Est…Est…Estagflação!!! Santinho.

Nos Estados Unidos há débeis sinais de retoma.
Na Europa não.
Mas em ambos os casos há algo que começa a crescer e que terá de ser observado nos próximos tempos: a inflação.

Por enquanto não é nada de preocupante. Pelo contrário: um pouco de inflação pode até ser lido como sinal positivo. Mas ao observar a situação de ambos os lados do Atlântico, percebemos que há razões para manter sob controle a inflação.

Nos Estados Unidos, além de um sinal de retoma, o crescimento dos preços pode ser a lógica consequência dos vários Quantitative Easing. Invadir o País de notas sem valor, como os aficionados leitores sabem, significa pôr as bases dum “boom” inflacionário.

Na Europa a situação é um pouco mais complexa: não só não há sinais de retoma, como aparece a inflação. O que preocupa.

Preocupa porque esta situação tem um nome: estagflação.
Acham a palavra feia? Esperem saber de que se trata.

Imaginem de viver num País em crise. Um País qualquer: Portugal, por exemplo.
Não há retoma, a economia não funciona, estamos em plena estagnação. Mau, não é?
Sim, mas pode ser pior: além destes factores negativos, eis que os preços aumentam. Esta é a estagflação.

Deixamos em claro uma coisa: não estamos em estagflação. Mas é uma hipótese que não pode ser afastada.

Deus salve a rainha (e a economia)

Um dos primeiros Países a sofrer a crise começada em 2007 foi a Grã Bretanha.
Londres raramente ocupa as manchetes das “desgraças económicas”, pois a crise, neste aspecto, é gerida com inteligência. Mas a verdade é outra: a Grã Bretanha está em sofrimento, e não pouco.

Antes de qualquer outra moeda, a Esterlina entrou em colapso; o Estado teve que intervir no sector bancário, adquirir bancos, mesmo sem conseguir salva-los todos. Um governo já caiu por causa da crise, o deficit é particularmente elevado e os cortes no social são pesados. Para acabar: o Pib caiu até valores negativos e agora a inflação começa a subir. Estagflação.

É um panorama difícil de gerir: não há crescimento, mas não é possível baixar os juros que, pelo contrário, deveriam subir para conter a inflação.

Complicado? Não.

Importa-se de repetir?

De forma simples: sem crescimento, eu, Estado, posso baixar o custo do dinheiro (baixar os juros), isso é, fazer com que pedir dinheiro emprestado custe menos. Desta forma será mais conveniente pedir empréstimos, investir e a economia pode voltar a crescer.

Mas no caso da inflação (dinheiro que perde valor), eu, Estado, não posso baixar os juros, pois isso baixaria ainda mais o valor do dinheiro.
Pelo contrário: o que tenho que fazer é subir os juros, pois assim o dinheiro custa mais e aumenta o próprio valor.

Em caso de estagflação eu, Estado, posso só chorar as minhas desgraças: o dinheiro perde valor, a economia não funciona, não posso baixar os juros para estimular a economia (pois o valor do dinheiro baixaria ainda mais) e nem posso subir os juros, pois isso tornaria o dinheiro mais caro e para as empresas seria mais difícil pedir empréstimos.

Mas há ainda outra consequência. Se o dinheiro perde valor, eu, Estado, sou obrigado a gastar mais. Com a inflação, como sabemos, o que ontem custava 100 hoje custa 110. Então eu, Estado, para poder fornecer os serviços básicos (e não só) hoje sou obrigado a gastar mais de quanto gastei ontem.

Dúvida: mas na União Europeia existem limites para a dívida, não é?
É. E, apesar da situação híbrida da Grã Bretanha (“sim, estou na União, mas não muito, enfim, não quero o Euro mas respeito os parâmetros de Bruxelas”) não pode ultrapassar este limites.

Por isso a história já está marcada: aumentar os juros para conter a dívida pública.

Quando? Provavelmente entre Abril e Maio, com grande felicidade das empresas inglesas que, em plena recessão, ficarão com empréstimos ainda mais caros.

Não há crise: eis as Mentes Pensantes

E o resto do Velho e Desgraçado Continente?

Como afirmado, a Grã Bretanha foi o primeiro País a sofrer da actual crise neste “bairro”. Por isso pode ser considerada como uma espécie de “ante-visão” do que a seguir pode acontecer no resto da Europa.

“Pode” ser uma ante-visão, não “é de certeza”.

As Mentes Pensantes de Bruxelas têm este privilégio: desfrutar os sinais de Londres para prevenir e combater um cenário de estagflação.

É uma vantagem não indiferente, que com certeza será explorada para evitar consequências piores.

Estamos feitos.

 

Ipse dixit.

5 Replies to “Est…Est…Estagflação!!! Santinho.”

  1. Só não percebi uma coisa, o aumento dos juros também se aplica aos juros da divida de Portugal por exemplo?
    É também por causa do medo de inflação que estes estão descontrolados(cada vez mais altos)?

    Saudações

  2. Olá Carlos!

    De facto, não especifiquei.
    Os juros tratados no artigo são exclusivamente referidos ao crédito bancário, por assim dizer: o que nós ou as empresas pagamos quando pedimos um empréstimo.

    São os juros acerca dos quais o Estado tem um real controle.
    Quanto mais baixos, menos custo tem o dinheiro.

    No caso de dívida do Estado (caso de Portugal), a situação é mais complexa.
    Aqui o Estado tem interesse para que os juros sejam sempre baixos, os mais baixos possível.
    Neste caso, os juros representam os interesses que o mesmo Estado paga sobre o dinheiro pedido em empréstimos nos mercados internacionais.

    E o Estado tem um controle "passivo" destes interesses, no sentido que é obrigado a subi-los quando ninguém quer comprar a própria dívida (caso de Portugal), para que os investidores sejam atraídos.

    Portugal, nesta altura, está a pagar juros elevados: além do 7%. Significa que por cada 100 € obtidos, terá de reembolsar 107 €.
    O Estado bem seria feliz de poder baixar este tipo de juro!

    Espero que assim seja mais claro.

    Um abraço!

  3. Segundo deputados europeus do UKIP ~75% das leis que entram em vigor em Inglaterra saem de Bruxelas, ou seja, nem que no futuro eles fiquem na situação da Bélgica é Bruxelas/Comissão Europeia quem manda!

    Não sei a percentagem em PT mas não me parece que os nossos políticos tenham dizer na situação económica do país, ou seja, toda esta situação vai ser complicada de resolver : pelo menos legalmente (legal não significa necessariamente moralmente correcto, à que ter em conta).

    Estamos (3)dos (1)fo (2)di :DD

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