Novidade: Portugal está em crise

Era de esperar.
Afinal alguém reparou.

Portugal é um País pequeno, na periferia do continente europeu, ma não fugiu à lupa dos economistas.
E os economistas não querem saber de fado, o que interessa são números. Que não são nada bons.

Hoje o New York Times publica uma intervenção de Simon Johnson, antigo chefe do FMI, e de Peter Boom, investigador da London School of Economics.

O que dizem pode ser lido num bom artigo do diário Expresso. Ou, se preferirem a versão original, é só clicar aqui.

Nós, fieis ao idioma de Camões, ficamos com a versão portuguesa:

Peter Boone, investigador da London School of Economics, e Simon Johnson, antigo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional não têm dúvidas: Portugal é o próximo problema global. É esse o título de um texto que, em conjunto, publicaram hoje no blog Economix , do jornal New York Times.
O seu argumento é claro. Após o anúncico do pacote de ajuda europeu e do Fundo Monetário Internacional à Grécia, Portugal é o próximo país no radar. Aliás, para os autores a única razão porque as atenções dos mercados ainda não se centraram em Portugal é a gravidade da situação grega.
“Ambos os países estão, economicamente, à beira da falência, e cada um parece muito mais arriscado do que parecia a Argentina em 2001, quando entrou em incumprimento”, afirmam Peter Boone e Simon Johnson.

Dívida de 78% do PIB em 2009

Os autores frisam que Portugal gastou demasiado nos últimos anos, levando a sua dívida a atingir 78% do PIB no final de 2009, o que compara com os 114% da Grécia e com 62% da Argentina, à data do incumprimento. Além disso, tal como acontece com a Grécia, a dívida portuguesa foi “em grande medida financiada pelo estrangeiro“.
Portugal, tal como a Grécia, “refinancia os seus pagamentos de juros emitindo nova dívida“, argumentam Boone e Johnson. Por isso, em 2012, o rácio entre a dívida e o PIB deve atingir 108%. “A certa altura os mercados financeiros irão simplesmente recusar-se a financiar este esquema Ponzi”, enfatizam.

Taxa de câmbio muito sobrevalorizada

O maior problema que Portugal enfrenta, tal como a Grécia, a Irlanda ou a Espanha é, para os autores, estar preso a uma taxa de câmbio muito sobrevalorizada, quando tem necessidade de um ajustamento fiscal muito abrangente.
Por isso, Boone e Johnson consideram que o governo luso pode esperar “vários anos de desemprego elevado e políticas difíceis“.
Só que “nem os líderes políticos portugueses, nem os gregos, estão preparados para fazer os cortes necessários“, defendem.
E reforçam: “Os portugueses nem sequer estão a discutir cortes sérios. No seu orçamento para 2010 prevêem um défice orçamental de 8,3% do PIB, pouco diferente do que foi registado em 2009 (9,4%). Estão à espera, com esperança que o crescimento económico os tire desta confusão. Mas um crescimento dessa ordem só poderia advir de um extraordinário boom económico global”.

O que se segue para Portugal?

Para Boone e Johnson, após o pacote de regate da Grécia, “os políticos portugueses nada mais podem fazer do que esperar que a situação piore e, nessa altura, exigir o seu pacote de resgate também”.
A questão é que, eventualmente no futuro, “a Europa cansar-se-à de resgatar os seus países mais fracos“, consideram os autores, apontando que Alemanha deverá ser o primeiro país a fechar a torneira.
Até lá a dívida continuará a acumular-se, tornando a situação cada vez mais perigosa. E, quando a torneira fechar, “pelo menos uma nação enfrentará um doloroso incumprimento”, rematam Boone e Johnson.

Claramente o governo já exprimiu a seu desacordo.
O Ministro das Finanças respondeu com o seu clássico fair-play:

Num mundo de expressão livre também se podem escrever disparates sem fundamentação sólida, reveladores de ignorância quanto às diferenças existentes entre os países da zona Euro.

E continua ao dizer que este tipo de análises

bem ilustram o preconceito céptico de alguns comentadores quanto à moeda única

Quanto a nós, algumas considerações.

Os dois economistas anglo-saxónicos não estão a descobrir nada de novo. Já publicamos uma tabela com os oito Países mais em risco, e nesta tabela aparece Portugal.

E há anos que vários economistas locais (lembramos Hernâni Lopes, Silva Lopes, João Duque, Medina Carreira entre outros) alertaram o estado de falência técnica ao qual o País se aproximava.

O facto de Portugal ter divergido do crescimento da União Europeia ao longo dos últimos anos constitui um bom indicador do estado de saúde económica do País.

E a incapacidade em reduzir o deficit público por parte dos últimos governos é uma realidade bem patente aos olhos dos Portugueses. As causas são várias, mas entre as primeiras não podemos esquecer o medo de ter que enfrentar uma opinião pública que poderia punir o governo nas sucessivas eleições.

Ficamos, pelo contrário, surpreendidos com o argumento central deste artigo. Os dois economistas disseram coisas que poderiam ter sido dita há vários meses e enfatizam aspectos que, ainda uma vez, não são novidades para ninguém.

Por exemplo: pagar os juros com novas dívidas não é de todo uma prática exclusiva de Portugal e não constitui um indicador absoluto de País à beira da falência (mas nem de saúde, seja aclaro).

E se ter uma dívida pública igual ao 78% do PIB significasse estar tão mal quanto ou pior da Argentina do default, então temos de lembrar que há outros Países em águas bem piores: o Japão, por exemplo, está perto do 200% (ver post sobre relativo), a Italia já ultrapassou o 100% , a Bélgica também não tem razões para sorrir. E a lista poderia continuar.

Estas parecem mais declarações com outros objectivos. Como, por exemplo, difundir ansiedade nos operadores económicos ligados à Europa, numa altura tão delicada para a UE.. Ou desviar as atenções dos Países que estão em situações ainda piores que Portugal. Será um caso se no último GEAB os dois Países mais em risco são os Estados Unidos e o Reino Unido?

Achamos que o verdadeiro problema não foi encarado pelos dois economistas e bem evidenciou-se nos últimos dias.
O mecanismo de ajuda concertado para o caso grego denota algumas falhas e, para já, não surtiu os efeitos desejados nos mercados internacionais.

Esta é a verdadeira má notícia para Portugal, pois se o País será obrigado a pedir a ajuda da UE as perspectivas, para já, não são animadoras.

Ipse dixit.

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