Turbo Bactéria contra todos

Vozes, vozes…como distinguir a verdade da mentira?
Por exemplo, o caso da bactéria assassina e malcriada: a Escherichia coli.

Há rumores na internet. Que não são bem rumores, pois são suportados por documentos.
Como sempre: vamos com ordem.
E começamos com um resumo.

E.coli Story

O autêntico e original E.coli

Morre alguém na Alemanha.
Culpa do pepino espanhol.

Como se costuma dizer em Portugal: “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento, nem bom pepino”.

Ok, admito: “nem bom pepino” é algo que acrescentei eu.
Mas logo outra notícia: não é o pepino ibérico. É a soja.
Ohhh, a soja…

Entretanto os mortos aumentam. 40 até agora. Mas os novos casos continuam a diminuir.

Depois há as sete crianças francesas intoxicadas pela carne da Alemanha. Uma história ainda mais esquisita e provavelmente muito mal contada.

Perante tudo isso, a explicação oficial é: “A E.coli transformou-se num agente patogénico letal”.
Ámen.

Uma vida com a E.coli.

Até aqui o resumo.
Como não entendo nada de evolução bacteriana, nem comento.
Mas como sou curioso, vou procurando.

Helge Karch dirige o laboratório do Policlínico Universitário de Munich, na Baviera (Alemanha), e dedicou boa parte da própria existência ao estudo do E.Coli.
Uma vida excitante, sem dúvida.


No dia 31 de Maio deste ano, na versão inglesa do Der Spiegel aparece um artigo que comenta as descobertas da Doutora Karch. 

Nunca encontrei algo parecido com isto

De facto, a equipa do Policlínico tinha encontrado a bactéria Escherichia coli modelo O104H4, extremamente rara.

Tão rara ao ponto que uma pessoa que dedicou a vida ao estudo do E.coli tinha encontrado esta versão apenas uma vez nas últimas três décadas. 

Não é difícil imaginar a surpresa.

A Doutora Karch começou a contactar os colegas especialistas e numa troca de mail com Phillip Tarr da Universidade Washington em St. Louis, nasceu uma ideia: que tal observar o DNA desta nova variante de E.coli?

A peste, oito antibióticos e dois genes

Na passada terça-feira, o diário alemão Süddeutsche Zeitung relatou o que a Karch tinha descoberto.

A bactéria O104H4, responsável pelo surto, é na realidade o que os especialistas chama de “chimera“, isso é, uma bactéria que contem na própria sequência genética material de várias bactérias Escherichia, como também sequências de DNA da bactéria da peste (Yersinia pestis), o que torna particularmente perigosa a criatura.

Um surto de Escherichia coli com efeito tuning, graças à componente da peste.
Tudo isso num dos Países mais avançados do Ocidente, onde as regras de higiene e controle sanitário não são brincadeiras (nada na Alemanha é brincadeira).

Esquisito. Como esquisito é o facto desta bactéria ser resistente perante diversos antibióticos.
Em verdade já há muito se fala de substâncias que, uma vez entradas repetidamente em contacto com antibióticos, adquirem uma espécie de “imunidade”. É um processo normal.

Mas os cientistas alemães descobriram que a Turbo E.coli resiste a todos os antibióticos:
• penicilina
• tetraciclina
• ácido nalidixico
• trimetoprim-sulfamethoxazol
• cefalosporina
• amoxicillina / ácido clavulánico
• piperacillina-sulbactam
• piperacillina-tazobactam

Além disso, tem a capacidade de produzir uma enzima, chamada ESBL.
Explica a inglesa Health Protection Agency:

Os Beta-lactamases (ESBL) são enzimas que podem ser produzidos pelas bactérias e tornam as mesmas resistentes às cepalosporinas, como por exemplo cefuroxima, cefotaxime e ceftazidime, que são os antibióticos mais utilizados em muitos hospitais.

Além disso, explica o Guardian, esta variante tem dois genes, TEM-1 e CTX-M-15, que “fizeram tremer os médicos em 1990”.
Porquê? Porque são tão mortais que provocam a insuficiência crítica dum órgão do corpo humano e o homem, simplesmente, morre.

