Profecias para 2011

31 de Dezembro: é altura dum artigo épico.

Um daqueles artigos que deverão guardar religiosamente, para mostrar aos netos. E, com as lágrimas nos olhos, dizer “Eu, netinho meu, eu li estas palavras no dia em que foram publicadas”.

Prontos? Vamos.

Epicamente podemos dizer que o nosso sistema politico-económico atingiu um ponto delicado: um ponto de viragem.
Começou com a queda do Muro de Berlim, continuou com a expansão militar dos Estados Unidos no Médio Oriente, a crise de 2008, a erosão da Zona Euro, e a subida duma nova potência na cena mundial: a China.
Sem esquecer outras realidades quais Índia, Brasil e Rússia, que no futuro poderão ter um papel cada vez mais importante e até decisivo.

Mas voltamos aos Países Ocidentais: após quatro séculos de liderança, Estados Unidos e Europa “sentem” que chegou uma altura em que é preciso avançar com escolhas. A crise começada em 2008 demonstrou não ser uma das tantas crises típicas do sistema capitalista, mas algo de mais profundo.

O fim do capitalismo? Não. Por duas razões, pelo menos.

A primeira é que não há uma alternativa ao capitalismo.
Não podemos acordar um dia e dizer “Tudo bem, basta com o capitalismo, vamos com um novo sistema”. Para acabar com um sistema é preciso optar por um outro: e qual? Este é o problema.
China e Rússia, como já referimos no passado, podem ser o berço dum novo tipo de sociedade.
“Podem”, mas por enquanto não são.

A segunda razão é que o capitalismo já morreu. A versão clássica, pelo menos.
Entrou em coma profundo na década dos anos ’70, enfrentou sem sucesso uma paragem cardíaca nos ’80, expirou nos ’90, hoje é só lembrança.
Na verdade, vivemos numa época não prevista pelos vários Marx e A. Smith: depois do turbo-capitalismo temos o “capitalismo financeiro”, definição incorrecta que todavia bem descreve uma sociedade gerida por corporações não de produção mas de exploração financeira.
Acho que um bom termo seria “capitalismo parasitário” .

Meios de produção? Aonde? Na China talvez, não aqui. Onde está o capitalista que hoje emprega a plusvalença para adquirir novos meios de produção? Onde estão os bancos que emprestam dinheiro para a aquisição de tais meios?
Hoje quem manda é a finança: o dinheiro é obtido a partir do dinheiro, sem outros meios.
Talvez Marx tivesse intuído tal cenário, mas não aprofundou o assunto convencido de que a classe operária teria abatido o sistema antes deste ponto. Mas não aconteceu.

Paralelamente nos Estados Unidos e na Europa assistimos ao desaparecimento da Esquerda.
Na terra do Tio Sam, Obama acabou o namoro com os eleitores: a sua popularidade entre o povo atingiu níveis ínfimos e, salvo milagres da última hora, os Republicanos irão ganhar as próximas eleições. Reaparecerão elementos quais Sarah Palin. Mais do que com o 2012, eu ficaria preocupado com isso.

Na Europa a situação é ainda mais complexa. Os partidos de centro-esquerda ou enterraram-se (caso da Italia) ou estão a tentar faze-lo (Portugal, Espanha, Grécia), com um certo sucesso, diga-se. A técnica deste suicídio colectivo foi simples mas eficaz: adoptar politicas de direita.

Um extraterrestre que chegasse agora numa capital europeia qualquer poderia observar cortes salariais, nos serviços, na educação, nas reformas, dinheiro público utilizado para salvar bancos privados. E seria complicado convencer o alienígena que está num Pais governado pela Esquerda.

Não deixa de ser irónico: a Esquerda tradicionalmente ganhou com as crises do capitalismo. Mas não desta vez.

Entretanto na Europa está em curso uma interessante experiência: União Europeia e Fundo Monetário Internacional tentam transformar um Estado soberano (a Grécia) em…pois: em quê?
Alguém consegue ver nisso uma mão invisível que tornará o Ocidente numa Nova Ordem. Possível.
Mas não podemos afastar uma outra hipótese: que não haja um verdadeiro plano. E aqui cada um está livre de escolher o cenário que menos assusta.

Para completar, e ficando ainda na Europa, temos uma União Europeia que faz lembrar aqueles casais que gostariam de divorciar mas não avançam com o medo de perturbar o filho. Com a única diferença que neste caso foi o filho, o Euro, que mandou para o ar a família toda.

Até aqui o resumo da situação.
Podemos avançar com umas previsões?
Afinal está a acabar o ano, é nesta altura que os vários astrólogos avançam com os vaticínios para os próximos 12 meses.
Por isso vamos com as profecias do Mestre Incorrecto.

As profecias
À noite, entrego-me a estudos secretos.
Só, tomo assento na frente do ecrã.
A minúscula chama surge da solidão,
Não há crise, é o cigarro.
O rato colocado no meio da mão
O disco rígido trabalha e procura.
Através dos rato o internet começa. A minha voz treme.
Mudar de microfone. Trocar de altifalantes.

