Duas soluções

Informazione Scorretta do amigo Felice realça hoje um artigo de James Rickards.

James Rickards G. é escritor, advogado, economista e General Counsel of Long-Term Capital Management.

Mr. Rickards formou-se na University School of Law, New York, na Universidade de Pennsylvania Law School, obteve um mestrado em economia na School of Advanced International Studies, Washington, e um diploma com menção honrosa da Faculdade de Artes e Ciências da Universidade Johns Hopkins.

Admitimos: pode ser que perceba algo em matéria de economia.

Rickards não pode ser definido um incurável optimista, mas a sua análise, concentrada não só na economia americana, é muito interessante. Também porque apresenta uma possível solução. Aliás, duas.

A crise da dívida soberana cruzou um limiar. Não é mais sobre a economia. Trata-se de matemática e de um sistema complexo, cuja dinâmica afirma que há pouco tempo para evitar uma catástrofe e quase não há saída. Indo para a frente, eleições e políticas importam menos enquanto a praga da dívida toma conta e determina os rígidos resultados.

Num caso como este a dívida real não pode ser reembolsada através de qualquer combinação possível de crescimento e de impostos. Em breve chegará o ponto em que não será possível ir em frente. A dívida inclui passivos contingentes, bem como as obrigações. Nos EUA, isso significa segurança social, saúde e obrigações imobiliárias, estimadas em mais de 60 triliões de dólares. Isso não inclui obrigações de pensões dos Estados cujos planos utilizam umas fantasiosas hipóteses de crescimento de 8%. A dívida previdenciária cresce exponencialmente, uma mistura tóxica de maiores benefícios, deficiências de contribuição e desempenho anémico.

Mesmo o que chamamos de “dinheiro” é dívida. O dinheiro de papel é um contrato entre o cidadão e o governo. Como acontece com qualquer contrato, vale a pena ler as letras pequenas. Gravada em cada nota dos EUA é a expressão “Federal Reserve Note”. Mas estas notas são passivos. Se os activos da Fed tivessem que ir num mercado, a Fed seria insolvente. Em suma, é toda dívida. A riqueza é ilusória se implica um pagamento em dólares, que nada são a não ser a fachada de um banco central insolvente, apoiado apenas na própria capacidade de imprimir mais dívida. A situação é pior no Reino Unido, Europa e Japão. O sistema financeiro global é uma “corda de areia”.

Se este sistema é ilusório, como tem prosperado durante séculos? A resposta é que há muitos anos os governos tinham excedentes e às vezes não havia dívida alguma. O crescimento era sólido. Os governos tinham a confiança dos mercados accionarios para o pagamento das obrigações maturadas, a criação de riqueza tangível ultrapassava a criação de dívida. E até recentemente, o dinheiro de papel esteve apoiado no ouro, com taxas fixas de câmbio. Hoje, todas as quatro pernas da mesa – os excedentes, o crescimento, a confiança e o ouro, foram-se ou ficaram prejudicadas.

Não há perspectiva de excedentes; as nações bateram à beira da desordem com a simples menção dum ratio de 3% entre deficit e Produto Interno Bruto. As perspectivas de crescimento são igualmente incertas, dada a actual política. Obama aumentou os gastos com a teoria do “alimenta  a besta” que obriga a aumentar os impostos para igualar as despesas. Se Obama não conseguir o seu propósito, o deficit será ruinoso. Se conseguir, os impostos vão sufocar o crescimento. Não é possível taxar o caminho para a solvência num mundo de baixo crescimento e juros compostos.

Quanto à confiança do mercado, perguntem aos gregos. Cada  comprador de títulos tem um limite crítico após o qual não irá comprar outro título. Compradores de títulos como donos dum teatro. A imagem de alguém gritar “fogo” e os donos que correm em pânico é familiar. Mais intrigante é o caso em que apenas alguns dos donos correm sem nenhuma razão aparente. Os outros ficarão sentados? Depende dos limites individuais. Se forem suficientemente altos, todos permanecem sentados. Mas se alguns limites são baixos, os donos deixarão também desencadear outros limiares e assim sucessivamente até uma cascata de saídas que esvazia o teatro.

Nos mercados, a matriz do limiar individual é imensamente complexa. A escala, a interdependência e a adaptabilidade dos participantes no mercado hoje são maiores do que nunca. Seria necessário muito pouco para provocar uma revolta com a dívida soberana.

E sobre o ouro? A ideia é que os sistemas não podem aumentar a oferta de dinheiro, conforme necessário, num sistema standard de ouro. Essa é a ideia. Aumentar o dinheiro além dos modestos níveis entre os quais a oferta de ouro cresce é o remédio keynesiano. Mas a evidência empírica mostra que o assim chamado multiplicador keynesiano é fraccionado e, portanto, um destruidor da riqueza. Não é suficiente para apoiar a oferta de dinheiro, mas é claro que sempre há ouro suficiente, é só uma questão de preço.

Há uma saída? Um caminho envolve a hiper-inflação para destruir o valor real da dívida, seguida de redenominação e um novo papel-moeda. O outro caminho envolve uma moeda com base no ouro e um preço não deflacionário. Esta é uma escolha entre a negação e uma franca conversa. Dinheiro “vivo” leva ao vivo crescimento e a criação de uma real, não ilusória, riqueza.

Hiper-inflação ou novo papel moeda com base no ouro?

Dito assim até parece simples. O problema é que cada uma destas opções comporta modificações profundas do nosso sistema. Aliás, seria um verdadeiro re-pensar do inteiro sistema global: mas ainda há quem ganhe com este jogo.
E quem ganha tem só um desejo: deixar que tudo continue assim como está.

Fontes: Informazione Scorretta, King World News

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