Lemmings

A democracia são dois lobos e um cordeiro que decidem o que há como jantar.
Benjamin Franklin

Pouco antes da estação dos comboios de Pragal, em Almada, há uma escrita preta num muro de cimento:
“Se o voto mudasse algo já teria sido proibido”.

Como há um semáforo, o vermelho é uma boa ocasião para reflectir: o voto serve? A “democracia” é um mito ou o melhor dos sistemas políticos imagináveis? Isso enquanto esperamos o verde, claro.

Pois na verdade ninguém põe em causa a utilidade do voto. Há uma veneração, uma fé cega na Democracia.
Seria suficiente observar os resultados para questionar-se. Corrupção, injustiça, guerras: são estes os frutos dos nossos regimes democráticos.

Os Estados Unidos, que muitos vêem como o Mal Absoluto, são uma democracia.
A Europa é um conjunto de democracias ou pseudo-monarquias democráticas.
A Nato é um conjunto de democracias.
Portugal, Grécia, Irlanda, todos Estados falidos, são democracias.
Espanha e Italia, próximos falidos, são democracias.
Os grandes bancos privados têm sedes nas democracias mais avançadas, assim como as empresas farmacêuticas.

Mesmo assim, continuamos a pensar nas democracias como a melhor receita política. E o voto como a máxima expressão do povo.

Os defensores afirmam que não é a Democracia doente, são os homens que estragam.
Verdade: mas isso significa que a Democracia não tem defesas contra os que querem aproveitar-se dela. Em outras palavras: a Democracia é, ainda uma vez, a lei do mais forte; o mais “esperto”, mais corrupto, mais endinheirado, mais qualquer coisa.

Voto sagrado?

O hábito ao voto começa muito cedo: já na escola é ensinado que votar é um direito sagrado, quase o mais importante. E um dever também.

Eu considero mais sagrada a vida, a liberdade, a propriedade; e também a liberdade de não ser obrigado a votar num grupo de criminais.

Hoje o voto é a possibilidade de permitir que um grupo de pessoas possa saquear de forma legítima outro grupo, um processo que legitima um sistema político corrupto.

Caso evidente é o que se passa em Portugal: o governo PSD-CDS, legitimamente eleito, está a vender aos privados tudo e mais alguma coisa.

Empresas, patrimónios, tudo nas mãos dos privados. E os cidadãos? Simples: é para o bem deles.

A solução encontrada para combater um sistema no qual os bancos privados ganharam montantes enormes (o sistema da dívida pública) é vender com preços de saldos a riqueza nacional aos mesmo bancos. Democraticamente, óbvio, sempre nos moldes da máxima legalidade.

Porque foram os cidadãos que escolheram. Com o voto sagrado.

A desresponsabilização democrática

Uma coisa que não é ensinada é que quem vota é responsável pela atitude de quem foi votado.
Se eu encarrego o fulano A de administrar os meus bens (isso é uma eleição), eu não “descarrego” as responsabilidades, que permanecem minhas. E se o fulano A for um ladrão, minha é a responsabilidade de tê-lo escolhido.

Mas esta é uma parte que ninguém gosta de lembrar. Pelo contrário, a ideia é: nós votamos, depois “eles” é que sabem, que fazem, a nossa responsabilidade acaba na cabine de voto.

Um sistema cómodo: permite que os eleitores fiquem com a consciência tranquila, enquanto os eleitos podem fazer tudo e mais alguma coisa, pois quais as consequências duma atitude negativa se também o sistema policial e jurídico for corrupto?

Neste sentido, a Democracia é um sistema perfeito.

Mas tem um limite: se uma vez a máxima segundo a qual “quem não vota não pode queixar-se” tinha razão de ser, hoje já não é assim. Porque não votar significa não endossar um tal sistema doentio. É uma questão de liberdade: eu escolho não ser cúmplice.
Não só: mas não votar é já por si uma declaração política, uma denúncia contra o actual sistema, enquanto o voto apoia o sistema.

Um dos maiores problemas da Democracia é que a maioria impõe as próprias condições à minoria. As decisões de quem ganha determinam as escolhas também de quem votou no sentido oposto ou de quem nem votou. Ainda uma vez, a lei do mais forte. E, ao mesmo tempo, um passo na direcção dum sistema colectivista.

Mas quem ganha as eleições? As ideias? Nem por isso.

Democracia cenográfica

Na nossa sociedade, cada vez mais fundamentada na “aparência”, as eleições são ganhas por quem pode contar com uma máquina partidária eficiente, o apoio da imprensa, bons oradores, boa maquilhagem, bons slogans.

Ainda no caso de Portugal. No dia a seguir aos debates televisivos, na imprensa eis que aparece a avaliação: quem ganhou? Quem se mostrou mais seguro, quem conseguiu transmitir mais calma, quem fez as observações mais agudas?

Numa palavra: fachada.
As ideias ficam atrás, se sobrar espaço.

Assim temos os políticos que, como novos Césares, ocupam os lugares de poder porque “escolhidos pelo povo”.

Que depois estas figuras nada mais sejam de que burocratas ao serviço dos grandes grupos, isso já não interessa: a responsabilidade do cidadão não chega até lá. Aliás, como vimos, já acabou com o acto eleitoral.

Como pode uma pessoa psicologicamente saudável pensar que este processo seja normal? A política gera a corrupção e o voto sustenta esta corrupção. A Democracia encarrega-se de estender a capa final, a da de-responsabilização colectiva.

Foi inserida nas nossas mentes a ideia de que podemos votar porque somos livres. Mas é o exacto contrário. O voto legaliza uma elite que, com leis feitas “em nossa prol”, limita a nossa pessoal soberania. A começar pela soberania de quem perdeu as eleições.
Não gostam da medida? Paciência, este foi o voto da maioria, têm que aceitar em silêncio.
Que raio de liberdade é esta?  Esta não é uma liberdade de escolha, este é o dever de aceitar a vontade da maioria.