(livre interpretação das quadras 1 e 2 de Nostradamus)

Janeiro: frio.
Nos restantes meses: frio mas calor também.
(para o hemisfério sul: é só inverter)

Bom, até aqui as previsões mais simples. Agora passamos à economia e à politica.

Portugal

Portugal: Benfica campeão e FMI em Lisboa. Quando? O Benfica em Maio, o FMI antes: Março parece-me um bom mês, chegam as andorinhas e pode chegar também a “ajuda” internacional.

Espanha e Italia

União Europeia: após a venda de Portugal, o sucessivo alvo dos “investidores” estrangeiros será a Espanha. E aqui a coisa fica divertida, pois salvar Madrid custa uma enormidade.
Mas, sobretudo, pode ser um resgate sem utilidade: após Madrid seria a vez da Italia. E ninguém tem o dinheiro para salvar Roma, que continua a representar a terceira economia europeia.

As Duas Europas

Por isso algo terá que ser feito. Criação de duas Europas? Uma rica, com Alemanha, Áustria, Holanda, Finlândia, e uma pobre? Parece ser a única solução. Que um País possa sair sozinho da União está fora de discussão: seria como entrar na gaiola dos leões e engolir a chave.
Por isso a ideia das duas Europas está a ganhar força.

Esperamos que a parte rica fique com as Mentes Pensantes de Bruxelas também.

Estados Unidos

O Quantitative Easing 2 ainda não deu resultados. Talvez seja cedo, mas a economia não consegue reabsorver os milhões de desempregados, os consumos não partem. A única coisa que funciona é a Bolsa de Wall Street, que cortou definitivamente qualquer laço com a realidade.

Seja como for, seria preciso um evento “forte” que pudesse obrigar as empresas a funcionar. Pena ter desperdiçado as Torres Gémeas numa altura ainda boa do ponto de vista económico, agora dariam jeito.
Mas há sempre novas possibilidades. O Irão, por exemplo.

 Irão

O Irão é como o boneco do luna-park: sabemos que será atingido, só não sabemos quando. 2011 será o ano certo? Acho que sim.
Uma guerra daria imenso jeito aos Estados Unidos: relançamento da economia, satisfação do aliado israelita, ataque à esfera de influência russa.
Único problema: o Irão não é o Iraque. Por isso inútil ficar à espera duma invasão, seria só um massacre. E, além disso, os EUA não têm dinheiro para isso agora. Melhor esperar para uma série de ataques cirúrgicos, aqueles que matam centenas de civis e são vendidos como estrondosos sucessos. Servem sempre para manter a tensão alta e distrair o povo.

Coreia

Onde não estou a ver uma guerra é na Coreia. Se Teheran pode ser complicada, Pyongyang pode ser uma catástrofe. E não é só por uma questão da capacidade militar norte-coreana: o verdadeiro problema é que atrás de Kim Sung II (ou do filho dele, em caso de sucessão) está a China.

Se há um País que Washington gostaria de rasgar do mapa, bom, este não seria o Irão, nem a Coreia do Norte: seria a China. Mas a China é a China. E está tudo dito.

China

Os analistas ocidentais estão a prever todas as desgraças possíveis e imagináveis para a China: uma enorme bolha imobiliária, o perigo inflação. Mas há uma diferença entre nós e os Chineses: nós olhamos para o calendário para saber que dia será amanhã, os Chineses olham para saber que dia será daqui a um ano.

E se nós, blogueiros de tanga, podemos prever estas desgraças agora, é provável que os Chineses estejam a implementar já as contra-medidas.

A minha ideia é que a China veio para ficar. Ao longo de muito, muito tempo. Na minha óptica, por exemplo, será Pequim a resolver o problema Coreia. Por enquanto Pyongyang dá jeito, não permite a avançada da economia pro-EUA na península coreana. Mas cedo ou tarde também Seul terá de perceber que Washington “já foi”. E a Coreia do Norte, nesta altura inútil, deixará de ser um problema e de existir.

Brasil

Pois, o Brasil.
Não gosto da Dilma. Posso estar enganado, mas desconfio dela. Aliás: espero estar enganado, pois a minha esperança (e meu voto também) é que a Rousseff possa estar pelo menos à mesma altura de Lula.

O trabalho desenvolvido pelo Presidente que hoje acaba o mandato foi excepcional. Transformou o País e deu-lhe uma dimensão internacional. Hoje em dia, o Brasil é incontestavelmente o País-guia da América Latina e pode propor-se como jogador essencial no tabuleiro mundial.

Os detractores afirmam que foi uma evolução natural e que qualquer outra pessoa poderia ter feito o mesmo nesta altura. É uma observação idiota: é precisa a pessoa certa, no lugar certo, na altura certa. Lula foi tudo isso, e os resultados estão à vista.

O Brasil arrisca tornar-se o terceiro pólo da geopolítica mundial: além da China e da Rússia no bloco euro-asiático, Brasília pode ser o novo modelo de referência na América do Sul. E com a progressiva mas inevitável queda dos Estados Unidos, quem sabe. Mas isso já seria além de 2011.

