Decrescimento: poucas ideias mas bem confusas

De forma lenta, começa a aparecer cada vez mais o conceito de decrescimento.

Vivemos num mundo onde a palavra de ordem é “crescimento”, sempre, infinito, a qualquer custo. Afirmar que um País conseguiu produzir a mesma riqueza do ano passado é uma catástrofe: o País, qualquer País, tem que produzir mais, cada vez mais.

Não é bem claro quem deveria adquirir os bens produzidos em quantidades maiores, sobretudo se considerarmos a grave crise da qual não conseguimos sair, os cortes aos salários, o desemprego, etc.

E nem fica esclarecido onde encontrar os recursos, em medida cada vez maior, pois o planeta é o que é, tem os seus limites.

Mas não interessa: crescimento deve ser.
Caso contrário, é recessão.

Por isso, eis a solução: decrescimento.
Pensar numa sociedade que não tem de crescer mas que pode viver numa situação de equilíbrio ou até “encolher-se” um bocado.
Parece uma boa ideia. Afinal muitos dos males actuais são provocados por esta “febre dos recursos”, Pensamos nas guerras do petróleo, do gás.


O problema é que, como muitas vezes acontece, os pensadores desta nova sociedade (um misto de ecologistas, vegetarianos, cheguevaristas) passam de 8 até 80. O panorama pintado parece mais o duma sociedade Amish, salvo a religião, aqui substituída pela ideologia. Todos a viver no campo, nada de carros, nada de viagens, nada de televisão, nada de nada; todos fechados na própria comunidade, numa espécie de exílio global. Um salto atrás de 200 anos ou pouco menos.

Estou convencido que parar o crescimento infinito não significa voltar ao Tempo das Trevas. No entanto, eis uma lista de 10 pontos que dois destes pensadores (Bruno Clémentine e Vincent Cheynet) acabam de publicar: 10 pontos para afastar o consumismo.

O mesmo consumismo que permitiu a existência de internet e do blog deles.
Mas afinal, são Franceses…

O decálogo

1. Livrar-se da televisão

Entretenimento e imaginação

Para entrar no decrescimento, o primeiro passo é tomar consciência dos próprios condicionamentos. O primeiro meio de condicionamento é a televisão.

Eis um erro típico deste tipo de pessoas: não conseguem distinguir entre causa e efeito.

A televisão, tal como é concebida hoje, é um meio que torna papa o cérebro do telespectador, verdade. Mas isso não significa que a ideia de televisão seja má: é o uso que da televisão é feito na nossa sociedade que é perverso. Porque sugerir que uma futura sociedade não seja capaz de dar à caixinha com imagens e sons uma função melhor que a actual?

Eu não sou um grande consumidor de televisão, acho que a programação é feita mesmo para tornar o público uma massa informe de consumidores sem ideias próprias. Mas isso é agora. No futuro, numa sociedade melhor, não sei.

As críticas contra a televisão enquanto ideia são ridículas. Porque a seguir eis as alternativas aconselhadas:

Nós preferimos a vida interior, a criatividade, aprender a fazer música, fazer e assistir a representações, viver; para informar acerca das escolhas que temos existem a rádio, a leitura, o teatro, o cinema, conhecer pessoas, etc.

Moral: antes da televisão não havia injustiças, o público não estava condicionado, provavelmente nem havia guerras. E isso porque as pessoas ouviam a rádio ou iam ao teatro: e a rádio não pode condicionar (Guerra dos Mundos, de Orson Wells, 30 de Outubro de 1938, façam uma pesquisa na internet), nem os livros ou o cinema podem transmitir ideias que não sejam verdade absoluta..

2. Livrar-se do carro

Mais do que um objecto, o carro é um símbolo da sociedade de consumo. […] O carro é um dos flagelos ecológicos e sociais do nosso tempo. Nós preferimos: a rejeição da hipermobilidade. O desejo de viver perto do local de trabalho. Andar a pé, de bicicleta, tomar o comboio, usar os transportes públicos.

