A escolha da Índia – Parte I

A índia, um País enorme, com mais de 1.000.000.000 de habitantes.
Tão grande que muitas vezes é referido como Sub-Continente Indiano.

Nesta altura de deslocação geopolítica, é normal falar da China qual novo pólo das decisões políticas e económicas mundiais.
Mas na mesma região existe outro País que tem algo para dizer: a Índia, de facto, não pode ser esquecida.

Neste artigo de Daniele Grassi, especialista em relacionamentos internacionais e actual pesquisador no Strategic Studies Institute de Islamabad, um panorama da actual situação e as perspectivas futuras.

Boa leitura.

Uma nova geopolítica indiana?

Uma das maiores novidades no panorama geopolítico das duas últimas décadas é representada pela Índia.

Apesar da ascensão da China ter tido o efeito de ofuscar todas as outras realidades, não podemos negligenciar o caminho que levou Nova Delhi a actuar como um das principais economias globais, em termos absolutos.

Claro, os números ajudam, e não pouco. De facto a Índia, com 1,2 bilião de pessoas, é o País mais populoso do mundo e isso faz com que cada seu passo tenha repercussões sobre grande parte do globo. Não devemos ignorar o facto da taxa de crescimento económico anual, desde 1997, ser de cerca de 7% e está atrás apenas da China.

Contudo, a Índia continua a ser o País com o maior número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, ou seja, cerca de 25% de sua população.

Portanto, serão precisas taxas de crescimento muito alta ao longo de pelo menos mais duas décadas,para que a condição da população mais desfavorecida possa melhorar.

A política externa da Índia desde a independência

O caminho do crescimento na Índia começou no início dos anos noventa, quando procedeu-se à liberalização de muitos sectores da economia e o País abriu-se perante a perspectiva duma economia de mercado.

A transformação económica avançou de mãos dadas com uma mudança radical na política externa.

A ideia de Nehru [Pandit Jawaharlal Nehru, 1889-1964, Primo Ministro Indiano entre 1947 e 1964, NDT} era de dar vida a um grande País que praticasse uma política de coexistência pacífica com os outros actores regionais e globais.

O seu profundo idealismo entrou cedo em conflito com uma realidade que não deixou espaço para desejos de neutralidade e queria posições claras.

As tensões com o Paquistão sobre o controle do território do principado de Caxemira resultaram em vários conflitos armados, o primeiro dos quais no primeiro ano da independência dos dois Países, em 1947.

Isso, todavia, não foi suficiente para afastar Nehru da intenção de adoptar um comportamento de não-alinhamento e orientar outros Países que quisessem seguir o mesmo caminho.

Nos primeiros anos da própria existência, Nova Deli tentou romper com o confronto bipolar [EUA/URSS, NDT] e aliou-se com Pequim, mas essa tentativa resultou numa das maiores humilhações da história indiana: o derrota contra a China em 1962.

O resultado foi um substancial isolamento que a Índia tentou solucionar com uma progressiva aproximação às posições do bloco soviético.

Esta política provocou prejuízos em termos económicos e geopolíticos. O Paquistão aproveitou esta situação para apresentar-se como um importante aliado dos EUA na região da Ásia do Sul, recebendo enormes benefícios em termos de recursos financeiros e militares.

Islamabad também tornou-se um mediador entre Washington e Pequim, e foi arquitecto da reunião que teve lugar em 1972 entre Nixon e Mao Zedong, que pôs fim à política dos EUA das “duas Chinas”.

Tudo isso resultou num isolamento ainda mais acentuado da Índia, que só terminará no início dos anos noventa.

O eixo Washington-Nova Delhi-Tel Aviv

O colapso da União Soviética e uma profunda crise económica empurraram Nova Deli a procurar o Fundo Monetário Internacional para obter um empréstimo, necessário para superar o momento difícil que estava passando. Em troca, a Índia foi convidada a liberalizar a própria economia e abrir aos mercados internacionais.

Não é uma coincidência que nesses anos a Emenda Pressler pus fim à ajuda económica que Washington tinha prometido ao Paquistão, quebrando uma colaboração que se tinha intensificado durante a invasão soviética do Afeganistão.

Os Estados Unidos decidiram fazer da Índia o maior aliado no Sudeste Asiático e isso, inevitavelmente, teve um impacto negativo sobre as relações com Islamabad, um rival histórico de Nova Déli.

A política externa indiana, desde então, tem sido caracterizada por laços estreitos com Washington, que tem influenciado fortemente a orientação e que continua a faze-lo.

A Índia é, com o Japão e outros Países da região asiática, uma das armas utilizadas pelos Estados Unidos para conter a ascensão da China. A meta dos EUA é, na verdade, evitar o crescimento de Pequim no papel de líder indiscutível da área e Nova Deli é um aliado-chave para o sucesso desta estratégia.

A crescente cooperação entre Índia e Israel está incluído no projecto de contenção da China e resultou, sobretudo nos últimos anos, numa ligação muito forte especialmente do ponto de vista militar.

Nova Deli e Tel Aviv estão de fato empenhadas em actividades conjuntas de combate ao terrorismo e a Índia é hoje o maior mercado para o armamento produzido em Israel.

Tudo isso tem repercussões importantes na geopolítica e o eixo Washington/Nova Deli/Tel Aviv é uma realidade que pode influenciar a dinâmica interna da Ásia e do Médio Oriente, produzindo inevitáveis repercussões na política global.

Acaba aqui a primeira parte. A segunda? Neste link.

Fonte: Eurasia
Tradução: Informação Incorrecta

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.