O perigo dos hidratos

Segundo um estudo da Universidade do Texas, a fuga de petróleo do fundo do Golfo do México contém 40% de metano, em comparação com 5% que é o nível normal geralmente medido nas explorações petrolíferas.

Grandes quantidades de metano já entraram nas águas do Golfo, bloqueando potencialmente a vida marinha e criando “zonas mortas” onde o oxigénio falta e nada pode viver.

Afirma Petrolio com base nas notícias da Associated Press:

Esta é a erupção de metano mais vigorosa na história moderna.

Uma pesquisa da Universidade da Geórgia, há alguns dias, investigou uma “fuga” longa 15 quilómetros a sudeste de Macondo. Descobriram uma concentração de metano de 10 mil vezes acima do normal, e oxigénio reduzido de 40%.

Mas o pior problema é o seguinte: são estes hidratos de metano? Os hidratos são estáveis até que a pressão externa permaneça alta e a temperatura baixa. Dada a situação, é provável que estes parâmetros estejam distorcidos, e que a área seja agora completamente desestabilizada.

Hidratos de metano? O que é isso?
E, sobretudo, porquê tanta preocupação?

Podem ver os hidratos nas duas imagens deste post. São compostos de forma cristalina parecidos com o gelo, criados a partir do contacto entre água e pequenas moléculas de gases, em condições de temperatura próxima a 0 ° C e altas pressões. A estrutura química particular destes compostos permite armazenar grandes quantidades de hidrocarbonetos, principalmente metano.
Estima-se que, em condições normais de temperatura e pressão, um metro cúbico de hidrato produz cerca de 160 metros cúbicos de metano, e cerca de 0,87 metros cúbicos de água.

Mas quando a temperatura e a pressão mudarem, por exemplo por causa de uma perfuração? Neste caso o metano volta ao estado que conhecemos melhor, o gasoso. Enormes bolhas de metano que, libertadas, voltam à superfície. O que poderia explicar o incêndio e o consequente afundamento da plataforma Deepwater Horizon, investida por uma fatal mistura de espuma gasosa altamente inflamável.

Mas há mais. O que aterroriza os geólogos é o facto que no passado do planeta já houve libertação de grandes quantidades de metano na atmosfera. Com efeitos devastadores.
Actualmente boa parte do metano fica retido no permafrost (terreno permanentemente gelado localizado perto dos Polos ou em altas quotas) ou nos fundos dos oceanos sob forma de hidratos, mas a situação pode mudar.

Ugo Bardi, professor de Química física na Universidade de Firenze e membro do comité científico da ASPO (Association for the Study of Peak Oil):

Os hidratos de metano são uma enorme fonte potencial de gases com efeito de estufa e não há garantia de que permaneçam onde estão sempre tranquilos. Vão assim ficar até a temperatura planetária permanecer constante, mais ou menos. Mas, se esta aumentar, como está a aumentar devido à colocação de CO2 na atmosfera, então não há nenhuma garantia de que o metano permaneça congelado no permafrost.

Se o permafrost aquece, liberta metano. O metano libertado causa mais aquecimento. Este aquecimento provoca a libertação de mais metano e assim por diante. O resultado não pode ser outra coisa senão um desastroso aquecimento global ainda pior do que o cenário mais pessimista apresentado por climatologistas que também falam em mais de seis graus de temperatura.

Esta explosão é chamada “clathrate gun”, a arma que funciona com clatrato. Tendo em conta que a arma está apontada para nós, esta é uma expressão bastante eficaz.

A quantidade de metano libertada até agora no Golfo do México, mesmo sendo importante, não é significativa a nível global: mas atenção, pois seria suficiente um aumento de 4% na atmosfera para desencadear um forte processo de aquecimento.

E não é tudo: na altura em que as grandes quantias de hidratos no subsolo evaporarem haverá autênticos “vazios” entre as rochas, já não preenchidos pelo gás evaporado. Já perceberam? Exacto: desmoronamentos, terramotos ou, no caso de fundos submarinos, maremotos.
O enorme maremoto que atingiu o norte da Europa cerca de 8.000 anos atrás, de acordo com alguns pesquisadores, foi realmente causado pela rápida desintegração das cadeias de hidratos que levou ao repentino colapso submarino.  

Agora um passo atrás, pois os prejuízos começam antes da dispersão no ar: cada vez que uma bolha de gás é libertada, esta volta à superfície, matando tudo que encontrar ao longo do seu caminho. Um perigo sem antecedentes no Golfo do México.

É isso que está a acontecer? Foi isso que provocou o afundamento da Deepwater Horizon? É este o último segredo da BP?

Estas substâncias, os hidratos de metano, ficaram guardadas em lugares inacessíveis ao longo de milhões de anos: agora a impressão é de ter mexido em algo que não era suposto mexer.

Ipse dixit.

 
Fonte: PetrolioAssociated Press, Effetto Cassandra

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