Basta de modernices

Verdade. O carro, assim como foi concebido e desenvolvido, é um embuste. Estes prodígios da tecnologia, com airbags, abs, navegador e muito mais, utilizam o motor de combustão interna, um projecto do século XIX. E a coisa engraçada é que são pagos como se fossem “novos”.
Poluem, fazem barulho, custam, matam.

Mas o carro é também sinónimo de liberdade. O carro pode levar a nossa família até lugares desconhecidos e maravilhosos.

A chave está no repensar o carro. Favorecer ao máximo os transportes públicos no interior da cidades e, ao mesmo tempo, obrigar as pessoas a utilizar os transportes colectivos. Mas que haja uma real alternativa ao carro, não como agora.
Entretanto, concentrar-se na procura dum veiculo eléctrico (cuja electricidade seja produzida a partir de fontes renováveis, óbvio), reciclável e mais seguro.

Perceber que não é necessário ter o carro à última moda: a vida dum automóvel não é apenas de 3 ou 4 anos mas de muitos anos.
Repensar o mercado, de forma que seja mais conveniente uma reparação do que uma nova aquisição (e isso acontece não apenas no sector dos transportes).
Obrigar a que todos os modelos estejam equipados com todos os acessórios relativos à segurança.

E até lá, dar prioridade aos transportes colectivos, como afirmado.

Foi a mobilidade, cada vez melhor, que consentiu a circulação das ideias, desde sempre.
Nega-la significa voltar à Idade da Pedra. Em que alguns deste indivíduos viveriam com prazer, não tenho dúvida. Mas não a maior parte das pessoas.

3. Livrar-se do telemóvel

O sistema gera necessidades que se tornam vícios. O que é artificial torna-se natural, […] o telefone é uma falsa necessidade criada através da publicidade. Com o telemóvel podemos deitar no lixo os fornos microondas, as máquinas de cortar relva a motor e todos os itens desnecessários da sociedade de consumo. Nós preferimos o correio, a palavra, mas acima de tudo tentamos viver para nós mesmos ao invés de tentar preencher o vazio existencial com os objectos.

Eis identificado outro dos grandes males da nossa sociedade: o telemóvel. Que, evidentemente, é inútil. Melhor o correio. Ou o pombo correio, ainda mais natural. Aliás, fazemos assim: vamos entregar de pessoa as nossas cartas. Obviamente sem automóveis ou transportes que poluam.

Ficaram envolvidos num acidente rodoviário? Procurem uma estação dos correios e enviem uma carta para o hospital mais próximo para pedir socorro. Talvez seja melhor um telegrama, se não for demasiado moderno.

Nem é enfrentado o discurso acerca da saúde (radiações), o único que parece ter fundamentos científicos. Não, o telemóvel é mau e ponto final. Como o cortador de relva a motor.
Modernices.
Inúteis.

4. Recusar o avião

Ecológico, fiável, falta só a vela

Recusar tomar o avião é, em primeiro lugar, romper com a ideologia dominante que considera um direito inalienável o facto de usar este meio de transporte. […] O avião é o meio de transporte mais poluente por cada passageiro transportado. Por causa da velocidade, baralha a nossa percepção das distâncias. Nós preferimos ir mais longe, mas melhor, a pé, a cavalo, de bicicleta ou de comboio, de vela, com qualquer veículo sem motor.

Como na Idade Média. Tempos felizes, nos quais era precisa uma semana para percorrer uma distância que hoje é feita em poucas horas. Sem falar do entretenimento: havia sempre a possibilidade de ser assaltados. Sempre melhor de que ficar com a percepção da distância baralhada.

A nossa sociedade deu prioridade aos transportes e isso em detrimento da capacidade de mexer-se do indivíduo. Somos “drogados” de carro, por exemplo. Mas podemos dizer o mesmo do avião? Acho que não.

Estas pessoas são provavelmente as mesmas que correm dum lado até o outro do globo quando houver uma catástrofe humanitária. O que é de louvar de forma incondicional, não há dúvida. Mas a minha pergunta é: vão a pé ou de vela?

