O ditador morreu. Viva o ditador.

Sem dúvida, a notícia da semana passada foi: Mubarak foi-se.
Triunfo.
O povo ganhou.
E para festejar ainda mais, os direitos constitucionais foram suspensos.

Esquisita maneira de celebrar.

“Olha, comprei um carro novo!”
“Fantástico! Temos que comemorar. Ofereces uma cerveja?”
“Não, vamos incendiar o carro”.
“Boa!”

El pueblo unido…

Também na Tunísia o povo está feliz, pois depois dum breve período conturbado, o País voltou à normalidade. Ben Ali fugiu, agora quem manda são os amigos de Ben Ali.
Revolucionário.

Repararam que as notícias acerca da Tunísia diminuíram drasticamente?

O facto é que o pequeno País Africano acabou o próprio papel na Grande Cruzada da Liberdade: o povo ganhou, agora há um novo governo que trata de tudo. Em primeiro lugar, trata de atirar sobre os poucos manifestantes que ainda não perceberam que a festa acabou.

Acho ainda difícil perceber o que realmente se passou  na África do Norte.
Foram revoltas espontâneas? Foram “conduzidas”? Os Estados Unidos foram apanhados de surpresa? Limitaram-se a explorar a situação? Ou fizeram algo mais?

Como afirmado, difícil responder. Não há certezas.

Democracia para todos

Mas podemos avançar com uma pergunta: como as guerras são vencidas na era da globalização?
Movendo exércitos?
Às vezes sim, mas o resultado nem sempre é satisfatório e os custos muitas vezes superam os benefícios. Sobretudo agora, com uma crise que enfraquece (indirectamente) o potencial militar. 
Os custos de qualquer guerra são particularmente elevados.

George Bush conhece bem o assunto. Em 2001 atirou-se contra os Talibãs do Afeganistão e em 2003 contra Saddam no Iraque.
Estamos em 2011, o Iraque está longe de ser normalizado e ganhar no Afeganistão parece cada vez mais uma quimera. Os conflitos ainda existem e a vitória final não está garantida. Se os Estados Unidos tivessem usado outros métodos, provavelmente teriam poupado milhares de vidas e muitos biliões de Dólares.

Barack Obama aprendeu a lição? 
Sim, sem dúvida. O prémio Nobel da Paz tem a mesma prioridade do seu antecessor: exportar a democracia. Na Era da Globalização, regimes decadentes devem ser abatidos porque obsoletos. Basta de ditaduras, espaço para a Democracia, bem mais funcional. 

Com a proliferação dos meios de informação, internet em primeiro lugar, individuar a raiz do mal num regime ditatorial é simples: é o ditador, com o seu aparato de regime.
Com a Democracia, tudo se torna cinzento, indistinto.
Não há comparação.

É isso que aconteceu nas últimas semanas? Talvez.

Teste?

Quem decidiu o primeiro protesto na Tunísia? E no Cairo?
Os estudantes?
Os reformados?
Os pais de família?

Estas pessoas poderiam ter sido varridas com poucos homens bem armados. Mas isso não aconteceu.
Quem legitimou os protestos foi o Exército, que recusou abrir o fogo sobre a multidão.

Mas sabemos também que os vértices militares da Tunísia e do Egipto são firmemente ligados à Administração americana. 
Esta, claro, não é uma prova. E ainda existem dúvidas. Talvez o Exército não tenha disparado porque também farto da subida dos preços da comida.
Talvez.

Mas quem manda agora na Tunísia? Os generais amigos de Ben Ali. Democráticos, sem dúvida, mas sempre generais e amigos de Ben Ali.
Quem manda agora no Egipto? Os generais também. Democráticos, sem dúvida, mas sempre generais nomeados por Mubarak. Os mesmos generais que agora, democraticamente, suspenderam a constituição.

Paranóia? Pode ser.
Mas quem deu o golpe final na Tunísia? Quem encostou Ben Ali entre a espada e a parede? O bom Obama.
E quem fez o mesmo no Egipto? O bom Obama.

Dúvida.
Tunísia, um País pequeno, poucos habitantes, poucos recursos: afinal não passou dum teste?

Ipse dixit.

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