Construa o seu próprio antibiótico letal! 
(e poupe dinheiro)

Dúvida: mas como é possível criar uma bactéria que resiste a oito classes de antibióticos, que passou por duas mutações genéticas mortais e que tem a capacidade de produzir ESBL?

É simples e Informação Incorrecta, o blog útil, explica como fazer, de forma que cada Leitor possa criar a própria bactéria mortal (que pode sempre dar jeito).

Em primeiro lugar é bom juntar um punhado de bactérias Escherichia coli, meio quilo acho pode ser suficiente.

Não é difícil, pois é muito comum em natureza, até o ponto que nós costumamos ingerir muitas quantidades delas. Só que estas são versões fracas, que não interessam.

Portanto, pegamos no meio quilo de bactérias e vamos mergulhar tudo na penicilina.
Deixamos tudo descansar umas horitas e a seguir pegamos no microscópio: as bactérias mortas eram evidentemente as mais fracas. Nós estamos interessado naquelas que nadam alegremente na penicilina, pois estas são as resistentes.

Pegamos portanto estas bactérias mais robustas e vamos mergulha-las no segundo antibiótico, a tetraciclina. Agora é só repetir os passos já descritos: esperar umas horitas e procurar os sobreviventes que demonstraram ser resistentes à penicilina (primeiro mergulho) e à tetraciclina (segundo mergulho).

Repetimos o processo com todos os antibióticos e pronto: as bactérias sobrevividas não serão muitas, mas de certeza são resistentes a tudo e mais alguma coisa.
E tomem cuidado, pois nesta altura podem estar zangadas também. Experimente o Leitor tomar oito banhos de antibióticos…

Estatística e dúvidas

Problema: foi dito que as bactérias que matam na Alemanha foram encontradas na comida.
Mais precisamente: nos vegetais. E nos vegetais não há antibióticos. Na carne sim, infelizmente, mas nos vegetais não.

Onde é que o Turbo E.coli foi buscar os medicamentos para tornar-se resistente? Onde encontrou os antibióticos para tornar-se resistente? Na farmácia?

Resposta: não, não foi na farmácia. E por duas razões:

  • em primeiro lugar porque nunca foi observada uma bactéria com uma receita médica enquanto tenta comprar um frasco de penicilina;
  • depois porque se a coisa fosse tão simples, o mundo estaria cheio de bactérias que resistem aos antibióticos. 

Aliás, seria difícil encontr um bactéria não resistente.Não é uma questão médica, é estatística.

De facto não é difícil encontrar uma bactéria resistente a um antibiótico. Mas não a oito tipos de antibióticos.

Evolucionismo bacteriano

A questão fica em aberto, no sentido que não existem respostas. Podemos avançar com hipóteses mas nada mais.

E sem provas não é possível ir para lado nenhum.

Sim, eu sei: seria possível falar de armas biológicas. Talvez do National Biodefense Analysis and Countermeasures Center (NBACC), o laboratório de biopesquisa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em Frederick, Maryland, EUA.

E não seria mal lembrar que a Espanha, que numa primeira fase tinha sido indicada como produtora dos “pepinos malditos”, foi e ainda é um dos Países europeus que mais resiste perante os desejos de empresas como a Monsanto e outros produtores de OGM (para quem “mastiga” o Inglês, sugiro um visita ao link de NaturalNews).

E nem seria possível evitar de pensar em outros cenários interessantes e divertidos, como uma espécie de “ensaio” geral.

Mas são todas ideias loucas e privas de fundamentos.
O E.coli é nada mais do que um natural processo de evolução darwiniana aplicada às bactérias.
Talvez.
Ou nem por isso.
Mas onde?
Por favor…

Ipse dixit. 

Fontes: Der Spiegel, Healt Protection Agency, The Guardian, NaturalNews

One Reply to “Turbo Bactéria contra todos”

  1. Max

    Vou enviar o teu artigo para alguns amigos, para tomarem percaução em relação… a,

    bem será que podes dizer o que afinal podemos ingerir sem o perigo de apanharmos uma cólica destas?

    Cumprimentos

    Vitor

Obrigado por participar na discussão!

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