5. Boicotar os supermercados

Desumaniza o trabalho, polui e distorce os subúrbios, as cidades, mata o interior, incentiva a agricultura intensiva. A lista dos males é longa demais para ser listada aqui. Nós preferimos: em primeiro lugar comer menos, auto-produção (a horta), em seguida, as lojas de vizinhança, cooperativas de artesanato. Isso também leva a consumir menos e a rejeitar os produtos industriais.

Até que enfim.
São poucos os pontos a favor da grande distribuição. Poucos mesmo.
Por isso subscrevo na íntegra quanto afirmado.

6. Comer pouca carne

Reciclagem total

Ou melhor, vegetariano. As condições de vida dos animais de criação revela a barbárie da civilização tecno-científica. O consumo de carne também é um grande problema ecológico.

É melhor comer cereais de que utilizar as terras agrícolas para alimentar os animais destinados ao abate. Ao comer vegetariano, ou pelo menos ao comer menos carne, também nos traz uma melhor higiene e menos calorias.

O Homem não é um animal vegetariano. No entanto, abusamos de carne e omitimos a consumo de frutas e vegetais, que devem ficar como a base duma dieta natural. Isso é verdade.
Sim, é bom o churrasco e ninguém quer impedi-lo. Mas não é para todos os dias. Melhor abundantes rações de fruta, leguminosas e vegetais em geral.
Verdade.

7. Coma produtos locais

Quando você compra uma banana das Antilhas, esta já consumiu o petróleo necessário para o seu transporte. Produzir e consumir localmente é uma das melhores condições para entrar no movimento do decrescimento, não no sentido egoísta, é claro, mas sim para que cada comunidade possa recuperar a capacidade de auto-suficiência.

Por exemplo, quando um agricultor africano cultiva nozes de coco para enriquecer um leader corrupto, não cultiva do seu e não alimenta a sua comunidade.

Sim e não.

Produtos locais. Sempre.

Sim porque é justíssimo voltar ao consumo dos produtos locais: os mais saudáveis, seguros, economicamente eficientes.

Não porque o mito da auto-suficiência é mesmo isso: um mito.
Seria interessante pedir a estes senhores um exemplo de comunidade auto-suficiente. Realmente auto-suficiente. De certeza a resposta seria uma qualquer comunidade onde à noite há só as luzes das velas, onde o prato principal (e muitas vezes único) é composto por batatas cozidas, onde uma deslocação até a cidade é já considerada uma viagem e requer preparação.

Talvez não fosse mal esclarecer duma vez por todas (principalmente a estes senhores) que decrescimento não é sinónimo de viver numa cabana de palha e lama seca; não significa isolar-se do resto do mundo; não significa ter de comer só o que uma pessoa conseguir produzir; não significa rejeitar todas as descobertas e inovações conseguidas nos últimos 400 anos. Este não seria decrescimento, seria um pesadelo.

Decrescimento significa em primeiro lugar repensar de forma radical a estrutura da sociedade, de forma que esta não seja pensada apenas em função do lucro. Significa tomar consciência de que os recursos são limitados (pelo menos, esta é a situação até hoje) e que uma sociedade baseada exclusivamente no consumo (como é a nossa) não tem futuro.

É claro que num cenário deste tipo as nossas vidas ficariam afectadas: haveria a necessidade de mudar de hábitos e a mudança seria profunda. Não há dúvida. Mas a Humanidade cresceu e a questão não é “voltar atrás” (sempre admitindo que isso fosse possível); pelo contrário, a ideia seria de “ir pela frente”, encontrando novos caminhos e novas soluções.

Decrescimento não é sinónimo de pesadelo.

8. Politizar

Sede do Partido Progressista

A sociedade dos consumos deixa a escolha entre a Pepsi-Cola e a Coca-Cola, café Lavazza ou café “equo” de Max Havelaar. Escolhas de consumidores. O mercado não é de direita nem de esquerda nem de centro: impõe a sua ditadura com o objectivo de recusar qualquer contradição ou conflito de ideias. A realidade é a economia: o ser humano tem que render-se. Esse totalitarismo é imposto em nome da liberdade, paradoxalmente, para consumir. O estatuto do consumidor é ainda mais importante do que o de ser humano.

