Quatro títulos

Existe uma descolagem entre a realidade percebida pelos políticos e a do cidadão comum.

Os artigos do Jornal de Notícias são boa prova disso.
Primeiro título:

Ministros europeus “satisfeitos” com medidas portuguesas “corajosas”

O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, classificou as medidas adicionais tomadas por Portugal e Espanha para acelerar a diminuição dos seus défices orçamentais como “corajosas”, estando os países membros da Zona Euro “satisfeitos” com elas.
“Pensamos que as medidas tomadas pelos governos espanhol e português são medidas corajosas, indicam uma trajectória de ajustamento que nos dão satisfação“, disse Juncker, na conferência de imprensa que marcou o fim da reunião dos ministros das Finanças da Zona Euro, na segunda feira, já perto das 00:00 de Lisboa.[…] A aceleração da diminuição dos défices dos países europeus é vista como uma forma para acalmar os mercados financeiros que receiam problemas no pagamento da dívida pública por parte de vários países.

Os Ministros das Finanças da zona Euro estão satisfeitos com as medidas de Portugal e Espanha. O importante é acalmar os mercados.

Segundo título:

“Medidas de austeridade vão manter-se enquanto forem necessárias”

O ministro das Finanças admitiu hoje que o pacote extraordinário de medidas de austeridade aprovado na semana passada se possa manter em vigor para além de 2011. “São medidas que se manterão até que a consolidação se mostre sustentável e duradoura”, frisou Teixeira dos Santos, em Bruxelas.
Para atingir as novas metas, o Governo, com o acordo do PSD, decidiu, entre outras medidas, aumentar em um ponto percentual todas as taxas do IVA, impor uma taxa adicional sobre o IRS e o IRC das grandes empresas. Os salários dos políticos e gestores públicos serão, por seu lado, reduzidos em 5%.

Estas alterações foram anunciadas como sendo para vigorar até ao fim de 2011, mas o ministro das Finanças, tal como o Banco de Portugal, admite que o aperto de cinto se tenha de prolongar para além desse prazo, caso até lá as finanças públicas portuguesas não tenham regressado convincentemente a um trilho mais saudável.

O Ministro das Finanças de Portugal não tem dúvidas: as medidas são para ficar.
Até quando? Até quando as finanças públicas não convencerem.

Terceiro título:

Taxa de desemprego sobe para 10,6% em Portugal

A taxa de desemprego subiu no primeiro trimestre deste ano para 10,6%. Os dados hoje divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística revelam um novo recorde de 592,2 mil pessoas desempregadas.

Trata-se de um acentuado aumento de 1,7 pontos percentuais em termos homólogos e meio ponto face ao trimestre anterior.

Os dados revelam que continua o processo de destruição de emprego: há agora menos 90 mil pessoas empregadas do que há um ano e menos 14,8 mil do que no final do ano passado, num recuo que se deve sobretudo a uma relevante quebra entre os menos qualificados.

Esta última é a realidade percebida pelo cidadão. Quase 600 mil desempregados.
Os quais podem ficar sem salário, mas vivem com a satisfação de saber que os mercados estão mais calmos.
A Bolsa é salva. Haverá coisa mais importante?

Talvez.

Nouriel Roubini numa entrevista à BBC, ontem:

A crise que está a afectar a Zona Euro ainda não acabou e a Grécia é a “ponta de um iceberg”. Quem o diz é Nouriel Roubini, professor de Economia na Universidade de Nova Iorque. Para o mesmo responsável, o actual momento representa a “segunda fase de uma típica crise financeira”.

A crise na Zona Euro “não acabou”, referiu hoje Roubini numa entrevista à BBC radio, citada pela agência Bloomberg. “O que estamos a enfrentar agora na Zona Euro é um segundo estágio de uma típica crise financeira”, acrescentou o mesmo responsável. 

Para Roubini, o plano da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI), no valor de 750 mil milhões de euros, para evitar o contágio da crise da dívida soberana grega, não foi suficiente para acalmar os mercados, numa altura em que permanecem algumas questões sobre se os governos são fortes o suficiente para implementar as medidas de austeridades solicitadas.

Até aqui nenhuma novidade. Mas vamos ler as últimas frases:

Para o professor, os mercados continuam receosos em relação à solvência de alguns países europeus, pois há “problemas económicos e financeiros significativos na Zona Euro”. Roubini considera que os tumultos recentes na Grécia, na sequência das medidas anunciadas para reduzir o défice, aumentaram as dúvidas sobre a capacidade de alguns governos de países europeus para resolver estes problemas.

“Há um ponto de interrogação sobre se podemos estar confiantes de que o governo será forte o suficiente para levar a cabo a austeridade fiscal”, sublinhou o mesmo especialista. “Se estes planos de austeridade forem implementados, os mercados vão estabilizar”, frisou.

Talvez seja mesmo esta a questão: até que ponto o cidadão está disposto a pagar a factura?
Se a conta fosse só dele não haveria margem para discussões.
Mas o cidadão começa a perceber que não foi o único ao almoço; outros participaram também.

Onde estão estes “outros” agora?

Estão aqui, no quarto título:

Resultados do Banif superam estimativas do BPI
O Banif apresentou ontem os seus resultados relativos ao primeiro trimestre deste ano, números que superaram as previsões do BPI. O banco obteve lucros de 10,7 milhões de euros, o que representa um crescimento de 156,4% face a igual período do ano passado. No entanto, os analistas do banco de investimento sublinham que deverão rever em baixa as suas estimativas após este conjunto de resultados.

Ipse dixit.

Fonte: Jornal de Notícias

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