Se tivesse a coragem…

Quando estamos perante dificuldades, nada melhor do que uma saudável rajada de optimismo.

Isso deve ter pensado o presidente do banco português BPI, Fernando Ulrich (apelido alemão, tinha que ser…), ontem à noite durante um debate.

Então que optimismo seja:

“O dia em que bateremos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. E bater na parede significa, por exemplo, a intervenção do FMI. Lamento, mas o país tem de saber”

Isso mesmo, sr. presidente, isso mesmo. 
Os Portugueses acabaram de receber  péssimas notícias: cortes nos salários, nos serviços, nas infraestruturas. E agora porque não acrescentar um “é tudo inútil, estamos condenados”?

“Tirem já o C do PEC (Pacto de Estabilidade e Crescimento, NDA), o c é para esquecer”, disse Fernando Ulrich, acrescentando que “o principal problema de Portugal não é apenas de tesouraria, mas sim o facto de não nos conseguirmos financiar”. 

Assim mesmo, sr. presidente: dúvidas e incertezas a curto e médio prazo. 

“Não se trata de um problema de preço, mas sim de acesso ao crédito. Um problema que não sabemos hoje quando se vai resolver. Por isso mesmo, sugiro ao Governo que não publique cenários macroeconómicos sem explicar como estes se vão financiar.” 

Exacto, sr. presidente, o Governo (e a oposição, agora “colaborativa”) não sabem, o senhor é que sabe, muito bem. Sorte nossa ter uma pessoa assim neste País.

“Portugal tem dificuldade em financiar-se e não sabemos quando vai deixar de ter, ou se vai deixar ter […]”

Ou se quando deixar de ter nós ainda estaremos vivos ou se entretanto o País terá sido vendido num mega-leilão, ou invadido pelos Árabes, ou arrasado por um surto de cólera…”confiança” é a palavra, “confiança”.

“Ou se discute a sério a economia portuguesa e o seu sistema financeiro, ou teremos graves problemas de futuro”

E, sinceramente, nós conseguimos ver só uma pessoa que nesta altura possa falar a sério de economia: o sr. Fernando Ulrich.

Mas quem é Ulrich?
É uma pessoa com ideias. Aliás, com uma ideia. Esta:

Ulrich rejeitou a necessidade de a banca estar sujeita a regras de supervisão internas mais apertadas, recordando que a actual crise económica teve origem nos mercados anglo-saxónicos, defendendo que esse “não é problema nosso”.
“Não há necessidade de mudar uma vírgula”, defendeu o presidente do banco, respondendo a Teixeira dos Santos (Ministro das Finanças, NDA) que sublinhou a necessidade de reforço das medidas de controlo interno. “Deixem-nos em paz. Deixem-nos trabalhar.”, concluiu. (Diário I, Dezembro de 2009)

Tudo claro agora?

Se o bom Ulrich tivesse a bondade de explicar o que verdadeiramente está mal no sistema bancário; no sistema das acções; no sistema da dívida; no sistema económico; se tivesse esta coragem, então seria credível.

Assim, é só um banqueiro com uma veia intervencionista política.

Ipse dixit.

Fonte: Jornal de Notícias , I,

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