Lições do passado

Qual será a solução?

Cortar tudo e mais algumas coisas, como sugerem as mentes pensantes de Bruxelas?

Ou gastar mais e ainda mais, como predica Barack Obama?

A redução do deficit público como objectivo central da vida de centenas de milhões de pessoas ou um deficit em segundo plano?

É o que pergunta Dave Cohen, no seu Decline Of The Empire:

Quais são as lições de 1937?

Diz-se que as decisões políticas importantes irão determinar a vida económica dos Estados Unidos nos próximos anos. O economista liberal Paul Krugman acha que hoje podemos repetir este pensamento do anos 30: de repente, a criação de empregos é out, infligir sofrimento é in. Condenar os deficits e recusar ajudar uma economia que ainda está a lutar pela sobrevivência é a nova moda em todo o mundo, incluído nos Estados Unidos; aqui, de facto, 52 senadores votaram contra a proposta de estender as ajudas aos desemprego, embora a taxa de desemprego hoje seja a maior já registada a partir dos anos ’30.


Muitos economistas acreditam que esta mudança em direcção à austeridade é um erro grave. Faz lembrar o 1937, quando Franklin Delano Roosevelt tentou sanar a dívida pública de maneira prematura, mergulhando uma economia quase curada numa recessão severa.

Alan “Bubbles” Greenspan acredita que os E.U. assemelham cada vez mais à Grécia, por isso é a favor do controlo do deficit. Krugman acredita que a ajuda económica original tem sido escassa e pensa que ainda deveríamos gastar , pelo menos, o mesmo para substituir com dinheiro público a fraca demanda agregada do sector privado. O objectivo é estimular a criação de novos empregos.

Então é Greenspan contra Krugman, Austerians [partidários da austeridade, NDT] contra Estimulans [partidários das ajudas públicas, NDT] .
Parece Baltimore Orioles contra Pittsburgh Pirates.
Mish está do lado de Greenspan. Calculated Risk é para Krugman. Barry Ritholtz não vota Krugman em si, mas acha que Greenspan é um idiota, por isso é como se votasse Krugman.

Mas voltamos ao 1937.
Após quatro anos de apoio maciço do governo, temendo um grave défice em crescimento contínuo e uma inflação galopante, Roosevelt cortou a despesa pública e a Federal Reserve apertou as taxas.

Em vez de considerar [a inflação resultante da expansão económica] como um sinal de progresso, que tinha quase duplicado o mercado das acções entre 1935 e 1936, Roosevelt e os falcões da época estavam determinados a quebrar o que achavam ser um bolha das acções e matar a inflação no nascedouro. Nesta óptica pôr ordem nas despesas era um passo importante, e assim a política da Federal Reserve foi de apertar os requisitos de reserva para os bancos. Entre Agosto de 1936 e Maio 1937 as exigências de reserva dobraram.

Durante 1937, Roosevelt foi em frente com o aperto fiscal, apesar da evidente queda na actividade económica. O deficit orçamental diminuiu de 5,5% do PIB em 1936 para 2,5% em 1937 e o orçamento foi fechado praticamente com um empate em 1938, com um deficit de apenas 89 milhões de Dólares.

O resultado foi um enorme revés económico, com um PIB em queda e aumento do desemprego. Por esta razão, os conselheiros económicos de Obama advertiram sobre a possibilidade de continuar com a ajuda económica até não ser restaurada a situação de pleno emprego.

Depois dos apertos implementados por Roosevelt em 1937, a economia entrou em colapso novamente, conforme mostrado pela taxa de desemprego estimada (ver gráfico acima). Depois a situação dos empregos melhorou empregos, uma vez que começou a preparação para a Segunda Guerra Mundial e, em seguida, mesmo durante a guerra.

Então, o que nos ensinou o 1937? Como podemos aplicar esse ensinamento hoje? Eu não sou um grande homem, um Krugman ou um Greenspan, e não tenho uma longa preparação com doutrinação económica, assim humildemente apresento o que se segue:

precisamos de um esforço de imaginação. Imaginemos: Roosevelt não apertou em 1937, a Segunda Guerra Mundial não era uma possibilidade e, portanto, não ocorreu. O que teria acontecido então?

