Maré negra: Os erros de Obama

Uma notícia emocionante, sem dúvida, pois alguns cientistas ingleses resolveram um dos maiores enigmas da humanidade: veio primeiro o ovo ou a galinha?  
Ao estudar uma proteína da casca dos ovos, os pesquisadores chegaram à conclusão de que foi a galinha a criar o ovo, e não vice-versa.
Fantástica notícias das agências de imprensa. Mas então donde veio a galinha?

Talvez não teria sido má ideia dedicar menos espaço às galinhas e um pouco mais às sondagens do Washington Post.

Na Terça-feira o diário publicou uma sondagem, segundo a qual a maioria dos Americanos perdeu a confiança no presidente Barack Obama. Sei em cada dez eleitores não acreditam que o líder conseguirá adoptar as medidas mais adequadas para o País.

Uma altura delicada para o Nobel da Paz. A crise económica tem com certeza um peso decisivo nos sentimentos do eleitorado, mas a gestão do affaire Golfo do México também minou a imagem do homem forte da Casa Branca.

As praias da Louisiana, do Mississippi, do Alabama, da Florida não são areais quaisquer: são “as” praias para milhões de Americanos. E agora, no imaginário colectivo e não só, as longas extensões de areia branca tornaram-se uma penosa via crucis feita de negras dejecções oleosas.

Houve falhas da Administração? Sim, houve.
Eis uma resumida cronica dos principais acontecimentos que envolveram o a Deepwater Horizon dum lado e o presidente dos Estados Unidos do outro.

20 de Abril

Poucas horas depois da explosão na plataforma Deepwater Horizonte, gerida pelo trio BP, Halliburton e Transoceânica, os cientistas da National Oceanic and Athmospheric Administration (Noaa) falam da “maré negra do século” e estimam que, na pior das hipóteses, o ritmo de derramamento de petróleo no mar pode chegar a 110 mil barris por dia.

A Casa Branca prefere os dados da BP, apenas 1.000 barris por dia. Sob a pressão dos media após a BP corrige a estimativa: semanas depois fala de 5.000 barris e a seguir de 35.000.
Dois meses depois, a Casa Branca é obrigada a admitir que os 100.000 barris da NOAA eram a melhor estimativa desde o início.

01 de Maio
“A BP vai pagar” diz Obama. “Vamos aperta-los” anuncia o ministro do Interior, Ken Salazar. A BP prometeu usar todos os recursos disponíveis, incluindo o envolvimento das frotas de pesca locais para conter a mancha de petróleo. Mas os pescadores da Louisiana revelam que “o número de telefone anunciado pela BP não existe ou não funciona”.

O Congresso decide abrir uma investigação imediatamente sobre as empresas privadas envolvidas, mas é um boomerang: em 2005, a BP tinha sido envolvida num outro incidente dramático, a explosão de uma própria refinaria em Texas City, porque as autoridades federais têm continuado a autorizar as suas operações? O ministro do Interior Salazar, quando era um senador da oposição criticava a política da “perfuração fácil” de Bush.
 
Acontece que desde a sua nomeação como ministro de Obama autorizou novas perfurações petrolíferas no mar por uma área total de 214.000 km ², ultrapassando todos os recordes Administração Bush.

De acordo com a lei americana, aprovada após a catástrofe da Exxon Valdez em 1989, a primeira responsabilidade de intervir num incidente do género pertence à companhia petrolífera.
O governo é obrigado a trabalhar apenas com um papel complementar caso os meios privados sejam insuficientes. Esta lei foi aprovada justamente para garantir que as companhias de petróleo levem a sério a responsabilidade nos desastres causados por elas.

“É claro que não funciona” diz Tyson Slocum do Public Citizen’s Energy Program “porque a pessoa que deveria liderar os esforços para resolver a crise é a mesma que causou o dano“.

14 de Maio
Dezenas de licenças de perfuração ilegais foram concedidas a empresas petrolíferas, ao longo de anos, sob a Administração Bush, mas também com Obama na Casa Branca. The New York Times denuncia as irregularidades nos procedimentos.

22 de Maio
O homem que o Estado colocou estado na primeira linha para enfrentar o desastre é o almirante da Guarda Costeira, Thad Allen. Parece dominado pelas companhias petrolíferas. Declara: “Tenho confiança no chefe-executive da BP.”
A Guarda Costeira impede o acesso ao derrame de petróleo de um exército de voluntários dispostos a ajudar, inclusive os biólogos que trabalham nos parques das lagoas. A suspeita é que a BP não quer observadores incómodos. Confiando na BP, foram perdidos 30 dias apenas para que as autoridades federais criassem uma própria equipa de peritos para avaliar a magnitude da mancha oleosa.

26 de Maio

Surgem provas de concertação sistemática entre as autoridades federais responsáveis pela supervisão da indústria de petróleo (Minerals Management Service, MMS) e as companhias de petróleo: em alguns casos, os inspectores que teriam de controlar a segurança de plataformas faziam acabar os relatórios pelas mesmas empresas petrolíferas. Obama, revela o seu conselheiro mais confiável, David Axelrod, “está irritado com ambos, com a BP e com as autoridades federais”. Despede a número um da MMS. E tinha sido ele a nomea-la.

17 de Junho
Os parlamentares que nas comissões do Senado e da Câmara deveriam ter vigiado a BP (e toda a indústria do petróleo) eram accionistas das companhias. O Washington Post denuncia o conflito de interesse, revelando o quais as acções dos políticos.

19 de Junho
O político mais financiado pela BP na eleição de 2008 foi o mesmo Barack Obama, revela o New York Times, jornal progressista e certamente não é hostil a esta Administração.

O presidente que ganhou a eleição com o slogan “Yes we can” é humilhado no papel do espectador impotente: em frente do pior desastre ambiental da história americana dá uma demonstração de fraqueza e frustração. Ameaça acções penais, jura que a BP irá pagar até o último centavo; mas os seus gritos parecem irreais.
Yes we clean.

Ipse dixit.

Fonte: ADN KronosEstadão, Limes, The Washington Post
Foto: Reuters
Tradução: Informação Incorrecta

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