A estrada da seda – Parte I

A China, potência económica cada vez mais presente no nosso quotidiano.

Restaurantes chineses, lojas chinesas…quem entre nós não tem na própria casa um produto com o rótulo “Made In China”?

E se o rótulo mudar? Já não “Made In China” mas “Made In Europe”, em produtos feitos a partir de capitais chineses, em fabricas construídas por trabalhadores chineses, com matérias primas de origem chinesa; mas, afinal, produzidos no Velho Continente?

Talvez o que se passa na Grécia seja uma ante-visão; só o começo duma vaga maior: um primeiro passo duma estratégia de grande alcance. É provável. Aliás, quase certo.
Excelente artigo do inglês Telegraph que dividimos em duas partes.

Golfis Yannis está em pé sobre a plataforma do porto do Pireu, Atenas, indiferente às nuvens de poeira causada pelos camiões gigantes e às ensurdecedoras máquinas que descarregam os enormes contentores.

“Aqui está a nova China Town da Europa”, diz ele, apontando para o cais ao lado dele. “A única coisa certa é que nós vendemos a nossa alma para os Chineses.”

O Cais Dois, onde o Sr. Yannis, 48 anos, tem trabalhado nos últimos 22 anos, pode parecer exactamente como o Cais Um, certamente maior, mas também com os lados revestidos de navios e uma pilha enorme de contentores que parecem enormes blocos da Lego. Mas enquanto o Cais Um é grego, o Cais Dois agora é da China.

Cosco, a maior empresa estatal chinesa de navios, no mês passado assumiu o controle do Cais Dois, com um acordo de 2,8 bilhões de Libras para a gestão do cais nos próximos 35 anos, investindo 470.000.000 de Esterlinas para melhorar as instalações do porto, construir um novo Cais Três e quase triplicar o volume de carga que pode suportar.
O porto dos contentores, bem próximo do porto dos ferry do Pireu que é o principal ponto de acesso dos turistas às ilhas gregas, agora pode carregar e descarregar 1,8 milhões de contentores por ano, 5 mil que vão e vêm todos os dias.

Enquanto muitos investidores estão a fugir duma Grécia em crise, a China parece vislumbrar a possibilidade de grandes progressos na Europa, com a aquisição a preços acessíveis e tendo acesso aos mercados continentais.

A intenção da China de criar um sistema de portos, centros logísticos e de ferrovias para distribuir o seus produtos em toda a Europa, na essência, uma moderna Estrada da Seda, acelera a velocidade das trocas comerciais entre o Oriente e o Ocidente e a criação dum precioso ponto de apoio no continente. A aspiração é tornar o porto dos contentores um instrumento de rivalidade com Roterdã, – o maior porto da Europa.

O Cais Dois

“Os Chineses querem uma entrada na Europa”, diz Theodoros Pangalos, vice-primeiro-ministro. “Não são como aqueles Wall St **** s, capazes apenas de investimentos no papel. Os Chineses têm a ver com coisas reais, com os produtos. Vão ajudar a economia real, na Grécia. “
Não é a primeira vez que a China viu uma oportunidade onde outros viam apenas a adversidade. Com a própria economia em explosão e uma moeda forte, os Chineses fizeram uma série de investimentos controversos no sector mineiro e nas infraestruturas em África, que segundo os críticos permitem extrair valiosas matérias-primas proporcionando benefícios modestos para a economia local.

Os trabalhadores portuários, como os outros na Grécia, não estão à vontade com as implicações a longo prazo derivadas do permitir que a China possa obter benefícios da fraqueza económica do País e ter um tal interesse num sector tão crucial da economia.
Do seu escritório com vista para o porto e os inúmeros arranha-céus que lotam as colinas do Pireu,  George Nouhoutides, presidente da União dos Trabalhadores do Porto, disse ao Sunday Telegraph que a decisão de assinar o contrato foi “catastrófica”.

Quando você define um acordo entre um País rico e um que tem muitas dívidas, quem está a ditar os termos? A China quer um rótulo, “Made in Europe”, isento de impostos, em condições favoráveis e sem qualquer respeito pelos interesses da Grécia.

O senhor Nouhoutides, que nasceu a dois quarteirões do porto e ali trabalhou durante 34 anos, acrescenta:

Estão a fazer um jogo inteligente. Têm 1,5 bilhões de escravos e dinheiro para desperdiçar, por isso é querem ter acesso aos nossos mercados. É catastrófico para todos os trabalhadores, não só para os Gregos.

Mas Katinka Barysch, director adjunto do Centro para Reforma Europeia, disse que é improvável que o investimento chinês na Grécia possa tornar-se “predatório”.

O perigo que Cosco possa agir como algumas empresas chinesas na África é muito remota. A Grécia é um membro da UE, e é apoiada por condições legais mais fortes. Há restrições claras sobre o que os investidores estrangeiros podem ou não podem fazer nos nossos mercados.

O risco é, sim, que estas grandes empresas possam investir muito rapidamente em propriedades procuradas por muitos investidores e administrar mal ou sem conseguir obter lucros.
Mas a falta de liquidez é um problema na Europa hoje. Assim, a minha previsão é que o investimento chinês não vai encontrar muita oposição. Donde mais poderia chegar o dinheiro?

O que é certo é que muitos Chineses consideram os investimentos no Pireu como apenas o início de um projecto muito maior para o acesso aos mercados europeus.
Enquanto Países como a Espanha, Portugal e Irlanda estão a lutar com as próprias dívidas, a China fica de olhos postos nas potencias (e rentáveis) oportunidades de investimento.

Este mês, um grupo de fabricantes chineses espera de obter a aprovação para o desenvolvimento dum projecto de 40 milhões de Libras em Athlone Irlanda central, e começar a construção dum centro de negócios feito de escolas, casas, fábricas e comboios para a criação de produtos chineses. O plano chinês é de transferir 2.000 trabalhadores chineses para a construção do site, e, possivelmente, empregar 8.000 trabalhadores irlandeses naquilo que foi chamado de “Pequim-on-Shannon” (Pequim no Shannon).

E o investimento chinês é algo que o governo grego, sem dinheiro, acolheu de braços abertos.
No mês passado, o vice-presidente chinês Zhang Dejiang liderou uma delegação de 30 empresários em Atenas para assinar centenas de milhões de euros de investimentos em transporte, logística e infraestruturas na Grécia.

As autoridades gregas declararam que os 14 acordos foram equivalentes ao maior investimento individual que a China já tinha feito na Europa.
Como afirmou o Sr. Dejiang:

Estou convencido de que a Grécia pode superar as dificuldades económicas actuais. O governo chinês vai incentivar as empresas chinesas na Grécia, em busca de oportunidades de investimento.

A segunda parte do artigo estará disponível em breve.

Fonte: Telegraph
Tradução: Informação Incorrecta

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