A evidência que temos fazem pensar que auxílios estatais adicionais seriam necessários ano após ano, para apoiar a economia. Quatro anos (1933-1936) de despesas em deficit têm sido insuficientes para permitir que a economia caminhasse sem muletas. Quando Roosevelt em 1937 retirou as muletas, o homem ferido caiu no chão. Ao longo de quanto tempo poderiam ter ido em frente com grandes deficits e o aumento da inflação? Até 1939? Até 1943? Até 1946? Até 1949? Quando? Esta é a primeira lição: não sabemos.

Não sabemos, mas confrontados com este cenário surge uma pergunta: como teria sido possível passar duma economia de apoio estatal para um forte sector privado sem uma Guerra Mundial? Não temos um exemplo histórico “puro” no qual baseamos a nossa teoria, mas temos a experiência do Japão desde 1989 que, como tenho lido, sugere que uma vez que começada a utilização do apoio do Estado, este será necessário sempre (ou por um longo, longo tempo).

E depois há a Segunda Guerra Mundial. Bonita solução para sair duma depressão! Talvez precisamos da Terceira Guerra Mundial para salvar a nossa pele! Concluo que o Homo sapiens ama desencadear guerras: sem amor, porque fazer-las tantas vezes? Certamente, uma grande guerra criaria muitos empregos, como demonstra o nosso “modesto” orçamento para a Defesa de hoje. Krugman define a Segunda Guerra Mundial como um “grande programa de obras públicas”. Certo! Se formos até o fundo (falamos de energia nuclear) seria possível resolver (temporariamente) o problema do crescimento da população mundial, matando desta forma dois pássaros com uma pedra.

E esta é a segunda lição dos anos 30: sem uma guerra provavelmente não teria acontecido um verdadeiro renascimento nos anos Quarenta, independentemente das acções de Roosevelt. O que poderia substituir a Terceira Guerra Mundial no caso contemporâneo?

Uma hipótese possível é a de declarar guerra à … nós mesmos! Ou seja, à nossa dependência perigosa do petróleo. Devemos definir a meta de reduzir o consumo de petróleo americano de 19 a 20 milhões de barris por dia para 14-15 milhões em 2020. Em alguns anos, com base no que gastamos, vai pagar por si mesmo. Estamos a falar de obras públicas! Os Chineses ou os Japoneses ficariam feliz em comprar os nossos títulos de Estado porque, eventualmente, haveria ainda mais petróleo para eles.

Infelizmente, a minha proposta muito razoável vão cair no vazio do Império Decadente: agora já não temos iniciativa.

Os economistas não reflectiram cuidadosamente sobre o que a história diz. Christina Romer, que trabalha na Casa Branca por Obama, escreveu um artigo original intitulado “The Lessons of 1937” [As Lições de 1937, NDT]:

O que aconteceu em 1937, é um conto com moral: o desejo de declarar vitória e voltar a política normal depois de uma crise económica é forte. Mas temos tentar não realizar esse desejo até a economia não ficar mais perto da plena ocupação. As crises financeiras, em particular, tendem a deixar cicatrizes que induzem as instituições financeiras, as famílias e as empresas a comportar-se de maneira diferente [do que numa] situação normal. Se o governo suspender as ajudas muito cedo, poderá conseguir um retorno ao declínio económico ou ao pânico …

Esta é a mesma Christina Romer que, juntamente com Jared Bernstein, previu que o apoio financeiro de Obama teria o seguinte efeito no emprego:

Obviamente, o plano de recuperação de 787 biliões de Dólares não teve o efeito desejado sobre o desemprego. A resposta de pessoas como Krugman a esta falha é sempre a mesma: gastar mais dinheiro! No entanto, as lições de 1937 não necessariamente defendem esta tese, como expliquei acima.

A verdade é que os políticos e os economistas, não fazem a menor ideia do que está acontecendo; e nem outros. Então, não sabem mesmo como resolver o problema. E, entre outras coisas, como pode Krugman não ter ideia do que acontece ao mesmo tempo, tratar o assunto com tanta suficiência? Acho que a resposta correta é que a política torna as pessoas estúpidas.

Políticos e economistas querem dar a impressão de fazer alguma coisa. Mas eles não têm ideia do que fazer, realmente. Mas é tão simples. Qualquer que seja a “solução” a ser adoptada, deverá abranger uma ampla rede de segurança social para reduzir o sofrimento humano. Concordo com Krugman quando ele diz que infligir dor não é o caminho a percorrer. Esta é a única coisa da qual tenho certeza.

Fonte: Decline of the Empire

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