USS Liberty AGTR 5

No dia 8 de Junho de 1967, o navio USS Liberty (AGTR 5) estava tranquilamente a navegar em águas internacionais, perto das costas israelitas.

“Tranquilamente” é uma maneira de dizer: de facto o Liberty era um navio espia da Marinha Militar dos Estados Unidos, camuflado de pacífico mercantil.

Uma patrulha de caças israelitas Mirage sobrevoou o Liberty várias vezes, sem provocar preocupação: o navio tinha os emblemas dos Estados Unidos e Israel era “o” aliado por definição.

O ataque

Mas após a 12ª passagem algo aconteceu e a tripulação do Liberty viu alguns relâmpagos vermelhos debaixo das asas dos aviões: os Mirage, desta vez sem sinais de reconhecimento, com grande espanto dos marinheiros tinham começado a atacar.


Começaram com o atacar a ponte, com metralhadoras e bombas, destruindo em primeiro lugar o sistema de transmissão. A seguir foi a vez do napalm, para impedir que alguém pudesse aproximar-se e tentar qualquer reparação. E o Liberty nem tinha tido tempo de lançar um SOS, enquanto o navio mais próximo, a USS América, ficava a 500 milhas.

Mesmo assim, no meio do caos, a rádio foi reactivada e o Liberty enviou o sinal de alerta.
Mas o ataque ainda não tinha acabado: 5 torpedos tinham sido lançados por barcos de assalto que estavam a aproximar-se. Já 8 marinheiros tinham sido mortos e 75 alvejados: apesar de quatro torpedos não conseguirem atingir o navio, o quinto centrou o alvo e matou outros 26 tripulantes.

Além disso, o embate tinha provocado um buraco no casco e em breve o Liberty inclinou-se de 10 graus.

Os restantes marinheiros subiram até a ponte e começaram a baixar os barcos salva-vidas. Mas estes eram metralhados sem pausa logo após ter tocado a água.

A ideia era clara: nenhum sobrevivente.

Entretanto, o Comandante da VI frota, William Martin, uma vez recebido o SOS do Liberty, tinha pensado logo num ataque egípcio;  pelo que fez descolar 4 caças em Condition November, o que significa “armados com bombas atómicas”.

Também neste caso a ideia era clara: pulverizar o Cairo.

Mas de Washington chegava a ordem do Secretário da Defesa para que os caças americanos voltassem. Coisa que o Comandante Wilson fez, mas só para enviar o dobro.

Outra vez, a ordem de Washington, até o telefonema do Presidente Johnson para travar o ataque.

Os sobreviventes

Washington conhecia a verdade. E o ataque contra oo Liberty parou. No dia seguinte foi rebocado até Malta, e a tripulação recebeu a ordem de não falar com ninguém do acontecido, nem com os familiares.
Ordem que, oficialmente, permanece ainda hoje.

Mas uma vez abandonada a Marinha, muitos começaram a falar. Tinham visto os próprios colegas morrer, mortos pelas mãos dos melhores aliados. Até a BBC preparou uma reportagem: Dead in the Water (curiosamente ignorado por Wikipedia).

Os testemunhos da tripulação foram fundamentais para a reconstrução dos acontecimentos. E alguns pontos ficaram claros:

  • os caças eram israelitas, tinham as asas “em delta” como is Mirage de Israel, mas na altura o Egipto não tinha nada que pudesse voar.
  • os pilotos dos caças conheciam a nacionalidade do navio e dos tripulantes. Foram gravadas conversas rádio decorridas entre os pilotos e o comando em terra e não há dúvida acerca deste ponto.
  • também os barcos de assalto eram israelitas.

Os Israelitas acabaram com o reconhecer o ataque, embora nunca de forma oficial, admitindo o “erro”.
Os Americanos nunca fizeram grandes cenas por causa do acidente, e isso na tentativa de não embaraçar o aliado.

Israel pagou 7 milhões de Dólares como recompensa para os familiares dos marinheiros mortos e a versão aceite, ainda hoje, é que o USS Liberty estivesse a espiar os aliados israelitas, os quais decidiram “punir” a Marinha dos Estados Unidos.

Operação Cianeto

Prática arquivada?

Nem por isso.

A já citada reportagem da BBC vai além das evidências e sugere outro cenário: a Operation Cyanide, Operação Cianeto.
Já o nome não promete bem. Mas a realidade é ainda pior.

Para entender o que teria sido esta Operation Cyanide, temos que voltar atrás: não muito, apenas três anos.

Em 1964, o USS Maddox foi atacado por parte de alegadas forças vietnamitas.
“Alegadas” porque a realidade parece ser outra: após mais de quarenta anos parece agora claro que o ataque do Maddox foi o casus belli criado pela Marinha dos Estados Unidos para permitir que o próprio País pudesse entrar na guerra da península asiática. Coisa que regularmente aconteceu.

Esta modalidade nem era uma novidade: aliás, ao reler a história bélica dos Estados Unidos, é possível encontrar muitos destes ataques simulados para justificar uma intervenção armada.

A Operação Cianeto era isso mesmo: a ocasião para os Estados Unidos atacarem e ocuparem o Egipto.

Mas algo correu mal. No caso do USS Liberty as forças israelitas tinham sido reconhecidas logo e matar toda a tripulação não foi possível.

Melhor, muito melhor, falar de “erro” e esquecer o assunto.

Curiosamente: Israel nunca puniu os responsáveis do “erro” Liberty e dos consequentes 34 mortos.

Ipse dixit.

Fontes: Il Corriere della Sera, AltraInformazione

2 Replies to “USS Liberty AGTR 5”

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