Direcção: abismo. Com 130 km de autonomia.

Muitos entres os leitores terão observado a capa do último número do National Geographic, a bem conhecida revista internacional que dedicou a noticia em destaque ao total de seres humanos presentes no planeta no final deste anos: 7.000 milhões. Isso é: 7.000.000.000.

Não é muito? Se calhar é.
  
Ma ainda pior é o facto dos homens terem crescido de forma exponencial num prazo de tempo bastante curto.

World Population Prospect

As Nações Unidas, através da Population Division, publica um relatório bienal sobre o estado da população mundial. O último World Population Prospects: The 2008 Revision foi lançado no dia 11 de Março de 2009, e entre o próximo Março deve ser divulgado um novo relatório sobre a 2010.

O relatório de 2008 é o vigésimo primeiro publicado pelas Nações Unidas desde 1950 (nos últimos anos o ritmo desta avaliação é de dois anos) e constitui o ponto de referência internacional acerca das questões da população e a evolução ao longo do tempo.
 
Neste último relatório é confirmada a previsão média, já presente no anterior World Population Prospect, segundo a qual a população mundial chegará a 9 mil milhões de pessoas até 2050. E se já parecem muitos 7 mil milhões, imaginem outros 2 mil milhões de pessoas que circulam sobre a Terra.

Mas atenção, pois a distribuição não será homogénea: a quase totalidade destes novos seres humanos ocupará os Países em desenvolvimento. Pois os outros, os Países já “desenvolvidos”, pouco mudarão neste sentido.

Mais em pormenor: os Países em desenvolvimentos alcançarão os 7,9 mil milhões em 2050 (contra os 5,6 actuais), enquanto nos Países “desenvolvidos” poderão contar com 1,28 mil milhões de indivíduos contra os actuais 1,23. Isso sempre que não comecem a declinar: outra previsão, de facto, fala de 1,15 mil milhões, caso a prevista migração desde os Países em desenvolvimento não venha a concretizar-se. Mas existe também outra previsão, pela qual

Dúvidas? Eis um bom gráfico:

 

(podem clicar para ampliar)
Pois: estamos velhos, cada vez mais. “Estamos” nós, pois os Países em desenvolvimentos são bem mais jovens.

De acordo com as estimativas, a população humana atingiu os primeiros mil milhões em 1800.
Para atingir os segundos, em 1930, foram precisos cerca de 130 anos;
para os terceiros, alcançados em 1960, apenas 30 anos;
para os quartos (1974) 14 anos;
para os quintos (1987) 13 anos;
para os sextos (1999) 12 anos.

Os sétimos é para ser alcançado neste ano de 2011, após 12 anos, e o oitavo em 2024, após 13 anos. O nono será alcançado em 2045 ou em 2050, segundo a tendência da taxa de fecundidade total (este é o número de filhos e/ou filhas que uma mulher tem ao longo do ciclo de reprodução). Hoje, a taxa de fecundidade total no mundo é de 2,5.

Gráfico certo, título errado: população em milhares de milhões

Eu acho este gráfico assustador.

No entanto, há uma convergência por parte da comunidade científica internacional pela qual a população humana poderia chegar aos 9 mil milhões ou mais (alguns dizem até 10) até meados deste século, para depois enfrentar uma estabilização e uma provável diminuição nas últimas décadas do mesmo século.

Insustentável

Os conhecimentos científicos adquiridos até o momento, porém, dizem claramente que o peso e a pressão que estamos a colocar sobre a capacidade de utilização dos recursos renováveis e a capacidade de metabolizar os resíduos sólidos, líquidos e gasosos do nosso metabolismo social é agora claramente demasiado elevado e poderia ameaçar os próprios fundamentos da nossa sobrevivência.

Em palavras mais simples: desfrutamos e poluímos o planeta além dos limites naturalmente permitidos. O que não é novidade: mas os números mostram mais: um crescimento populacional junto a um aumento dos consumos não é sustentável.

Nesta situação, torna-se cada vez mais urgente reflectir e, acima de tudo, agir.

O impacto do homem nos sistemas naturais foi sintetizado numa famosa equação publicada em 1971 pelos estudiosos Paul Ehrlich, ecologista da Universidade de Stanford, e John Holdren, especialista em energia da Universidade da Califórnia em Berkeley e agora chefe científico da Casa Branca.

I = P × A × T
Uma equação? Horror!
Calma, eu também fico assustado perante uma equação: mas esta é simples.

Segundo a equação de Ehrlich e Holdren, o impacto (I) da actividade humana é o produto de três factores: tamanho da população (P), padrão de vida (A) expresso em termos de renda per capita, e tecnologia (T) que indica qual o impacto que produz cada Dólar que gastamos.

“Mas eu não gasto Dólares!” pode dizer o leitor.
Shhhhh, silêncio, é o mesmo.

Ehrlich (sn) e Holdren (dx)

A equação de Ehrlich e Holdren diz claramente que é impossível reduzir o impacto humano sobre os sistemas naturais simplesmente agindo em apenas um dos três factores que a compõem.