Nós preferimos a politização, como associações, partidos políticos, para combater a ditadura nas fábricas. A democracia exige uma conquista permanente. Morre quando abandonada pelos cidadãos. É hora de propagar a ideia do descrescimento.

Cá estão. Resistiram até o ponto 8 mas mais não foi possível: “Sim, somos de Esquerda, somos Comunistas, abaixo o Capitalismo, viva os Soviets!!!”
E, como bons Comunistas, não conseguem ver a realidade que está perante os olhos deles: não é preciso “politicizar-se” para fazer política. É suficiente comprar. Porque é na altura das compras que o cidadão vota, não é nas urnas.

Comprar um produto em detrimento dum outro não é a mesma coisa: significa muito mais que escolher uma marca ou uma embalagem. Significa entregar o próprio dinheiro a uma empresa que, como todas as empresas, terá a própria maneira de relacionar-se com o meio ambiente, com os trabalhadores, os fornecedores, os partidos políticos.

Ao escolher o café Lavazza nós dizemos: sim, gosto do teu produto, eis o dinheiro, o meu prémio, continua assim para que eu possa continuar a adquirir o fruto do teu trabalho.
Para mudar a sociedade não é preciso entrar nas fábricas e gritar slogans tipo “O povo unido etc. etc.”.
Seria suficiente tornar o consumidor mais consciente nas suas escolhas. Para que o mesmo consumidor pudesse realmente escolher os produtos das marcas que poluem menos ou não poluem de todo, que oferecem as melhores condições de trabalho, que paguem o justo aos fornecedores.

A solução não é eliminar o mercado. É tornar o mercado justo e sustentável. E é possível.

9. O desenvolvimento pessoal

Nem tudo pode ser mau…

[…] o decrescimento económico tem como condição o desenvolvimento social e humano. Desenvolvimento da rica vida interior. Dar prioridade à qualidade do relacionamento em detrimento do desejo de possuir objectos que por sua vez, herdará. Tentar viver em paz e harmonia com a natureza, para não ceder à violência, esta é a verdadeira força.

A descoberta da água quente.
A nossa sociedade não cuida dos aspectos interiores. Viver em paz é melhor do que viver na violência.
Podemos acrescentar: ser saudável é melhor de que ficar doente, melhor ganhar um prémio de que partir uma perna.
Ainda bem que chegou o decrescimento para explicar isso.

10. Coerência

As ideias são para ser vividas. Se não formos capazes de coloca-las em prática, servem apenas para fazer vibrar o ego. Estamos todos imersos num compromisso, mas vamos lutar para uma maior coerência. É o desafio da credibilidade dos nosso discursos. Mude e o mundo mudará.

Zzzzzzzzzzzzzzz….

Fonte: Casseurs de Pub via EcoProgetti

10 Replies to “Decrescimento: poucas ideias mas bem confusas”

  1. Um vegetariano não tem de acreditar necessariamente em "Todos a viver no campo, nada de carros, nada de viagens, nada de televisão, nada de nada; todos fechados na própria comunidade, numa espécie de exílio global. Um salto atrás de 200 anos ou pouco menos."

    Simplesmente tem respeito pela vida e pelo sofrimento dos seres que não têm capacidade para se defenderem das barbaridades a que são sujeitos para poderem estar diaramente no prato das pessoas que «amam os animais» (se calhar deve ser bem passados), mas que pronto, às vezes calha de os comerem…

    Depois, "O Homem não é um animal vegetariano"… isso é um bocado relativo. Talvez devêssemos começar a pensar nas razões pelas quais, tal como TODOS (e não são poucos) os nossos "primos" primatas (daí o nome?), temos mãos perfeitamente desenhadas para colher (frutos, sementes, folhas:somos erectos para os alcançar), e não garras para cortar, traçar, rasgar; porque enquanto seres não somos dotados de grande velocidade (como o é o leão, mas para poder caçar); porque os nossos dentes não são típicos de predadores (como os dos felinos), próprios para rasgar carne, mas antes próprios para trincar e mastigar frutas e sementes… entre muitas outras coisas… Tudo é uma questão de perspectiva, e de olharmos mais além das verdades que nos são escondidas e/ou inconveniente.