Economia

Para evitar que a próxima crise chegue ainda mais depressa e assegurar assim um período de prosperidade, este “capitalismo parasitário” deveria modificar alguns dos próprios aspectos.

Irá ser feito? Nem por isso.

O capitalismo parasitário representa uma das últimas fases, talvez a última da involução.
O economista espanhol Nuno Becerra prevê a queda do capitalismo por volta do ano 2050. Se isso for verdade, é provável que a actual crise não seja a final mas uma das derradeiras. Por isso podemos esperar um 2011 com algumas melhorias: uma lenta retoma, muito lenta.

Depois, claro, é preciso distinguir.
Em Portugal, por exemplo, estamos à espera duma recessão. Em outros Países, tais como Irlanda, Espanha, Italia, Bélgica e talvez França, é difícil que a recuperação possa levar a resultados estrondosos: corta salários, corta reformas, e quem gasta?

E a Alemanha? A situação de Berlim é curiosa: dum lado é a única economia que actualmente funciona no continente. Mas deve esperar que os Países “atrasados” recuperem e depressa também, pois os bancos alemães estão muitos expostos em relação às dívidas públicas dos partners europeus.

Isso pode explicar, talvez, a atitude “esquizofrénica” de Angela Merkel, que dum lado demonstra estar preocupada com os destinos da União e doutro lado tem que responder às perspectivas dos concidadãos.
O que torna a ideia das “Duas Europas” ainda mais próxima.

Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos observam e esperam. Se o projecto da dupla União Europeia se concretizar, os bancos deverão encontrar uma nova táctica para atacar as economias europeias: ter “invadido” só três ou quatro Países (Grécia, Irlanda, Portugal e talvez Espanha) com o disfarce do FMI não fornece suficiente vantagem a um Dólar que é obrigado a defender-se também da moeda chinesa.

E esta vantagem é fundamental: a sobrevivência pertencerá a quem conseguir recolher a maior quantia de capitais estrangeiros. Nessa altura o Euro está mal, mas também as perspectivas do Dólar não são boas. Quando Washington perceber que um bom banqueiro não é sinónimo de bom economista, talvez a situação melhore. No entanto, a Federal Reserve continua na posse dos bancos privados.

Sociedade

Aqui as previsões para 2011 são simples: na Europa e nos Estados Unidos, aumento da criminalidade. Normal, há mais pobreza.
Os States terão que enfrentar a bancarrota de muitos condados. A Europa a bancarrota das famílias. E greves. E protestos. Mas isso já começou, portanto como profecia não é grande coisa.

Politica

Nesta área é ainda mais fácil: os rostos serão os do costume. São sempre os do costume.

Mais em geral: em 2011 continuará a faltar a politica, sobretudo porque faltam políticos. Os que temos são burocratas ao serviço dos interesses financeiros, desprovidos duma visão de médio-longo prazo. 

Terrorismo

Bin Laden aparecerá em dois vídeos.

No primeiro será alto, loiro, com um brinco e sem barba: amaldiçoará os Estados Unidos, ameaçará Israel e admitirá ter vendido armas atómicas à Coreia do Norte, Irão e Yemen.

No segundo vídeo será mais baixo, gordo e sem um olho: explicará porque, mesmo tendo tantas armas atómicas, os terroristas nunca as utilizam. Infelizmente o áudio estará estragado, assim permanecerá a dúvida.
Ambos os vídeos serão declarados autênticos pela agência americana Site Intelligence Group.

Vários

Outras previsões:

  1. cada leitor festejará apenas um aniversário de nascimento
  2. haverá terramotos
  3. cairá um avião
  4. após 12 meses o ano 2011 acabará.
  5. loto: 13, 44, 59, 77, 89

Por acaso, estas últimas são previsões que deverão bater mais certo.
As anteriores: não sei. Apenas ideias.

É tudo?
Epicamente, acho que sim.

Feliz Ano Novo para todos.

Ipse dixit.

4 Replies to “Profecias para 2011”

  1. Pois, chegaram os reforços.

    Um País de pouco mais de um milhão de habitantes, com o problema da deflação, um PIB (em queda) inferior ao de Trinidad e Tobago, um salário mínimo de 270 Euros.

    A Europa está salva. Para uma definitiva retoma agora é só esperar na entrada da Albânia.

  2. KKKKK…. Muito boas previsões!

    Até agora realmente caíram aviões, os EUA está fazendo ataques cirúrgicos e bizarramente apareceu uma foto do Osama morto sem um olho… (Mas era falsa)… Depois disso já foram vinculados 2 supostos vídeos inéditos dele…KKKKKKK (mesmo não sendo bem isso que vc quis dizer)…Terremotos não estão faltando… Eu realmente só fiz um aniversário… Tá fazendo o maior frio aki no inverno…Mas a Loto até agora furou!!!

    Mas ainda é maio! Já imprimi tua matéria e vou colar na geladeira!

    Faz um balanço no final do ano e previsões pra 2012!!!Aí!Eu vou rir demais com as teorias do fim dos tempos!!!

Obrigado por participar na discussão!

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