Que nem maioria é.

Uma maioria de 20%

Consideramos as últimas eleições em Portugal: num País de 11.040.224 habitantes, o governo foi escolhido por 2.797.646 eleitores. Nada mal como democracia, não é?

Mas o Leitor acha de verdade que o assuntos como energia, petróleo, guerra, economia, finança, dependam das escolhas dele?
Se a resposta for “sim”, então pergunto: qual partido político tinha no seu programa a intenção de reconhecer os rebeldes líbios como máxima autoridade do País africano?

Nenhum partido tinha esta intenção no programa, pois na altura das eleições o caso-Líbia se calhar nem existia (não nestes moldes). E temos aqui outra questão importante: a representatividade.

Uma vez eleitos, os políticos podem fazer qualquer escolha porque foram escolhidos pelo povo. Isso é: nas intenções “representam a vontade do povo”.

Se ainda existisse a ideia de responsabilidade, os eleitores deveriam fazer algo, mexer-se, protestar, fazer ouvir a própria voz. Mas numa democracia deresponsabilizante, isso não acontece. “Nós fizemos o nosso papel, agora eles é que sabem”. A Democracia Valium.

É com a Democracia representativa que o Governo de Portugal pode vender o Banco BPN aos estrangeiros, em vez de procurar uma solução nacional, pois o governo é a vontade do povo. E a Democracia Valium funciona: protestos? Não há.

Doutro lado, o voto não pode ser posto em discussão: é a pedra angular da Democracia, quem critica ou é fascista, ou é adepto da Nova Ordem Mundial. Ámen.

Mas ninguém que tenha em consideração a liberdade pode seriamente pensar no voto: o voto é a morte do indivíduo em prol da colectividade.

Solução? Sim, há.
Um sistema no qual o êxito das eleições não seja vinculativo mas voluntário. Participa nas eleições apenas quem assim desejar. E quem não desejar não pode ser obrigado a aceitar o resultado das eleições.

Um sistema doido? Porquê, votar num manípulo de corruptos ao serviço das grandes empresas como é?

Beep! Beep!

Ah, o semáforo…

Ipse dixit.

Fonte: LewRockwell

8 Replies to “Lemmings”

  1. concordo inteiramente e esta tem sido a minha opinião já vai para uns 7/8 anos…
    mas ainda hoje em dia mesmo os meus amigos mais próximos e que são jovens adultos que eu considero pessoas instruídas não conseguem perceber que ao votar estamos a legitimar aquela gente, isto para não falar da pressão de pessoas à minha volta (por ex profissionalmente) com as quais não tenho a mesma confiança para lhes explicar porque não voto e que me vêm com a clássica cantiga do "não votas logo não te podes queixar"…

    "Se o voto mudasse algo já teria sido proibido" adorei, vou roubar 😉

  2. "o voto é a possibilidade de permitir que um grupo de pessoas possa saquear de forma legítima outro grupo"

    Frase absolutamente genial… e você reclama de barriga cheia… e no brasil? Onde o voto é obrigatório e 100% dos candidatos são criminosos? O que o povo faz? Vota!

    Ou faz como eu… não vota… não justifica sua ausência… e se o juiz do tribunal reclama você ainda quase vai preso por falar verdades à ele…

    🙂

  3. Ótimo texto!
    Um dos melhores posts que ja vi no blog!

    Parabéns!
    Sou plenamente de acordo com o que foi comentado.

    Vamos divulgar este texto!

  4. Por que não existem mais pessoas como você Max?

    Obrigado por fazer este trabalho tão importante de informar, conscientizar e educar as pessoas.

    Tudo de melhor para você

    Abraço

  5. Rapaz, se você fosse norteamericano diria que se trata de um workaholic. Mesmo estando de férias você é capaz de de nos brindar com um post destes. Quantas e quantas vezes jogaram em nossas caras que a "democracia pode não ser a perfeição, mas é o que temos de melhor", ou algo semelhante à isto. Aqui nesta terra os caras sâo inimputáveis. A polícia é um curtume de couro de pardos, negros e brancos que não sabem dançar o minueto.
    Tudo de bom Max.

  6. Interessante! Muito interessante!! Os comentários me reafirmam como a extrema clareza e simplicidade do teu raciocínio, Max, consegue abrir as mentes das pessoas sobre assuntos tabus como esse de voto e democracia. Imagina se ao invés do teu discurso que sabiamente se apresenta sem rótulos, aparecesse aqui um sujeito identificando-se de saída como anarquista e jogando seus jargões para tentar dizer a mesma coisa que foi dita por ti com a contundência que te é peculiar…Aposto que seria rechaçado pelos comentaristas.
    Só lamento que o semáfaro abriu, tu fostes além, mas a alternativa ficou aquém. Sem pedir demais,daria para continuar o raciocínio da alternativa numa outra parada do trânsito?

  7. Para pessoas Imorais governo Imoral, levaste com o PS e se calhar está com saudades.

    O Bloco de Esquerda e os Comunistas, têm mais voz na Media do que os votos correspondentes – Os Media são politicamente correctos; para mais informações procurem Ben Shapiro.

    Mais informações de Capitalismo, Comunismo sistemas económcos: Misses.org

    Quanto a quem está no poder agora:
    Só com Tomates, é que aceitas ser odiado para o resto da tua vida, a passar medidas que ninguém gosta, tanto, que quem lá esteve antes para não ter de as aprovar desistiu de governar, para não estragar ainda mais a sua imagem

    João

Obrigado por participar na discussão!

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