  2. Miguel,

    tiraste-me as palavras da boca…ou do teclado. 🙂

    Subscrevo tudo o que disseste, até porque percebo bem esses argumentos.

    Cumprimentos,
    — —
    R. Saraiva

  3. Também sou vegetariano… porém longe de ser comunista… socialista… também acho ridícula a idéia de nos submetermos voluntariamente a ter nossas liberdades privadas…

    Sou ateu… odeio qualquer moral religiosa… acho que a única coisa que precisa reger qualquer relacionamento é:

    a sua liberdade acaba onde começa a do outro…

    Esse outro pode ser uma vaca… ou pode ser um crente que tem sua mente lobotomizada por um pastor…

  4. É exactamente isso, quem somos nós para subjugar outros seres… e depois chamamos animais a esses mesmos seres, quando animais no fundo são os homens, não passam de meros covardes, roubando e indignificando da mais torpe das maneiras a vida daqueles que não pediram para sofrer, que não se podem nem conseguem defender…

    que ninguém me venha dizer que gosta de animais se no fim do dia os come com o maior dos deleites e naturalidade. E por favor, não me venham com argumentos da família do "não compare a vida e o sofrimento dos animais aos nossos", ou algo do ramo do "precisamos de comer carne/peixe para sobreviver", pois isso é o cúmulo da cegueira e/ou da recusa em acordar dessa cegueira.

    Saraiva,isso é porque vemos, queremos, ou tentamos ver mais além do nosso umbigo… 😉 chega um ponto em que esses argumentos se repetem e nos são muito comuns, mas tem de ser… eheh

    Cumprimentos

  5. Salve meu povo!

    Bom, eu sou carnívoro (kkk), mas isso não significa q eu coma churrasco todo dia, mas gosto muito de comer carne! O que seria de uma feijoada sem porco (esta iguairia brasileira foi criada pelos escravos, muito boa)? Gosto muito de carne, mas gosto da mesma maneira como gosto muito de comer arroz e feijão (com farofa), massas, uma boa salada de alface ou agrião ou ainda um tomatinho, pizza! Na real como poucas frutas, tenho que melhorar neste aspecto. Gosto muito de foccacia, e nunca deixarei de comer carne, levando em consideração que comer está entre os meus cinco maiores prazeres. (Prazeres mesmo.)

    Acho que a questão de ser vegetariano ou não é uma questão muitíssima pessoal. Moro com 3 amigos que são vegetarianos, e tenho meu salame na nossa geladeira, meu presunto, sem crise. Por questão de respeito não faço carne em casa, mas não por que a galera é radical, simplesmente pq não tenho uma frigideira minha para fazer carne, seria falta de respeito eu usar a mesma panela que meus amigos fazem seus almoços para fritar um bife. Meus camaradas são ovolactovegetarianos, ou seja, além de vegetarianos consomem derivados de ovo e leite. Um deles era vegan e me disse que é muito difícil conseguir consumir exclusivamente vegetais por vários fatores, dinheiro, possibilidade de achar determinado produto que seja um complemento para a saúde. Até poderiam, mas teriam que ser milionários (sob a realidade da classe média brasileira). Iogurte, queijo, leite, ovo, na visão de meus colegas de república, são muito importantes para o desenvolvimento de suas saúdes.

    Acho que ser vegetariano ou não está longe de ser um ponto crucial em uma mudança de sociedade. Na minha opinião.

    Acerca do texto, consigo ver uma pontinha de visão de esquerda nesses caras, mas acho devemos ultrapassar esses conceitos. Existem grandes medidas tanto de direita como de esquerda que são muito boas, e existem outras que são horríveis, em ambos os lados. O radicalismo complica, não penso que tenho que vestir uma camiseta para mudar o mundo. Acho que temos que ver toda a gama de idéias, escolher as que achamos justas e boa.

