Santa Muerte |
Já tivemos ocasião de ler acerca do México: um País devastado pela violência, consequência da pobreza e do tráfego da droga.
O leitor pode ler mais acerca do assunto nos artigos Bancos e droga e 12 anos, profissão killer.
Um autêntico massacre do qual os media não falam, a não ser de forma ocasional.
Mas a violência no Centro América não é feita só de homicídios em massa: há também outra violência, feita dum rasto de sangue que não constitui notícia, mas que é a dura realidade do México.
No fundo, sempre o mesmo movente: a droga e os interesses que vão muito além dos “senhores” locais e ultrapassam as fronteiras.
O novo ano apresenta também outra realidade: bastante mórbida, pois é um enredo que mistura religião, tradição, fé, sangue e, obviamente, a droga.
A Senhora das Sombras |
No México não se mata apenas pela posse das plantações da droga, pela rede de venda, pelo controle da exportação: mas também em homenagem a Santa Muerte, protectora dos criminosos.
Pelo menos dois crimes, que ocorreram nos últimos dias na região de Ciudad Juarez, foram feitos de acordo com um ritual vinculado à Santa Muerte.
O da Santa Muerte é um fenómeno que remonta, para alguns, aos Maias do século XVIII.
A cerimonia foi então retomada ao longo do tempo e atraiu “fiéis” em diferentes partes do México e cada vez mais em cidades dos EUA, onde são grandes as comunidades de Mexicanos.
Os seguidores, que se consideram Católicos, muitas vezes pertencem aos sectores mais pobres da sociedade e não faltam os membros do crime organizado e os saqueadores.
Nos anos 90, um conhecido padrinho da droga, Osiel Cárdenas, não escondeu a própria paixão pela Senhora das Sombras e pediu aos seus homens para honra-la.
Mais tarde, em 2005-2007, houve numerosas execuções consideradas como “ofertas” para a Santa, em particular nas zonas de Taumalipas e em Baja California. Assassinatos que, de acordo com aqueles que acreditam nesta religião, devem garantir a “protecção” contra os inimigos e a polícia.
As autoridades procuram combater este fenómeno, juntamente com Jesus Malverde, padroeiro dos bandidos. Mas não é fácil.
Existem santuários, o mais importante em Ciudad Juarez, e pequenos templos onde são colocadas as estátuas que retratam a Morte com uma foice na mão.
Os fiéis depositam garrafas de tequila, maçãs (símbolo do pecado), dinheiro, doces, cigarros e colares. Em seguida, ajoelham-se em oração, às vezes recitam o rosário.
Há também um pequeno manual com os 26 rituais “para conseguir dinheiro, saúde e amor”.
Jesus Malverde |
Há poucos dias, a polícia prendeu David Romo, um ex-oficial, casado e com cinco filhos, que se tinha auto-proclamado “bispo” da seita.
Durante anos, o pastor explorou a fé popular para Santa Muerte, conseguindo uma discreta fortuna e apoios influentes. Mas não tinha sido suficiente e Romo estava também ligado a uma organização de extorsão.
Os números? Pelo menos 5 milhões de fiéis “oficiais”. Mas o total é provavelmente bem superior.
E a captura de Romo é apenas um episódio menor na maior guerra que perturba o México: 15.237 mortes em 2010.
E o ano novo começou com a notícia de decapitações, execuções, emboscadas.
Um dos últimos assassinatos vitimou Susana Chavez, 36 anos, poeta e militante profundamente envolvida na defesa das mulheres em Ciudad Juarez.
Três bandidos, do gang de Los Aztecas, sufocaram a mulher e, em seguida, cortaram-lhe a mão esquerda.
Fonte: Corriere della Sera, Suite 101
Imagens: Corriere della Sera