Niño Becerra e o Verão quente de 2010

E depois do futuro negro de Jacques Attali passamos ao Verão preto de outro economista.

Desta vez é Niño Becerra, conhecido em Espanha como “El profeta de la crisis”, docente da Universidade de Barcelona e autor de “El crash del 2010“, que fala aos microfones de Euronews:

Professor Becerra, prevê um crash para 2010. Como é possível se os mercados e a economia estão a melhorar?

O crash que vejo é a conclusão da pré-crise que começou em 2007 com o problema dos sub-prime. O nosso modelo económico chegou ao fim da corrida. Chegámos ao limite do ciclo vicioso “empréstimo-consumo-dívida“. Se os mercados estão em crescimento é por pura especulação e também porque o dinheiro, utilizado para salvar os bancos, está a chegar ao mercado. Creio que este estado não dure mais do que um par de meses.

Em qual mês temos que esperar que este catastrófico crash aconteça?

Acho por volta de meados de Julho de 2010, podemos dizer entre Junho e Agosto.

Então é melhor não projectar as férias.

Para dizer a verdade as férias serão um período feio. Não só por causa do crash, mas também porque não haverá dinheiro para as famílias financiarem as férias. Para não falar dos empréstimos para o empresário. Será muito difícil ter a liquidez para permitir-se as pequenas coisas também. Um estudo mostra que em Espanha 60% das famílias têm dificuldades em chegar ao fim do mês. É preocupante.

Em conclusão, afirma que será o exame final pela Europa: se não conseguirmos vencer a crise então cada um por si mesmo. A situação é a tal ponto séria?
A Europa perdeu tempo desde o tratado de Roma em 1957, quero dizer que agitou-se muito para fazer alguma coisa. É verdade que os Estados membros fizeram grandes passos, como o mercado único, mas agora a situação é demasiado difícil: existe um excesso de capacidade produtiva, um excesso de mão de obra disponível. Há necessidade de coordenação. Para mim, quando as coisas iam bem, a Europa não conseguiu unir, quando iam mal também, e agora em que as coisas estão verdadeiramente más para a Europa será o último apelo. Ou há unidade agora ou nunca mais.

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Dois post nada simpáticos: no primeiro um economista que fala dum futuro apocalíptico, no segundo outro economista que nem as férias do próximo Verão nos deixa.

A situação é de verdade tão má?

Talvez tanto Attali quanto Becerra estejam virados em demasia para o lado catastrófico. Ou, no mínimo, pessimista. Mas, mesmo assim, não podemos esquecer um dado fundamental: a tanto anunciada retoma ainda não apareceu e isso obriga-nos a reflectir.

De certeza podemos afirmar que as previsões duma crise a “V”, com rápida retoma (hipótese muito falada nos EUA), está fora de questão. Na melhor das opções estaremos no meio duma crise a “U”, com retoma bastante lenta.

E pode ser que o fundo desta “U” ainda não tenha sido atingido. Por isso é suficiente ler os últimos GEAB (bolha chinesa, default soberanos…).

Ipse dixit.

Nota: Uma crítica ao livro no seguinte post: Niño Becerra: Crash 2010

Entrevista: Euronews
Tradução e texto: Massimo De Maria

One Reply to “Niño Becerra e o Verão quente de 2010”

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