    O nome "decrescimento" é muito bonito, acho que idéias menos radicais poderiam transformar esse conceito em uma coisa mais light. Eu sinceramente prefiro viajar de avião que de charrete, mas não gosto do carro pois me transformo em um monstro estressado quando estou ao volante. Prefiro bicicleta, como sou solteiro e não tenho filhos para buscar na escola, pra mim é ótimo.

    Este trecho é muito bom, no meu ponto de vista:
    (…)Este não seria decrescimento, seria um pesadelo.(…)

    Abraço!!!

  6. Olá Miguel!

    Estou muito atrasado com as respostas, mas vi este pequeno "debate" e gostaria de intervir.

    Em primeiro lugar: a minha definição não é: "Este é o pensamento dos vegetarianos".
    O que escrevi é o seguinte: "um misto de ecologistas, vegetarianos, cheguevaristas".
    A diferença não é pouca nem subtil.

    A seguir.
    Não tenho nada contra os vegetarianos. A minha ex namorada e alguns dos meus amigos são vegetarianos e nada de mal acontece.

    Quanto ao facto do Homem ser carnívoro ou vegetariano. Tu utilizas os termos "carnívoro" e "predador" como sinónimos, mas assim não é. Há muitos animais carnívoros que não são predadores.

    O Homem, por exemplo, que começou com o competir com outras espécies para entrar na posse das carcaças dos animais mortos.

    Sem falar dos insectos, ainda hoje utilizados como comida em diversas culturas.

    Comer um insecto (como fazem outros primatas) é ser carnívoro.

    Mas o maior reparo é para outra tua afirmação. Ser vegetariano não significa ter automaticamente o direito de insultar os outros. Se uma pessoa quer ser respeitada enquanto vegetariana, tem que respeitar os que não fazem a mesma escolha.
    Ou estamos perante um respeito com um sentido único? E porquê? Por intervenção divina?

    Uma frase como que "ninguém me venha dizer que gosta de animais se no fim do dia os come com o maior dos deleites e naturalidade." é um disparate.

    Queres saber porquê?
    Vou responder-te com duas perguntas: amas o meio ambiente? Utilizas o carro?

    Ser responderes "sim" a ambas as perguntas, então és como as pessoas que (tal como eu) ama os animais e come os animais. Porque na verdade não há necessidade nenhuma de utilizar um carro. E nem os transportes públicos (que poluem na mesma). Podemos sempre ir a pé, de bicicleta ou de cavalo, nada o impede, apenas a nossa vontade.

    Amas o meio ambiente e utilizas a energia eléctrica? Cuja produção, como bem sabes, polui? E ao poluir degrada também o ambiente onde os animais vivem?

    E porque não utilizas apenas velas, naturais ao 100%? E, por favor, não responder apenas "porque preciso do computador". Porque ninguém precisa do computador para viver, nem do frigorífico, nem do telefone.

    Então, Miguel, como é? Amas o meio ambiente mas vives de forma a destruir o meio ambiente?

    E seria possível continuar com outros exemplos.

    "Tudo é uma questão de perspectiva, e de olharmos mais além das verdades que nos são escondidas e/ou inconveniente." dizes tu.

    E dizes bem.

    Nota: nada de pessoal, aliás, gosto deste tipo de conversas e agradeço-te para ter dado visibilidade ao assunto

    Grande abraço!!!

  7. Miguel, eu gosto de muito de animais, tenho minha cadela Boxer, gosto muito dela, e não pretendo comer ela. Ao mesmo tempo, gosto também de comer um bife a parmeggiana, adoro mesmo, e acho isso normal. É tão bizarro esse pensamento?

    Entendo até todo o lance que os vegetarianos pregam, que comemos cadáveres, tipo aqueles filmes dos caras nos frigoríficos. Concordo que não é a coisa mais saudável de todas, mas eu gosto, como mesmo. Gosto mais das coisas consideradas "hereges" do que o radicalismo que a julga.

