assim seja. A maioria das acções executadas pelos bancos do Inferno são silenciosa, não dão nas vistas: pequenos passos, dia após dia, com cadencia monótona.

Assim trabalham os bancos, assim é implementado o plano.

Mas também Burgos tem razão.

Quem trata de informação alternativa, nomeadamente de economia e geo-política como assuntos principais, tem poucas escolhas: ou começa a falar do cão reptiliano de Barack Obama (a propósito, é um cão português: Portugal conseguiu um lugar na Casa Branca!), ou fala dos bancos e das manobras destes. Podemos partir de longe, podemos percorrer muitas estradas, mas no final é inevitável encarar o assunto.
E tenta alertar.

É tarefa inglória (e vou pedir uma estátua por causa disso), mas é um dever. E, além disso, nem dá direito a sentir-se “superior” ou “illuminado” de qualquer forma, pois aqui não são debatidas Grandes Verdades ou conceitos acessíveis apenas para um restrito grupo de mentes superiores: aqui fala-se de coisas óbvia, do tipo “o sbancos não devem roubar”, “os políticos não devem ser corruptos”, e coisas assim.

Mas é um dever na mesma, porque nesta altura deveria ser claro também aos cegos que pouco daquilo que se passa é fruto do acaso. Se pensarmos que os bancos do Inferno estejam dispostos a deixar que o próprio poder (ainda mais do que o dinheiro) seja transportado pela corrente, então não percebemos nada: são os bancos que criam a corrente.

E quando houver alguém em dificuldade no meio da água, atiram um colete salva-vida.
De chumbo.

Vascular todos os dias na podridão dos bancos infernais não é divertido, sobretudo se uma pessoa não tem tendência masoquistas.
Mas, para ficar no âmbito dos exemplos hídricos, como diz Burgos “ovo mole em panela dura tanto bate até que se parte”.
Ou algo de parecido.

Estamos perante um plano, que já nem é tão escondido, pois há personalidades públicas que falam dele.
Podemos ficar calados e ignora-lo, deixando que os bancos do Inferno completem a obra deles.
Ou podemos tentar alguma coisa, mesmo que seja inútil ou, no melhor dos casos, um trabalho demorado e de êxito incerto.

Temos que escolher se combater um sistema bancário baseado na usura e na dívida pública, que trouxe pobreza e destruição, ou deixar que as correntes invisíveis sejam bem apertadas.

A escolha, como sempre, é do Leitor.

Ipse dixit.

Fontes: Il Sole 24 Ore, The Excavator

14 Replies to “Os Bancos do Inferno”

  1. Max… nesta estratégia imperial geopolítica, parece que não está aqui algo muito importante… a China! Então e a China?

    Com o peso econômico e político que a China conquistou no mundo nos anos recentes, todas as grandes questões internacionais dependem de sua posição. É verdade que isto ocorre, também, com a diminuição de poder dos Estados Unidos e da Rússia, enquanto os demais países emergentes ainda não consolidaram seus poderes, mesmo a Índia e o Brasil(…)

    (…)Os chineses sabem que o mundo sem eles não seria o mesmo. E nos organismos internacionais, tanto na ONU como na OMC, impõem as suas vontades, enfrentando eventuais oposições, simplesmente pela sua inércia. Não utilizam mais uma retórica agressiva, mas com pausada calma fazem o que desejam, sem que ninguém tenha poder para confrontá-los.
    fonte: http://www.asiacomentada.com.br/2010/05/a-politica-internacional-chinesa/

  2. Max,
    Há uma foto no blog que é a síntese da crise mundial: http://gilsonsampaio.blogspot.com/2011/09/quando-uma-imagem-vale-por-mil-palavras.html
    E o lugar-comum do título é inevitável.

    No frontispício da bolsa de valores em Nova York podemos ver na bandeira dos EEUU as estrelas/estados substituídas por megacorporações. Enquanto isso, o povo brande seus sapatos/ miséria em protesto contra a captura do estado pela canalha bancária e megacorporações.

    Síntese mais que perfeita da luta de classes.

  3. Olá Fada!

    Estou à procura dum bom artigo (mas bom mesmo) que fale da China: cedo ou tarde não será mais um "outsider", como dizem os Ingleses, mas será uma realidade.

    Aliás, "a" realidade. E quanto mais cedo percebemos isso, melhor será para entender qual a direcção que o Mundo está a tomar.

    Abraçoooo!!!

  4. Olá Nuno!!!

    Epá, arruinaste-me a digestão…
    Se isso for verdade (a teoria, entendo) estamos sentados em cima dum barril de pólvora.

    Vou ver se consigo mais pormenores…muito obrigado!

    Grande abraço!!!

  5. Malditos bancos. Uma vez li que os bancos do Irã de Mahmoud emprestam dinheiro sem juros. E a propaganda continua…

  6. Ô voz… o termo DO INFERNO é de Ezra Pound e não do Max…

    Impressionante… ver a entrevista da Chistine Lagarde no documentário INSIDE JOB, criticando tudo e todos… e meses depois ela estar no FMI, perpetuando tudo que ela reclamou… foi ilário! 🙂

  7. Max e todos

    Eu sei que o assunto é sério, mas, não pude deixar de dar boas gargalhadas com o cão reptiliano de Barack Obama (a propósito, é um cão português: Portugal conseguiu um lugar na Casa Branca!) e a do colete de chumbo.
    Só o Max para conseguir fazer a gente rir no meio disso tudo.

    Mas agora falando sério, temos que combater isso tudo com certeza.
    Lá vai mais um ditado "devagar se chega longe".
    O povo virtual mundial está aumentando gradativamente, e a conscientização já está se tornando grande.

    Max com certeza tu terá uma estátua bem grande, pelo teu humor e perseverânça.

    Um grande abraço

  8. Max espero que os gregos se revoltem e corram com a UE de lá para fora.
    A seguir também com curiosidade a animosidade turca, de repente aquela zona pega fogo e vai ser um sarilho daqueles.
    Por outro lado parece que os turcos estão de candeias às avessas com os israelitas.
    Pois é meu caro.
    Eu não acredito na UE, nem no Euro, creio que vai haver cacos, isto sem ser apocalíptico.
    Melhor que isto são as imagens que nos chegam de Lampedusa, da policia italiana a carregar sobre os coitados dos emigrantes africanos que vinham à procura dum sonho.
    Para além disso, tudo isto me faz lembrar o fantástico filme Ágora.
    Chegamos receio eu ao fim da linha, o fim duma civilização, depois desta se não escaqueirarmos este mundo outra virá para continuar ou para começar tudo de novo.

Obrigado por participar na discussão!

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