Segunda parte do artigo “Técnicas de manipulação mental”.
É um artigo comprido (provavelmente serão necessárias 4 parte no total), mas vale bem a pena.
Para fazer lançar luz sobre a manipulação mental e como esta é aplicada, é necessário ter conhecimento das principais funções do nosso cérebro.
O cérebro é formado por dois hemisférios: direito e esquerdo.
Ambos processam e analisam os mesmos dados, a diferença é que o hemisfério esquerdo processa de forma linear ou sequencial, o direito processa os dados simultaneamente. Não só o direito fica calado (o centro da linguagem é para a esquerda) e deve contar com o hemisfério esquerdo para obter explicações racionadas, com vista às decisões a serem tomadas em função do material (imagens, sons, etc.) processado a cada momento; praticamente tudo tem de passar pela esquerda.
Crescemos com a convicção de terem nascidos com um certo número de neurónios e que estes morrem lentamente sem voltar a nascer. As últimas descobertas da neurociência, pelo contrário, afirmam que os neurónios estão continuamente a formar novas sinapses, dissolvem as sinapses velhas, e de forma modesta, no cérebro são formados novos neurónios, especialmente em certas partes do cérebro.
Assim, aprender coisas novas, não só treina o cérebro, mas também cria e desenvolve zonas cerebrais. Por outro lado, ignorar essas faculdades, é produzido o declínio.
O nosso cérebro é capaz de processar uma quantidade incrível de informação: mais de 400 biliões de bits por segundo, mas estamos conscientes de apenas 200 bits.
Na prática, estamos cientes de meio bilionésimo do que acontece e chega ao nosso cérebro!
Deste ponto de vista, podemos, com algum esforço e empenho, exercitar e cultivar a capacidade intrínseca de estar conscientes em todos os momentos da vida, ou, com preguiça, deixar que o encéfalo fique atrofiado.
Tudo isso porque uma população de indivíduos hetero-dirigidos (atrofiados no cérebro e na consciência) é muito mais manejável do que uma população de pessoas auto-dirigidas.
Outra importante coisa necessária para entender o quadro geral é que a maioria das coisas que fazemos nas nossas vidas, de manhã à noite, são realizadas inconscientemente. Ao faze-las, não só não estamos conscientes de ser conscientes, mas não estamos sequer cientes de faze-las.
Este processo incrível será esclarecido com o exemplo das compras nos supermercados.
Em resumo: o nosso inconsciente grava e elabora muitos mais dados dos pelos quais estamos cientes; o processo de elaboração verbal, de raciocínio, de coordenação motora, sensorial enquanto estamos a falar (ou escrever ou conduzir ou tocar piano ou jogar futebol) não só é totalmente ou quase totalmente subconsciente, mas também é imensamente mais rápido da consciência.
Se é verdade, como é verdade, que noventa por cento do que fazemos é tratado de modo inconsciente, pôr as “mãos” nesta parte escura da nossa mente significaria ter um enorme poder de controle …
Outra estratégia, intimamente ligada à questão do controle, é a enorme campanha mediática que infunde um sentimento de impotência. Uma verdadeira operação planeada que, por um lado, está a habituar à sensação de sentir-se impotente, e do outro dessensibiliza a violência, desactivando qualquer reactividade emocional.
Como tudo isso é implementado?
Com o bombardeio de imagens e notícias violentas (assassinatos, massacres, destruição, brutalidade), sem nenhuma intervenção e/ou mudança para acabar com isso.
Porquê?
Uma vez habituados a aceitar a ilegalidade, a deterioração, o roubo, o crime, a insegurança do território, as gangues, a imigração selvagem e assim por diante, vistas como coisas inevitáveis e sem solução, ao mesmo tempo não temos espaço para pensar e reflectir, pois somos alvos de intermináveis tarefas extenuantes: tributação, subsídios, impostos, taxas, imposto de selo, revisão da caldeira, do carro, etc. ao ponto que não é possível para nós entender o que realmente está a acontecer e, em particular, não podemos organizar-nos em conformidade.
A sensação de impotência, por meio da comunicação de massa, está a afectar a sociedade ocidental, de maneira capilar, as pessoas já estão completamente apáticas e sem vontade de mudar.
Porque devemos mudar nós mesmos e as nossas vidas se não vemos a luz, se as expectativas são totalmente pretas?
Isso, no entanto, congela e paralisa as consciências de milhões de pessoas, totalmente à mercê do Sistema.
Já vimos anteriormente que a escola está estruturada para condicionar, socialmente e culturalmente as crianças.
Temos de perceber que já na primeira infância são criadas falsas crenças acerca da realidade, os aspectos que mais nos afectam (relações com os Pais, as figuras de poder das quais dependemos).