    Mas adoro a culinária vegetariana, aqui em casa a galera faz altos "rangos", uma delícia. Um molho de tomate com proteína de soja, uma suflê de batatas delicioso, e acho mto bom também. E como meus camaradas dizem, para ser vegetariano, não adianta ficar só comendo "Ruffles".

    Abraço.

  8. Max, eu não disse que você disse que essa é a sua definição. Os meus comentários não são dirigidos particularmente a si, apenas quis evitar eventuais mal-entendidos entre alguns leitores.

    Eu não utilizei esses termos como sinónimos, dei apenas exemplos, mas então que seja, acho que enquanto espécie não somos nem carnívoros nem predadores.

    Depois não considero que desrespeitei ninguém, respeito pessoas que comem carne, afinal comi carne durante vários anos, até há pouco tempo. Não é minha pretensão ser moralista ne impor nenhuma moral nem ser dono de nenhuma verdade. Apenas acho que há coisas no mundo que poderiam mudar e ser evitadas facil e radicalmente, assim o homem o quisesse. Desrespeitei ao chamar o homem de animal? cego? chamei no geral, incluindo eu, afinal é isso que somos, basta olhar para o que fazemos, não só aos animais, como às pessoas e à mãe Terra.

    Não considero de todo essa frase como um "disparate", é a verdade. A partir do momento em que uma pessoa está ciente do que acontece nos matadouros/barcos de pesca industrial (e se não sabe é porque não quer) e ainda assim continua a alimentar esse sistema ao consumir carne, sem nem demonstrar o menor peso na consciência (pelo contrário), e como se se tratasse da maior das naturalidades e inevitabilidades da vida, então não concordo que possa dizer ter consideração pelos animais. Tê-la pelos cães e pelos gatos não é suficiente, eles não sofrem , outros sim, e escusadamente, essa é a questão.

    E é verdade, amo o ambiente e não uso carro. Uso transportes públicos porque não tenho tempo de andar 25 km a pé todos os dias. Não acho muito correcto fazer essa comparação, comer carne e peixe é evitável, mas, por exemplo, percorrer 70 km de bicicleta ou a pé por dia para ir para o trabalho, não é muito exequível, poderá antes constituir uma necessidade ter de fazê-lo de carro/transportes públicos.

    Para concluir, sim, usso essas coisas, com alguma moderação, tal como toda a gente (e por muitas delas sim, reconheço e sinto o peso na consciência). Enfim, peço desculpa se insultei alguém, talvez não me tenha expressado muito claramente, talvez tenha ferido algumas susceptibilidades com as minhas considerações, mas nunca foi minha intenção fazê-lo, insultar ninguém. Também não vou alimentar mais esta discussão, a menos que tal se justifique 🙂

    Enfim, acabo dizendo que gosto muito do seu blogue e da sua escrita. Amo a sua língua italiana também! eheh

    cumprimentos a todos.

  9. Ficaria satisfeita de não ver mais nenhum carro. Gostaria tanto de não ter que dividir mais o espaço da rua com eles… De poder andar de bicicleta pra onde eu quisesse (mas eu teria que tomar cuidado com os ladrões).

    Televisão é algo que eu realmente não necessito. Nem gosto de carros. Só uso meu celular como despertador e como relógio (eu poderia comprar um despertador e um relógio hehe). Tenho medo de aviões.. mas eu teria que usá-lo pra ir até a europa. Prefiro muito mais produtos naturais do que os industrializados. Comer pouca carne sim.. é melhor pra saúde e para o bolso. Tornar o mercado justo e sustentável me parece uma boa solução para ajudarmos o meio ambiente. Enfim, o que estou querendo dizer, é que nós não precisamos abandonar tudo pra viver como na idade média, nós só precisamos "desacostumar" com certos "vícios".

    A idéia do Decrescimento me agradou! Viver uma vida mais simples me parece bastante aceitável nos dias atuais. Eu sei que terão pessoas que falarão coisas do tipo "Oh, você não tem um celular! Que maluca!". Mas se ela acha que celulares são bens de consumo obrigatório, o que eu posso fazer? Nada.

    "Mude e o mundo mudará"

    Gostei!

Obrigado por participar na discussão!

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