Supermercados: o preço não é justo

O da moderna cadeia alimentar é um discurso delicado e muito complexo.

Os problemas dos agricultores, a ciência genética e as sementes, as absurdas regras impostas pelos governos, as condições de venda, a formação dos preços: são todos elementos que incidem directamente na possibilidade de encontrar alimentos, na qualidade e nos preços deles.

Esther Vivas, Autora do seguinte artigo, é membro da direcção da Izquierda Anticapitalista – Revolta Global Espanha.

Nota-se a origem “revolucionaria” de Esther pelo número de vezes em que utiliza o termo “capitalista”.

O artigo tem pontos de reflexão interessantes, mas acaba por desapontar.
O título parece pôr em relação os supermercados com a crise mundial dos alimentos: mas acaba com o dizer que o arroz foi racionado e que a venda de electrodomésticos aumentou.

Pouco para um assunto desta importância. 

Os supermercados e a crise mundial de alimentos

A crise alimentar tem deixado milhões de pessoas sem comida em todo o mundo. Aos 850 milhões de pessoas que sofrem a fome, o Banco Mundial adicionou mais 100 milhões como consequência da crise actual. Este “tsunami” da fome não tem nada de natural, pelo contrário, é o resultado das políticas neoliberais impostas por instituições internacionais ao longo de décadas. Hoje o problema não é a falta de alimentos em quantidade suficiente, mas a impossibilidade de ter acesso aos alimentos por causa dos preços altos.

Esta crise alimentar deixa para trás uma longa lista de vencedores e perdedores. 

Entre os mais atingidos encontramos as mulheres, as crianças, os agricultores expulsos das próprias terras, os pobres das zonas urbanas. Em última análise, aqueles que constituem a massa dos oprimidos do sistema capitalista. 

Entre os vencedores encontramos as indústrias multinacionais de alimentos que controlam desde o início até ao fim toda a cadeia de produção, transformação e comercialização dos alimentos. Portanto, se a crise alimentar afecta principalmente os Países do Sul, as empresas multinacionais observam um forte crescimento dos próprios lucros.

Monopólio

A cadeia agro-alimentar é controlada em cada etapa (sementes, fertilizantes, processamento, distribuição, etc) por empresas multinacionais que acumulam receitas elevadas graças a um modelo agro-industrial liberalizado e não regulamentado. Um sistema que conta com o apoio explícito das elites políticas e das instituições internacionais que consideram os lucros dessas empresas mais importantes da satisfação das necessidades nutricionais das pessoas e do respeito pelo ambiente.

A grande distribuição é caracterizada por um elevado grau de concentração capitalista, como em outras áreas. 

Na Europa, entre 1987 e 2005, a quota de mercado das 10 maiores multinacionais da distribuição representava 45% do total e deverá atingir 75% durante os próximos 10-15 anos. Em Países como a Suécia, três cadeias de supermercados controlam cerca de 91% do mercado e na Dinamarca, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Grã-Bretanha e Argentina um punhado de empresas dominam entre 45 e 60% do mercado.

As grandes fusões são normais neste sector. Desta forma, as grandes multinacionais nos Países ocidentais absorvem as cadeias menores em todo o mundo, e conseguem uma expansão de nível mundial, particularmente nos Países do Sul

Esta monopolização garante um controle importante do que nós consumimos, preços, origem e como os produtos são feitos, com quais ingredientes etc. Em 2006, a segunda maior empresa mundial em volume de vendas foi Wal-Mart e entre os top 50 mundiais destas empresas também aparecem Carrefour, Tesco, Kroger, Royal Ahold e Costco.

A nossa alimentação depende cada dia mais dos interesses das grandes cadeias de venda a retalho e o poder destas destaca-se dramaticamente numa situação de crise.

De facto, em Abril de 2008, perante a crise global de alimentos, as duas maiores cadeias de supermercados nos Estados Unidos, Sam’s Club (propriedade da Wal-Mart) e Costco, decidiram racionar as vendas de arroz para inflacionar os preços. Sam’s Club tem limitado a venda de arroz em só três variedades (basmati, jasmim e de grãos longos) bem como a venda de sacos de arroz, passados desde 9 kg para 4 kg por cliente.

No Costco a venda de farinha e arroz tem sido limitada. No Reino Unido, Tilda (o principal importador de arroz basmati do mundo) também estabeleceu restrições sobre as vendas.

Com estas medidas ganhou destaque a capacidade das grandes cadeias de influenciar a compra e venda de determinados produtos, para limitar a distribuição e influenciar a formação dos preços. Um facto que não ocorria nos Estados Unidos desde a Segunda Guerra, quando as restrições foram impostas sobre o petróleo, a borracha e as lâmpadas, mas não nos alimentos.

Mudanças nos hábitos

Outra dinâmica que tem sido destacada pela crise alimentar é a mudança dos hábitos no momento da compra. Perante a necessidade dos clientes de apertar o cinto e ir em lojas com preços mais baixos, as cadeias de desconto foram bem sucedidas.

Na Itália, Grã-Bretanha, Espanha, Portugal e França esses supermercados têm visto aumentar as vendas de 9% para 13% no primeiro trimestre de 2008 face ao ano anterior.

Outro factor que indica as tendências de mudança é o aumento das vendas dos electrodomésticos, cujo total vendido representa, de acordo com os números do primeiro trimestre de 2008, em Grã-Bretanha 43,7% das vendas totais, 32,8% em Espanha, 31,6% na Alemanha e em Portugal e 30% na França.

São estes aparelhos que oferecem as maiores receitas para as grandes cadeias de distribuição e permitem uma maior fidelização dos clientes.

No entanto, além do papel que a grande distribuição pode ter numa situação de crise (com a restrição da venda de determinados produtos, mudanças nos hábitos de compras, etc), este modelo de distribuição exerce um controlo apertado que tem um impacto negativo sobre as várias figuram envolvidas na cadeia de distribuição alimentar: produtores, fornecedores, consumidores, trabalhadores, etc. 

De facto, o surgimento dos supermercados, centros comerciais, cadeias de desconto etc. durante o século XX, contribuiu para a comercialização dos nossos hábitos alimentares e a submissão da agricultura e da alimentação à lógica do capital e do mercado.

Olha a novidade…

Ipse dixit.

Fonte: Mondialisation, via ComeDonChichote
Tradução portuguesa: Informação Incorrecta

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