Do ponto de vista psicológico, estes são sistemas falsos, censurados, distorcidos, não conformes com a própria realidade, com o fim adaptativo de evitar o sofrimento e conflitos com certos aspectos da realidade, fazendo-nos viver numa realidade subjectiva alterada, tornada compatível com as necessidades e as defesas da nossa psique e com a exigência de manter o acordo com as pessoas das quais dependemos.
Algumas práticas de manipulação, envolvem (se bem projectadas, é claro) estes mecanismos, as distorções e remoções que são os seus produtos e, especialmente, os campos do medo, da agressividade e do sexo.
Os manipuladores (que podem ser religiões, seitas, marketing e política) constroem com isso o adepto, o cidadão, o consumidor, o trabalhador.
Após as figuras do poder dos pais, sucedem ou são associadas as políticas, governamentais, judiciais, mas também os “testemunhos” da publicidade!
A publicidade comercial nasce nos Estados Unidos na década de 20 para produzir, dirigir, apoiar a procura de bens e serviços produzidos em massa pelas fábricas.
Em seguida, desde os meados da década de 50, a produção de bens excede em muito a procura, pelo que a publicidade começou a induzir as pessoas a massificar o consumo, criando verdadeiras necessidades.
Tudo isso para vender produtos.
Mais tarde, chegou a altura em que a produção excede o poder de compra, o rendimento. Esta situação é extremamente grave, do ponto de vista social e económico, porque os investimentos feitos para a produção estão em risco, porque a produção não vai ser comprada.
Daí o risco dum colapso sistémico e, portanto, o nascimento das formas para expandir o poder de compra, ampliando o acesso aos cartões de débito e crédito!
Estamos a falar de publicidade personalizada, bem representada no filme de ficção científica “Minority Report”.
O marketing publicitário, seja dum medicamento ou dum alimento, é sem dúvida o mais implacável e certamente mais científico sistema de condicionamento mental.
O objetivo é nos convencer a comprar um produto.
Para a análise das reações e o estudo da psique, além dos testes verbais, o marketing de hoje tem um rico arsenal de ferramentas biofísicas (frequência e amplitude das ondas corticais, frequência cardíaca e respiratória, o consumo de oxigênio, a resistência da pele, tônus muscular, vasoconstrição periférica, etc.) capaz de medir o nível de excitação e atenção do sujeito.
É comum pensar aos comerciais, da televisão ou dos jornais, como um clássico anúncio duma empresa.
Nada de mais errado.
Cada palavra, cor, carácter, frase, imagem, logótipo, pessoa usada, aos nossos olhos destreinados pode parecer acidental, mas não aos neurocientistas.
Esses especialistas (psicólogos, psiquiatras, sociólogos, neuro-psiquiatras, etc.), muito bem pagos, não apenas criam publicidade, mas verdadeiros condicionamentos capazes de produzir determinadas associações ou humores no espírito dos destinatários, ou seja, nós consumidores.
Frequentemente nas imagens publicitárias ou de propaganda são colocados “embeds“, isso é, palavras ou imagens evocativas ocultas, não, óbvias, não captados pela mente consciente, mas considerados captáveis pelo inconsciente.
Tudo isso, por um lado, para facilitar as decisões de compra e, por outro, para desviar e portanto melhor controlar as massas. Interferir na sexualidade das pessoas (como em muitas religiões) é uma maneira segura e eficaz de agir sobre as camadas profundas da psique!
Se isso parece impossível, as palavras do Dr. Lechner sobre o que fazem alguns psicólogos e psiquiatras no contexto do alcoolismo, podem parecer ficção científica.
Sob o pretexto de ajudá-los a libertar-se da dependência do álcool, colectam informações acerca de pesadelos e alucinações que os pacientes experimentam, em particular quando param de tomar álcool, e as usam para planear a publicidade do álcool, com o pressuposto criminoso de evocar através das imagens angustiantes a necessidade de ingerir álcool!
“Estás satisfeito? Passa a Quattro Salti“, diz a pubicidade televisiva.
Traduzido: “Concordas com a limitação às tuas aspirações de comer bem? És um idiota a fazer isso, porque podes satisfazer-las, livre dos limites, ao passar para Quattro Salti!“.
A publicidade certamente não quer aumentar a nossa liberdade, mas restringi-la, levando a comprar um produto. Fazer pensar ao sujeito que a decisão deve ser dele e só dele, é um truque eficaz para predispor a decidir como desejamos que decida, no entanto deixando a ilusão da liberdade.
A neurociência sabe que os homens não estão conscientes do porque eles fazem muito do que fazem. É por isso que as pessoas, achando o contrário, respondem ao estímulo condicionado do símbolo e não à qualidade real.
A publicidade, a técnica motivacional enfoca a manipulação dos símbolos.
Os consumidores são conquistados por sugestões ilógicas, não pela qualidade ou eficácia do produto, e essa é a lógica de marcas (produtos, muitas vezes medíocre, mas vendidos a preços elevados, por força duma marca-símbolo, exclusiva e só por alguns).