Vamos considerar o que aconteceu, tendo em mente esta regra, no caso das emissões globais de dióxido de carbono no passado.

A intensidade de carbono são reduzidas em 0,7% por ano desde 1990, o que representa um bom resultado: bom mas não suficiente, pois no mesmo período a população aumentou 1, 3% e a rentabilidade económica de 1, 4 % (em termos reais).  
A maior eficiência não tem compensado nem o crescimento da população, para não falar dos rendimentos. Pelo contrário, as emissões de dióxido de carbono aumentaram uma média de 1,3 + 1,4-0,7 = 2% ao ano, isso é, quase 40% em de 17 anos.

A mesma regra permite verificar rapidamente se a separação das emissões de dióxido de carbono e do crescimento económico no futuro pode ser viável: é possível continuar a crescer (o mítico “eterno crescimento” dos economista) e, ao mesmo tempo, cuidar do meio ambiente?

De acordo com o Quarto Relatório de Avaliação do IPCC sobre as Mudanças Climáticas, para atingir a meta de estabilização de 450 ppm de dióxido de carbono na composição química da atmosfera, é necessário baixar as emissões globais de dióxido de carbono abaixo das 4.000 milhões de toneladas por ano até 2050 ou pouco depois. Significa uma redução de emissões de 4,9% ao ano, em média, entre agora e 2050.

Mas o rendimento e a população, em vez disso, vai na direcção oposta. Como vimos, de acordo com a estimativa média da ONU, em 2050 haverá 9 mil milhões de pessoas no mundo.

Considerado fixo o cenário actual, a redução das emissões de carbono conseguiriam compensar apenas o crescimento da população, enquanto as emissões de CO2 iriam aumentar segundo a taxa dos rendimentos: 1, 4% ao ano.
Isto significa que até 2050 as emissões seriam maiores do que hoje cerca de 80%.

Para conseguir uma redução de emissões de 4,9% ano após ano, apesar do crescimento populacional de 0,7% e um aumento de 1,4% dos rendimentos, o factor T da equação Ehrlich e Holdren deveria aumentar em 4,9 + 0,7 + 1,4 = 7% ao ano.  

Quase dez vezes a taxa actual.  

Até 2050 deveríamos chegar a ter uma intensidade de carbono por unidade de produção económica de 40 gCO2 / $ (40 gramas de dióxido de carbono por cada Dólar) no máximo, 21 vezes melhor da média global actual.

Mas não há boas notícias? Claro que há.
A boa notícia é que esta é a previsão optimista. Pois há outra, bem pior.

A solução: 130 quilómetros de autonomia

Ao considerar a estimativa máxima da ONU (quase 11 biliões de pessoas), mantendo-se constantes as condições actuais, em 2050 as emissões seriam o dobro. Neste caso, seria obrigatório ir abaixo dos 30 gCO2/$. 

As políticas nacionais e internacionais perseguem esta direcção? Estão realmente a agir sobre os três factores da equação Ehrlich-Holdren?

Obviamente: não.
O crescimento perpetuo é um dogma. Nem pode ser posto em causa.
O mesmo podemos dizer do aumento dos rendimentos (e dos consequentes consumos).

O que as políticas estão a fazer é a compra-venda das emissões de CO2.
Além de tentar convencer as pessoas a gastar 30.000 Euros para um carro eléctrico com pouco mais de 130 quilómetros de autonomia. Um carro amigo do ambiente. Esta afinal é a panaceia contra todos os males.

O carro pode ser até amigo do ambiente: mas é o Homem o pior inimigo.

Ipse dixit.

Fonte: GreenReport

4 Replies to “Direcção: abismo. Com 130 km de autonomia.”

  1. Uma pequena correcção: 1 bilião português corresponde a 10 levantado a 12 e não 10 levantado a 9. No início do artigo, refere 7.000.000.000 como 7 biliões, essa informação é correcta no sistema anglo-saxónico, não no português. Em Portugal são 7 mil milhões.

    Cumprimentos e continuação de bom trabalho neste seu fantástico blog.

    Arcane_delight

  2. 🙁

    Arcane, tem razão: já outro leitor fez notar a mesma coisa acerca dum outro artigo.

    Isso acontece porque muitas vezes traduzo a partir de textos em língua inglesa e, de facto, "billions" não é a mesma coisa do que "bilião".

    Com certeza não será a última vez que faço esta confusão, mas não deixa de ser um erro crasso.

    Aproveito para pedir desculpa ainda uma vez.

    Já são muitas 7.000 mil milhões de pessoas; com sete biliões seria muito mais complicado…

    Obrigado e um abraço!

  3. Olá Osga!

    E muito obrigado pela informação: o vídeo é curto mas bem interessante.

    E não é apenas uma nota de rodapé.
    Cria questões importantes acerca do assunto.

    Vou investigar e ver se descubro algo.

    abraço!

Obrigado por participar na discussão!

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