Brasil: a China avança. Portugal: nem por isso.

A China não pára. Eis a notícia publicada na edição online de O Globo:  

Na semana em que 150 empresários chineses desembarcam no Brasil em busca de novos negócios, a Oi (ex-Telemar) vai obter uma linha de crédito recorde de US$ 1 bilhão do China Development Bank (CDB), banco estatal de fomento chinês, revela uma fonte a par das negociações[…] Os recursos serão destinados para capital de giro e para compra de equipamentos – parte dos quais, de um fabricante chinês. O anúncio será feito sexta-feira em Brasília e fará parte dos encontros empresariais que ocorrem em paralelo à cúpula de chefes de Estado dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) que ocorre em Brasília.
A parceria com a Oi é a mais uma das recentes investidas chinesas no Brasil. O país tem buscado parceiros brasileiros com foco em commodities e infraestrutura e, em fevereiro, apareceu pela primeira vez na lista dos maiores investidores estrangeiros no Brasil, e já na terceira posição, com US$ 354 milhões. Além do acordo entre Oi e CDB, serão anunciados em Brasília parcerias de estatais chinesas com Vivo e MMX.

O empréstimo para a Oi evidencia a estratégia da China: parte do dinheiro está associada à compra de equipamentos da também chinesa Huawei. As multinacionais com atuação no Brasil e sede na China servem de ponte para que empresas brasileiras busquem crédito em bancos estatais chineses.

A este propósito é interessante ler a entrevista, publicada sempre pelo mesmo diário e de autoria de Vivian Oswald, com o embaixador da China, Qiu Xiaoq:  

O GLOBO: Como o senhor classificaria as relações entre a China e o Brasil? 

QIU XIAOQ: Se desenvolveram muito rápido nos últimos anos. Encontros políticos de alto nível foram frequentes. Os presidentes Hu Jintao e Lula discutiram muitas questões internacionais. Na economia, foram firmados convênios. O Banco de Desenvolvimento da China (China Development Bank) ofereceu linha de crédito de US$ 10 bilhões para a Petrobras. Houve muitos acordos concretos de cooperação.

A visita bilateral do presidente Hu Jintao e a missão de empresários trarão mais investimentos ao Brasil?

QIU: A China vai ter uma participação cada vez maior na construção da infraestrutura brasileira. O país vai ter um período de crescimento rápido, com a Copa e as Olimpíadas, e vai chegar a um novo auge de investimentos. A China tem uma capacidade muito importante neste setor (infraestrutura) e tem muito interesse em participar dos investimentos maciços no país. Um exemplo é o trem-bala. A China tem grande experiência neste aspecto. Esta visita renderá bons frutos.

Em que áreas, além da infraestrutura?

QIU: Nos campos econômico, comercial e de investimentos, são muitas. O que falta é explorá-las e as empresas chinesas estão com grande disposição.

Quais são as oportunidades para as empresas brasileiras?

QIU: Elas têm interesse crescente em investir na China. Nosso país superou depressa a crise, crescendo 8,7% em 2009. Esperamos que cresça 9% este ano. Um grupo muito grande de 150 vários vai participar de um seminário no Rio e todos vão trocar informações.

Quais as expectativas da China para o segundo encontro presidencial dos Brics?

QIU: O grupo Bric é uma plataforma muito importante de cooperação para os países emergentes. Brasil, Rússia, Índia e China foram responsáveis por 50% do crescimento mundial nos últimos 10 anos. Esses países detêm 15% do PIB global. Os quatro têm papel importante no G-20, nas Nações Unidas e em Copenhagen.

A China vai insistir na defesa do uso de moedas locais no comércio exterior?

QIU: A crise financeira de 2008 demonstrou que depender de uma só moeda conversível é perigoso. É muito importante diversificar. Depois da crise, a China fez acordos comerciais com vizinhos para negociar com moedas locais. Queremos um sistema financeiro mais justo, racional e equilibrado.

Os EUA têm cobrado uma taxa de câmbio orientada pelo mercado para o yuan. O país mudará o câmbio?

QIU: A China sempre aplica uma política monetária estável, com base em uma cesta de moedas concreta. O país tomará as suas decisões de acordo com critérios soberanos, segundo os interesses econômicos do país. Não vamos aceitar pressões de outros países.

Isso no Brasil.
E neste lado do Atlântico? Muito bem. Quem fala é o jornal argentino La Nacion

Portugal, tal como a Grécia, poderá ser obrigado a tomar medidas adicionais para cortar o próprio deficit em 2010, advertiu hoje o comissário europeu pelos Assuntos Económicos, Olli Rehn.

Tentamos saber mais. Jornal de Negócios:

O Governo português deverá, desde já, preparar novas medidas de austeridade para aplicar ainda em 2010. A recomendação foi feita hoje pelo comissário europeu responsável pelos Assuntos Económicos e Monetários, depois de a Comissão Europeia ter aprovado o novo Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) para o período 2010-2013.

Apesar de considerar o plano de saneamento das finanças públicas globalmente “ambicioso” e “bastante concreto”, Olli Rehn chamou a atenção para o facto de a previsão de crescimento poder revelar-se “optimista”. Recorde-se que o Governo antecipa um crescimento de 0,7%, ao passo que o Banco de Portugal prevê apenas 0,4% para 2010.

O comissário chamou ainda a atenção para a circunstância de o défice orçamental de 2009 ter sido revisto em alta, de 9,3% para 9,4%, em virtude de o desempenho da economia na recta final do ano ter sido pior do que o antecipado, o que faz com que o ponto de partida do combate ao endividamento seja agora mais exigente.

Ambas as circunstâncias levam Bruxelas a instar o Governo português a ponderar avançar desde já com novas medidas de austeridade, aplicáveis ainda em 2010, de modo a assegurar que o défice baixará para 8,3% no fim deste ano, e não comprometerá a rota traçada e que tem por objectivo reduzir o indicador para 2,8% do PIB no final de 2013.

“O programa de estabilidade português é ambicioso e bastante concreto para o período compreendido entre 2011 e 2013. No entanto, poderão ser necessárias medidas suplementares de consolidação orçamental, em especial para o corrente ano, caso se materializem os riscos que pesam sobre a evolução macroeconómica e orçamental”, insistiu Olli Rehn, durante uma conferência de imprensa em Bruxelas.

Isso enquanto do resto do continente chegam notícias positivas. Segundo Eurostat, a produção da zona Euro subiu. Comparando os dados de Janeiro 2010 com os Fevereiro 2010 há de facto uma melhoria do 0,9%. Pode não ser muito, mas em tempos como estes…

A produção da zona Euro desde 2001
Fonte: Eurostat

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